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Rating:
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Relationships:
Characters:
Additional Tags:
Language:
Português brasileiro
Series:
Part 2 of JJKI
Stats:
Published:
2025-03-10
Updated:
2025-09-21
Words:
51,365
Chapters:
22/?
Comments:
4
Kudos:
1
Hits:
178

Jujutsu Kaisen: Infinite

Summary:

Tudo estava muito tranquilo na Escola Jujutsu: Poucas missões, maldições diminuindo, aprendizado em paz e diversão entre os jovens. Até que, de repente, Satoru Gojo se vê preso em um lugar aterrorizante, e pela primeira vez na vida, ele sente medo. Quando consegue sair do lugar, seus poderes... parecem estar mais fracos! O que está acontecendo com o feiticeiro mais forte do mundo?

Desvende os enigmas desta obscura aventura amaldiçoada de mistério, batalhas, sentimentos, paralelos sombrios e reflexões sobre a vida, enquanto testemunha cenas únicas e experimenta a dolorosa e controversa realidade dos feiticeiros Jujutsu.

Aviso: Os personagens e o universo de "Jujutsu Kaisen" são de propriedade de Gege Akutami. Esta obra é uma criação de fã, sem fins lucrativos, feita sobretudo para entretenimento. Além disso, esta fanfic inclui personagens originais de minha autoria, que pertencem exclusivamente a esta obra. Qualquer semelhança com outras criações é mera coincidência.

A capa e o banner logo da história são de minha propriedade. Plágio é crime!

ATENÇÃO: Esta história também está disponível no Spirit Fanfics (Satoki-Me) e Wattpad (@Satoki-Me)!

Chapter 1: 𝙿𝚛𝚘́𝚕𝚘𝚐𝚘

Chapter Text

  Dois ladrões discutiam sem parar se invadiam ou não uma casa abandonada no meio da escura floresta durante a noite.

  Dois ladrões discutiam sem parar se invadiam ou não uma casa abandonada no meio da escura floresta durante a noite

Imagem:  SeaArt  AI

— Uma casa mal assombrada? Deixa de ser infantil, maluco! — O bandido zomba dos medos de seu comparsa.

— Você sabe que eu nunca minto, Yukime. — Ele aponta para a janela quebrada da velha casa à sua frente. — Eu não entro aí dentro nem que me paguem quinhentos mil. Confia na intuição do pai.

— Pode não ser mentira pra você, mas pra mim... cê tá é delirando, Baruke! — Diz ficando já incomodado com tal situação. — Não existe assombração, espíritos, demônios, nem monstros, ou qualquer coisa do tipo. São contos de fada pra criança ter medo do escuro e obedecer os pais, mané. — Falou com total convicção enquanto via Baruke estremecer, de repente.

  Ele faz uma expressão desentendida, olhando para os lados rápido e se perguntando que diabos aquele homem estava vendo.

— P-Por favor... não nos mate! — Gritou Baruke, desesperadamente se ajoelhando no chão ao ver a porta da casa abandonada se abrir sozinha... e sem a força do vento, que era praticamente indisponível naquele momento e local.

— Mas que droga é essa?! — Assustou-se Yukime, ao ver um enxame de insetos grandes saírem voando pela porta e janelas de frente da casa. 'Que nojo!'

  Em uma fração de segundos, os dois bandidos haviam sumido do mapa, sem sinal algum de suas vozes ou energias. E o responsável por isso, fechava a porta da casa devagar, observando qualquer movimentação com seu olhar, cauteloso ao máximo, um mestre na camuflagem.

— Muahahaha! — Sua risada baixa é praticamente sem som e imperceptível, assim como o tamanho de seu ser. — Vamos continuar assim. Armazenando energia amaldiçoada aos poucos... Qualquer coisa, você tem suas cartas na manga, que ninguém, nem mesmo o Sukuna irá desconfiar.

— Perfeitamente. — Outra voz concorda com ele. Em um tom calmo e misterioso. — Satoru Gojo, você é meu alvo principal.

 

Chapter 2: 𝙽𝚊 𝙱𝚒𝚋𝚕𝚒𝚘𝚝𝚎𝚌𝚊

Chapter Text

  Já fazia bastante tempo desde que Suguru completara uma missão Jujutsu. Atualmente, ele se encontrava lendo livros de filosofia na biblioteca da escola, coisa que quase nenhum aluno fazia em seu tempo livre; a maioria preferia ficar mexendo no celular, coisa que Suguru não achava tão interessante assim — a não ser que fosse para fins de conhecimento, reflexão ou para conversar com seu melhor amigo, claro.

— Suguru! — O feiticeiro nem precisou desviar seu olhar das páginas do livro para deduzir quem o chamou. A icônica voz autoconfiante, repleta de energia positiva e extroversão já entregava de bandeja para Geto que se tratava dele.

— E aí, Satoru. — Cumprimentou calmamente, olhando para o rapaz alto de cabelos brancos e óculos escuros que entrava pela porta da biblioteca. — Como vai?

— Ah, um pouco entediado. — Satoru responde. — Os caras daqui nunca nos deram mais missões, sabe? Tô com mó vontade de socar maldição e eu não encontro uma sequer. — Ele se senta numa cadeira ao lado de Suguru e fica olhando para o teto.

