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Ajuda do além

Summary:

Iruka se muda para uma casa perto da fronteira de Konoha, ele só não esperava ter um colega de quarto tão... diferente. Sakumo por sua vez não sabe onde está ou o que aconteceu e juntos eles embarcam em uma jornada para levar o fantasma finalmente para seu descanso final.
Mas como fazer isso? E onde Kakashi entra nessa história? Será que Iruka vai poder aproveitar de uma casa sem ser assombrado?

Notes:

Oi pessoal!!!

Eu sei eu deia estar postando a fic que eu prometi que ia terminar (: mas essa aqui só faltava o último capítulo e tá cozinhando no meu drive há dois anos, então aqui vai ela! Essa era pra ser a hstória do dia 14 do kakairu month de 2021 mas como eu queria fazer ela uma long story e não tem bem o tema fandom AU...

Espero que aproveitem a leitura tanto quanto eu gostei de escrever. Comentários e kudos são sempre bem vindos e eu sempre leio todos mesmo sendo uma péssima autora e não conseguindo responder todo mundo s2

Chapter 1: Laços

Chapter Text

Família era uma palavra complicada para Iruka Umino.

Ele não se lembrava de seu país de origem, mas seus pais diziam que a família deles costumava ser muito grande antes dos ataques da Vila da Névoa dizimarem a população da vila onde eles moravam e os obrigarem a fugir, com um bebezinho Iruka para tão longe da única casa que eles conheciam. Seus pais haviam jurado servir à vila da Folha em troca de proteção para o filho. Então ele não se lembrava de tios, primos ou avós.

Quando criança, um pouco mais velho, ele perdeu a única família que conhecia com o ataque da Kyuubi e a solidão e dor que isso o causou o fez fugir de qualquer coisa que sequer se parecesse com uma família pelos anos seguintes. Até mesmo ver outras crianças com seus pais parecia aumentar o buraco em seu coração.

Um pouco mais velho, ele passou a não acreditar que ter uma família combinava com a vida de um shinobi. Afinal as possibilidades de causar à outro ser inocente a mesma dor que ele sofreu eram muito grandes para se arriscar. Ele então decidiu proteger o futuro da vila de um modo diferente e passar a vontade do fogo a novas gerações, gerações que não viriam de sua linhagem mas ainda sim eram preciosas para ele.

Tudo isso graças à figura de Sandaime. O homem o tomou sob suas asas como um neto ou filho e pela primeira vez desde a morte de seus pais Iruka se sentiu acolhido, um fantasma daquela relação que ele tinha com sua própria família que lhe deu um novo propósito de vida. Apesar do laço com o Hokage ser forte, ainda sim ele era o líder de seu povo e não podia se dedicar a apenas uma pessoa, além de ter sua própria família para cuidar é claro.

E então Naruto aconteceu.

Iruka não sabia se aquele era o sentimento que um pai tinha por um filho, ele nem mesmo era tão mais velho que a criança assim para se considerar como uma figura paterna, mas Iruka tinha compaixão pelo menino e passou a amá-lo como se fosse uma parte de si mesmo. Não era o mesmo como ele amava seus outros alunos, nem como ele se sentiu com relação à seus pais ou amigos. Era um sentimento novo e ele tinha que admitir que era um pouco assustador, mas que contrariou todas as suas crenças e provou aumentar seus limites apenas para proteger Naruto inclusive contra o que ele julgava como perigoso demais.

Foi assim que ele acabou passando por um dos momentos mais embaraçosos de sua vida ao enfrentar Kakashi, um dos shinobi mais poderosos da vila e questionar sua autoridade não só em frente a outros ninjas, mas também do próprio Hokage. Iruka se envergonhava por ter agido sem pensar apesar de também se orgulhar de tal fato por ter tido coragem e força suficiente para fazer tal coisa.

Infelizmente as coisas não foram como esperado e não porque os jovens ninjas não estavam preparados para os desafios do exame... A vila foi atacada, Sandaime foi uma das baixas mais dolorosas da batalha que se seguiu e Naruto foi sim marcado pelos exames chunin, mas de uma forma que Iruka nem mesmo poderia imaginar.

Ele observou à distância e deu o suporte que pode ao garoto quando o ataque aconteceu, quando ele se feriu e quando Sasuke saiu da vila.

Sasuke inclusive que era um buraco cheio de culpa em seu coração. Ele havia observado como o menino se desenvolveu após a perda de sua família, como ele melhorou ainda mais suas habilidades e o fato de ele se fechar mais para o mundo não chamou a atenção de Iruka como deveria. Iruka sabia que deveria ter dado mais atenção e suporte a ele e se culpava por não ter percebido antes quão profunda era a cicatriz no coração de Sasuke.

O fato era que Iruka não foi o suficiente. E ele não era o suficiente. Não para Sasuke e nem para Naruto. Não que o loirinho tivesse se afastado. Pelo contrário, Naruto parecia ter se mudado para sua casa após toda aquela confusão e no tempo que se seguiu, se tornando uma figura tão constante que Iruka nem mesmo se assustava de ver peças de roupa do garoto espalhadas pelo pequeno apartamento ou ouvir seus roncos durante a noite.

Mas ele não podia manter Naruto sob suas asas para sempre, como ele bem aprendeu ao enfrentar Kakashi. Ele se lembrava de Sandaime lhe dizer algo como isso. Era preciso deixar que ele voasse, que ele aprendesse e se fortalecesse para se tornar o grande homem e shinobi que ele tinha potencial de ser. Que Iruka acreditava que ele seria.

Então, quando Naruto comentou em uma noite que um dos lendários sannins de Konoha o levaria consigo por suas viagens para treiná-lo e deixá-lo poderoso o suficiente para cumprir seus objetivos de vida, não havia nada que Iruka pudesse fazer a não ser o encorajar a sair e ganhar o mundo.

Iruka sabia o que queria fazer. Ele queria prender Naruto em seu apartamento, mandar Jiraiya embora com um palavreado bem colorido e diversificado com sua opinião sobre colocar Naruto em risco desneessário. Ele queria que Naruto escolhesse algo que não o colocasse em perigo como trabalhar no Ichiraku.

E ele queria que Naruto fosse com o outro homem. Que ele se tornasse tão forte quanto possível. Que ele visse o mundo e conhecesse pessoas que não o julgariam pela besta presa dentro dele. Que Naruto conseguisse realizar todos os seus sonhos, por mais malucos e perigosos que fossem.

Tudo que lhe restava para acalentar seu próprio coração apertado e a angústia que mostrava nos olhos de Naruto quando o menino disse que eles não se veriam por um bom tempo foi o encorajar. Naruto estava animado para ir com Jiraiya, ele sempre quis aquilo, uma pessoa poderosa que desse atenção apenas para ele e acreditasse em seu sonho.

Quando ele era criança, Iruka como seu professor era essa figura, mas até mesmo Iruka admitia que o menino logo o derrotaria facilmente, isso é se ele já não fosse forte o suficiente para isso agora. Naruto precisava de um novo herói em quem se espelhar e Jiraiya era perfeito para isso.

Iruka sabia que a tristeza de Naruto era por deixar sua infância para trás, as coisas boas que eles dividiram pelo menos. E Iruka podia não ser o suficiente para treinar Naruto, mas ele era mais do que qualificado para resolver aquele problema em particular.

Uma ideia vinha se fortalecendo em sua cabeça por um bom tempo, anos talvez e agora era o momento perfeito para dividi-la com Naruto.

-Estive pensando que seria bom ter mais espaço - ele comentou enquanto eles jantavam no Ichiraku certa noite, o lugar preferido dos dois seria perfeito para aquela conversa - meu apartamento parece que está encolhendo.

-Ah Iruka-sensei! - Naruto respondeu em seu tom de voz alto e vibrante - Isso é porque você tem mais papéis do que devia.

-Ah claro - Iruka deu um sorriso de lado - não tem relação nenhuma com um certo alguém acampando na minha sala, hm? - Iruka cutucou o lado de Naruto arrancando uma gargalhada meio envergonhada do menino.

-Mah, só tô te fazendo companhia, sensei. Você fica muito solitário lá sem ninguém em volta.

-Sei, sei. - o sorriso de Iruka assegurava Naruto de que ele não estava irritado com o fato - Mas ainda sim, preferia ter uma sala de estar que fosse só sala de estar. Você deveria dormir em um lugar mais apropriado, como um quarto por exemplo. O seu próprio quarto…

Iruka deixou a frase no ar observando cuidadosamente o menino. Ele apenas se esqueceu que às vezes Naruto podia ter a inteligência de uma lesma e logo uma sombra de tristeza e dor cobriu o rosto do menino que tentou disfarçar comendo mais de sua quinta porção de ramen.

-Me desculpe, Iruka-sensei, eu vou voltar para minha casa hoje.

-O que? Não, Naruto! - Iruka se virou totalmente para ele - Não é isso que eu quis dizer! Acho que você precisa de um quarto na minha casa. Se você quiser é claro - Iruka completou se sentindo inseguro pela falta de reação de Naruto - não faz sentido você manter uma casa aqui se vai ficar fora por tanto tempo, talvez meses ou anos, quem sabe. E eu já estava pensando em me mudar e seria bom ter companhia como você falou, quando você estiver por aqui é claro e…

-Iruka-sensei. - Naruto o cortou com uma expressão séria - Quer dizer como morarmos juntos? Como… como uma… família? Uma família de verdade?

-Bem… - Iruka coçou a nuca sem saber o que fazer - algo nesses termos, sim.

O silêncio não durou muito, logo Iruka se viu quase caindo de seu banco e segurando um Naruto choroso em um abraço apertado.

E assim eles começaram a procurar por casas. Naruto nunca teve uma, sempre morando no mesmo apartamento apertado em um lugar bem questionável da cidade e seria bom ter um jardim onde ele pudesse treinar e passar o tempo. Iruka queria achar o lugar ideal antes de Naruto ir embora com Jiraiya no fim de semana, o que o dava poucos dias para isso.

Eles só não contavam com a dificuldade que era encontrar casas para venda em Konoha. A maioria das casas vagas eram dentro dos clãs e não só eles não seriam bem aceitos como também não se sentiriam confortáveis com isso.

O corretor foi quem lhe contou de uma casa que estava fechada à anos e que recentemente havia sido posta para alugar. Era de um pequeno clã que aparentemente foi extinto na última guerra e pela falta de espaço para remanejar as pessoas depois dos ataques e até que a vila estivesse completamente restaurada, a nova Hokage ordenou que esse e outros imóveis fossem ocupados de forma responsável devido à sua importância histórica.

Pelo que o homem falou, Iruka sabia que teria muito trabalho, mas ao menos teria auxílio financeiro para restaurar o lugar que nem era tão grande assim. A casa em si tinha cômodos espaçosos, com duas suítes e um quarto de hóspedes que poderia se tornar facilmente um escritório, uma sala ligada à cozinha e um cômodo vazio que o corretor disse ter sido uma sala para treinamento.

Como toda casa de clãs proeminentes, ela tinha um espaço aberto grande o suficiente para treinamentos também, mas que curiosamente foi convertido em um jardim nos fundos da casa e tinha uma vista para o rio que era de tirar o fôlego.

O homem mostrou algumas fotos e desenhos da planta e ofereceu de fazer uma visita, mas como Naruto iria embora na manhã seguinte, Iruka preferiu seguir seu instinto e fechar o contrato de uma vez. Não era uma compra, mas sim aluguel, já que haviam regras rígidas sobre o destino desse tipo de propriedade, mas já era o suficiente para ele.

O fim da tarde e à noite foram gastos empacotando tudo que Naruto tinha de valor em sua casa, que deprimentemente eram apenas três caixas entre roupas, armas e outros objetos pessoais. Ele levaria muita coisa consigo para sua viagem com Jiraiya, o que diminuía ainda mais os pertences do menino.

Eles levaram as caixas para o apartamento de Iruka a tempo de Sakura procurar por Naruto para que eles pudessem sair com todos os outros amigos em uma despedida simples.

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Iruka não foi se despedir de Naruto nos portões, preferindo o fazer dentro da privacidade de seu apartamento. Não havia muito o que dizer nem como expressar o turbilhão dentro dos dois, mas eles sabiam o que o outro realmente queria e isso era o suficiente.

Foi bom que Iruka tivesse que trabalhar por toda a manhã na sala de missões e que ela parecia borbulhar com vida já que isso o distraía e o impedia de correr atrás de Jiraiya e fazer outra besteira como fez com Kakashi poucos meses antes. Ele não sabia se o sannin lidaria tão bem como o jounin lidou em ser ameaçado de castração caso algo acontecesse com Naruto.

Mesmo com tanto trabalho, Iruka não conseguiu se concentrar tão bem como sempre fazia. Nada que chamasse tanta atenção assim mesmo entre os observadores ninjas, mas é claro que sua distração não passaria despercebida por tanto tempo.

-Algo errado, Iruka-kun? - Anko perguntou se sentando em sua mesa e espalhando pergaminhos para todos os lados.

-No momento você perturbando meu trabalho, Anko-chan - Iruka reclamou, mas sua voz não tinha a raiva que deveria.

-Você sem gritar? - Anko se levantou em um pulo com uma expressão chocada - Tem certeza que está bem? Não quer ir ao hospital?

-Ei! Eu não grito tanto assim! - Iruka franziu a testa indignado.

Ele fingiu não ver as trocas de olhares de seus colegas e como Izumo e Kotetsu escondiam risinhos por trás dos documentos que preenchiam.

-Mah, sensei - uma outra voz o respondeu soando às suas costas bem onde Iruka sabia ter uma enorme janela - você quase deixou Pakkun surdo uma vez. O ninken se recusou a sequer sentir seu cheiro por um mês inteiro.

-Kakashi-san! - Iruka exclamou sem saber onde esconder a cara pela vergonha. A pergunta de por que o animal teria que sentir o cheiro de Iruka passou rapidamente por sua cabeça, mas ele a descartou.

Ao menos a presença do outro ninja significava que seus colegas o deixariam em paz por um tempo. Todo mundo sabia que Kakashi andava de péssimo humor nos últimos tempos e ninguém queria arriscar que o homem acabasse estourando como parecia que ele faria a qualquer momento.

Iruka não o culpava. Se para ele a saída de Sasuke e agora de Naruto já eram tão impactantes, ele nem podia imaginar para Kakashi. Do primeiro time de genins que ele treinou, um desertou da vila, outro acabou de sair da vila sob a tutela de um dos sannins e o terceiro membro começou os treinamentos com a própria Hokage. É, Iruka não conseguia nem começar a pensar em como ele estava se sentindo, ainda mais sendo essa a primeira equipe que ele aceitou treinar.

-Vi Naruto saindo com Jiraiya-sama agora a pouco - Kakashi comentou em um tom de desinteresse escondido por trás de seu famoso livro laranja - achei que estaria lá para se despedir, sensei.

-Eles saíram apenas agora? - Iruka perguntou checando o relógio - Pobre Jiraiya-sama, Naruto vai reclamar o dia todo sobre ter se levantado cedo para nada…

-Mas ainda é cedo, sensei, apenas uma da tarde.

O tom de Kakashi era não só de desinteresse, mas havia uma nota de divertimento por trás que Iruka achou ter imaginado. Sem saber bem o motivo, a combinação daquilo tudo levou Iruka às gargalhadas, espantando ainda mais os colegas ao redor.

-Me esqueci que você nunca chega na hora - Iruka comentou finalmente se controlando.

Kakashi deu de ombros. O silêncio entre eles não foi desconfortável e Iruka optou por voltar ao trabalho. Ele ainda tinha uma hora por ali até que pudesse sair e terminar de resolver todos os trâmites para sua mudança.

Quando Iruka finalmente se levantou, passando o turno para o próximo chunin entediado, ele se sentiu estranhamente mais leve. A falta de Naruto doía, mas era bem mais suportável do que quando saiu para trabalhar naquela manhã.

Chapter 2: mudanças

Notes:

Oi galera! Estamos de volta com o capítulo dois e antes de começar eu só queria registrar que ou começar a postar a tradução em inglês então se for mais confortável pra você ler em outra lingua é só dar uma procuradinha que eu vou postar os dois primeiros capítulos pra ir postando junto com essa aqui!
No mais boa leitura!!!

Chapter Text

Havia uma semana que Naruto se foi com Jiraya. Em alguns momentos era fácil se esquecer disso, afinal apesar de constante, Naruto não estava com Iruka o tempo todo. Em outros momentos ele se pegava preocupado se o menino estava bem, se estava se alimentando direito, se não estava se esforçando demais nos treinos e se não estava se tornando um pervertido como seu novo sensei era.

Felizmente as coisas caíram na rotina facilmente e entre o trabalho e a mudança, Iruka passou a ter menos tempo para se preocupar. Estranhamente Kakashi também se tornou mais constante em seu dia a dia. Não havia muito de especial em sua presença, ou de fora do comum, mas Iruka achava que o outro também estava se sentindo solitário. Ele aparecia na sala de missões, fazia algo para irritar Iruka e saia pela janela quando o chuunin finalmente gritava com ele.

Apesar de não ser nada bom para a reputação de Iruka ou para suas cordas vocais, ele não conseguia ignorar o outro. Kakashi estava agindo quase como uma criança bagunceira que apenas quer atenção, como Naruto foi um dia. E não era só com Iruka. As discussões do jounin com a Hokage e com outros jounins se tornaram mais frequentes também e algo como uma lenda pela vila.

De um modo estranho, Iruka se sentia ligado à Kakashi, como se precisasse se certificar de que ele estava bem. Talvez fosse por se identificar com ele, talvez fosse porque era algo que Naruto gostaria que ele fizesse em sua ausência… De qualquer modo, Kakashi se tornou mais uma distração em meio a tantas outras enquanto todos reconstruíam suas vidas e se adaptavam à nova realidade.

