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Ele não estava certo de como tudo isso começou, na verdade, ele mal sabia o que estava fazendo naquele exato momento, quem dirá a resposta do início desse sentimento.
Kaminari não fazia ideia de quando se tornar um cavaleiro para defender seu país saiu de um sonho infantil para sua realidade. Às vezes não acreditava que tinha sido capaz de se alistar e, não somente isso, ter criado amizades com os novos recrutas — ele adorava seu colega de quarto, um rapaz de cabelos pretos e cicatriz pequena acima do olho direito; o outro de fios igualmente negros com um sorriso contagiante, que fazia uma piada ou outra a respeito de tudo e qualquer coisa; até mesmo gostava do loiro emburrado — e com a princesa. Isso sim era algo que ele ainda não acreditava, se beliscava toda vez para confirmar que aquela era a realidade e sempre levava um tapão na cabeça de Bakugou, o esquentadinho do grupo, dizendo para ele parar de ser idiota e se dedicar aos treinos.
No começo, tudo ainda parecia uma fantasia, esta teve duração curta pois em poucos meses uma guerra foi anunciada contra a província vizinha e todos os jovens soldados foram obrigados a lutar.
Foi graças a essa guerra que Kaminari descobriu o que era desespero. Batalhar não era algo que ele gostava de fazer, tirar a vida de pessoas iguais a ele muito menos. Ver de perto tudo acontecer e participar ativamente disso o deixava em pânico, sendo seu único sossego a companhia de seus amigos.
Denki nunca agradeceu tanto por poder dividir esse momento com eles, mesmo que fosse desgastante, pois eles eram sua força para continuar tentando , continuar vivo .
Os dias eram mais desgastantes do que ele estava acostumado, o cansaço era mais presente do que o sorriso em seu rosto, este quase inexistente. O desespero crescia a cada segundo e, para sua surpresa, a única pessoa que conseguia acalmá-lo era Katsuki.
Era estranho, estar vestido em sua armadura enquanto sua respiração acelerava, nervoso com tudo que poderia acontecer no futuro, a ansiedade tomando conta do seu corpo aos poucos, e tudo desaparecer aos poucos quando o loiro segurava seu rosto entre as mãos calejadas pelo manuseio da espada, fitava-o com seus olhos escarlates vibrantes, falando para ele acompanhá-lo com sua respiração, reafirmando que nada aconteceria com eles pois ele, Bakugou Katsuki, estava ali para proteger tudo e todos.
Kaminari nunca soube ao certo como ele se aproximou do ser revoltado, apelido carinhoso dado pela Princesa Mina, porém agora eles eram uma dupla — não somente de treino, como também colegas de porta, amigos, camaradas, inseparáveis (ele sabia que Katsuki queria cortar sua cabeça de vez em quando, mas nunca o mandou ir embora) —. Isso ainda era confuso para si e Eijirou dizia para ficar tranquilo pois seu Bakubro era legal, de confiança, uma ótima pessoa apesar de transparecer ser irritadiço.
Talvez aquilo fosse verdade e ele devesse acreditar, assim como poderia ser uma invenção da sua cabeça para criar uma sensação confortável em sua mente a fim de esquecer o que acontecia fora de sua barraca no meio daquele acampamento. Entretanto, o sorriso discreto que Katsuki lhe dava quando estavam a sós confirmava: eles realmente eram amigos.
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Bakugou se perguntava onde estava com a cabeça quando decidiu ouvir o idiota de Eijirou para ingressarem na guarda real, que seria divertido, traria honra à família e, claro, seria muito másculo. Às vezes, Katsuki só queria voltar ao passado e bater sua própria cabeça na parede para impedir a si mesmo de seguir a ideia estúpida do moreno, apesar de saber que o motivo de ter se tornado um cavaleiro foi para competir com seu inimigo mortal — que insistia em chamá-lo de melhor amigo da infância —, Izuku, já que este estava estudando para entrar no palácio e Bakugou, claro, não ficaria para trás.