— Como você vai socar maldição sendo que ela nem pode chegar perto de ti? — Indagou com sarcasmo, olhando para o rosto de Satoru por alguns segundos antes de continuar. — Brincadeiras à parte, eu também percebi que as maldições estão desaparecendo e isso é estranho demais para mim. A humanidade nunca teve o controle estável da energia amaldiçoada para um evento desses acontecer. Fora que alguns nem sabem que coisas assim existem. Não acha?

— Eh, eu concordo contigo, Suguru. Quem sabe alguma coisa não acontece esses próximos dias com a gente, né? — Satoru se levanta. — Mas, enfim, que livro é esse daí? — Perguntou curiosamente.

— É engraçado que você esteja curioso com isso. — Observou Suguru. — Se chama "Além do Bem e do Mal", de Friedrich Nietzsche, um filósofo alemão.

 — Se chama "Além do Bem e do Mal", de Friedrich Nietzsche, um filósofo alemão

Arte: daily.geto (Instagram)

— Vish! É aquele doidão. — Ele riu de forma tão cômica que até Suguru não resistiu e deu um risinho baixo.

— Ele é doidão, porém, é bem interessante.

— Meu parceiro tem que ter bom gosto, rapaz. — Satoru sorri. — Ei, que tal sairmos mais tarde e nos divertir um pouquinho junto com a Shoko? Já que estamos livres mesmo, podemos até ir em algum lugar específico e conferir a segurança da energia amaldiçoada.

— Ótima ideia, Satoru. Acho que durante a noite é a melhor hora, então. — Olhou para baixo, pensando. — A Shoko também está parada?

— Sem maldições fortes para lutar, sem ferimentos graves para curar. — Deu de ombros.

— Hm... — Ele põe o dedo indicador no queixo e começa a pensar.

— E o Sukuna tá só curtindo a vida também.

— Esse cara tá muito relaxado pro meu gosto...

— Fazer o quê, né... — Satoru vai andando para fora. — Depois eu falo com a Shoko e o Sukuna e te mando mensagem no celular, beleza?

— Beleza. — Confirma. — Falou, Satoru.

— Falou, Suguru. — Eles se despedem.

  A porta se fechou e Suguru estava um pouco pensativo. Ele sentia algo estranho, algo dizia para o mesmo que grandes coisas estavam prestes a acontecer.

 

Chapter 3: 𝚅𝚊𝚣𝚒𝚘 𝙸𝚗𝚏𝚒𝚗𝚒𝚝𝚘

Chapter Text

A escuridão tomava conta do ambiente. Sem vida alguma, não havia luz, não havia saída, não havia salvação, não havia um caminho sequer menos escuro do que os outros no infinito vazio que se encontrava a minha frente; se é que esses espaços obscuros são caminhos, ou apenas paranoias, ilusões da mente deturpadas pelo processamento infinito dos meus olhos.

O que é esse lugar? Onde está a minha luz? Onde está o meu tão exaltado poder? Por que sinto como se não houvesse forças para sair daqui? Seria um feitiço... ou um sonho? E por que me sinto tão sozinho? Onde estão meus amigos? Suguru, parece tão longe de mim... Shoko, não há sinal de sua existência... Sukuna, nem você está por perto. Não sinto, nem enxergo as energias de nenhuma pessoa do mundo. Estou sozinho.

Como eu saio daqui? Permaneço andando neste infinito vazio das sombras... Ou será que estou parado? Até meus Seis Olhos, tão poderosos e capazes de enxergar, entender tudo a minha volta com precisão de detalhes, estão confusos, como se eu estivesse de fato cego em todos os sentidos humanos; não sinto absolutamente nada. Pela primeira vez na minha vida, tô com medo.

E... estou ouvindo uma... voz?! Minha sanidade deve ter ido de base já, né... Tô ficando maluco.

"おお、光栄な方、あなたが一番望んでいることは何ですか?"
(O que você mais deseja, ó Honrado?)

"シャーマン、あなたは本当に何を信じていますか?"
(No que você realmente acredita, feiticeiro?)

"すべての選択には結果が伴います。"
(Toda escolha tem consequências.)

"考えて分析することが常に最善の事前選択です。"
(Pensar e analisar é sempre a melhor pré-seleção.)

"考えてみてください、サトル。"
(Pense nisso, Satoru.)

Tá repreendido... Eu quero é meter o pé daqui logo, sair desse pesadelo sem fim; que negócio bizarro. Não sei nem de onde vieram essas vozes, mas, seja lá quem for esse sujeito, ele não pode me vencer ou fazer algum mal à mim.

— Se você tá querendo manipular minha mente, pode esquecer. Não vai funcionar contra o grande Satoru Gojou, ô criatura!

...

Aquela... coisa não falou mais nada há algum tempo e eu tô meio preso aqui. Que droga, hein. — De repente, ele tem uma ideia e dá um grande sorriso. — Hum, o que será que acontece se eu ficar brincando com meus poderes aqui "dentro?" Hehe. — Com um simples movimento simbólico de seus dedos da mão direita, Satoru rapidamente desativa e ativa o Mugen, o que faz seu corpo inteiro brilhar como a única luz existente do vazio infinito.

 — Com um simples movimento simbólico de seus dedos da mão direita, Satoru rapidamente desativa e ativa o Mugen, o que faz seu corpo inteiro brilhar como a única luz existente do vazio infinito

Arte: HiMiTsu79541563 (Twitter/X)

  Ao abrir seus olhos alguns segundos depois, o feiticeiro se vê deitado no sofá de seu dormitório, e mesmo com centenas de informações sendo processadas em sua mente através de seu poder, ele ainda não compreende, o que de fato aconteceu naquele sonho, naquele pesadelo... que mais parecia um feitiço usado contra ele do que um sonho ruim comum.