Naquele dia, por exemplo, Iruka havia passado a manhã com sua turma, treinando movimentos de taijutsu e a tarde em uma aula longa sobre controle de chakra. Entre sair da academia e ir para a sala de missões ele passou na corretora para pegar as chaves de sua nova casa, o que lhe atrasou para o trabalho.

Seu turno na sala de missões seria até o anoitecer e ele ainda teria que levar suas muitas caixas para a nova casa do outro lado da vila àquela noite para devolver as chaves de seu apartamento pela manhã. Claro que ele não se mudaria para uma casa empoeirada e provavelmente caindo aos pedaços durante a noite, ele dormiria aquela noite em seu velho apartamento e aproveitaria a tarde de folga no dia seguinte para começar a dar vida à sua nova casa.

Entre passar missões para outros shinobi e receber os relatórios muitas vezes mal feitos, Iruka se perguntava como poderia transportar tantas caixas por toda Konoha em uma noite apenas. Bem que ele queria naquele momento que tivesse tão pouca coisa quanto Naruto, mas então não teria motivos para se mudar, não é?

-Yo, sensei! - uma voz conhecida soou a sua frente - A caneta te ofendeu?

-Ah? O que? - Iruka franziu a testa olhando de Kakashi para a sala ao redor.

-Você está apertando essa caneta com tanta força que me pergunto qual foi o crime que ela cometeu.

Iruka olhou para onde o outro apontava e notou que realmente estava a ponto de quebrar sua caneta preferida em meio a sua frustração momentânea.

-A caneta não fez nada - ele respondeu por fim, notando que Kakashi não deixaria aquilo pra lá - apenas estava pensando.

-Pensando? - Kakashi perguntou entortando a cabeça como um filhotinho curioso.

-Não sabe mais nem o que a palavra significa, bobão? - Genma se meteu na conversa dos dois - Sabe, pensar, quando seu cérebro funciona e chega a boas conclusões sobre um assunto?

-Se essa é a definição então você não pensa desde que nasceu - Anko comentou se juntando ao grupo.

Iruka segurou o grunhido sabendo que só pioraria sua situação. Quando aqueles jounins queriam, eles podiam tornar a vida de alguém em um inferno apenas por diversão e mostrar fraqueza não era uma boa opção.

-Quem não pensa? - Kurenai se aproximou curiosa sobre aquela pequena reunião - Ah! Olá, Iruka-sensei! Como vai a mudança?

Kurenai, ao contrário dos outros presentes, conhecia Iruka não só por seu trabalho na sala de missões, mas por também ser uma figura constante na academia e claramente ter algum envolvimento com Asuma - o que levava a eles se encontrarem na casa de Sandaime através dos anos. Isso aproximou os dois um pouco mais, apesar de Iruka não saber se poderia considerá-la como uma amiga ou apenas uma conhecida próxima.

-Nem me pergunte - Iruka suspirou - tenho que entregar meu apartamento pela manhã e não tirei nem um papel de lá ainda.

-Você vai se mudar, Iruka-kun? - Anko perguntou de olhos arregalados - Me diz que não vai se desfazer daquele sofá maravilhoso e confortável!

-Não vou - Iruka sorriu, envergonhado por ter a atenção de todo o grupo pra si - ele é uma das coisas que eu tenho que transportar por toda Konoha antes de ir para a academia amanhã para a primeira aula do dia.

Ele viu alguns olhares de simpatia entre os outros. Qualquer um que já tenha se mudado entendia o sentimento e em uma vila que vivia sendo atacada e reconstruída de tempos em tempos isso era algo que todo mundo conhecia.

-Quem vai te ajudar? - Raidou, que Iruka nem tinha notado estar ali, perguntou.

-Ninguém - Iruka deu de ombros - estamos no meio da semana e não seria justo tirar tantas horas de descanso de outras pessoas.

Iruka tinha pensado em pedir ajuda. Ele sabia que com jeitinho conseguiria que muitos de seus amigos facilitassem seu trabalho, mas ele tinha aprendido desde cedo a se virar sozinho e não se sentia confortável pedindo favores.

Os diferentes olhares de choque à sua frente diziam que ele tinha dito algo muito errado, porém. Iruka repassou as palavras em sua cabeça sem saber bem o que tinha chocado tanto os shinobi mais poderosos da folha.

-Você me deve uma noite de dango só por ter ouvido isso - Anko reclamou com as mãos na cintura.

-Sem essa, Iruka, sensei! - Genma concordou com a mulher - Que horas você sai do trabalho?

-O que? - Iruka estava decididamente perdido.

Isso só piorou quando seus dois amigos mais próximos se juntaram ao grupo, logo sendo informados do que estava acontecendo. Izumo e Kotetsu se juntaram aos jounins, todos falando ao mesmo tempo e atirando perguntas que Iruka não conseguia entender. Toda a comoção estava começando a atrapalhar o restante das pessoas que estavam ali tentando trabalhar e isso significava que Tsunade logo apareceria, o que seria péssimo para todo mundo. Se eles consideravam as cordas vocais de Iruka como poderosas, as da mulher estavam em um nível totalmente diferente. Sem contar os punhos…

-Já CHEGA! - Iruka finalmente gritou batendo suas mãos na mesa e silenciando os demais adultos do mesmo modo que fazia com sua turma de pré-genins.

O minuto de silêncio que se seguiu parecia quase palpável. Até mesmo algumas pessoas passando na porta pararam para ver o que estava irritando Iruka dessa vez. Quando nada aconteceu por um momento mais, os outros voltaram à seus afazeres e aqueles parados em frente a Iruka continuaram a o encarar, dessa vez em silêncio.

-Está combinado então - foi Kakashi que cortou o clima, levando toda a atenção de Iruka para ele - Anko vai nos levar até o seu apartamento depois que seu turno acabar e você pode nos guiar até o novo endereço de lá.

Talvez Iruka tenha ficado parado em choque por muito tempo ou talvez os jounins só fossem rápidos demais. O ponto era que quando Iruka finalmente reagiu apenas Izumo e Kotetsu estavam à sua frente, com uma expressão que dizia que eles entendiam o que Iruka estava sentindo mas que ainda sim iriam dar uma bronca no amigo.

-Me conta tudo sobre essa história de se mudar - Kotetsu pediu se sentando na mesa de Iruka.

-E por que só estamos ouvindo isso agora? - Izumo completou cruzando os braços.

-Não tem nada demais…

E então entre uma missão e outra e um relatório e outro ele contou aos amigos sobre sua conversa com Naruto e a busca pela casa perfeita para os dois.

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Quando Kakashi disse que Anko os levaria até o apartamento de Iruka, não era bem aquilo que o sensei tinha em mente.

Ele saiu da sala de missões o mais rápido que pode, não acreditando muito que os outros iriam o ajudar e quando ele viu toda a área de seu prédio vazia ele achou estar certo. O que Iruka não contava era com a capacidade e curiosidade do grupo de jounins vencendo a educação e modos deles - se é que eles sequer tinham essas características.

Iruka abriu a porta de seu apartamento estranhando os barulhos em seu normalmente calmo andar. Ele achou que os vizinhos estavam dando uma festa ou algo do tipo, apenas para dar de cara com toda a elite shinobi de Konoha futricando nas caixas em sua sala - e pelo que ele podia ouvir, no quarto também.

Aparentemente eram precisos muito mais do que apenas Anko, Kurenai, Kakashi, Raidou, Genma, Izumo e Kotetsu para o ajudar com a mudança pelo estado lotado de seu mini apartamento.

Assuma estar fumando na janela não era uma novidade já que ele e Kurenai claramente estavam juntos, mas também havia Gai com sua miniatura que Iruka sabia se chamar Lee, Ebisu-sensei parecendo não tão feliz em um canto e Ensui Nara que Iruka conhecia apenas de vista já que ele não ia em missões comuns como todos os outros membros da divisão de inteligência. Como Ibiki, que também estava ali, conversando com o mais jovem em um canto.

Iruka tomou fôlego para perguntar o que eles estavam fazendo ali, mas decidiu que não valia o esforço. Quanto antes acabassem com aquilo melhor, afinal ele ainda queria ter uma noite decente de sono.

Como todo membro do clã Nara, Ensui logo distribuiu um plano para otimizar o trabalho e foram precisos apenas duas viagens cada para levar todas as caixas e os poucos móveis que Iruka queria aproveitar.

O trabalho se provou mais divertido do que ele imaginava, especialmente quando Gai resolveu desafiar Kakashi e os demais acabaram tomando lados. Era um grupo bem estranho que Iruka nunca imaginou ver junto, mas que parecia certo quando eles riam e provocavam uns aos outros. O termo família escolhida passou pela cabeça de Iruka entre uma caixa e outra e despertou um pequeno sorriso em seu rosto.

Com toda a ajuda levaram poucas horas para que a última caixa fosse para sua nova casa e todos, por sugestão de Anko, estivessem confortáveis em um bar com comida e bebida o suficiente para alimentar um pequeno exército. E olhando ao redor, eles realmente eram um pequeno exército que venceu uma batalha importante para Iruka de modo limpo e rápido.

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Iruka havia visto a casa antes da mudança e havia visto a casa enquanto se mudava, mas ele não estava preparado para o trabalho que estava tendo em realmente limpá-la. A ressaca que o acompanhou por toda a manhã, intensificada por seus amados alunos, também não estava ajudando.

O sol já estava se pondo - e ele tinha uma vista muito boa de sua sala para o fenômeno - depois de horas de trabalho e até então tudo que Iruka conseguiu fazer foi consertar portas e janelas e tornar metade da sala em um espaço bom o suficiente para que ele pudesse dormir aquela noite.

Ele ainda não estava nem perto de terminar o que tinha planejado. O banheiro tinha se mostrado um desafio maior do que o esperado e ele sabia que precisaria de um profissional para olhar o encanamento antes de confiar no chuveiro, mas nem de perto estava tão ruim quanto a cozinha.

O último morador não se deu ao trabalho de sequer se livrar da comida armazenada na geladeira e nos armários, o que atraiu animais e plantas para criar um novo habitat que Iruka não sabia se queria desbravar. Quem precisava de uma cozinha funcional, não é mesmo?

Ele refletia sobre o que poderia ser feito por lá enquanto esfregava firmemente toda superfície no banheiro. Ele teria que comer fora por hoje de qualquer modo, não tinha como confiar em nada que saísse de lá.

Certo, então ele terminaria o banheiro ligado ao cômodo que seria seu quarto, comeria algo e deixaria a cozinha e a outra metade da sala para o dia seguinte. Talvez com apenas mais dois dias de trabalho ele conseguisse terminar toda a casa o suficiente para não ser mais um perigo imediato. Então teria que pôr as coisas no lugar, as suas e as de Naruto antes de passar para o lado de fora da casa.

Ele não era tão bom com plantas, mas daria o seu melhor para deixar tanto o lado de fora quanto o de dentro o mais parecido possível com um lar. Como o que ele se lembrava de sua infância ao menos.

Iruka fez uma pequena pausa em toda aquela esfregação, sentindo os braços começando a reclamar da força que estava usando. Ele mal podia esperar para ter tudo arrumado e para finalmente poder oferecer a Naruto aquela mesma sensação que ele se lembrava de voltar para casa para alguém que se importa e poder dividir como foi o dia. Só o pensamento de como o menino reagiria já era o suficiente para fazer todo o esforço valer a pena.

Iruka na verdade se perguntava porque não fez isso antes, mas não havia como mudar o passado, então ele teria que se concentrar em melhorar o futuro.

Um barulho vindo de algum lugar da casa tirou Iruka de seus pensamentos de modo brusco. O som ecoou pelos cômodos praticamente vazios e se tornou impossível de distinguir.

Todas as janelas e portas estavam fechadas e reforçadas apenas por precaução enquanto Iruka não preparava suas armadilhas preferidas ao redor da casa. Isso não significava que alguém não pudesse ter entrado ou que algum animal não estivesse causando problemas. Como bom shinobi, de um modo ou de outro ele precisava averiguar.

Com cuidado, Iruka secou os pés para não escorregar com o sabão e largou o esfregão para pegar sua kunai e algumas shurikens que estavam por perto. O barulho parecia aumentar na direção da sala, então Iruka seguiu o caminho até lá em silêncio, atento a todas as sombras.

Da porta era possível ouvir alguém que resmungava. Poderia ser apenas um ladrão comum ou um ninja inimigo que se infiltrou em Konoha, mas Iruka não iria arriscar.

Ele deu uma olhadela na sala, determinando a posição da pessoa apenas para saber onde mirar. Ele não miraria para matar, apenas para incapacitar antes de saber com certeza do que se tratava.

O homem, que estava analisando o escrito em uma das caixas de Iruka, parecia à primeira vista ser um idoso pelos cabelos extremamente brancos, mas seu corpo não parecia acompanhar a cabeleira e era de alguém provavelmente entre trinta e cinquenta anos.

Como o homem estava de costas para Iruka, era fácil mirar em sua coxa e ele tinha tanta certeza que acertaria que quando sua kunai acabou presa na caixa ao invés de na carne do outro ele demorou a processar o que aconteceu. Ele não viu o outro se mexendo nem um pouco, na verdade, o homem só notou a arma depois que ela já estava na caixa. Sua kunai passou direto pelo outro e não era um problema de mira.

-Hm? - Iruka ouviu enquanto o homem se virava e dava de cara com o chuunin espantado - Quem é você e o que faz na minha casa? Aliás, o que são essas coisas?

Iruka não deixou a pose de ataque cair, apenas se posicionou melhor, sem saber como lidar com o outro. Poderia ser alguém com problemas mentais, desorientado, poderia ser um plano elaborado de distração…

-Quem é você e por que acha que essa é a sua casa? - Iruka perguntou de volta - E como fez isso? - ele apontou para a kunai.

O homem olhou de Iruka para a arma e para Iruka de novo com a testa franzida.

-Eu não sei bem, mas eu não deveria estar aqui.

-Como assim? - Iruka perguntou novamente quando o homem não fez menção de continuar.

-É que, pelo que me lembro, eu estou morto.

Chapter 3: Colegas de quarto

Notes:

Oi de novo!!!
Mais um capítulo vendo a luz do dia e como prometido, publiquei também a versão em inglês. Eu esqueci de avisar aqui no capítulo anterior que eu não tenho um esquema de postagens, minha vida tá uma zona então vai ser meio que quando der, mas como já está completa devo conseguir postar um por dia ou a cada dois dias mais ou menos!

Chapter Text

Não eram muitas as coisas que surpreendiam um ninja com o histórico de Iruka. Ele viveu uma guerra quando criança que levou seus pais a se mudarem para Konoha, passou pelo ataque da Kyuubi que tirou a vida de tantos, participou de algumas missões bem estranhas antes de se tornar professor e diariamente ele lidava com crianças e ninjas que tinham uma imaginação bem fértil e uma sorte esquisita.

Mas se havia algo que Iruka acreditava piamente era que fantasmas não existiam. Aqueles que morriam não voltavam à terra, não daquele modo. Muito menos se lembrando que deveriam estar mortos e dizendo isso naquele tom despreocupado, como se estivesse mencionando o clima.

-Como assim você está morto? - Iruka perguntou ainda não baixando a guarda.

-Eu me lembro muito bem disso, sabe? Foi uma decisão difícil, mas foi preciso. E se tem uma coisa em que eu sou bom é em matar pessoas, não deveria ser tão difícil manter a mim mesmo morto.

-Fantasmas não existem - Iruka afirmou sem saber se estava tentando convencer o homem ou a si mesmo.

-Eu sei, mas como explicar isso? - o homem passou a mão pela caixa de Iruka, sua mão desaparecendo dentro dela sem danificar nada e saindo ilesa do outro lado.

Talvez fosse um genjutsu muito bem feito. Nesse caso Iruka sabia bem o que fazer. Ele tentou várias e várias vezes se tirar daquele estado, se irritando a cada tentativa falha. O olhar de piedade que o outro lhe lançava não ajudava nem um pouco, apenas piorando seu estado emocional.

-Argh! Okay. Vamos fingir que eu não estou maluco e que você realmente é um fantasma.

-Mas você não está maluco…

-Que seja - Iruka o cortou - Quem é você e por que está nesta casa? Você disse que era sua, certo? Então você é um Hatake?

-Claro que sim - o homem respondeu caminhando pela sala - ela está bem mais acabada do que eu imaginava, mas está praticamente do mesmo jeito que a deixei há… bom, desde que morri. Meu nome é Sakumo, aliás.

-Sakumo? - Iruka repetiu - Esse nome não me é estranho, mas não sei onde ouvi. Você foi um ninja famoso talvez?

-Pode-se dizer que sim, imagino - Sakumo riu sem graça, coçando a própria nuca - provavelmente me conhece das segunda e terceira guerra, mas não pelo meu nome. Eu ganhei o apelido de Canino Branco de Konoha, mas não acho que meu nome tenha sobrevivido ao tempo. Não a quantidade de tempo que levou pra casa ficar desse jeito pelo menos.

Se fosse possível, o queixo de Iruka estaria no chão no momento. Iruka se lembrava de todas as histórias que ouviu quando criança e da versão polida que ele tinha que ensinar nas aulas de história.

-Não é possível - Iruka tinha os olhos arregalados - eu estou morando na casa DO Canino Branco de Konoha? O ninja que dava medo até mesmo nos sannins lendários? Tão temido que falar de suas técnicas de batalha não era permitido nem sob sussurros? Acho que quem vai morrer sou eu! Você foi a minha primeira inspiração para descobrir meu jeito ninja!

-Seu jeito ninja?

-É! Proteger o futuro de Konoha e pôr a vida de meus companheiros à frente de missões, por mais difícil que a decisão possa ser.