Alistar-se não foi difícil, treinar menos ainda, mas só de ter que manter uma relação minimamente boa com os outros recrutas era horrível. Graças a uma forma divina desconhecida, sua socialização com pessoas se resumia a: um loiro insuportável, Kirishima e outro rapaz de cabelos pretos. Eles eram bons, pelo menos sabiam manejar uma espada nas mãos sem parecerem frangotes, como apelidou os outros aprendizes.
— Eijirou, eu juro que se você tentar alguma gracinha, você pode dar adeus a tudo — ameaçou assim que descobriu que seriam colegas de porta, ele tendo que dividir seu quarto com Sero e Kirishima com Kaminari.
Eijirou apenas riu e assegurou o amigo de que ele podia ficar tranquilo, pois agora teria um novo parceiro de crimes. Katsuki até se sentiria traído se não tivesse visto os olhos brilhando de Denki, parecia que os olhos amarelos eram dois sóis de tão cintilantes que estavam, iluminando tudo que sua visão observava, e Bakugou era uma das coisas que foi iluminada.
O tempo passou e Katsuki podia dizer que agora ele tinha novos amigos com quem podia compartilhar seus momentos, mesmo que ainda fingisse odiá-los de vez em quando para manter a pose — coisa que Eijirou dizia ser ridícula e desnecessária, mas não fazia nada para fazê-lo mudar de ideia —. Apesar de viver brigando com eles, gostava da companhia deles, auxiliava-os nos treinos, conversava até a hora que iam para o quarto, levava-os para passear pela cidade e até comprava comida para eles, negando todas as vezes que o trio oferecia comprar algo para si.
Era fácil estar na presença deles, acalmava um pouco seus nervos. Estes foram esquecidos quando a guerra foi anunciada e eles foram obrigados a participar dela.
Se teve algo que Katsuki não gostou, foi afirmar que o cintilar dos olhos dourados foi se perdendo com todo o cenário visto naquele cenário de luta inevitável.
— Denki, Denki , olha para mim — pediu quando colocou suas mãos no rosto dele, forçando a focar sua visão em si. — Respira comigo, você está a salvo, nós estamos bem, ninguém se machucou.
Doía recordar-se de que isso era uma situação recorrente, algo que acontecia muito e aparentemente não pararia tão cedo. Contudo, apesar do pânico presente no corpo de Kaminari, Bakugou via quando este começava a relaxar sob seu toque, a respiração voltar ao normal e um pequeno sorriso nascer em seus lábios, agradecendo pela ajuda depois que se acalmava.
Katsuki não sabia como, mas de uma coisa tinha certeza: protegeria o loiro de tudo, porque agora, Katsuki era o girassol que procurava o calor do sol que era Kaminari Denki.
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— O que você acha, Kacchan? — A pergunta foi feita depois que Midoriya terminou sua explicação.
— Uma merda — respondeu, mal-humorado. O plano de ataque não era ruim, Bakugou sabia disso, mas não queria dizer que falaria isso em voz alta. — A esquerda está aberta demais, podemos ser atacados pela falta de reforços.
Izuku pensou a respeito. Como estrategista, precisava montar uma boa estratégia para evitar mortes desnecessárias em seu batalhão e a pequena observação do amigo foi uma grande ressalva para reavaliar sua tática.
Enquanto pensava em melhorar onde havia falhado, não percebeu os olhos dourados ansiosos prestes a entrarem em pânico, o medo subindo rapidamente o corpo de Kaminari lhe dava calafrios.
— Eu já volto — disse o rapaz levantando-se o mais rápido que pôde e saindo da tenda, deixando o pano isolar o lugar de qualquer maneira.