Eu preciso entender o que isso quer dizer. Pode ser plano de alguém muito forte e inteligente que está contra nós, feiticeiros Jujutsu, e pelo visto, ele não tá pra brincadeira. Aff, que chato. — Ele fica andando para lá e para cá na sala de estar. — Ah, quase esqueci. Já tá ficando tardão, mas tenho que chamar a Shoko e o Suguru pra gente sair um pouquinho. Quem sabe o Sukuna também queira, se bem que ele tá bem afastado esses dias.

— Alô?... cof cofsennnhorita Shoooko? — Ele liga para ela.

— Alô... Gojo? É você? — Ela responde alguns segundos depois.

— Claro que sou eu. Quem mais teria essa minha linda voz, flor? Ehehehehe.

— Seu bobão, sabia que você me responderia de algum jeito assim. — Shoko ri. — O que cê tá querendo? Eu tô sentada num banco do parque vendo o Sukuna ler uns mangá engraçado do meu lado. Sabia que ele é fã de comédia?

— Só se for "comédia" de filme de terror. Porque pra esse cara aí ler comédia... — Satoru faz uma expressão irônica.

— Cala a boca, imbecil! — Sukuna grita pelo telefone da Shoko. — Tu que é idiota. Nem sabe o que eu tô lendo.

— Acalma esse leão explosivo aí, Shoko. — Satoru zoa.

— Satoru... — Ela começa.

— Tá bom. — Ele ri. — Te contar, eu queria chamar você pra sair comigo e com o Suguru. Se o Sukuna quiser vir também, podemos ir todo mundo junto. Quanto mais amigos, mais divertido.

— Eu adoraria ir com vocês. — Shoko responde. — E você, Ryomen, o que você acha?

— Argh, se eu puder dar uns socos na cara feia do Gojo, eu quero. — Responde com um sorriso malicioso. E imediatamente, Satoru começa a rir incontrolavelmente.

— Não viaja, Sukuninha. — E todos começam a rir juntos.

'Ah, Suguru... preciso te contar sobre meu sonho estranho. Talvez, juntos possamos entender o que é que esteja acontecendo por aí que ninguém sabe...'

 

Chapter 4: 𝙾 𝙴𝚗𝚌𝚘𝚗𝚝𝚛𝚘

Chapter Text

São quase onze horas da noite. Estou indo ao encontro do meu grupo caótico enquanto observo as ruas vazias, a lua iluminando nosso céu escuro e as estrelas brilhando por toda parte que meus olhos conseguem enxergar. Penso que, o mundo pode não ser tão agradável quando pensamos nas maldições ou até mesmo nos próprios seres humanos de vez em quando, já que a maldade reina, mas, esta vida, e tudo o que podemos aprender e vivenciar nela até o fim, é de fato, uma dádiva.

Às vezes, me pergunto como é que o Satoru enxerga a vida. Como é que o Satoru "enxerga"... essa foi boa, Suguru. Por falar nisso, será que ele vê as coisas físicas de forma diferente com aqueles olhos brilhantes? Como é ter os Seis Olhos? Agora estou curioso. Se eu perguntar isso para ele, pedindo detalhes, provavelmente esse cabeça de temaki vai me responder de forma sarcástica, mas aí é só eu devolver na mesma moeda.

Aqui está tão silencioso... é tão bom andar por aqui sozinho quando não há muito barulho. Aprecio a solitude. Eita! O que está havendo ali na frente?

 Eita! O que está havendo ali na frente?

Arte por mim:  Satoki-Me  (DeviantArt)

— EU VOU TE MATAR, GOJOOO!! — Era Sukuna, gritando e correndo ferozmente atrás de Satoru, que segurava um sorvete de morango na mão e desviava rapidamente dos golpes de Ryomen.

— Então vem matar. — Satoru responde rindo à beça.

'Ah, é só esses dois se matando... Como sempre. Parecem cão e gato.' Pensou com uma expressão indiferente enquanto observava de longe a comédia dos dois. Shoko avista o feiticeiro, vai correndo até ele e o abraça fortemente.

— Senti sua falta, Geto. — Ela diz em tom de saudade, se separando do abraço. — O que esteve fazendo o dia todo? Também não vi muito o Gojo por aí. Ele só veio pra cá agora.

— Ah, Shoko... — Ele começa. — Hoje eu estive um pouco... cansado, fiquei distante e introspectivo o dia todo. A única pessoa com quem havia me comunicado até agora foi com o Satoru lá na Escola Jujutsu e ainda foi na—

— Deixe-me adivinhar... — Ela corta. — Na biblioteca?

— Exatamente, heh. — Ele põe a mão esquerda atrás da nuca, com um olho aberto e outro fechado dando um leve riso.

— MEU SORVETE, SEU IDIOTA. — Sukuna surta e acerta um baita soco em Satoru, fazendo-o voar para longe. Assim, o de olhos vermelhos consegue pegar seu sorvete antes dele cair no chão. Satoru reaparece ao lado dele tossindo.

— Não precisava agredir, unha pintada. — Ele debocha, desviando de outro golpe do Sukuna. — Eu só tinha esquecido de ativar meu Mugen.

— Seu... — Ele abre a boca para xingar Gojo, mas desiste. Assim, finalmente começou a tomar seu sorvete.