Sakumo parecia chocado com a resposta de Iruka. Iruka não sabia se era possível fantasmas chorarem, mas os olhos do homem definitivamente estavam aguados com lágrimas não derramadas.

-Está falando sério? - a voz do mais velho estava tremida.

-É claro! Meus pais me contavam sobre como eu passei um bom tempo brigando com todo mundo que falasse mal de você - Iruka riu sem graça - eu sempre fui bem barulhento e segundo minha mãe eu gritei no meio do mercado uma vez que você era meu herói pouco depois de você falecer.

-Isso é… - a voz do fantasma soava embargada - fico lisonjeado meu jovem, mas não deveria se espelhar em mim. Causei um dano irreparável à nossa nação.

Para Iruka era um pouco difícil associar aquela figura com seu herói de infância. Ele parecia tão frágil, tão delicado e gentil para alguém que sozinho tinha feito todas as outras nações temerem o símbolo de Konoha.

-Você quer dizer a guerra?

-É claro, eu salvei meus companheiros, mas eles morreram em outra batalha que não foi evitada por minha causa. Além disso trouxe desonra para minha família, o que pesou sobre os ombros do meu único filho. Não mereço ser chamado de herói.

-Wow! Vamos com calma - Iruka se sentou no sofá que ele já tinha preparado como cama pela noite, percebendo que teria um longo processo pela frente - Não sei sobre sua vida pessoal, então não posso opinar sobre como isso tudo refletiu em seu filho, mas se ele o culpou por tomar a melhor decisão possível em uma situação crítica, então ele é um idiota… com todo respeito - Iruka acrescentou ao perceber que ofendia alguém que nem mesmo conhecia - Mas não havia como evitar aquela guerra. A Vila da Pedra estava determinada a continuar, não importava o que fizéssemos. Pouco depois de sua morte, se não me engano, eles se aliaram com a Névoa Sangrenta e quase massacraram a Areia, tornando o conflito em algo muito maior do que você poderia ter sozinho evitado.

-O que? - Sakumo parecia irritado como se aquilo tudo estivesse acontecendo naquele momento e Iruka supunha que para o homem realmente devia parecer assim.

-Sim, mas alguns poucos anos depois o Relâmpago Amarelo de Konoha e o Ninja que Copia ganharam algumas batalhas muito importantes e viraram a guerra em nosso favor, até que tratados foram assinados e a guerra foi tida como acabada. Ainda temos muita tensão entre os países, mas os nossos genins e a maior parte dos nossos chunins, eu incluso, nunca nos envolvemos em uma guerra. São tempos de relativa paz, ou ao menos tanta paz quanto podemos ter nesse mundo.

Um silêncio contemplativo encheu a casa. Sakumo digeria todas as informações de um futuro do qual ele não fazia parte, pela primeira vez desde aquela missão realmente pensando na possibilidade de não ser o causador de tanto sofrimento. A ideia era tentadora, mas conflituosa, afinal se ele acreditasse que não era o culpado, então sua tentativa de se redimir e recuperar ao menos parte da honra de sua família foi em vão e tudo que ele conseguiu foi causar mais sofrimento à seu amado filho.

Iruka tentava ignorar seu estômago vazio enquanto observava as mudanças na expressão do fantasma. Haviam coisas muito mais importantes acontecendo ali do que sua vontade de ir ao Ichiraku.

-Você parece saber muitos detalhes para alguém que não foi mandado à guerra - Sakumo comentou por fim, escolhendo uma rota para a conversa que não fosse muito emocional ou perigosa.

-Sou professor na academia - Iruka esclareceu com um sorriso orgulhoso, ele realmente amava sua profissão - tenho que ensinar tudo isso aos meus alunos. Além disso, meus pais eram jounins na linha de frente da guerra e sempre deixavam uma ou outra coisa escapar quando estavam em casa.

Ainda preferindo essa conversa um pouco vazia e fácil de lidar, Sakumo continuou perguntando a Iruka sobre ele, sobre a academia e sobre seus pais. Ele gostaria de perguntar sobre seu filho e o que aconteceu com ele, afinal ele achava que se o garoto estivesse morto também, então eles já teriam se juntado à sua falecida esposa. E se ele estivesse vivo então não haveria motivo para a casa estar sendo ocupada por um estranho. As possibilidades eram tantas que Sakumo tinha medo de descobrir o que realmente aconteceu, sem saber como reagiria ao saber de qualquer atrocidade cometida contra seu filho.

Se desconsiderasse a diferença em questão de batimentos cardíacos, ambos estavam aproveitando aquela conversa leve e descontraída, mas Iruka não era de deixar de lado suas obrigações, chegando rapidamente ao seu ponto máximo de tolerância. Havia uma grande questão a ser resolvida e que ele não queria arrastar por um longo tempo. Apesar da boa companhia, o lugar de Sakumo não era mais entre os vivos e Iruka tinha que admitir que não se sentia confortável em morar com alguém que podia atravessar paredes.

-O que vamos fazer? - Iruka perguntou por fim - Não que eu esteja te expulsando de sua casa, mas…

-Meu lugar não é aqui - Sakumo completou por ele com um sorriso levemente triste - e sinceramente nem quero ficar. Eu quero me encontrar com minha esposa.

-Então vamos dar um jeito de levá-lo até ela - Iruka decidiu se levantar antes de se jogar no sofá de novo com um suspiro frustrado - mas como fazer isso?

Os dois olharam ao redor como se uma resposta fosse surgir do nada dançando hula na frente de seus olhos. Como isso não aconteceu, eles voltaram a se encarar, analisando um ao outro.

-Acho que o mais lógico seria descartar todas as coisas que as lendas dizem que funcionam - Sakumo começou contemplativo - afinal se eu estou aqui é porque fantasmas obviamente existem e alguém mais encontrou com um. Alguma coisa tem que ser real.

-Faz sentido - Iruka concordou.

-Começamos com sal? - Sakumo perguntou alongando o corpo como se estivesse se preparando para uma luta.

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Iruka se sentia esgotado. Não era pra menos também, afinal as últimas 48 horas foram completamente insanas.

Ele havia se mudado, carregando caixas e móveis de um lado a outro de Konoha, enfrentou uma ressaca irritante na manhã anterior depois de passar a maior parte da noite celebrando com aquele grupo animado e estranho de jounins - e com Izumo e Kotetsu também, ele não podia se esquecer dos amigos. Então ele passou por todo o dia de trabalho apenas para começar a faxina intensa que demoraria dias para acabar apenas para ser interrompido pelo fantasma de seu herói de infância que - surpresa! - era o proprietário anterior da casa que ele agora alugava.

Claro que nada estava tão ruim que não pudesse piorar e ele virou mais uma noite acordado, desta vez tentando métodos e mais métodos para mandar o fantasma de Sakumo para o além-vida com sua esposa. Ele tinha certeza que algumas das tentativas nem mesmo vinham de histórias de fantasmas, mas sim de outras criaturas sobrenaturais, mas sinceramente ele estava muito cansado e sem opções para determinar o que poderia ou não funcionar.

Ele já tinha enfrentado sua turma de alunos enquanto tentava não demonstrar cansaço nem ficar encarando Sakumo o tempo todo. O homem resolveu que não ficaria preso em casa e iria passear pela vila com Iruka.

-Quero ver as mudanças, ver se ainda tem rostos conhecidos por aqui - o homem tinha dito quando Iruka tentou se despedir dele naquela manhã.

-Só não cause infartos por aí por favor - Iruka pediu, sem forças para argumentar contra.

Ele acrescentou um pedido para não o fazer parecer maluco também depois que ficou claro que ninguém mais além de Iruka podia vê-lo. E Sakumo era um fantasma bem comportado ao menos, Iruka tinha que admitir. Ele ficava quieto observando ao redor. Em alguns momentos ele fazia um ou outro comentário, mas nada que precisasse da resposta de Iruka. Sakumo até mesmo ajudou Iruka a manter um olho durante o treino com armas para que nenhum aluno se machucasse, o que foi ótimo já que Iruka não estava em sua melhor forma.

A sala de missões estava calma por um milagre e permitiu a Iruka ler disfarçadamente o livro que tinha pego no caminho para lá sobre fantasmas e seres de outro mundo, buscando inspiração para como resolver o problema de Sakumo.

-Ei, Iruka-kun - Anko o comprimentou com um sorriso de lado - por que essa cara desanimada? Saudades do seu perseguidor pessoal?

-Meu o que? - Iruka perguntou confuso marcando a página que estivera lendo.

-Seu jounin de estimação, sabe? Aquele que não sai dessa sala mais e claramente está te paquerando?

-Não tem nada a ver com quem quer que seja que você está falando - Iruka afirmou - apenas não dormi bem essa noite.

Claro que Iruka sabia que Anko estava se referindo à Kakashi, era bem óbvio, mas dizer o nome só daria a ela a satisfação de rebater sua resposta com um “mas eu nem disse que era ele! Aposto que estava mesmo pensando no Kakashi, uh?” o que levaria a uma discussão que ele não tinha energia para completar no momento.

-Dificuldades de se ajustar com a casa nova? - ela perguntou em um tom de simpatia.

-Você nem imagina - Iruka resmungou, mas sorriu para Anko.

-Logo logo passa - Anko afirmou e lhe jogou um beijo - tenho que ir, o dever chama.

-Tome cuidado, Anko-chan - Iruka acenou antes de voltar ao seu livro.

-Ela parece divertida - Sakumo comentou ao lado de Iruka que para seu crédito nem mesmo piscou com a surpresa - ela se parece com uma garotinha que era da sala do meu filho. Mas não me lembro de nomes.

Iruka concordou com a cabeça e rabiscou em um pedaço avulso de papel “é provável, ela lutou na última guerra quando se tornou chunin”. Era um modo eficiente de responder Sakumo em público, assim ele não deixava o outro se sentindo de lado e não parecia maluco por falar sozinho, além de ser comum ver Iruka fazendo anotações avulsas o tempo todo.

Era interessante observar como Sakumo se movia pela sala e se interessava por pessoas e objetos avulsos. As expressões dele eram muito abertas e por algum motivo pareciam familiares para Iruka. Na verdade, muita coisa no homem parecia familiar, mas ele não conseguia entender esse sentimento. Talvez ele apenas estivesse se lembrando das vezes que o viu pela vila quando ainda era criança, antes mesmo de entrar para a academia, mas ainda sim algo estava lhe incomodando.

Uma passagem no livro chamou sua atenção, tirando seus pensamentos daquela sensação estranha.

Mas era óbvio! O motivo de alguém se tornar um fantasma era por ter uma ligação muito forte com a vida, o que muitos chamavam de assunto inacabado. Teoricamente, resolvendo esse assunto, o fantasma poderia seguir seu caminho em paz. Era de se esperar que eles já tivessem pensado nisso antes, mas a cabeça de Iruka ao menos não estava funcionando como o normal.

-O que foi, sensei? - Sakumo perguntou voltando para seu lado ao perceber que a postura de Iruka mudou. Sem falar nada, apenas com um sorriso enorme, Iruka apontou para o texto - É claro! Mas qual poderia ser?

-Vou fazer uma lista - Iruka respondeu em voz alta chamando atenção de algumas pessoas ao redor, mas ele não ligou, afinal aquela era uma grande descoberta.

O restante do turno de Iruka foi passado com Sakumo lhe falando sobre as coisas mais importantes em sua vida, o que ele mais valorizava e o que mais se arrependia. A lista era impressionantemente grande, mas Iruka estava confiante que poderiam reduzi-la rapidamente assim que pudessem conversar normalmente.

Parece que seu problema tinha acabado antes mesmo de lhe causar danos.

Chapter 4: Assuntos inacabados

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Reduzir a enorme lista de Sakumo foi uma tarefa bem mais complicada do que Iruka podia imaginar. Enquanto ele continuava seu trabalho de tornar a casa dos Hatake em seu novo lar - limpo e seguro - os dois discutiam sobre o que estava na lista e quais seriam suas prioridades.

Claramente saber que o impacto de suas ações não era tão grande quanto ele imaginava e que as novas gerações não o culpavam e inclusive, boa parte dos jovens tinha a mesma visão de Iruka sobre o que Sakumo fez não era o suficiente para mandar o homem para o além. Então tudo que estava na lista relacionado à sua reputação e à guerra foi riscado.

Iruka prometeu que eles poderiam procurar pelas pessoas que Sakumo imaginava que tivessem uma ligação forte com ele como seus antigos colegas de time, amigos e seu filho, mas isso teria que esperar até o dia seguinte quando pudessem visitar o memorial e os arquivos sob a luz do sol para facilitar o trabalho.

As outras muitas coisas não pareciam ter tanta importância, mas seria estúpido descartá-las sem testar primeiro, afinal aquilo não era uma ciência exata e qualquer coisa poderia mudar a situação de Sakumo.

Ao menos aquela noite Iruka pode descansar em seu novo quarto, agora limpo. Sakumo prometeu que não ficaria em casa, preferindo adiantar algumas das coisas que eles combinaram de fazer já que fantasmas não dormem e Iruka se sentia mais propenso a dormir sem ter alguém rondando a casa.

Mesmo caindo facilmente no sono, Iruka não achava que poderia considerar o sono agitado e cheio de sonhos estranhos como um descanso completo. Quando o sol o acordou no dia seguinte, ele se sentiu mais cansado do que quando foi dormir.

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-É inútil, Iruka-kun - Sakumo reclamou se jogando em uma cadeira e era surpreendente que ele não tivesse caído direto no chão - Estou dizendo, tentei de tudo e não deu resultado. E nem mesmo consegui localizar meu filho com uma noite inteira para tentar.

Eles estavam aproveitando o intervalo das aulas de Iruka e a sala de aula vazia para conversar sobre o que Sakumo tinha feito durante toda a noite. E Iruka tinha que admitir que era mesmo um pouco desanimador, mas ele também precisava aumentar o ânimo do homem para aquilo tudo dar certo, então ele escondeu sua própria frustração o melhor que pôde.

-Não vou deixar você desistir - Iruka apontou firme - não depois de apenas uma noite de trabalho. Aliás, você nem mesmo me disse o nome do seu filho, assim fica bem mais difícil de te ajudar a encontrá-lo!

-Não sabia que você falava sozinho, Iruka-sensei. - uma voz soou da janela assustando Iruka e colocando Sakumo automaticamente em uma posição de luta, mesmo que ele fosse um fantasma hábitos não desapareciam tão fácil - Ou seria um amigo imaginário? Passar tanto tempo com crianças não deve fazer bem pra cabeça, estou dizendo.

-Kakashi-san! - Iruka quase gritou com o coração na boca - O que está fazendo aí?

-Anko-san comentou que você não estava bem e como um bom shinobi da vila resolvi obedecer à regra de zelar por meus companheiros e vim ver se você não está a ponto de sei lá, matar um dos pirralhos ou algo do tipo - Kakashi deu de ombros, mas seu olhar era genuinamente preocupado. - Para deixar claro, não julgaria caso fizesse isso.

Iruka revirou os olhos com todo o drama que Kakashi parecia colocar para fora com um tom de voz entediado. Esse mesmo tom de voz já enganou Iruka muitas vezes antes, o fazendo crer que o outro não se importava com nada nem ninguém, mas depois de ver quão abalado o jounin ficou com o destino de seus genins, isso já não enganava mais à Iruka.

-Anko provavelmente estava exagerando, ou você está exagerando - Iruka respondeu, esperando que o outro pegasse o que ele realmente estava querendo dizer, para não se preocupar com ele - apenas não dormi bem.

-Hm - Kakashi pareceu examinar Iruka - problemas com a casa nova? Aquele lugar é de dar arrepios - Kakashi comentou dando de ombros.

-Você não faz ideia - Iruka resmungou dando uma olhada na direção de Sakumo e vendo que o outro estava congelado no lugar, encarando Kakashi de olhos arregalados.

Franzindo a testa para o homem, Iruka ficou sem saber como chamar a atenção dele para perguntar o que estava havendo. O som que Kakashi emitiu com sua resposta, uma meia risada estrangulada com um pouco de pena, foi o suficiente para voltar sua atenção para o outro vivo na sala.

-Dizem que o morador anterior não conseguiu ficar lá por muito tempo. Fantasmas demais pelo que parece - Kakashi comentou com um de seus sorrisos característicos.

-Fantasmas? - Iruka perguntou arregalando os olhos.

Talvez o último Hatake vivo, o filho de Sakumo, também tenha se encontrado com o pai ou algum outro parente que Iruka ainda não conheceu e por isso ele havia abandonado de vez a casa. Se fosse esse o caso eles teriam que descobrir por que Sakumo não se lembrava ou ao menos porque não tinha mencionado isso para Iruka ainda.

-Mah, sensei - Kakashi o olhou fingindo estar surpreso - não me diga que acredita nessas coisas como fantasmas. Eu estava falando no sentido figurado, é claro.

-Claro que não - Iruka forçou uma risada que não convenceu nem a si mesmo - apenas estranhei a escolha de palavras, Kakashi-san.

O sinal indicando a volta às aulas chamou a atenção de todos para a porta, por onde a qualquer momento a turma de Iruka entraria para mais algumas horas de controle de chakra.

-Vou indo, sensei, minha alergia não me permite dividir o espaço com tantas pestinhas. Não deixe os fantasmas da família Hatake te expulsarem da sua nova casa ou atrapalharem seu sono de beleza - Kakashi acenou subindo na janela - não que você precise, é claro - ele completou e saiu correndo antes mesmo que Iruka pudesse formular as palavras para o responder à altura.

Quando ele se voltou para Sakumo, o fantasma ainda estava congelado no lugar, mas sua expressão não demonstrava nada do que se passava em seu interior.

-Tudo bem, Sakumo-sama? - Iruka perguntou em tom de voz baixo, vigiando a porta.