Em sua pressa, não viu que foi seguido por um par de olhos rubros. Bakugou acompanhava cada passo dado pelo outro loiro como se premeditasse os próximos acontecimentos. Não tardou a observar Denki encostar-se no tronco de uma árvore distante do acampamento, sentar-se no chão e apoiar a cabeça nos joelhos, tentando controlar a respiração.
— Ei, palhaço — Katsuki começou a falar em um tom não ofensivo, xingando-se baixo por soar irritado. Quando viu os orbes amarelos o encararem cheio de receio, continuou: — Não tem nada de errado ficar preocupado, nada vai acontecer.
Bakugou resmungou quando percebeu os ombros alheios tremendo e não tardou para sentar ao lado dele, passando seu braço por cima deles e puxando-o para perto de si, aconchegando-o em seu corpo. Sua mente gritava para que ele o colocasse entre seus braços, prensasse-o totalmente contra si, forçando o total contato corporal entre eles para que assim pudesse acalmá-lo, mas ele teve que segurar essa vontade no momento.
— Mas Katsuki–
— Mas porra nenhuma, Denki — cortou-o antes que pudesse falar alguma asneira. — Já disse que não vai acontecer nada porque eu estou aqui.
— Katsu–
— Eu sou o melhor e vou fazer você se sentir bem, eu vou protegê-lo nem que isso signifique matar todos que aparecerem na minha frente — afagou os fios dourados com a mão livre, a outra mantia-se firme no ombro dele —, entendeu? Farei de tudo por você.
— Tudo? — Kaminari arqueou uma sobrancelha, ele tentava controlar a ansiedade que tomava posse de si. Agradecia internamente o outro loiro por fazê-la diminuir somente com sua presença. — Tem certeza?
— Se eu não tivesse, não falaria, idiota — alfinetou enquanto puxava a bochecha do rapaz com força.
— Ai, ai, ai! Entendi, entendi! — falou tentando se livrar da mão ardilosa, deixando uma pequena risada fugir de sua boca. Ah, como aquilo era o som da felicidade para Bakugou, o tranquilizando automaticamente. — Então, eu tenho uma proposta.
— Mal saiu de um ataque e já quer pedir coisas? Tsc, menino insuportável.
Kaminari riu de novo, sabia que aquilo era só a pose de “ser revoltado” que Mina tanto falava e que na verdade era assim que ele demonstrava que estava preocupado. Só que o sol não queria que seu girassol não o olhasse da maneira que desejava. Ele queria ser adorado, amado, venerado — se pudesse ir tão longe assim, ele gostaria disso —, ser mais do que era no momento.
— Que isso, Katsuki? Está com medo do que vou pedir é? — Cutucou as costelas do loiro, rindo ao ouvi-lo reclamar e mandando-o parar com aquela gracinha. — Iiih, parece que temos um frangote entre nós.
— Como é que é, seu merdinha? — Bakugou estreitou os olhos, largou o rapaz e segurou seus pulsos para impedi-lo de se mexer. — Repete se tiver coragem e desejar a morte.
— Fran~ go~ te~ — cantarolou, jogando a cabeça para trás ao ver o tique nervoso no olho direito de Bakugou, aquele tremor nos olhos que ele sempre fazia quando se controlava para não revidar logo ou bater na cara da pessoa.
— É isso, Denki, você acabou de escolher como será sua morte — anunciou Katsuki, apertando com mais força os pulsos do outro loiro. — Últimas palavras?
— Antes cedo do que nunca — respondeu o rapaz com um sorriso no rosto.
— Você é burro? É antes tarde do que nunc–
Nunca, em toda a sua vida, Bakugou imaginou que seria corrigindo um idiota que sentiria lábios alheios junto aos seus em um beijo furtivo, inocente e cheio de receio. Antes que pudesse sentir Kaminari se afastar, guiou as dele mãos para seu próprio rosto, soltando seus pulsos para que pudesse colocar as suas na cintura do rapaz, reajeitando-o no espaço que tinham a fim de que os encaixassem melhor — a verdade era que ele estava tentando prensar o louro entre a árvore e seu corpo para evitar que ele fugisse —.