— Suguru! — Satoru vai até Suguru para o cumprimentar. — Como vai, parça? Deu mó sumidão na gente hoje, hein!

— Estou bem, Satoru. Obrigado por perguntar. — Ele responde com um sorriso leve. — Estive aproveitando meu tempo sozinho. Felizmente, não dei de cara com nenhuma maldição por onde passei hoje. E você? — Pergunta observando as expressões do Gojo.

— Educado como sempre. — Satoru sorri. — Eu não fiz muita coisa. Dormi a tarde toda pra falar a verdade. Mas, estou bem animado... Tenho algumas coisas interessantes para falar pra vocês! — Ele diz em tom de animação.

— Que bom. — 'Oxi? Não sei se é a minha percepção ou se ele está usando um óculos diferente, mas sinto estar vendo bem menos brilho nos olhos dele, que anormal. Será que só eu percebi isso?' — O que é que você quer nos contar? Estou curioso.

— Cara! Quando dormi, tive um sonho perturbador. Só que "sonho" entre aspas... porque pode ser que não seja apenas um sonho desconfortável qualquer e desconfio muito disso. — Ele declara, olhando profundamente nos olhos amarelo-escuro de Suguru. — Até porque eu me sentia preso em uma espécie de buraco negro e eu não conseguia enxergar o limite dele, como se fosse uma expansão de domínio infinita. Só consegui sair quando desativei e ativei meu Mugen.

— Satoru... — Ele responde com calma. 'Isso pode ser problemático dependendo do que realmente é. Como se fosse uma expansão de domínio infinita... então, ele está querendo dizer... Muryou Kuusho? Ou algo parecido...' Começou a pensar, parecendo que seu corpo estava em outro mundo.

— Vamos para a Escola Jujutsu. Posso contar tudo o que me aconteceu lá para investigarmos esse caso. — Satoru sugere, enquanto olha Ryomen de canto, que parecia estar tão entretido naquele sorvete, que nem ouvira a conversa. Ou talvez fosse outra coisa.

— Tudo bem, vamos lá. — Diz Suguru, se desvinculando um pouco de seus longos pensamentos dedutivos.

— Bora, Sukuna. — Shoko chama Ryomen, que terminava de tomar seu sorvete.

— Pra onde? — Ele pergunta com uma expressão de tédio.

— Tá de brincadeira que você não ouviu a conversa aqui do lado? — Ieiri indaga.

— Eu tava pensando é no porquê de não estarmos vendo mais maldições. — Ele responde.

— Ah, Sukuna, você também percebeu? — Suguru pergunta, aproximando-se dele curiosamente.

— Eu exorcizei uma hoje, mas era pequenina. E faz muito tempo que não vejo mais. — Ele fala olhando para o Geto.

— Pois é. — Satoru entra na conversa. — Isso é muito estranho. Pra onde tá indo toda essa energia amaldiçoada que sinto sendo que ela não cria maldições? — Ele fica andando inquieto para os lados. — Ou será que ela cria maldições, mas estão sendo impedidas de agir ou aparecer por alguma coisa?

  Suguru começa a pensar sobre todos esses fatos e percebe que parecem estar interligados de forma quase imperceptível. O sonho de Satoru, o que ele enxerga, seus sentidos, a energia amaldiçoada, o sumiço das maldições, seus pressentimentos... é como se fosse um quebra-cabeça que nem parece ter as mesmas peças superficialmente, mas que, no fundo, são as exatas, as mais certeiras do mistério todo.

— Não sei se eu entendi, mas... — Suguru olha para Satoru e Ryomen. — Tô sentindo muitas coisas estranhas atualmente, que parecem de alguma forma estarem interligadas nesse seu sonho e no possível sumiço das maldições.

— Hã? — Satoru e Ryomen expressam ao mesmo tempo, enquanto Shoko ouve atentamente o que Suguru tem a dizer.

— É melhor eu explicar na escola mesmo, aqui pode ter algum espião ou sei lá.

— Eu veria alguém assim facilmente, Suguru. — Satoru estranha o tipo de preocupação.

— Talvez não, Satoru. — Ele responde sério. — E talvez isso tudo tenha a ver com você mesmo, ou com Sukuna.

 

Chapter 5: 𝙸𝚗𝚒́𝚌𝚒𝚘 𝚍𝚊 𝙰𝚟𝚎𝚗𝚝𝚞𝚛𝚊

Chapter Text

O Suguru me deixou bastante curioso depois da nossa conversa naquela praça. E, sobre as maldições estarem sumindo, logo eu, não conseguir ver exatamente o que tá acontecendo, é outra coisa que devemos descobrir, porque pode ser indício de grande perigo. Pode ser que esteja acontecendo algum tipo de anomalia bizarra, só que a energia amaldiçoada não é bem como um... hum, fator climático ou qualquer coisa do tipo; ela existe e sempre existirá enquanto houver não-feiticeiros vivendo suas vidas normalmente, porque assim como existe o que chamam de energia positiva, existe energia negativa, e isso tudo não é necessariamente desencadeado por palavras que saem da boca de alguém.

Raiva, tristeza, ansiedade, mágoa, angústia, ódio... Todas essas emoções negativas, por mais assustador que seja admitir isso, fazem parte do fluxo natural da vida e todas as pessoas lidam com elas no dia a dia. O problema, é que apenas nós, feiticeiros jujutsu, aprendemos a controlar a energia amaldiçoada que se esvai de nossas fortes emoções. Às vezes, me pergunto como seria o mundo se as maldições não existissem... Provavelmente, seria um mundo perfeito, um mundo com o qual nós sonhamos muitas vezes.