Sakumo concordou com a cabeça sem parar de encarar o espaço onde Kakashi antes estava.

-Tenho que ir - Sakumo murmurou e desapareceu.

Era um choque para Iruka ver o homem sumir no ar, sem mover um músculo sequer, uma lembrança de que o outro não era mais parte desse mundo. Apesar da preocupação com Sakumo, Iruka não podia negligenciar suas obrigações e teve que voltar sua atenção para a turma que entrava animada depois de algum tempo ao ar livre. Sua mente dividida entre a tarefa em mãos e toda aquela situação inesperada.

-Muito bem, acomodem-se para continuarmos a lição sobre controle de chakra - ele chamou a turma - e por favor deixem suas tarefas de casa em minha mesa.

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Dois dias inteiros se passaram desde que Sakumo saiu de sua sala de aula depois daquela reação estranha ao ver Kakashi e desde então Iruka não teve nem mesmo um vislumbre do homem.

Ele havia usado seu tempo livre para pesquisar alguns nomes que tinham na lista de Sakumo e os separou entre aqueles que faleceram e os que estavam vivendo em relativa tranquilidade como ninjas aposentados da vila. Não eram muitos os que sobreviviam até uma idade avançada na profissão deles, mas ainda sim havia uma quantidade significativa.

Iruka também conseguiu acelerar a organização da casa. Todos os cômodos principais estavam limpos e organizados com os pertences de Iruka, ele tinha chamado um eletricista para conferir a segurança da casa e um encanador para consertar alguns problemas que ele identificou durante a limpeza.

Com a segurança e limpeza resolvidas, seus maiores problemas por ali, Iruka já tinha começado a guardar tudo que tinha nas caixas. Os utensílios de cozinha, produtos de higiene e o que ele mais usava em seu dia a dia já estavam no lugar. O próximo passo era o restante de suas coisas como suas roupas de frio e as decorações para a casa. Ele havia decidido manter boa parte dos trabalhos de seus antigos alunos - que ele ainda guardava por algum motivo - nas caixas e estocá-los no cômodo que estava se transformando em um modesto escritório.

Enquanto se movia pelos cômodos, deixando o quarto de naruto por último, ele fazia anotações do que precisaria comprar para completar o trabalho de tornar aquela casa seu lar. Era algo cansativo e que exigia sua atenção e foco e por isso mesmo era bom o bastante para manter seus pensamentos longe de certo fantasma.

Ele havia passado pouco tempo com Sakumo, mas tinha se apegado a ele e estava mesmo empenhado em ajudá-lo, mas a súbita ausência do outro poderia significar que ele tivesse conseguido fazer a passagem e estava feliz ao lado de sua esposa agora. Ao menos Iruka poderia torcer para que fosse assim.

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Mais alguns dias se passaram e Iruka já nem mesmo considerava possível que Sakumo ainda estivesse entre os vivos, quando um súbito clarão iluminou a sala enquanto ele tentava corrigir algumas provas.

-Sakumo-sama?

Era inacreditável, mas o homem apareceu diante de seus olhos como havia sumido dias antes. Ele parecia confuso como Iruka, demorando a se adaptar ao novo ambiente.

-Iruka-kun? Não, não, eu deveria estar saindo de Konoha agora - Sakumo arregalou os olhos - como vim parar aqui de novo?

Iruka segurou um comentário sobre aparentemente o homem nunca estar onde deveria estar e se voltou para controlar o próprio coração batendo desenfreado.

-Sakumo-sama, achei que já tinha cruzado para o outro lado. Onde você esteve?

-Me perdoe, Iruka-kun - Sakumo sorriu para Iruka com uma expressão triste - receio que ainda não concluí meu assunto inacabado, mas ao menos agora eu sei qual é.

-Você descobriu! - Iruka comemorou - Como posso te ajudar?

Sakumo sorri carinhosamente para o jovem, admirado pelo outro não ter logo de cara perguntado sobre qual era tal assunto. Isso demonstrava como o outro estava empenhado em realmente o ajudar e não apenas curioso sobre detalhes íntimos de sua vida.

-Meu filho não é feliz, Iruka-kun - Sakumo suspirou - ele sente a falta de todos que perdeu, vive preso em um passado que já não deveria ser sua âncora ao invés de pensar no futuro e ele não parece muito empenhado em se manter vivo, ao menos não se isso não for bom para Konoha. Ele é meu assunto inacabado. - com o silêncio de Iruka e seu olhar de apoio, Sakumo continuou - Quando tomei a decisão de restaurar a honra do meu clã eu o fiz para proteger meu filho e lhe dar um bom futuro, um futuro digno, mas parece que isso só o causou dor e eu preciso que ele siga em frente.

-Isso faz muito sentido - Iruka concordou seriamente - se me permitir, seria uma honra ajudar um companheiro de Konoha a reacender sua vontade do fogo.

-Você fala como Shodaime - Sakumo apontou com um sorriso orgulhoso - e isso me faz crer que você é mesmo a pessoa certa para essa tarefa.

-Vamos trabalhar juntos então para que isso aconteça - Iruka respondeu um pouco sem graça pelo elogio - mas acho que vou precisar saber quem é esse filho misterioso ou não vou conseguir fazer muita coisa.

Sakumo pareceu se dar conta de que não tinha mencionado o nome ainda apenas nesse momento, dando um tapa na própria testa e rindo de sua distração.

-Mas é claro, como pude não dizer antes. Meu filho é Hatake Kakashi.

-O nome do Kakashi é Hatake? - Iruka perguntou de olhos arregalados - Eu sabia que ele não é um Uchiha, mas não tinha ideia de seu nome completo!

-Não me surpreende que você não saiba - Sakumo comentou - eu o segui por todo esse tempo e as pessoas apenas parecem o chamar de Kakashi ou Kakashi do Sharingan. Que aliás eu gostaria muito de saber como meu filho acabou com um dos olhos dos Uchiha.

-Bem, isso eu não posso te responder - Iruka deu de ombros - nunca soube a história verdadeira, mas sei que aconteceu ao final da última guerra. Houve uma grande comoção entre os Uchiha quando ele voltou de uma missão com um dos olhos transformado em um sharingan. Me lembro que alguns boatos sobre ele ser um Uchiha bastardo surgiram, mas ninguém nunca soube a verdade.

Sakumo pareceu refletir sobre isso, mas nenhum dos dois tinha informações suficientes. O único que poderia responder aquilo era o próprio Kakashi e pelo que Iruka sabia do jounin, era pouco provável que ele contasse a história verdadeira, sempre optando por desculpas estranhas e exageradas.

-De qualquer modo, Iruka-kun, Kakashi precisa de alguém com quem contar. Alguém que ele possa confiar e que traga vida de volta à sua existência. Mas até lá, eu gostaria que você mantivesse um olhar mais atento para ele, apenas caso ele resolva se arriscar mais do que o necessário.

-Não sou muito próximo de Kakashi-san como pode ter dado a entender aquele encontro em minha sala de aula - Iruka apontou - mas farei o meu melhor. Kakashi sempre me pareceu meio solitário e apesar de irritante ele é uma boa pessoa e pode ser um ótimo amigo.

Sakumo sorriu diante da concordância do outro. Ele realmente estava preocupado com Kakashi. O garoto passava tempo demais conversando com uma pedra memorial, citando nomes de muitas pessoas para ser uma atitude saudável. Não só o tempo que ele passava entre os mortos era muito, mas os assuntos também preocupavam Sakumo.

O homem não conhecia todos aqueles nomes, mas ele conseguiu entender que eram todos pessoas próximas a seu filho e ele falava de todos os fracassos de sua vida. Contava sobre o que Sakumo desconfiava ser um grupo de genins que se separou e que isso pesava nos ombros de seu filho e contava sobre todas as pessoas com quem Kakashi falhou.

Mas havia algo em meio a toda aquela escuridão que lhe deu esperança de que tudo pudesse melhorar. Kakashi falava muito de três pessoas que ainda estavam na vila e que interagiam constantemente com ele.

Uma delas era o garotinho que Sakumo se lembrava ser filho de Might Dai e que declarou que Kakashi seria seu eterno rival. A amizade entre os dois era estranha, mas ao menos ele podia ver um brilho nascendo no olhar de Kakashi ao ver o outro, mesmo que ele o escondesse bem com uma expressão desinteressada que pelo visto não afetava nem um pouco Gai.

Outra era um agente Anbu com quem ele treinava constantemente e que era algo mais do que seu aluno e subordinado. O tal Tenzou parecia ser alguém que despertava o lado protetor de Kakashi com uma facilidade absurda e o laço entre eles era forte o suficiente para resistir a muitas turbulências. Era o tipo de pessoa que Sakumo torcia para que seu filho conhecesse quando ele entrou para a academia.

E então havia uma terceira pessoa. Alguém que Kakashi não interagia tanto, mas que parecia o marcar mais do que todos os outros, considerando que era o nome que mais saia de seus lábios enquanto conversava com o tal Obito - e Sakumo não deixou escapar que seu filho conversava com um Uchiha falecido e isso poderia ter ligação com seu sharingan. Kakashi contava de como era fácil irritar Iruka-sensei, como ele ficava vermelho de raiva com muita rapidez e como seus gritos eram divertidos, apesar de muito barulhentos.

Iruka era tema constante e Kakashi dizia o respeitar por ter coragem de defender aqueles que ele amava. Doía um pouco ouvir que Kakashi achava o outro ingênuo por esse mesmo motivo e até mesmo atribuia certa fraqueza a ele que Sakumo sabia ser relacionada ao que aconteceu consigo, mas ao menos Iruka parecia ser alvo do carinho de Kakashi e era disso que ele precisava agora.

Sakumo só torcia para não ter lido todas as informações errado e para ter usado a famosa genialidade dos Hatake do modo certo. Ele torcia muito para que seu plano funcionasse e pela resposta que teve de Iruka, as coisas pareciam promissoras para o futuro.

Chapter 5: O plano em ação

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Apesar de saber que o assunto inacabado de Sakumo era Kakashi e a felicidade do jounin, como alcançar esse objetivo ainda era muito incerto para Iruka. Ele não tinha mentido sobre não ser tão próximo de Kakashi e apesar de todas as revelações genéricas de Sakumo sobre a vida de Kakashi - a maior parte Iruka já imaginava, afinal que ninja não tinha perdas traumáticas e problemas de relacionamento? - ainda sim era difícil traçar uma rota de ação.

Como um primeiro passo, Iruka resolveu que ele mesmo precisava ver o que Sakumo lhe contou da rotina de Kakashi. O fim de semana era perfeito para isso, já que ele não precisava trabalhar e podia se dedicar à tarefa que não era assim tão simples.

Seguir um jounin sem ser detectado era quase impossível. Ao menos para alguém que não fosse um ex-bagunceiro como Iruka que conhecia melhor do que ninguém todos os melhores esconderijos e ângulos para observar as ruas de Konoha. Ajudava ter alguém que era invisível para todo o resto do mundo lhe dando apoio também, ele não podia negar.

Até certo ponto da tarde Iruka já tinha mais do que se solidarizado com os dois Hatakes.

Ele tinha observado Kakashi sair mais do que cedo de sua casa, contrariando tudo que todos acreditavam sobre o homem que parecia desconhecer o que era um relógio. Kakashi tinha ido direto para o memorial em um horário que com certeza ninguém estaria por lá e passou quase a manhã inteira entre um e outro túmulo antes de parar na frente da grande estátua de uma chama com os nomes de todos os heróis de Konoha.

Iruka não tinha ouvido o que ele estava dizendo, afinal ele já estava se metendo demais na vida pessoal do outro, não precisava saber de algo tão íntimo. E Iruka sabia que eram coisas muito íntimas que Kakashi sussurrava apenas para os mortos, afinal quantas vezes ele mesmo estivera ali contando à seus pais coisas que não tinha coragem de dizer a mais ninguém? De novo, as perdas eram algo comum até demais na vida de todos os shinobis.

Toda aquela situação com Sakumo inclusive fazia Iruka questionar se alguma dessas vezes os seus próprios pais haviam estado ali e colocado a mão em seu ombro como o homem fez enquanto Kakashi falava em frente à uma pedra fria. Apesar de a ideia ser apelativa e diminuir a saudade dos dois, ele preferia acreditar que não porque isso significaria que seus pais estavam realmente em um lugar melhor, livres dos sofrimentos daquele mundo shinobi.

Só pelo tempo que Kakashi gastou ali, Iruka já precisou se segurar para não correr até o jounin e o abraçar. Ele percebia que o outro precisava urgente de um abraço, mas também que isso podia ser visto como uma ofensa pelo jounin orgulhoso.

Então o almoço veio e Iruka precisou mesmo rever os adjetivos de preguiçoso e desleixado que constantemente descreviam o outro homem. Kakashi havia voltado direto para casa e passou um bom tempo preparando uma refeição enorme com uma grande variedade de carnes.

E não, toda aquela comida não era apenas para ele. Aparentemente nem mesmo ninjas anti-sociais gostavam de comer sozinhos e Kakashi se deslocou até o campo de treinamento mais próximo, arrumando um piquenique muito organizado antes de utilizar o jutsu de invocação e comer na companhia de sua matilha de cães.

A cada expressão de Iruka diante de uma novidade como aquela sobre Kakashi - e não, por mais tentador que fosse, Iruka não deu sequer uma olhadela para o rosto desnudo de Kakashi - era seguida de um comentário calmo de Sakumo comparando o garotinho que ele criou, o que ele sonhou para o futuro do filho e o homem que ele havia se tornado.

Ao pensar em Naruto, Iruka conseguia perceber aquela dualidade entre orgulho e tristeza que havia em Sakumo. Ele comentava sobre como foi que apresentou Kakashi à matilha, que cuidou do menino enquanto Sakumo realizava missões e não podia contar com mais ninguém.

Sakumo contou sobre como inventava pequenas missões pelo complexo que fazia parte da propriedade deles e obrigava Kakashi a entregar relatórios sobre a busca por um inseto ou sobre a brincadeira de esconde-esconde com a matilha. Relatórios que pelo que ele dizia eram muito melhores do que os que Kakashi entregava depois de adulto, afinal eram tão cuidadosos e detalhados que alguns tinham inclusive desenhos infantis sobre um ou outro detalhe que o menino achou importante e que acabavam como uma exposição de arte entre os poucos pertences de seu pai.

Pelo que Sakumo dizia, Kakashi era uma criança habilidosa, com dificuldade de conviver com outros de sua idade, mas que confiava cegamente nas pessoas que o conquistaram. Não parecia tão diferente assim do jounin que eles observavam ou de um punhado das crianças que passavam pela sala de aula de Iruka, mas ainda sim havia um peso que não era possível ver em uma criança e era isso que Iruka queria remover ao final dessa jornada, o peso que impedia Kakashi de respirar livremente. Apenas a pergunta de como fazer isso permanecia.

Depois do almoço compartilhado, Kakashi caminhou calmamente até a sala de missões e saiu rapidamente para cumprir o que quer que Izumo tenha o entregado. Iruka preferiu não o seguir durante a missão pelo alto risco de ser descoberto e por não querer causar complicações desnecessárias para o outro ou para a vila com seu pequeno experimento.

Iruka esperou próximo à sala de missões até que Kakashi retornasse. De seu esconderijo ele podia ao menos conversar com Sakumo em voz alta e ele fez questão de dividir tudo que estivera pensando durante boa parte do dia. Apesar de Kakashi não ser uma criança ou adolescente como era o caso de Naruto e Sasuke, Iruka se sentia culpado por não ter notado antes como ele estava ferido e como Iruka poderia tê-lo ajudado ao menos um pouco.

-Não se sinta assim, Iruka-kun - Sakumo o consolou ao final de seu longo desabafo - ainda há tempo para ajudar Kakashi e algo me diz que se tem alguém capaz de penetrar aquela cabeça dura, esse alguém é você. Meu filho tem muito apreço por você e o tem na mais alta estima, acredite.

-Espero que sim, Sakumo-san - Iruka suspirou - apesar de continuar um pouco perdido com a parte prática desse plano, eu sei que Kakashi precisa de alguém com quem contar, alguém vivo que realmente vai responder quando ele falar.

Sakumo sorriu para Iruka, um sorriso agradecido e paterno. Perdidos em pensamentos, os dois ficaram em silêncio até observarem Kakashi entregando seu relatório.

A interação entre ele e os funcionários na sala de missões era rotineira para Iruka, tanto que ele podia até mesmo imaginar o que estava sendo dito por lá. E depois disso Kakashi pareceu fazer coisas aleatórias pela cidade. Compras de mercado, visitando estandes sem comprar nada na feira aberta, conversando com pessoas aleatórias na rua antes de voltar por onde veio e entrar em outra rua que não levava a lugar nenhum…

Até que ele fez uma curva em um beco apertado e Iruka acabou o perdendo de vista. Para Iruka estava claro que Kakashi tinha percebido que alguém o seguia e por isso ele nem mesmo entrou no beco, apenas passando por ele com um olhar levemente curioso.

Sabendo que sua pequena aventura chegou ao fim, Iruka preferiu comprar seu jantar e voltar para casa mais cedo do que planejava. Quem sabe ele não conseguiria terminar o quarto de Naruto naquela noite mesmo.

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A lua estava alta no céu quando Iruka finalmente relaxou em seu sofá. Sakumo tinha saído cerca de meia hora antes, dizendo que queria ficar próximo de seu filho e velar por seu sono como tinha feito tantas vezes quando Kakashi era pequeno e o coração de Iruka derreteu um pouco mais com isso.

Ele tinha que admitir que todas aquelas novas faces de Kakashi, além de explicarem muito bem os comportamentos estranhos do homem, também estavam mexendo com Iruka de um jeito que ele não sabia bem descrever. Era um sentimento de proteção parecido com o que ele tinha com Naruto e o que o ligou ao menino, mas não era exatamente igual. Algo no modo como Iruka se sentia atraído e interessado em Kakashi era… ele não sabia descrever, não era nada como qualquer experiência de Iruka.