A reação de Katsuki causou surpresa em Denki, mas ele logo aproveitou isso a seu favor. Seus dedos faziam um carinho no rosto de Bakugou, angulando melhor sua cabeça para continuar o beijo, sendo surpreendido ao sentir que era correspondido quando a língua alheia pediu permissão para adentrar. Eles prolongaram aquilo pelo tempo que puderam, trocando beijos atrás de beijos, carícias inocentes até as mais atrevidas.
Às vezes um leve roçar de lábios, outras apenas selos acompanhados de um ósculo mais longo em seguida. Eles podiam dizer que estavam no paraíso particular deles, mesmo que estivessem no meio de uma floresta próxima ao acampamento no meio de um campo de batalha.
— Ok, devo admitir que cedo é melhor — Bakugou admitiu assim que conseguiu separar sua boca da dele, mesmo que ainda mantivesse suas testas grudadas.
— Finalmente concordando comigo? Isso sim é novidade, espera o Eijirou souber disso — disse risonho, um sorriso de ponta a ponta fazia parte de sua expressão.
— Nem pense nisso, palhaço.
Kaminari sorriria mais se pudesse, mas estava difícil.
— Então… — Denki começou a falar baixo, quase que em um sussurro. — O que faremos?
— Nós vamos vencer essa merda de guerra, voltar para casa e viver nossas vidas até morrermos.
— Só isso? Sem mais beijinhos? — perguntou fazendo bico, passava a mão no cabelo de Katsuki, bagunçando-o mais ainda.
— Onde eu disse que não teria mais? — Bakugou estreitou os olhos, inconformado. — Deixa de ser ridículo, palerma.
— Aish, assim você magoa meu coração, Bakubro.
— Eu não sou seu Bakubro, Denki. Pelo amor de deus — suspirou. Céus, nem ele sabia o que queria ser para o loiro.
— Então você é o que para mim, hein, Bakugou Katsuki? — O tom flertivo na pergunta levou o de olhos rubis a outros lugares, imaginando como seria ouvir em momentos mais apropriados, considerando que estavam no meio do mato no momento.
Katsuki respirou fundo, controlava-se para não atacar os lábios alheios mais uma vez a fim de silenciá-lo com seus beijos, afinal, quanto mais cedo calar Denki, mais ele poderia aproveitar o que desejava há tempos.
Não demorou muito para encontrar uma resposta para a questão, ela era tão óbvia em sua cabeça que seria impossível não dizê-la.
— Um girassol.
— Katsuki, você fumou o charuto do Hanta? — Kaminari questionou, preocupado, pois estava acostumado com as palavras desconexas de Sero, não com as de Bakugou.
— Claro que não, sua anta. Quem você acha que eu sou? — latiu assim que escutou tamanho absurdo. — Credo, não se pode nem mais usar metáforas. — Bufou irritado, puxando novamente a bochecha do loiro de olhos cintilantes. — O que quis dizer é que você ilumina tudo que toca e vê, traz vida para quem está ao seu redor, e eu sigo a luz que você emana. — Ele pausou, agora bagunçou os fios do outro e deixou um sorriso nascer em seus lábios. — Podia dizer que é algo parecido com um inseto atraído pela luz ou pelo calor do fogo, mas acho que você ser o sol do meu girassol é mais sutil e romântico.
— Uau — Kaminari disse, piscando várias vezes antes de abrir um sorriso. — Quem diria que meu Katsuki é tão romântico assim?
— Cala a boca, seu merda.
— Vem calar, girassol.
Eles trocaram um sorriso cúmplice antes de juntarem os lábios mais uma vez, ajeitando-se para ficarem mais confortáveis nos braços um do outro. A reunião podia esperar, a guerra também, porque aquele momento era deles e continuaria sendo pelo resto da noite.