— Gojou? — Shoko chama o garoto de olhos azuis, que estava mais calado do que o normal até agora. — Estamos chegando.

— Ótimo! Hora de colocar o papo em dia, hehe. — Ele dá um sorriso falso, que logo vai se desmanchando lentamente ao voltar para seus pensamentos. 'Aquela voz estranha no meu sonho... era assustadora. Me pergunto se quer dizer algo que pode acontecer comigo num futuro próximo.'

  Ao chegar na escola, os quatro foram ao dormitório de Satoru e fecharam a porta para conversar a sós. Satoru explica seu sonho em detalhes para seus amigos, que olhavam para ele pensativos, captando sinais com atenção e tentando entender a situação de forma agora mais aprofundada.

— Eu acho que é o seguinte. — Começou Ryomen. — Esse pesadelo não era um "sonho" de verdade, e bom... isso todo mundo aqui que é inteligente mesmo já tá sabendo. O problema é que estamos pressentindo que isso vai dar em alguma zebra, não? — Ele diz fazendo uma expressão de desdém.

— Sim, Sukuna. — Concordou Suguru. — Nós já sabemos que tem algo de errado por aí com o sonho do Satoru, mas, pode ser que isso esteja também interligado com o sumiço das maldições. Já pensaram nisso? — Ele pergunta retoricamente. — Vai ver alguém está enfeitiçando o Satoru de uma forma tão potente que faz ele não perceber a energia amaldiçoada da mesma forma, mesmo tendo os Seis Olhos. É uma boa hipótese.

— Haja poder e habilidade pra conseguir enfeitiçar esse moleque desse jeito. — Sukuna fala sorrindo. — Se for mesmo obra de algum mestre de maldições... eu quero muito meter a porrada nele. — Ele ri enquanto os outros três olhavam para o de olhos vermelhos fazendo expressões cômicas.

— Hum... eu perceberia muito antes do feitiço chegar em mim. — Falou Satoru pensativo. — A não ser que esse "feitiço" seja diferente dos poderes Jujutsu que estamos acostumados em lidar; pode até ser uma técnica inata desconhecida. Só que eu tô me sentindo bem. Não acho que fui enfeitiçado. — Ele conclui e os três ficam calados por alguns segundos. — E o que você acha que era aquela voz? — Satoru pergunta para Suguru, que parecia ter ficado ainda mais pensativo depois de Satoru dizer que se sentia bem. 'Ele percebe as coisas fácil. Será que ele acha mesmo que tô enfeitiçado?' — Parecia vir de um espírito amaldiçoado.

— Quantos pensamentos, cara... — Suguru coloca a mão na cabeça e fica pensando por um tempo. — Hm... É um quebra-cabeças com peças diferentes, mas iguais, misturadas entre totalmente diferentes enquanto tentam se encaixar em seus pares. Meio confuso.

— Pessoal! — Chama Ieiri. — Como não temos muitas informações, acho que o melhor é nós tentarmos identificar o problema central e investigá-lo aos poucos para ver as conexões entre as informações que temos e testar nossas ideias para ver se batem. — Sugere.

— Perfeito, Shoko. — Falou Suguru. — Vou dizer a minha opinião atual, mas ainda tenho muitos pensamentos e situações, coisas para confirmar que possam ter tudo a ver com essa história. — Começa. — Todas essas anomalias estão conectadas e o alvo principal dessa história é o Satoru. — Ele olha para o Gojo fitando seus olhos azuis, que às vezes, se escondiam por trás dos óculos escuros. Sua expressão, no geral, estava calma. — Entretanto, como nós estamos no mesmo time e somos os melhores da Escola Jujutsu, acredito que seja questão de tempo para o inimigo mirar em algum outro de nós.

'Espera, então ele acha que isso tudo é realmente obra de um mestre de maldições? Um inimigo inteligente, então, e não um simples espírito de classe especial... É, faz mais sentido. Mas que estranho, meu olho começou a arder do nada agora...'

— Principalmente você, Sukuna. — Suguru olha para Ryomen. — Você e o Gojo são os que mais saem e aparecem para as pessoas, muita extravagância alheia. — Ele fica alternando o olhar entre os dois ironicamente decepcionado. — Pra quê chamar tanta atenção?! Ficam encenando algum anime? — Fala de forma sarcástica.

— Ui, que bom que sou a exceção daqui. — Ieiri fala sentindo-se privilegiada por ser a curandeira do grupo e não se envolver muito nas missões de exorcismo.

— O Geto tá falando a verdade. — Reconhece Ryomen. — Deixar o Jujutsu aparente para os normaizinhos pode acabar desencadeando emoções assustadas e incompreendidas, infelizmente, e isso...

— Pode criar maldições. — Satoru conclui com uma expressão de tédio. — Argh, que saco. — Ele e Ryomen olham pro teto.

— É melhor começarmos investigar nesses próximos dias. — Suguru se levanta. — De fato, não temos muitas pistas, porém, qualquer coisa, nos avise, Satoru. — Ele dá um tapinha no ombro do amigo e segue em direção à porta.

— Eu posso alertar os superiores sobre isso de manhã. — Oferece Ryomen, também se levantando. — Tô me encontrando com o diretor Yaga todo santo dia.