-Iruka-kun! - Sakumo chamou, entrando às pressas na sala e assustando Iruka - sinto muito, ele…

Seja lá pelo que Sakumo estava se desculpando, foi cortado por Kakashi que também invadiu sua sala, entrando pela janela que Iruka tinha deixado aberta.

-Kakashi-san? - Iruka perguntou levantando as sobrancelhas - Alguém te ensinou o conceito de portas? - Ele olhou na direção de Sakumo notando a ironia em seu próprio comentário - Você pode bater nelas e esperar para que alguém a abra para você entrar como todas as pessoas fazem. É o educado a se fazer.

-Hmm, entendo sensei - Kakashi comentou se sentando na janela de Iruka - educado como seguir um companheiro shinobi o dia inteiro pela vila sem nenhum motivo aparente?

Um silêncio pesado se fez com Iruka claramente se entregando pela cara de espanto como um garotinho pego com a mão no pote de biscoito. Ele tinha pensado em tudo, mas aparentemente uma boa desculpa para caso fosse pego não foi uma delas.

-Eu não sei do que está falando? - Iruka respondeu por fim com um tom mais de pergunta do que de exclamação.

-Tenta de novo, sensei - Kakashi sugeriu, mas havia uma certa ameaça em sua voz, mesmo que muito leve.

-Não é o que você está pensando. - Iruka se encolheu e fez uma careta com a própria fala clássica de um culpado que estava sim fazendo exatamente o que o outro estava o acusando de fazer.

-E o que eu estou pensando, sensei? - Kakashi perguntou se aproximando devagar e causando mais nervoso em Iruka. - Porque nem eu mesmo sei bem o que estou no momento.

-Em algo perto de uma ameaça ou espionagem? - Iruka usou aquele tom de voz incerto de novo e queria se bater por isso.

-Se não é isso, então por que?

Havia uma curiosidade real na voz de Kakashi que subjulgava a ameaça anterior. Ele parecia extremamente confuso com o que Iruka pretendia com ele e quem poderia culpá-lo por isso, afinal era mesmo um mundo instável que exigia a máxima cautela esse que eles viviam.

O perigo que Iruka tinha sentido antes saiu totalmente de foco, o que fez seus músculos relaxarem um pouco e o permitiu pensar melhor em toda a situação. Ele não poderia dizer que estava vendo o pai morto de Kakashi e que ele havia pedido para deixar o jounin mais feliz, mas ele poderia dar uma versão bem editada da verdade.

-Eu estive te observando desde que… - Iruka fez uma pausa, mas então continuou preferindo arrancar o band-aid de uma só vez - desde que Sasuke e Naruto se foram. E sinceramente eu fiquei preocupado com você, Kakashi-san - com suas palavras os olhos de Kakashi se arregalaram levemente, quase não o bastante para ser notado - você não me parece bem e você mesmo disse, é nossa obrigação cuidar uns dos outros.

-Você quer… cuidar de mim, sensei? - Kakashi perguntou falando o “cuidar” como se fosse uma palavra estrangeira que ele não conhecia.

Iruka concordou com a cabeça, não confiando em sua voz. Não tinha sido tão difícil quanto pareceu em um primeiro momento e o sorriso confiante de Sakumo apenas o incentivou ainda mais a se manter naquela linha. E agora, pensando melhor nesse pequeno confronto, era apenas algo inevitável se ele queria mesmo tornar a vida de Kakashi melhor.

Kakashi pareceu engolir em seco com a resposta muda de Iruka. Ele se jogou no sofá onde Iruka estivera sentado quando ele chegou, completamente perdido em pensamentos enquanto encarava um ponto qualquer com olho desfocado.

Depois de um tempo, quando ficou claro que Kakashi não se moveria tão cedo, Iruka resolveu que um chá seria uma boa opção para quando isso acontecesse. ele rapidamente arrumou tudo e passou o tempo para a água esquentar apenas observando Kakashi.

Vê-lo tão imóvel permitia a Iruka analisar melhor a aparência de Kakashi. Não para determinar se ele era ou não bonito ou atraente, isso Iruka já sabia que ele era a muito tempo, mas sim para notar o quanto ele parecia abatido pela rotina que vinha seguindo. Havia olheiras e bolsas embaixo de seu olho visível e o uniforme parecia mais largo do que deveria, mesmo que ele soubesse que Kakashi era musculoso pelo constante treinamento. Até mesmo o cabelo dele parecia menos vibrante e macio.

-Chá? - Iruka perguntou com uma xícara na frente de Kakashi quando o jounin finalmente se moveu para o olhar novamente.

Kakashi olhou do rosto tranquilo de Iruka para a xícara em suas mãos antes de pegá-la e bebericar com cuidado o líquido quente.

-Obrigado, sensei - ele agradeceu bebendo mais um pouco antes de se voltar para Iruka novamente - isso é uma novidade para mim, sensei, peço perdão pela minha reação.

-Não há o que desculpar - Iruka o cortou - qualquer shinobi reagiria desse modo e isso só prova quão bom você é por manter a calma sabendo que estava sendo seguido desse modo.

-Não era bem disso que eu estava falando - Kakashi murmurou - eu não tive muitas oportunidades de pôr em prática o que aprendi na teoria, sabe sensei, ao contrário do que todos pensam. Então não sei bem se poderei atingir todas as suas expectativas.

-Expectativas? - Iruka perguntou - Apenas quero que as coisas sejam melhores para você, não que você mude para agradar alguém.

Kakashi engasgou com o chá, mas disfarçou bem.

-Sendo assim, sensei, acho que iremos nos dar muito bem.

-Fico feliz em saber - Iruka sorriu encorajador para Kakashi.

Era bom ouvir que Kakashi estava entendendo onde Iruka queria chegar e estava disposto a ter Iruka em sua vida, disposto a ter um amigo próximo com quem talvez pudesse dividir um pouco do fardo que ele carregava sozinho.

-Acho que o próximo passo seria passar algum tempo juntos em uma atividade que agrade aos dois, certo? - Kakashi perguntou com seu clássico sorriso.

O modo formal com o qual ele falava era um pouco engraçado e desajeitado, mas ainda sim era fofo, por mais estranho que fosse usar aquela palavra para descrever Kakashi.

-Não seria uma má ideia. O que tem em mente? - Iruka perguntou no mesmo tom que o outro usou.

-Um drink talvez? Acho que é um pouco cedo para uma refeição completa como um jantar ou almoço, o que acha?

-Um drink seria ótimo - Iruka concordou - kami sabe como preciso de algo assim.

Com essas palavras Iruka percebeu que Sakumo parecia não estar por perto. Estranho já que ele parecia dedicado a ficar entre Iruka e Kakashi desde que apareceu a primeira vez.

-Um drink então - Kakashi confirmou e se levantou - preciso ir, prometi à Gai que cumpriria um de seus desafios antes de meia noite e se eu não aparecer ele vai considerar como uma vitória para ele.

Iruka não respondeu, dando um sorriso apenas para não arriscar dizer a coisa errada e chatear Kakashi ou espantá-lo depois de tanto progresso tão rápido. Se continuasse assim ele teria a casa para si mais rápido do que imaginava e teria mais um amigo com quem dividir os momentos da vida.

-Divirta-se? - Iruka ofereceu quando levou Kakashi até a porta, insistindo para que ele saísse pelo lugar correto.

O olhar de Kakashi entre “difícil” e “duvido que irei” arrancou mais uma risada de Iruka. Iruka esse que estava tão focado em seus planos futuros para ajudar os Hatake que nem mesmo notou a mudança no foco do olhar de Kakashi ou o movimento de suas mãos que foram rapidamente para sua máscara.

Iruka apenas notou quando lábios finos e quentes tocaram os seus em um selinho rápido e levemente desajeitado. Os olhos de Iruka se arregalaram, mas ele não afastou Kakashi. Quando ele voltou a si, a máscara de Kakashi já estava no lugar e o jounin estava fechando a porta de sua casa.

-O que foi isso?- Iruka sussurrou minutos depois quando o choque o deixou.

-Tentei te avisar, Iruka-kun - a voz de Sakumo soou às suas costas - parece que meu filho já desconfiava de algo e suas palavras apenas confirmaram sua teoria. Kakashi acha que você está apaixonado por ele. E acho que isso significa que ele também gosta de você.

Chapter 6: Encontros

Chapter Text

No dia seguinte ao que Kakashi o beijou - e sim, Iruka ainda estava pirando com isso uma semana depois do acontecido - o jounin teve que deixar a vila para uma longa missão envolvendo a akatsuki. Era pra ser uma missão secreta mas considerando o nível dos inimigos, todos já estavam falando disso.

Iruka achou fofo como o outro deixou um bilhete em sua porta dizendo que iria estar longe da vila e que o procuraria quando voltasse. Apesar de fofo, o gesto não acalmou as borboletas no estômago do sensei que lhe mandavam mensagens de todos os tipos sobre os últimos acontecimentos.

Ele considerou por um momento correr para longe e se juntar à Naruto, mas Iruka não tinha muito potencial para se tornar um ninja foragido. Ele também pensou em como desfazer o mal entendido, mas então uma vozinha no fundo de sua cabeça o disse para deixar de ser bobo e admitir logo que ele mais do que gostou de ser beijado por Kakashi - ele foi beijado por Kakashi!

Os dias se passaram e Iruka percebeu que na verdade ele sentia falta sim do jounin. Ajudou muito Sakumo ter respeitado seu espaço, mas ainda sim ter contado algumas histórias a mais sobre quando Kakashi era criança. Isso o ajudou a ver o outro mais como o homem que ele era e menos como a figura estranha que ele criou para o mundo.

E então, quando Kakashi retornou, Iruka estava mais do que pronto para aceitar o novo rumo que aquilo tudo estava tomando e pode relaxar e curtir o primeiro encontro deles num barzinho aconchegante de Konoha que Iruka não conhecia e aparentemente era o preferido de Kakashi.

A noite de drinks entre Kakashi e Iruka acabou se tornando um evento recorrente no mês que se seguiu. Quando eles não iam para o bar preferido de Kakashi, os dois se encontravam no Ichiraku ou em um dos muitos restaurantes dentro e fora de Konoha para uma bebida ou um jantar, às vezes os dois.

Iruka não se surpreendia de não sair com Kakashi pela manhã, sabendo que ele gostava de passar aquele tempo no memorial, não que Kakashi tenha dito isso. O homem era uma caixa infinita de desculpas malucas, então aquela informação veio de Sakumo que também ganhou o hábito de passar um bom tempo “conversando” com o filho pela manhã (inclusive Sakumo havia reclamado várias vezes sobre Kakashi claramente preferir conversar com Obito do que com ele, o que sempre fazia Iruka rir do ciúmes do homem) e deixava Iruka bem mais tranquilo para dar suas aulas sem se preocupar com parecer maluco ao interagir com o fantasma.

Apesar disso, Iruka tinha percebido que Kakashi parecia cada vez mais inclinado a mudar os hábitos anteriores e ao menos podia ser visto mais vezes ao dia com Gai ou algum dos outros jounins que Iruka descobriu terem se formado com ele, ou ao menos serem da idade dele. Jounins aliás que já haviam percebido as interações entre ele e Kakashi e chegaram a conclusão de que agora Iruka também era parte daquele bando de malucos. Era estranho subitamente ter a atenção de tantas lendas do mundo shinobi, afinal até pouco tempo os únicos que conversavam com ele eram Anko, Kurenai e às vezes Asuma.

Todo aquele contato constante com outras pessoas estava claramente ajudando Kakashi a deixar os mortos um pouco de lado e focar nos vivos e na própria vida, mas por outro lado, tudo aquilo estava confundindo imensamente Iruka. Eles conversavam bastante e ele gostava muito de passar tempo com Kakashi. O homem era maluco sim, mas também era genial, esperto e tinha uma língua afiada que Iruka estava começando a apreciar mais do que deveria. Ele parecia se importar até demais com as pessoas ao redor, mesmo que não soubesse demonstrar direito.

Apesar de suas exclamações sobre os alunos de Iruka, agora o chuunin sabia que era apenas porque ele não sabia como lidar com crianças que eram tão honestas e intocadas pelos horrores fora dos muros de Konoha. O que fazia sentido já que o próprio Kakashi foi uma criança por muito pouco tempo e, segundo Sakumo, sempre foi maduro demais para a própria idade, o que arrancou alguns olhares incrédulos de Iruka. Kakashi ser realmente maduro era uma novidade e tanto para ele que estava acostumado com os modos mais extravagantes do homem.

Além de toda a parte racional de Iruka que lhe dizia que Kakashi era uma boa pessoa com quem ele poderia conversar sobre tudo sem nem mesmo ver o tempo passar, também havia um outro lado.

Um que ele não queria nomear, mas que fazia seu coração disparar no peito apenas ao se lembrar do jounin. Um que ansiava pelos toques de Kakashi que aos poucos iam ficando mais confiantes e certeiros, com beijos que tiravam o fôlego de Iruka e mãos que o faziam arrepiar.

Depois de apenas poucos dias ficou claro que ambos não tinham experiências em romances ou se agarrar por aí, mas eles eram muito bons autodidatas e aos poucos aprendiam o que agradava ou não ao outro. Toda essa parte física ainda era uma novidade para Iruka e o pegava desprevenido a maior parte do tempo, mas ele definitivamente não podia reclamar.

Era comum eles saírem e acabarem se pegando em um campo de treinamento ou no apartamento minúsculo de Kakashi. Iruka entendia melhor do que poderia explicar o porquê de Kakashi não gostar de ir para sua casa, afinal deviam haver muitas memórias por lá que o outro queria evitar. De novo, não que o próprio Kakashi tivesse dito isso, mas para alguém que sabia sua história, era fácil interpretar suas piadas sobre “fantasmas vagando pelos corredores” às custas daquele dia em que ele pegou Iruka falando “sozinho” na sala.

E por falar em fantasmas, Sakumo parecia feliz em dividir as refeições com eles, mesmo que sumisse depois quando as coisas esquentavam.

Depois da segunda vez que Kakashi beijou Iruka e Iruka se perdeu entre seus toques se esquecendo completamente da audiência invisível, o chunnin ficou apavorado em encarar Sakumo sozinho, sem saber como ele reagiria, mas o homem riu abertamente e fez menção de abraçar Iruka antes de se lembrar que não era possível.

-Eu fico feliz que ele tenha se aberto para um relacionamento - Sakumo apontou - ainda mais com alguém como você. Sei que ainda é cedo, mas você tem minha benção para se juntar à família. Ainda mais que você já chama nossa casa de lar e está fazendo um ótimo trabalho ao torná-la aconchegante novamente.

Iruka ainda não tinha perdido um pouco da vergonha em falar sobre isso com Sakumo, mas ele ficava feliz por estar não só se divertindo mas também seguindo o curso certo para livrar o homem de suas amarras na terra e finalmente juntá-lo à sua falecida esposa. Se Iruka ganhasse um bom amigo ou aparentemente um namorado com isso tudo, seria ainda melhor.

O chunin e o fantasma já tinham se adaptado tanto à companhia um do outro que algumas vezes durante os encontros com Kakashi, Iruka reagia a algo que Sakumo fez ou falou como se todos pudessem ver o homem também, causando algumas situações constrangedoras. Ele tinha certeza que Kakashi achava que ele tinha muitos parafusos a menos depois de vê-lo falando com o ar tantas vezes.

Naquela noite Iruka estava especialmente feliz e não ligando nem um pouco para detalhes como o fantasma - seu sogro? - que morava em sua casa. Ele havia recebido uma carta de Naruto, algo que ele não imaginava nunca que poderia receber já que a localização dele e de Jiraiya era tão sigilosa quanto as missões de rank-S ou até mais do que estas.

Mas de algum modo Naruto havia conhecido um mensageiro ninja e conseguido enviar aquela carta. Ele não falava nada de muito revelador, com certeza tendo passado pelo olhar de Jiraya antes de a carta ser entregue. Naruto contava sobre lugares muito bonitos que ele gostaria de visitar com os amigos e Iruka no futuro, sobre como estava treinando muito e ficando mais forte. Sobre estar com saudades de Konoha e louco para ver como a casa nova tinha ficado.

Ele também mencionava um pouco de sua relação com seu novo sensei e pedia para Iruka dizer à Sakura que não tinha esquecido de sua promessa e para Iruka manter um olho em seu outro sensei pervertido que havia ficado na vila. Como Naruto mencionava Kakashi na carta, ele decidiu levá-la até o bar onde tinha combinado de se encontrar com o jounin.

-Essa alegria toda é só por me ver, sensei?

A voz rouca de Kakashi soou às suas costas o fazendo se arrepiar. Normalmente Iruka iria corar com o que estava subentendido na provocação do outro, mas naquele momento tudo que ele conseguiu foi se virar e entregar com entusiasmo a carta para Kakashi.

-Naruto escreveu! - ele quase gritou de alegria.

Kakashi olhou para o papel que Iruka lhe entregou com uma sobrancelha levantada e riu para o sensei.

-Estou vendo. É estranho ter ciúmes de um garoto de quatorze anos? - ele perguntou com sua melhor expressão de pensativo.

-Bobo - Iruka rebateu com um sorriso - não tem necessidade para ciúmes. Além da diferença de idade, Naruto é como um irmão mais novo ou talvez mais como um filho para mim.

-Nem quero ver a reação dele se descobrir que você tem passado tempo comigo - Kakashi comentou antes de olhar para a carta e murmurar - muito menos se ele descobre o que fazemos nesse tempo.

Ao ver Sakumo atrás de Kakashi parecendo não saber pra onde olhar, Iruka corou. Ele não se acostumaria tão cedo com aquela situação toda.

-Lê logo - Iruka resmungou ainda mais sem graça ao ver que algumas pessoas que passavam por ali também ouviram o comentário do outro e agora os encaravam abertamente. Ainda bem que não havia nenhum aluno seu ao redor ou nenhum dos seus colegas de trabalho ou Iruka nunca estaria livre das piadas e comentários.

Kakashi parecia rir por baixo da máscara, aparentemente sem se preocupar com sua própria reputação, mas por fim obedeceu o sensei, finalmente se concentrando no que Naruto os mandou.

-Como pode ser irritante até por carta? - Kakashi perguntou em um tom que muitos confundiriam com entediado, mas Iruka podia ouvir algo muito mais profundo naquelas palavras.

-Não seja tão implicante - Iruka deu um pequeno soco no braço de Kakashi antes de os guiar para dentro do restaurante - O mais impressionante é ele não ter desistido de Sasuke mesmo depois de meses apenas com Jiraya-sama de companhia.

-Jiraiya?! - Sakumo perguntou de olhos arregalados - Alguém confiou uma criança à Jiraya? Aquele pervertido?!

Iruka teve que se esforçar muito para não dar gargalhadas, apesar de não ter conseguido conter uma risadinha com o comentário. Ele definitivamente iria perguntar à Sakumo mais tarde sobre o que sabia de Jiraya. Apenas como precaução, claro.

-Ei! - Kakashi agora estava realmente ofendido, como sempre acontecia quando alguém falava algo sobre seu autor preferido - Jiraya-sama é um grande shinobi com talentos desperdiçados! Além disso, ele é padrinho de Naruto e o mais próximo que ele tem de um avô.

Iruka estava tão surpreso quanto Sakumo. Por causa da proibição de se falar várias coisas sobre a vida de Naruto, as relações envolvendo seus pais também acabaram se perdendo entre as conversas na vila e quase ninguém sequer sabia de quem o menino era filho, muito menos de outros familiares e amigos.

-Além de confiarem uma criança aos cuidados dele, os pais ainda deixaram isso acontecer? - Sakumo perguntou se sentando em uma cadeira vaga na mesa ao lado da deles.

-Me conta mais - Iruka pediu, dessa vez ignorando Sakumo em favor de informações sobre seu protegido que poderiam alegrar Naruto.

Com um suspiro, Kakashi se resignou a contar partes e fatos isolados sobre o passado da família de Naruto. Alguns eventos históricos Iruka conhecia, outros ele sabia que não estavam completos já que o decreto sobre sigilo daquelas informações ainda era válido e falar sobre isso abertamente em um lugar público era pedir uma visita bem catastrófica com o Conselho.

Desta vez Sakumo não se meteu muito no assunto, tão envolvido na história quanto Iruka, afinal aquilo tudo aconteceu anos depois de sua morte. Iruka sabia que a única diferença entre seus interesses era que Sakumo estava tentando conhecer mais de seu filho enquanto Iruka filtrava o que poderia ou deveria contar para Naruto quando se encontrassem (ele não era bobo de colocar aquilo em uma carta que poderia ser desviada).

-Então - Kakashi arrastou a palavra enquanto os dois ganhavam lentamente as ruas de Konoha - Sei que seu primeiro horário amanhã é vago. Minha casa? - esse era um dos momentos em que Iruka podia jurar que o sorriso de lado aparecia claramente por debaixo da máscara que Kakashi usava.

-Na verdade - Iruka o olhou com um pedido de desculpas nos olhos - eu queria responder a carta de Naruto ainda hoje. O carteiro-ninja que me entregou disse que pode levar a resposta amanhã e eu não quero perder essa oportunidade.

-Oh.

Claramente aquela não era a resposta que Kakashi queria e ambos sabiam disso, então Iruka se viu acrescentando rapidamente.

-Mas você poderia ir comigo. Sei que Naruto adoraria uma resposta sua também e depois disso… - Iruka desviou o olhar para Sakumo, não querendo entrar em detalhes na frente dele.

Iruka sabia que o gesto de desviar os olhos de Kakashi parecia como uma timidez de sua parte. Kakashi inclusive já tinha comentado como achava adorável como o sensei ficava sem graça de falar sobre a vida íntima dos dois em público, mesmo que ninguém estivesse ouvindo.

-Tudo bem.

A resposta pegou Iruka de surpresa. Ele já imaginava que Kakashi daria uma desculpa qualquer por não querer ir à sua antiga casa, mas aparentemente aquilo não era um problema essa noite.

-Tudo bem - Iruka repetiu com um sorriso encorajador.

-Eu vou nessa então - Sakumo comentou rindo do embaraço de Iruka e desaparecendo antes que o chuunin pudesse fazer algo à respeito.

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Apesar dos planos de escrever para Naruto e só então agarrar Kakashi no sofá, Iruka se viu pressionado contra a porta assim que entrou. Os lábios de Kakashi, ainda sob a máscara, tocando o ponto sensível em seu pescoço e fazendo um arrepio correr por seu corpo.

-Pensei que íamos responder… - Iruka tentou articular e ao mesmo tempo tirar o colete que Kakashi vestia.

-Depois - Kakashi murmurou abaixando sua máscara e grudando os lábios.

A bandana que antes estava na testa de Iruka, agora tampava seus olhos. Era algo que o chuunin se acostumou mais rápido do que imaginava possível. Ele sabia que não teria a confiança de Kakashi do dia para a noite, então quando Kakashi tampou seus olhos pela primeira vez, não foi uma surpresa tão grande. Ele tinha imaginado que seria mais difícil de se deixar levar sem ter a visão como apoio, afinal ele também era um ninja treinado e não ter um dos sentidos simplesmente ia contra seus instintos, mas aparentemente ele se sentia confortável o suficiente para saber que Kakashi não o machucaria.

Aquilo virou um acordo não falado entre eles onde Iruka tinha dado permissão para Kakashi o vendar se era isso que o outro precisava para se soltar mais. Claro que Iruka gostaria de ver o rosto do outro. Até porque pelo toque parecia ser um senhor rosto, mas ele não o obrigaria a algo que claramente Kakashi não estava pronto para fazer.

A confiança que o gesto de Iruka demonstrava não passava despercebida por Kakashi. Ter um dos sentidos bloqueados era algo muito sério para um ninja, mesmo entre pessoas conhecidas. Especialmente se os rumores sobre Iruka e Mizuki fossem um pouco próximos da realidade, afinal algumas pessoas na vila diziam que Mizuki havia sido muito íntimo do sensei antes de tentar matar Naruto e de quase matar Iruka. A cicatriz nas costas do chuunin, aliás, era um dos pontos que Kakashi fazia questão de acariciar, como uma demonstração de que não faria o mesmo com Iruka.

Os beijos entre eles sempre eram urgentes, como se precisassem daquele toque para sobreviver. Isso sem contar nas mãos curiosas e inquietas que não conseguiam decidir aonde gostariam de ficar.

Os movimentos ainda eram um pouco desajeitados, como as duas vezes em que quase caíram ao tentar chegar no sofá sem desgrudar um do outro ou a tentativa de tirar as calças antes de os sapatos saírem dos pés. Apesar de mais tarde eles com certeza rirem de toda aquela falta de jeito e se sentirem envergonhados, no momento seus sangues estavam concentrados demais em outro lugar para deixar seus rostos corados.

-Não devíamos estar no sofá - Iruka murmurou contra os lábios de Kakashi, não querendo desgrudar nem um milímetro do outro se não fosse estritamente necessário.

-Argh - foi a única resposta de Kakashi.

Mesmo contra a vontade, porém, o de cabelos brancos ergueu Iruka no colo e o levou até o quarto do moreno, dando total atenção ao pescoço dele já que o movimento parecia impedir que seus lábios ficassem grudados. Kakashi normalmente achava adorável a preocupação de Iruka de que alguém poderia entrar e acabar vendo o rosto do jounin, mas naquele momento ele não se importaria se isso acontecesse, desde que ele não tivesse que parar de tocar Iruka e ser tocado por ele.

Kakashi chutou a porta do quarto para fechá-la antes de jogar Iruka na cama e cair por cima dele. Ele tomou cuidado para não machucar o outro, mas não conteve o próprio peso, sabendo que Iruka não era tão frágil assim. Aliás, o chuunin nunca disse em voz alta, mas os sons que escapavam dele e o modo como sua energia e vontade pareciam aumentar ao ter o peso de Kakashi contra si eram indício o suficiente de que o outro gostava tanto quanto Kakashi daquela posição.

-Melhor? - Kakashi murmurou mordendo um ponto sensível na jugular de Iruka.

Em um movimento conhecido por anos de treinamento em batalha, Iruka virou os dois na cama. A nova posição o permitia rebolar bem onde Kakashi mais queria sua atenção, o que ele aprendeu bem rápido que fazia o jounin se desmanchar sob seu comando.

-Agora sim - ele sussurrou no ouvido de Kakashi dando uma mordiscada na parte mais macia de sua orelha.

-Ah sensei, não sabe o que está fazendo - Kakashi suspirou.

-Acho que sei, Kakashi-san - Iruka rebateu sabendo que o uso do honorífico em um tom falsamente respeitoso completariam sua provocação.

E ele não estava errado. Não demorou muito para os dois estarem deitados lado a lado, satisfeitos e curtindo aquela sensação pós orgasmo com sorrisos enormes nos rostos - o de Kakashi agora com a máscara de volta.

Enquanto recuperavam o fôlego e curtiam a presença silenciosa um do outro, o pensamento de que queriam ter aquilo pelo resto da vida passava na cabeça de ambos e, naquele momento ao menos, eles não poderiam estar mais felizes por isso.

Chapter 7: Nem tudo são flores...

Notes:

Oi pessoal!!!
Peço desculpas pela demora com esses últimos capítulos, eles já estão todos prontos, só falta traduzir pra postar em inglês também mas nesse meio tempo muita coisa rolou. Meu pc estragou de vez e tá no técnico há mais de dois meses, mas né, é isso ou ficar sem nenhum já que aparentemente tá custando um rim e meio ter um computador novo... e além disso eu vou ser tia!!! então os últimos meses foram todos pra ajudar com enxoval, chá de bebê e etc e não sobrou muito tempo pra importunar meu irmão e pegar o notebook dele emprestado. Enfim, depois da atualização que ninguém pediu da minha vida, seguem os últimos capítulos dessa história que é meu xodozinho!!!

Chapter Text

Dormir ao lado de Kakashi era uma experiência diferente de tudo que Iruka conhecia. Não era o tipo de sono profundo que ele costumava ter quando criança, mas ainda sim era bem melhor do que o cochilo cheio de imagens ruins ao qual se habituou depois de perder os pais e se tornar um ninja. Ele desconfiava que tinha algo a ver com o fato de se sentir mais protegido por ter outro ninja - e um bem talentoso por sinal - pronto para enfrentar qualquer ameaça ao seu lado.

Além do descanso, Iruka tinha que admitir que Kakashi era uma visão e tanto para se ter como a primeira coisa em sua frente ao abrir os olhos. Os cabelos já bagunçados se tornavam ainda mais rebeldes e o tapa-olho simples que ele usava para cobrir o sharingan davam um ar sexy ao jounin. Essa combinação contrastava com a fofura que era a máscara que ele usava ameaçando sair do lugar e o modo como ele parecia se enrolar em Iruka enquanto dormia.

Mesmo com todo o conforto de sua cama e de Kakashi nela, Iruka precisava levantar. Ele ainda tinha uma carta a responder afinal.

Com cuidado ele tentou desenrolar Kakashi de si, apenas conseguindo fazer o outro o apertar mais forte. Iruka sabia que Kakashi havia acordado com seu primeiro movimento, mas não estragaria a brincadeira do outro apontando esse fato, então ele apenas se pôs a convencer o jounin a o deixar ir com toques e beijos por sua pele exposta até que o homem decidiu que era o suficiente e que voltar a dormir era a prioridade.

Segurando a risada, Iruka saiu de fininho do quarto, se dedicando a sua higiene matinal antes de se sentar na cozinha para responder - finalmente à carta de Naruto. Foi um milagre ele ter terminado a tempo de o carteiro ninja bater em sua porta e levar a correspondência tão preciosa.

-Bom dia, Iruka-kun.

Iruka deu um pequeno sobressalto ao se virar e ver Sakumo tão colado em si. O fantasma parecia lentamente perder a noção de espaço pessoal, o que talvez tivesse relação com o fato de agora ele poder atravessar coisas e pessoas sem problema algum.

Havia algo de diferente no fantasma, mas talvez fosse apenas Iruka que estava se sentindo diferente e por isso o mundo todo parecia um pouco fora do lugar, mas de um jeito muito bom.

-Bom dia, Sakumo-sama - Iruka sussurrou contornando o fantasma e indo em direção ao fogão.

-Por que está sussurrando? - Sakumo perguntou em um sussurro - Dor de cabeça? Ressaca? A comemoração de ontem foi com muito álcool, devia tomar bastante água...

-Não é ressaca - Iruka garantiu sentindo um quentinho no peito por ter alguém se preocupando com ele como seus pais costumavam fazer - é que Kakashi voltou a dormir - ele completou sentindo o rosto corar e se distraindo com tudo que precisava para fazer um chá.

-Kakashi…? - ele começou a perguntar confuso - Ah… - Sakumo exclamou antes de olhar na direção do quarto de Iruka e ter uma reação bem mais… exagerada. - Ahhhhhhh!

-Pois é - Iruka murmurou - com aquelas olheiras desaparecendo na máscara, ele definitivamente precisa de muito sono e não seria bom Kakashi levantar e me pegar aparentemente falando sozinho.

-Não que seja uma novidade, acho que ele é a pessoa que mais te viu conversando comigo em toda Konoha - Sakumo deu uma risadinha parecendo se lembrar de algo - meu filho realmente tem um timing perfeito quando o assunto é pegar pessoas em situações constrangedoras.

-Do que está falando? - Iruka perguntou ainda concentrado em sua tarefa.

-Ah, ele sempre pega aqueles dois jounins, o filho do Sandaime e a garota Yuuhi, se agarrando nos lugares mais inesperados. Me surpreende que um herdeiro não esteja a caminho ainda. Ainda mais considerando que os Sarutobi precisam de mais do que apenas uma criança para levar a linhagem à frente.

-Não me surpreende - Iruka deu uma risadinha - Kurenai e Asuma se acham muito discretos mas andam por aí praticamente colados pelos quadris.

Sakumo deu uma boa gargalhada se deslocando para não ficar no caminho de Iruka enquanto o rapaz arrumava a mesa para o café. Iruka sempre sorria para ele em gratidão quando o fantasma não passava através dele e um dia ele explicou que por algum motivo lhe dava calafrios ao atravessar Sakumo.

-Como se você e meu filho pudessem falar alguma coisa, Iruka-kun - Sakumo fingiu o repreender - mas pelo menos vocês não saem tirando as roupas na sala do Hokage.

-Eles o que? - Iruka quase gritou, se esquecendo por um momento de Kakashi dormindo no quarto ao lado.

-Pergunte Kakashi depois - Sakumo balançou a cabeça.

-E o que fez durante a noite, Sakumo-sama? - Iruka preferiu mudar de assunto antes de ter mais informação do que ele gostaria. Mas se ele conhecia bem algumas das pessoas trabalhando na torre do Hokage, ele logo teria todos os detalhes picantes.

-Fui dar uma voltinha pelo escritório da nossa querida Hokage e pelo quartel general da Anbu. Não sei bem o que pensar de nenhum deles, mas tem alguma coisa acontecendo. Nunca gostei muito daquele Danzou, tem alguma coisa que não me cheira bem por ali…

Os dois fizeram silêncio por um momento, perdidos em seus próprios pensamentos. Iruka também não gostava muito do homem, apesar de ter se encontrado com ele poucas vezes. O modo como ele falava e olhava para Sandaime não pareciam muito confiáveis. Era estranho ter essa visão porém vinda de um fantasma. As implicações de alguém que poderia entrar e sair de qualquer lugar sem deixar rastro algum parecia um sonho ninja.

Esse pensamento acabou levando Iruka para uma direção completamente diferente e de repente uma ideia o fez sentir o estômago revirar.

-Sakumo-sama - Iruka chamou em um sussurro - acha que erramos seu assunto inacabado?

-Não, eu sinto no fundo de minha alma que estamos no caminho certo - Sakumo afirmou com convicção - o que o faz perguntar isso agora?

-É que você mesmo disse que Kakashi está bem melhor. Não passa tanto tempo no memorial mais e parece bem mais relaxado do que antes. Ele não precisa mais da minha ajuda, apesar de parecer apreciar minha companhia. Isso não deveria ser o suficiente para que, você sabe? Tudo voltasse para o lugar?

-Como assim, Iruka-kun?

-É que eu não sei mais como fazer para que Kakashi melhore ainda mais. Quer dizer, ele tem ficado muito próximo dos outros ninjas, até mesmo saiu com Sakura algumas vezes para saber do treinamento dela e nem parecia tão destruído depois de um tempo com ela. E de minha parte, não só ofereci amizade e alguém com quem contar, mas temos saído à semanas e ele realmente parece melhor. O que falta para Kakashi ficar completamente bem? O que mais está faltando fazer?

Sakumo pareceu pensativo. Tudo que o chuunin disse era verdade. As habilidades sociais de Kakashi estavam melhorando e ele parecia bem mais feliz, mesmo quando estava sozinho. Por experiência própria, Sakumo sabia que os pesadelos que o filho ainda tinha à noite não iriam embora tão cedo, então o que mais faltava para que Kakashi estivesse bem e Sakumo pudesse ir para o outro lado?

-Com quem está falando, sensei? - a voz de Kakashi soou às costas de Sakumo e Iruka.