— E qualquer coisa, só me chamar. — Shoko pula pra fora do dormitório. — Ai! Eu tô com taaaanta fome!!!

— Obrigado. — Satoru agradece com um sorriso genuíno para seus amigos. Saber que todos estão o apoiando nessa situação tão estranha o alegrava internamente. — Vamos logo comer em algum lugar, também tô morrendo de fome! — Ele levanta e vai correndo com os outros.

— Eu quero comer MC Donald 's! — Gritou Ryomen.

— Por mim tanto faz, estou sem fome. — Suguru olha a hora em seu relógio, assustando-se, pois já estava de madrugada. — Mudança de planos, eu vou precisar comer algo sim.

— Será que tem algum lugar bom aberto nessa hora?? — Ieiri questiona.

— Eu sei de um restaurante noturno! — Satoru fala com pura empolgação, pulando na frente dos três. — Ele é meio longe daqui, mas tem tudo o que vocês imaginam. Bora lá! — Todos concordam com a ideia.

  O esquadrão aposta corrida até o restaurante. Satoru e Ryomen usavam super velocidade enquanto Geto invocava uma maldição conhecida como "Dragão Arco-Íris", um poderoso e resistente espírito amaldiçoado em forma de dragão oriental capaz de voar e se mover velozmente por terra e céus. Suguru e Ieiri sobem na maldição dragão e voam a toda velocidade para alcançar Satoru e Ryomen, que estavam praticamente no mesmo ritmo.

Ryomen ria como um maluco enquanto Satoru tentava desacelerar o Feiticeiro correndo para perto dele com seu Mugen ativado.

— Tá trapaceando, Gojo! — Ryomen tenta acertar um corte invisível em Satoru.

— Você que tá! Quer me matar com esses cortes?! — Ele dá uma rasteira no feiticeiro e sai na disparada enquanto o outro levanta. — Perdeu, playboy. — Zoa baixinho.

— EU OUVI ISSO. — Ryomen grita com raiva e vai correndo atrás dele.

— Olha lá, Geto! — Aponta Shoko. — O Sukuna ficou pra trás.

— Hahaha, vamos alcançar o Satoru. — Suguru ri e passa voando rapidamente por Satoru, que olha para ele se sentindo desafiado.

— Sukuna! Vem cá. — Satoru para de correr e espera Ryomen chegar.

— Hã?

— Bora derrubar esse dragão juntos. — Ele sorri. 'Igual nos velhos tempos.'

— Igual naquele RPG? — Ryomen se prepara.

— Aham. — Satoru afirma. Ele se lembra bem daquele RPG de mesa em que ambos criaram personagens e caçavam vários monstros. Gojo quase sempre matava-os primeiro que Sukuna, e por isso, ele e Suguru ficavam zombando de Ryomen todos os dias. — Essa vai ser a nossa revanche.

— Então beleza. — Ryomen concorda. — Quem derrubar ele primeiro pedirá toda a comida que quiser. — Dá um sorriso malicioso. — E quem perder, é quem vai pagar. Fechado?

— Fechado. — Satoru confirma.

Arte: roa_127 (plataforma desconhecida)

Arte: roa_127 (plataforma desconhecida)

 

Chapter 6: 𝙰𝚝𝚊𝚚𝚞𝚎

Chapter Text

— Eu vou acabar com vocês dois. — Suguru disse de uma forma a qual dava a entender que ele estava um pouco zangado. — Queriam matar o Morsfang? — O esquadrão estava na frente do restaurante discutindo.

— O DRAGÃO TEM NOME?! — Ryomen se surpreendeu. — E EM LATIM AINDA?

— Nem eu sabia dessa. — Ieiri estava curando alguns cortes no dragão com sua Energia Amaldiçoada Reversa. A maldição olhava para eles com uma expressão de desgosto.

— Ah, claro! O Suguru gosta de dar nomes para as maldições dele. Principalmente em línguas diferentes. — Satoru explicou com um sorriso. — Haja criatividade, hein?

— Af... — Suguru olhou pro lado. — O que vocês estavam pensando ao fazer tal atrocidade?

— Vocês nada, foi ideia do Sr. Olhos Azuis ali. — Ryomen aponta para Satoru.

— Satoru... — Geto olha para Gojo agressivamente.

— Calma, Suguru! — Satoru se explica: — Não foi minha intenção machucar ele assim, juro. Nossa aposta foi só de derrubar o dragão... e não de matar ele. O Sukuna que tava com ódio no coração e tacou corte no bicho.

'Esses dois juntos são o capeta. Por isso não dá pra eles  fazer  missão juntos, vão destruir a cidade toda. O Satoru fica provocando o Sukuna, e esse cabeça de algodão doce fica  bravo  muito facilmente. Um sempre quer ser melhor que o outro em tudo desde o dia em que se conheceram.'

— Eu não tenho culpa que minha técnica é poderosa e que sua maldição era tão frágil. — Ryomen defende.

— Frágil? — Suguru questiona incrédulo. — Ele é o mais resistente que possuo. Um absurdo isso.

— Vamos comer logo. — Ieiri chama os três, que estavam quase se batendo. — Morsfang já está bem novamente e eu tô morrendo de fome. — Ela entra no espaço. — Ficar discutindo não vai dar em nada.

— Vamos. — Suguru "guarda" a maldição de volta e vai junto dela. 'Pelo menos a Ieiri é menos idiota.'