Sakumo pode ver os olhos de Iruka se arregalarem.

-Kakashi! - Iruka exclamou melhorando a expressão como um bom ninja e se voltando para Kakashi - Não ouvi você chegando, dormiu bem?

-Com quem estava falando, sensei? - Kakashi repetiu.

-Eu? Ah, comigo mesmo. É bom para organizar os pensamentos. Vamos comer alguma coisa? O dia vai ser longo hoje.

Kakashi olhou desconfiado para Iruka, com algo em seus olhos que o chuunin não conseguia reconhecer, mas se sentou em silêncio na mesa. E em silêncio os dois comeram o café da manhã. Dessa vez o silêncio não era tão confortável quanto Iruka havia se acostumado, mas ele sabia melhor que tentar puxar algum assunto que levantasse suspeitas de Kakashi sobre com quem ou sobre o que ele estava falando antes.

-Nos vemos mais tarde? - Iruka perguntou se levantando da mesa e indo em direção ao quarto para pegar o que precisaria para o dia.

-Não vai dar - Kakashi respondeu.

-Tudo bem, acho que podemos jantar amanhã, ouvi dizer que será um dia promocional no Ichiraku e mal posso esperar!

-Acho que você não entendeu, sensei - Iruka ouviu o sussurro em seu ouvido antes de sentir algo fino, cortante e gelado em sua garganta - não vamos mais continuar esses joguinhos.

-Kakashi! O que está fazendo? - Iruka perguntou ao mesmo tempo que Sakumo apareceu a sua frente parecendo tão em choque quanto o sensei - Abaixa essa kunai antes que alguém se machuque!

-Tarde demais, sensei - Iruka sentiu um arrepio nada bom descer por sua espinha que nada tinha a ver com o fantasma a sua frente - O que eu estou fazendo? - Kakashi repetiu, virando Iruka de frente para ele, ainda com a kunai no pescoço do sensei. Iruka preferia que ele não pudesse ver o rosto de Kakashi, não com aquela expressão fria que com certeza era destinada aos piores inimigos do homem - Eu deveria ter desconfiado, todo o súbito interesse, a atenção… Você tinha planejado como iria me seduzir também ou apenas improvisou no caminho, uh, sensei?

-Do que você tá falando? - Iruka perguntou começando a se irritar - Enlouqueceu? Te seduzir? Você é quem me beijou aquela primeira vez, se lembra?

-Não enlouqueci, apenas acabo de perceber a verdade.

-Que verdade?

-Agora que Naruto se foi, que o jinchuuriki não está mais na vila, o bondoso sensei Iruka precisava de outro projeto de caridade, não é? E quem melhor do que o triste e solitário Kakashi do Sharingan para isso? Sou exatamente o tipo de pessoa que você gosta de levar à redenção, não é sensei? Foi assim com Naruto, com aquele ninja que quase te matou e agora comigo. Mas eu não vou mais cair nos seus jogos.

Antes que Iruka conseguisse processar o que Kakashi disse, o jounin já havia sumido da casa.

-Oh céus! - Sakumo sussurrou. - Acho que ele nos ouviu, Iruka-kun.

-Acha? - Iruka perguntou com ironia.

Primeiro Iruka sentiu a tristeza, mas a raiva logo a substituiu com força. Kakashi havia escutado parte de sua conversa e assumiu logo o pior, sem nem mesmo dar o benefício da dúvida para Iruka ou sequer um segundo para se explicar. Então era assim que Kakashi o via? Como alguém que manipulava os outros para se sentir bem? Não era possível que depois de tudo ele realmente acreditasse que Iruka não gostasse de verdade de Naruto ou do próprio Kakashi.

Tudo bem que nem mesmo Iruka sabia nomear o que sentia pelo jounin e agora nem mesmo teria oportunidade de descobrir até onde iriam com tudo aquilo.

-E agora, como faremos para trazer Kakashi à razão? Você tem que contar que eu estou aqui, Iruka-kun!

-De jeito nenhum! Sakumo, ele me chamou de interesseiro sem nem saber o que está acontecendo. Se Kakashi realmente acha que ninguém pode ser bom apenas por ser, se acha que eu fiz tudo o que fiz por Naruto e o trato como um ser humano apenas por interesse, então não há mais nada que eu possa fazer. Não tem salvação para ele.

-Você não pode desistir…!

-Posso sim, não é minha obrigação fazer nada disso, ainda mais tendo que escutar tudo isso.

-Mas…

-Sakumo-sama! Só me deixe em paz! Isso tudo é culpa sua, por que não tenta resolver seus problemas sozinho uma vez na vida ao invés de tomar o caminho mais fácil?

O olhar de choque de Sakumo antes do fantasma desaparecer foi o suficiente para Iruka se arrepender daquelas palavras. Apesar disso, o sensei estava realmente magoado pelo que Kakashi disse e agora também estava atrasado para suas aulas.

Com um suspiro atormentado, Iruka seguiu para suas obrigações com um peso que ele nunca sentiu antes no peito.

Chapter 8: Medidas drásticas

Chapter Text

Dias se passaram desde a última vez em que Iruka viu Kakashi. Ou melhor, desde que eles brigaram, o Jounin saiu irado e Iruka expulsou Sakumo de sua casa. Apesar de arrependido pela escolha de palavras, ele ainda estava muito irritado com os dois homens.

Quanto mais ele pensava na situação e ouvia de novo e de novo as palavras de Kakashi, mais raiva ele sentia. E todo mundo percebeu que havia algo de errado, não só pela súbita ausência de Kakashi em qualquer lugar que o sensei pudesse aparecer, mas também pelo silêncio de Iruka. Era a primeira vez em anos que ninguém ouvia o chuunin gritar com uma ou outra pessoa.

Ele havia tentado de tudo que poderia imaginar para simplesmente esquecer os dois Hatakes, até chegou ao extremo de começar a procurar uma nova casa. O problema era que algo o prendia ali e ele desconfiava que fosse sua própria consciência - e talvez um pouquinho daquele sentimento que ele tinha por Kakashi, mas só talvez.

Depois de algumas semanas com apenas relances do homem e do fantasma pela vila, Iruka sabia que não aguentaria ficar quieto por muito mais. Nesses pequenos encontros, Kakashi sempre corria dele com uma expressão de desdém que machucava muito mais do que se o outro o socasse, enquanto Sakumo ficava para trás por um tempo, olhando como um cachorrinho abandonado entre Iruka e Kakashi antes de seguir o filho com uma expressão de dor.

Iruka estava se conformando em ignorar e ser ignorado por pai e filho pelo resto de sua vida quando o destino resolveu tomar em suas mãos aquela situação. E por destino, pode-se entender um jounin barulhento e um Anbu assustador.

-Iruka-sensei! - a voz de Gai chegou aos ouvidos de Iruka enquanto ele preparava um circuito de desafio para seus alunos no campo de treinamento mais próximo à academia.

-Gai-san? - Iruka franziu a testa.

O chuunin sabia de sua fama de pavio curto e escandaloso, mas ninguém ganhava de Gai no quesito barulho. O homem não passaria despercebido nem mesmo entre um grupo de pavões. Em compensação, sua paixão pela vida e dedicação à tudo que se propunha a fazer eram invejáveis e Iruka admirava ainda mais o modo como ele tratava seu grupo de genins, os quais ele infelizmente não pode conhecer durante a academia, mas que claramente evoluíram muito com o sensei.

-Eu te desafio! - Gai gritou, mas sem seu usual sorriso de galã de novela.

-O que? - Iruka piscou os olhos em confusão.

-Gai, por Rikudou Sennin, deixa eu falar. - uma outra voz soou atrás de Gai em um tom muito mais entediado.

-O que está acontecendo? - Iruka perguntou cruzando os braços.

-Você não me conhece, sensei. Sou Tenzou, kohai de Kakashi

-Hm… prazer em conhecê-lo? - Iruka perguntou já desconfiando aonde aquilo tudo poderia levar.

Ele se lembrava de algumas menções de Kakashi e de Sakumo sobre um ninja com quem o jounin passava muito tempo junto, mas o fato de não o reconhecer só poderia significar que ele era parte da Anbu da Vila da Folha. Fazia sentido, já que a vila não perderia Kakashi no rank de ninjas mais fortes da vila e ele era o tipo de pessoa que atraía os perdidos, por mais que ele não quisesse contato humano.

-Gostaria que tivéssemos nos conhecido em uma situação melhor, sensei. - Tenzou concedeu - Teria um momento?

Apesar do tom de pergunta, sua postura deixava claro que o outro não aceitaria não como resposta, então Iruka concordou.

-Com o que posso ajudar?

-O que fez com meu eterno Rival? - Gai perguntou em um tom sério que Iruka só o viu usar durante a luta de Lee nos exames chuunin.

-Não sei exatamente do que você está falando. - Iruka retrucou cruzando os braços.

-Sensei, desde que vocês brigaram, terminaram ou seja lá o que for que aconteceu - Tenzou se pôs a explicar - Kakashi tem agido de forma estranha, se colocando em riscos desnecessários e sinceramente, essa brincadeira de gato e rato está cansando todos os jounins da vila.

-Bom, se seu amigo não fosse um idiota não teria problema nenhum - Iruka sentiu seu coração apertar um pouquinho ao saber como Kakashi estava sendo irresponsável - talvez devessem perguntar a ele o que aconteceu.

-Já perguntamos! - Gai exclamou exasperado - Ele apenas diz que você não é quem parece ser e muda de assunto. Até na sua casa ele já colocou a culpa!

-Na casa?

-Vibe estranha foi o termo que ele usou - Tenzou revirou os olhos, algo que parecia fazer com frequência.

-Inacreditável - Iruka bufou. - Isso é ridículo. Ele é um adulto e deveria saber lidar com as situações sem sair por aí ofendendo as pessoas como se não fosse nada. E se me dão licença, meus alunos estão chegando.

Sem esperar por resposta, Iruka foi em direção às crianças. Ele deixaria para pensar naquilo depois.
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Iruka, erroneamente, imaginou que seria deixado em paz para lamber suas próprias feridas depois do encontro com Gai e Tenzou, mas ele não sabia o quanto estava errado.

Nos dias que se seguiram ele recebeu visitas inusitadas em momentos aleatórios, todas com o mesmo propósito: mediar a situação entre ele e Kakashi.

Kurenai o abordou durante um almoço na escola, sendo delicada sobre isso, tanto que Iruka acabou por desabafar mais do que ele gostaria antes de perceber o que a mulher estava fazendo.

Anko estava largada em seu sofá uma noite o comprimentando apenas com um “é, tem uma vibe estranha aqui mesmo” e se recusando a sair até que Iruka ameaçou a denunciar para a Anbu.

Mostrando que não apenas a elite jounin de Konoha - e sim, TODOS eles fizeram visitas individuais a Iruka, com perguntas, comentários delicados ou ameaças criativas sobre machucar Kakashi - mas também os chuunins da vila não tinham muito o que fazer já que vários vieram o convidar para jantar com o intuito de implorar para ele pedir desculpas a Kakashi.

Claro, como se Iruka fosse o errado nessa história toda. Olha só onde ele se meteu tentando ajudar seu ídolo de infância!

Seus amigos o procurarem já era esperado, claro. Eles aparentemente eram os únicos a tomarem o lado de Iruka, apesar de ter sido difícil explicar o porquê de ele estar falando em voz alta sozinho sem parecer louco, mas então, qualquer coisa que não a verdade já era normal o suficiente para não acabar em uma licença por ter enlouquecido.

Não que Iruka precisasse de muito incentivo, mas todas aquelas pessoas estavam começando a incomodar ainda mais. A princípio ele ficou irado por todo mundo achar que tinha o direito de opinar em sua vida. Claro que ele sabia que a fofoca era o cerne dos ninjas de Konoha, mas ele raramente tinha aquela rede toda voltada para ele e era extremamente desconfortável.

Mas é claro que sua consciência não o deixaria em paz por muito tempo. Ele percebeu que na verdade a maioria - se não todas - aquelas pessoas na verdade se preocupavam com ele e com Kakashi. Era estranho perceber que de certa forma isso o trazia aquele sentimento de família que ele buscou a vida toda, mesmo que de uma maneira completamente diferente do que ele esperava.

E para completar algumas das coisas que eles lhe diziam já estavam se passando pela cabeça de Iruka. Ele se sentia culpado pela forma que tratou Sakumo e pelas coisas que ele disse, aliás coisas que ele nem acreditava de verdade. E ele sabia dos problemas de confiança de Kakashi que iam além dos problemas de um shinobi normal.

A raiva foi dando lugar a tristeza e a saudade dos dois Hatakes também, mas a cada dia Iruka se convencia mais de que nunca teria oportunidade de consertar aquela situação.
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Tsunade era uma mulher incrível, não era atoa que foi escolhida como Hokage em meio a um dos momentos mais turbulentos da vila. Iruka a admirava apesar de saber que era preciso tomar cuidado ao cruzar seu caminho.

O recado de um dos membros da Anbu para que ele fosse até a sala da Hokage o deixou extremamente apreensivo exatamente por isso. Ela estava enterrada em trabalho, o qual Iruka tentava ajudar ao exigir relatórios impecáveis e assim diminuir o trabalho de seus superiores. Ser convocado mesmo com tanto a ser feito… Não podia ser bom sinal. Ainda mais considerando que Iruka era um dos poucos ninjas dedicados ao trabalho interno, não recebendo missões que precisam vir da própria Hokage.

Ele esperou no local indicado por um longo tempo até que finalmente Shizume o chamou.

-Iruka-sensei! - Tsunade pareceu suspirar ao cumprimentá-lo.

-Hokage-sama - Iruka se curvou apropriadamente, sentindo uma gota de suor frio descer às suas costas.

-Vamos direto ao que interessa - Tsunade nem mesmo esperou ele se posicionar - você é um ninja exemplar, um dos melhores instrutores que temos na academia e seu histórico como shinobi é impecável. Então me explique, sensei, por que dizem por aí que você é a causa dos meus problemas com Kakashi?

Iruka piscou algumas vezes e abriu a boca sem acreditar no que estava ouvindo. Por pouco ele não gritou um “tá de sacanagem?” bem na cara da Hokage, o que foi bom, afinal ele não queria manchar seu histórico impecável do qual ela acabou de mencionar.

-Hokage-sama…

-Não - ela o cortou - quer saber, não me interessa. Resolva qualquer que seja esse problema de vocês. Eu não posso ter dois dos meus melhores ninjas causando tantos problemas quando não sabemos se estamos ou não a ponto de começar uma nova guerra. Não me importa o que você tenha que fazer, apenas faça.

-Sim senhora - Iruka respondeu da melhor maneira que pode, mas Tsunade já não parecia interessada nele, se voltando para um dos milhares de papéis a sua frente.

Shizune o acompanhou novamente até a porta e lhe deu um sorriso como pedido de desculpas antes de fechar a porta e deixar Iruka incrédulo. Isso estava indo longe demais e Iruka precisava tomar uma atitude.

Com as últimas palavras da Hokage, uma ideia o acertou em cheio e de repente Iruka sabia exatamente como consertar aquilo tudo.
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Não foi tão difícil quanto Iruka imaginou que seria, o que realmente dizia algo sobre o estado debilitado de Kakashi. Com um pouco de planejamento, Iruka conseguiu encontrar Kakashi depois de uma longa missão e quase sem chakra e daí não foi tão complicado amarrar o outro e o carregar por todos os caminhos mais escuros de Konoha até a casa de Iruka. De Kakashi. De Sakumo… Ah, deu pra entender!

O tempo todo Sakumo andava de um lado para o outro sem saber o que fazer ou como ajudar - ou atrapalhar Iruka caso necessário.

-Iruka-kun, o que está fazendo? - ele perguntou pela milésima vez.

-Sakumo-sama, vai ter que esperar Kakashi acordar porque eu não vou explicar duas vezes.

E então eles esperaram em silêncio. Acontece que Sakumo passando através de Kakashi era o que eles precisavam para o outro acordar. Vai entender essas coisas fantasmagóricas.

-Iruka..? O que…? - Kakashi lutou contra as cordas por um momento.

-Na-não. - Iruka cortou - Sinto muito por isso, mas você consegue ser mais cabeça dura que Naruto, então vai ficar aí até nós três terminarmos essa conversa.

-Três? - Sakumo e Kakashi perguntaram ao mesmo tempo com uma expressão bem parecida de surpresa.

-É, três. - ele respondeu os dois antes de se voltar para Sakumo que estava ao lado de Kakashi - Tentamos do seu jeito, mas claramente não deu certo então agora vamos tentar do meu.

-Com quem está falando? - Kakashi tentou olhar ao redor, mas não sentia a presença de mais ninguém ali.

-Com Sakumo-sama. Sei que parece maluquice mas ele está bem do seu lado agora mesmo me olhando com uma cara bem surpresa.

Kakashi murmurou alguma coisa, ficando ainda mais irritado.

-Como sabe esse nome? - Kakashi perguntou desconfiado.

-Porque seu pai se apresentou pra mim na noite que eu me mudei pra cá.

-Ele não vai acreditar em você - Sakumo balançou a cabeça com um suspiro triste, já imaginando seu filho mandando trancar Iruka no hospital por ter perdido a cabeça.

-É claro que ele não vai acreditar em mim sem provas, nem eu acreditei na primeira vez que te vi. Mais alguém sabe dos relatórios de missões com desenhos que ele fazia pra você quando era pequeno?

-Não - Sakumo respondeu ao mesmo tempo que Kakashi perguntava:

-Como você sabe disso?

-Porque seu pai me contou. Como eu falei, ele apareceu na minha primeira noite aqui e desde então estamos tentando mandá-lo para o além para se encontrar com a sua mãe. Mas acontece que ele está preso aqui porque as ações dele te causaram tanto sofrimento - agora que começou, Iruka não sabia se conseguiria parar - achamos que ao te ajudar a se conectar com os vivos novamente, isso iria se resolver, mas claramente não deu certo. No momento minha teoria é de que vocês na verdade precisam se acertar para que ele possa finalmente descansar em paz.

Os dois Hatakes fizeram um silêncio longo. Sakumo considerava as palavras de Iruka, sabendo que elas faziam sentido, mas sem saber exatamente como se reconciliar com o filho. Já Kakashi, não sabia se chamava a Anbu, Ibiki ou o hospital, mas algo lhe dizia que aquilo tudo fazia sentido de alguma forma.

Quantas vezes ele viu Iruka reagir a algo que não estava ali, ou ao menos algo que ninguém mais podia ver? E além disso aquela informação era algo que apenas seu pai saberia. Depois da morte de Sakumo ele colocou fogo em todos aqueles relatórios infantis em um rompante de raiva.

-Então você realmente quis ficar comigo por pena? - Kakashi perguntou para comprar tempo e, se ele fosse sincero consigo mesmo, também estava curioso pela resposta.

-Não! Seu imbecil, você entendeu tudo errado. Ouviu um lado de uma conversa e achou que entendia tudo. Eu não tinha considerado ficar com você antes de você me beijar, apenas pensei em uma relação amigável. E depois que você me beijou… - Iruka corou dando uma olhadela para Sakumo.

-Depois que eu te beijei? - Kakashi perguntou.

-Desculpe mas é muito estranho falar sobre isso com Sakumo-sama bem aqui. - Iruka apontou para o fantasma que também parecia corado. - Mas percebi que na verdade uma centelha de alguma coisa vinha crescendo nos últimos meses e me pareceu a melhor decisão da minha vida.

-Hm. - foi a única resposta de Kakashi.

O silêncio constrangedor mais uma vez se alongou até que Iruka tomou o controle da situação para si novamente.

-Muito bem. Vamos ao que interessa. Como você não pode ver Sakumo-sama, vou repetir palavra por palavra do que ele disser. Então, quem quer começar?

Chapter 9: Reconciliações

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Iruka era um homem muito paciente. É parece improvável que isso seja verdade pelo fato de ele não tolerar muita coisa, mas quando se é um ninja treinando crianças pequenas cheias de traumas a empunhar armas afiadas e logo depois tem que fazer as mesmas crianças se sentarem quietas e aprenderem matemática e física… Bem se aprende algumas coisas, mas paciência é essencial.

Além disso, ele era um ninja e tinha participado de muitas missões que o único propósito era observar um alvo. De novo, paciência.

Mas aparentemente ele tinha uma limitação bem grande quando o assunto era Sakumo e Kakashi. Pai e filho tinham um jeito especial de mexer com a paciência e harmonia do sensei. Eles estavam há um longo tempo na sala, naquela posição que poderia ser bem incriminante para Iruka caso alguém decidisse passar por ali e dar uma olhadinha pela janela…

E nada. Nem uma palavra, nem um resmungo.

-Tudo bem. Que tal eu dar uma mãozinha? - ele sugeriu por fim, tentando se lembrar que bater uma frigideira na cabeça dos dois não era uma opção por muitos motivos (tipo ela atravessar a cabeça de Sakumo sem causar nem cosquinha) - Sakumo-sama, por que não conta pra Kakashi o que aconteceu de verdade naquela sua última missão?

-Eu não saberia por onde começar… - Sakumo comentou coçando a nuca do mesmo jeito que Kakashi fazia.

-Sabe começar sim. Como se fosse um relatório pro Hokage, vamos lá! - Iruka incentivou. - Quantos ninjas estavam em sua equipe?

-Hm… Nós estávamos em três como é protocolo - Sakumo começou a responder ainda inseguro.

Iruka ia repetindo as palavras de Sakumo para que Kakashi pudesse ouvir também. Ele tentou ao máximo manter o mesmo ritmo de fala e as entonações, sentido-se como um comunicador que estava ficando cada vez mais comum nas missões mais próximas à vila. No início parecia uma tarefa muito simples, mas foi ficando complicada quando Sakumo se perdeu em suas memórias e não só relatou sobre a missão, mas também sobre o que veio depois.

Sakumo nem registrava a voz de Iruka ao fundo, ele estava focado apenas em olhar nos olhos de seu filho e finalmente poder contar sua versão das coisas. Ele sabia que não tinha desculpa ou explicação boa o suficiente para ter deixado Kakashi sozinho tão cedo na vida, ainda mais depois de ter perdido a mãe do menino, mas ele queria aproveitar a chance de dizer tudo que pudesse para se redimir com a verdade de todo o dano que causou.

Então ele contou de como os comentários, olhares e até mesmo as agressões o machucavam. Sobre como ele começou a acreditar em tudo aquilo, especialmente quando o Hokage o afastou das missões externas indefinidamente. Sobre seu sentimento de desolação sobre si mesmo, como se tudo que tocasse iria se deteriorar. Sobre o medo de estar prejudicando Kakashi mais do que cuidando só por estar com o filho

Ele contou sobre como Kakashi era seu maior orgulho e que só queria trazer de volta o orgulho ao nome da família para que as ações dele não respingassem no futuro brilhante de Kakashi. Mas a cada dia que passava a única saída que ele encontrou foi não ter mais influência alguma.

Iruka não tinha notado as lágrimas descendo em seu rosto durante o relato, até que Sakumo finalmente terminou de contar sua história e, no silêncio que se seguiu, Kakashi começou a limpar seu rosto.

A princípio ele se assustou com o fato de Kakashi ter se soltado, mas acabou dando um sorriso pequeno ao perceber que o jounin provavelmente tinha se soltado muito tempo atrás e só não fez nada porque estava envolvido também no relato.

-Eu o culpei por muito tempo, pai - Kakashi sussurrou - por não ter seguido o protocolo. Ainda mais quando os homens que você salvou também morreram na guerra e tudo que você fez parecia ter sido em vão. Mas aí veio Obito. E a Rin. E Minato-sensei. E Kushina-sama. E eu faria qualquer coisa, sacrificaria tanto, só pra não ter que ver os fantasmas deles também. E é por isso que eu ensinei aos meus genins a cuidarem uns dos outros e a ver quão preciosas são as vidas dos nossos companheiros. Não que eu tenha sido bem sucedido nessa missão. Provavelmente verei os fantasmas deles em breve pelo rumo das coisas.

Iruka queria interferir, mas não era a conversa ou desabafo dele, então segurou para quando pudesse tocar no assunto com Kakashi depois. Quer dizer, se Kakashi não o levasse direto para o hospital ou cadeia.

-Não é culpa sua Kakashi. As crianças criam seu próprio caminho. Ninjas escolhem a morte ao se formar na academia, só tentamos cumprir o máximo possível de missões antes dela chegar. Mas não é só isso que existe nesse caminho.

-Não, não é. - Kakashi concedeu - Também tem Gai. E Naruto, Sakura, a Hokage…

-Tsunade - Sakumo balançou a cabeça e deu uma risada contagiante que fez Iruka rir e Kakashi levantar uma sobrancelha.

-Aparentemente seu pai acha engraçado que Tsunade-sama seja Hokage - Iruka comentou. - Aparentemente eles se conheciam bem.

-Ah - Kakashi sorriu - ela costumava ser um espírito livre, muito menos sóbria, o que é dizer algo. Não foi ela que trocou um dos meus bolos de aniversário por saquê em uma aposta? - Ele perguntou coçando o queixo.

-Foi - Sakumo respondeu com uma nova risada - Kakashi era uma criança emburrada, a única coisa que ele gostava era de bolo. Ele comandou toda a matilha para espantar Tsunade de casa até ela trazer o bolo de volta, isso com apenas três anos de idade.

-Ugh - Kakashi resmungou - não era para Iruka saber dessas coisas, pai! - E então ele estreitou os olhos encarando Iruka e o espaço vazio contrário ao que Sakumo realmente estava - o que mais ele andou te contando por aí?

-Ah, nada de mais. Só que você era adorável quando criança.

-Sugiro não comentar da preferência pelas meias de cachorro - Sakumo sussurrou para Iruka - ele já não gostava que falassem disso quando era pequeno, não imagino que mudou muito.

-O que ele está dizendo? - Kakashi perguntou.

-Nada - Iruka respondeu rapidamente - Kakashi, você é capaz de perdoar seu pai? - Iruka perguntou voltando ao clima mais tenso de antes.

-Isso tudo me trouxe você, sensei - Kakashi respondeu - e novos amigos. Eu não preciso perdoá-lo porque já o fiz há muito tempo atrás. Só não sei se ele pode me perdoar por tudo que veio depois.

-Não há o que perdoar - Sakumo respondeu com um sorriso tenro - mas preciso que ele me prometa uma coisa ainda, Iruka. Só assim terei paz.

-Kakashi ele diz que não há o que perdoar, mas que ele precisa de uma promessa sua para finalmente ter paz.

-Qualquer coisa, pai - Kakashi concordou imediatamente.

-Deixe os mortos com os mortos e vá cuidar dos vivos. Quem já se foi não precisa de mais nada de você, mas tem tantas pessoas boas ao seu redor que precisam e querem sua presença, ajuda e companhia, meu filho.

Kakashi suspirou parecendo travar uma guerra interna. Iruka sabia que não era tão fácil assim pra ele abrir mão dos rituais que seguia a vida inteira, como se não ir constantemente ao memorial significasse esquecer aqueles que já se foram. Mas então algo mudou em sua postura e quando ele abriu os olhos novamente havia uma determinação diferente em seus olhos.

-Eu prometo. - Kakashi afirmou olhando nos olhos de Iruka, causando arrepios no sensei.

Iruka estava hipnotizado por Kakashi, mas nem mesmo essa concentração o impediu de notar que algo estava diferente na sala.

Ao olhar para Sakumo, o fantasma estava envolto em uma luz quente, lembrando Iruka dos abraços que recebia de seu próprio pai. Ele olhava com carinho para os dois jovens.

-Pai… - Kakashi disse de olhos arregalados, pela primeira vez olhando diretamente para Sakumo.

-Adeus, meu filho - Sakumo respondeu - obrigada por tudo, sensei. Vivam uma vida longa e feliz, cuidando um do outro.

A luz aumentou, cegando os dois ninjas por um momento, até que ela desapareceu por completo, levando a figura de Sakumo junto com ela. Iruka olhou ao redor, esperando ver o homem saindo de outro cômodo, mesmo que algo lhe dissesse que ele tinha ido embora de vez.

-Ele estava aqui - Kakashi sussurrou - Iruka…

-Sim, ele estava - Iruka concordou, sentindo-se estranhamente triste. - Vou sentir falta de Sakumo-sama.

Kakashi se largou no sofá, ficando em silêncio por um bom tempo. Iruka se juntou a ele, tentando processar todos os últimos acontecimentos.

-Sinto muito por ter te sequestrado. - Ele pediu.

-Sinto muito por ter te achado louco. - Kakashi rebateu.

Os dois se encararam por um momento antes de caírem na risada, aliviando a tensão do momento.

-Ninguém vai acreditar - Iruka comentou.

Kakashi resmungou uma resposta antes de se virar para Iruka e o encarar seriamente. Ele tinha aquele mesmo olhar estranho de quando fez a promessa ao pai momentos antes.

-Senti sua falta sensei. Você revirou minha rotina. Ainda mais agora que fiz uma promessa e não poderei mais passar tanto tempo com velhos amigos… Com o que vou ocupar meu tempo?

-Bom, você pode tentar chegar nos lugares no horário - Iruka comentou com um sorriso de lado.

-Mah - Kakashi revirou os olhos - isso é chato. Estava pensando em atividades mais… - ele se aproximou de Iruka, deslizando no sofá - prazerosas, entende?

-Como por exemplo? - Iruka perguntou desviando o olhar dos olhos para a máscara de Kakashi.

-Bem…

Kakashi deliberadamente levou as mãos ao rosto e Iruka fechou os olhos, já esperando que sua bandana tapasse seus olhos, como era comum. Mas após alguns momentos em que isso não aconteceu, ele abriu os olhos novamente. Iruka se sentiu envergonhado, imaginando que entendeu errado e acabou de se mostrar apressado demais.

Mas então ele se deparou com a visão mais surpreendente e maravilhosa que ele poderia ter naquele dia: Kakashi tinha abaixado a própria máscara ao invés de tapar os olhos de Iruka. E que visão!

Todos os palpites que Iruka ouviu ao longo da vida sobre a aparência de Kakashi estavam tão erradas que ele não poderia começar a rebater. Kakashi tinha um dos rostos mais bonitos que Iruka já viu, era harmônico, com lábios finos que chamavam para um beijo e uma marca de nascença no queixo que era a coisa mais bonita que Iruka já viu em alguém.

-Você pode tocar, sensei, não só olhar - Kakashi comentou divertido.

-Talvez eu queira admirar - Iruka rebateu, mas levou uma das mãos à bochecha de Kakashi sentindo a pele macia sob seus dedos.

Contrário à sua resposta, Iruka aproveitou a mão no rosto de Kakashi para puxá-lo para um beijo. Ele sabia que estava sentindo a falta do toque de Kakashi, mas só nesse momento ele conseguiu perceber o quanto estava envolvido com ele. E algo se encaixou dentro dele, o fazendo interromper o beijo.

-Kakashi - Iruka suspirou o incentivando a abrir os olhos - estou apaixonado por você.

-E eu por você sensei - Kakashi sorriu tirando o fôlego de Iruka antes de voltar a beijá-lo.

Alguns anos depois… (ou o menor epílogo da história)

Iruka mal podia se conter de tanta alegria e ansiedade. Esse era um dos dias mais incríveis de sua vida!

Apesar das reclamações constantes de Kakashi ao seu lado sobre o desconforto de se usar terno, nada poderia tirar sua paz de espírito. Afinal, o lugar estava lindo, o dia ensolarado e as pessoas todas estavam rindo ao seu redor, felizes como não se via a muito tempo. Iruka gostava de chamar isso de efeito Naruto.

Naruto voltou de seu treinamento com Jiraiya alguns anos depois de Iruka e Kakashi oficializarem seu namoro. O loirinho deu um show a princípio, correndo atrás de Kakashi por toda Konoha por “perverter” seu sensei preferido. Eventualmente ele se rendeu e se emocionou ao perceber que a família que ele tanto queria tinha apenas se ampliado.

Ele não viveu muito tempo na casa nova antes da guerra e depois do ataque de Pain, a casa dos Hatake foi passada para duas famílias civis que ficaram desabrigadas. Demorou para a vila ser reconstruída e eles poderem ficar com a casa de novo, e demorou mais ainda para reformarem tudo de novo da forma como Iruka tinha planejado.

Nesse meio tempo eles sentiram as perdas da guerra, comemoraram nascimentos, celebraram o casamento de Iruka e Kakashi e o posto de Kakashi como Hokage - apesar do próprio Kakashi não estar tão feliz com sua nova posição.

E agora era a vez de Naruto começar sua própria família ao lado de Hinata. Iruka se considerava muito sortudo por ter acompanhado a história dos dois até então e poder ver esse passo tão importante sendo dado. Era um orgulho que não cabia em seu peito!

A cerimônia e a festa foram lindas e emocionantes, um desafio para ele já que não queria ser pego chorando assim. O único lado ruim foi ver seu filho de coração ir em direção à própria casa - que foi construída na terra dos Hatake como presente de casamento de Kakashi - ao invés do lar que eles compartilharam por tão pouco tempo.

-Veja pelo lado positivo, sensei - Kakashi sussurrou deixando beijos leves no pescoço de Iruka - ao menos podemos aproveitar todos os cômodos de novo, sem medo de sermos vistos ou interrompidos.

Iruka deu uma gargalhada puxando Kakashi para mais perto pela cintura. Ele estava prestes a responder quando uma batida soou na porta.

-O que disse sobre ser interrompido? - Iruka riu um pouco mais, se desvencilhando de um Kakashi irritado e indo atender a porta.

-Iruka-san? - um dos mensageiros da vila estava do outro lado da porta.

-Sim Daiko-san? Algum problema?

-Não, desculpe pela hora, sensei. Disseram que era urgente a entrega desta carta.

O jovem, um dos primeiros alunos de Iruka, entregou o papel e com um aceno sumiu no ar da noite.

-Algum problema, sensei? - Kakashi perguntou na mesma posição em que Iruka o deixou.

-Não sei… - Iruka resmungou abrindo a carta e lendo seu conteúdo rapidamente. - Bom, acredito que você tem uma reunião logo cedo pela manhã, querido - Iruka respondeu com um sorriso que mal podia conter.

-Reunião?

-É, o novo vice-diretor da academia tem muito o que discutir com você…

-Iruka! - Kakashi o agarrou pela cintura, tirando seus pés do chão e o girando várias vezes - Eu sabia que iria conseguir! Ninguém se importa com aquela academia e com as crianças tanto quanto você!

-Bem, acho que devíamos descansar - Iruka deu um sorriso maroto - mas claro que antes temos muito a comemorar, uh?

-Seu desejo é uma ordem.

Enquanto caia no sono aquela noite, com o mundo ninja mais seguro do que nunca, seu filho casado, uma nova perspectiva de futuro e o homem que amava em seus braços, Iruka fez um agradecimento à quem quer que tivesse colocado o fantasma de seu sogro em sua vida tanto tempo antes. Um dia eles iriam se reencontrar e Iruka poderia contar com orgulho da nova vida da família Umino-Hatake.

Notes:

Chegamos ao final!!! Obrigada quem acompanhou até aqui pela paciencia, espero que tenha sido tão bom ler quanto foi escrever sobre esses dois lindos maravilhosos!!!
Beijinhos no coração e até a próxima história!!!