— Ah... cara, que mancada. — Gojo olha para Sukuna e ambos seguem os outros.

— Quem vai pagar? — Ryomen pergunta.

— Deixa que eu pago. — Satoru responde. — Assim talvez eu amenize a decepção do Suguru.

— Eu não acho que o Geto levou pro pessoal, ele é muito racional e você sabe disso melhor do que ninguém, Gojo.

— Tem razão. — Ao ouvir isso de Satoru, Ryomen percebe uma certa melancolia na voz dele, mesmo que Gojo tenha dado um leve riso.

— Gojo? — Ryomen tenta se aproximar dele, porém, o Mugen impede.

— Opa, foi mal aí, Sukuna. — Ele se afasta. — Senti algo estranho. — Satoru tira os óculos por alguns segundos para tentar enxergar com potência total qualquer possível maldição por perto. — Mas, eu não vejo nada demais... Ué?

— Hã, que esquisito. — Ambos apressam o passo e se sentam num cantinho decorado com plantas artificiais nas paredes, junto de Suguru e Ieiri.

'Esse ambiente tá estranho... E parece que o Satoru já percebeu isso. Dá pra ver na cara dele que alguma coisa tá errada. Será que ele não está conseguindo enxergar mais os perigos?! Desde que vi os olhos dele brilhando menos... estou preocupado com isso. Bom, pelo menos, nossa intuição é forte o suficiente para sabermos que algo não está certo, ainda mais por sermos feiticeiros bem treinados nos sentidos humanos. Qualquer coisa, eu já invoco uma maldição do tipo sentinela aqui.'

— Suguru. — Satoru chama seu amigo, que olha para ele atentamente. — Tem alguma coisa muito estranha acontecendo por aqui.

— Tô sentindo também. Parece até que— Ele para de falar assim que ele sente uma presença tão esmagadora na área, que só poderia se tratar da chegada de uma maldição de Grau Especial. 'Caramba... tem uma maldição lá fora!'

— Como eu não vi isso? Que droga! — Satoru e Suguru vão correndo para fora do restaurante encarar o monstro. As pessoas que estavam lá dentro, algumas começaram a se sentir mal sem saber o motivo e umas até saíram do local.

'Esses não-feiticeiros não sabem que tem uma maldição aqui porque não conseguem ver, entretanto, essa criatura provavelmente nasceu da depressão, da ansiedade e de outras emoções negativas que são extremamente poderosas. A força da energia negativa que está chegando aqui através dela é pesada e afeta a mente de qualquer um.'

— Cadê ela, Satoru? — 'Nós não sabemos onde ela está e nem a vejo.'

— Não consigo enxergar... — Satoru faz uma expressão assustada.

— Calma, Satoru. — 'Não se desespere, brother. O que está acontecendo com você?'

— Depois de tantos dias sem diversão... depois de tantos dias sem uma batalha digna com um oponente digno. — Ryomen se levanta calmamente e imponentemente de onde estava. — Finalmente, uma maldição de verdade apareceu.

— Eh, e o que eu faço? — Ieiri pergunta.

— Fique aqui e tome conta da comida quando o moço ali chamar. — Ryomen respondeu sorrindo. — Não se preocupe, nós três não vamos deixar essa coisa machucar ninguém.

— Ah... tá bom. — Ieiri continua quieta no canto. Ela confia nos seus amigos, apesar da situação ser meio "anormal".

  De repente, um monstro gigante semelhante a uma centopeia saiu de dentro do chão atacando Suguru, que invocou uma maldição em forma de rato humanoide, vencendo sem esforço a maldição de cem patinhas.

'Isso deve ter sido apenas uma distração...' Uma imensa esfera de energia vermelha quase atinge Suguru, porém, Satoru entra na frente e impede o impacto da energia com seu Mugen.

— Suguru, você tá vendo isso?

— Quê?! — Suguru se assusta com a enorme quantia de espíritos amaldiçoados em forma de aracnídeos e besouros gigantes marchando em direção a eles. 'Isso com certeza foi um ataque planejado... Tem alguém por trás disso, e esse alguém está aqui, pode ser que seja até mesmo essa maldição de Grau Especial que está se escondendo em algum lugar...'

— Uhuuuuu! Hora de fazer picadinho de inseto. — Ryomen chega na área animado.

'Por que mandar várias maldições de baixo nível contra nós? Se o oponente estiver mesmo querendo algo... uh, tá difícil pensar!' Suguru invoca Morsfang para ajudar na batalha. Enquanto Satoru destrói várias maldições utilizando seu feitiço Azul, que funciona como um pequeno buraco negro contra os espíritos.

— Vocês são muito fracos. — Satoru debocha.

— Kagenoshu, Yatagarasu! — Sukuna tira sua camisa e usa uma parte poderosa de sua técnica inata, fazendo com que o mesmo ganhe asas negras gigantes como um corvo. Seu cabelo também muda de cor e seu poder está ainda maior do que antes. — Vou encontrar o cabeça por trás disso agora mesmo!

 — Vou encontrar o cabeça por trás disso agora mesmo!

Arte:  noriiyyy  (Twitter/X)

 

Chapter 7: 𝙷𝚊𝚛𝚖𝚘𝚗𝚒𝚊 𝚂𝚒𝚖𝚎́𝚝𝚛𝚒𝚌𝚊

Chapter Text

Quando eu era apenas um pirralho de sete anos, presenciei uma cena digna de terapia. Minha família vivia em uma pequena comunidade no interior de Shikoku, em Yusuhara. Era uma vida pacífica e extremamente tranquila, porém, tudo estava prestes a mudar depois de um acontecimento perturbador.

Era muito comum, naqueles tempos, as pessoas ficarem criando histórias e contos aterrorizantes sobre yõkais, espíritos e criaturas da floresta, sejam boas sejam más. Todo final de semana, a grande família inteira se reunia em um ponto específico próximo às regiões mais afastadas da cidade para acampar.

Era uma prática divertida; eu adorava caminhar naquele matagal, sentir o cheiro do mato molhado, distinguir flores e árvores bonitas, encontrar-se com insetos e pequenos mamíferos, me divertir com as outras crianças e ouvir as histórias dos mais velhos, que eu me perguntava se eram realmente verdadeiras.

A verdade, na realidade, é que a verdade é relativa, e em vários pontos. Todo folclore tem um pingo de verdade, e, para alguém que foi nomeado em homenagem a um tipo de divindade de quatro braços, quatro olhos e duas faces, seja ela sombria ou luzente, isso, para mim, não passava de mais uma besteira inventada para assustar pestinhas e fazer a gente se curvar a deuses inexistentes. Até eu descobrir meus poderes e entender o quanto as emoções das pessoas a respeito de lendas e mitos podem alterar a energia positiva e negativa que rege o mundo e transformar essas... bobeiras em realidade, por causa do fluxo e força da energia amaldiçoada, tornando os personagens dos contos que conhecemos, em monstros, denominados maldições.

Foi nisso que passei a acreditar como a verdadeira verdade sobre as histórias tão aterrorizantes dos mais velhos, desde quando levantei-me de minha cama, e, não vendo minha família em casa, saí para fora porque sentia que algo havia acontecido.


E minha intuição não estava errada, as ruas da aldeia estavam tão vermelhas que parecia algum evento ou festa de Halloween, mas não, nem ferrando... com todos aqueles corpos no chão dilacerados e com pedaços espalhados... aquilo era sangue humano fresco.

— R-Ryomen! — Era a voz da minha mãe, que soava desesperada. Quando olhei para onde o som da voz dela veio, avistei a mesma num estado tão terrível que não sabia o que fazer; meu corpo paralisou e não queria reagir. Estava tão traumatizado e aterrorizado que até respirar era uma tarefa difícil. Se minha mãe estava assim, onde estava meu pai?

— S-Se... esco-onde... — Ela falou antes de desmaiar devido ao forte sangramento feito pelos cortes em forma de garras que desciam de seu ombro esquerdo até a região do umbigo. A única coisa que fui capaz de fazer, foi chorar de desespero e tristeza, deitando no chão ao lado do corpo inconsciente da minha querida mãe.

Meus pensamentos rodavam confusos e melancólicos pela minha mente e quase tive um treco quando ouvi um dos anciões da vila se aproximando rapidamente de onde eu estava e dando ordens a alguns velhos que acreditavam em espíritos:

— Sacrifiquem Ryomen Sukuna como oferenda a Mizuchi às margens do Rio dos Guardiões! Ele impedirá que Inugami nos destrua. — Me encolhi encostado no corpo de minha pobre mãe, escondendo-me enquanto sentia o cheiro forte de sangue impregnar em mim. Nunca imaginara que estavam querendo me sacrificar, e por que logo eu? Sério, que crença idiota! Será que foi por isso que quando nasci, esses velhos que eles chamam de "xamãs espirituais", fizeram um ritual comigo? Me marcaram com vários tipos de tatuagens que pareciam marcas de criminoso da antiguidade.


Esses tais xamãs eram estranhos, sempre vinham com crenças absurdas e viam coisas que não víamos, que eles chamavam de "energia yõkai". Eu era a única criança marcada por eles, como se eu tivesse nascido com algo especial, como se eu emanasse energia yõkai... Hoje em dia, eu sei que isso era o poder da energia amaldiçoada circulando meu ser. Meus ancestrais foram grandes feiticeiros Jujutsu, e eu herdei esse mesmo destino.

— Sem drama, senhores. A criatura que vocês chamam de Inugami, já está morta. — Quando ouvi aquela voz confiante e heróica, imaginei sem dúvidas de que era algum guardião celestial que tinha nos livrado daquele monstro que atacou a aldeia, mas, foi uma moça, uma feiticeira poderosa que nos livrou das garras daquela maldição em forma do youkai Inugami.

De repente, a mulher que falou aquilo aproximou-se e tocou no corpo de minha mãe, enquanto eu observava olhando-a com uma expressão completamente sem vida. Uma forte energia mágica saía das mãos daquela garota, e era interessante.

— Me perdoe por não ter chegado aqui antes de seu pai partir, garoto. — Ela falou triste, fitando meus olhos vermelhos e fazendo carinho nos meus cabelos rosas como forma de consolo enquanto eu me acabava de chorar ao ouvir sobre meu pai. — Sua mãe ficará bem e eu vou explicar para vocês o que aconteceu. — Esse foi o dia que mais chorei em toda a minha vida. A quantia de energia amaldiçoada que deixei escapar por não ter conhecimento de sua existência foi absurda, e despertando meu verdadeiro poder impregnado em meu ser, de Ryomen Sukuna, passei a ter quatro olhos, como a mesma divindade a qual fui nomeado.

Essa menina tratava-se de uma feiticeira Jujutsu chamada Ramirya Gojo, de quinze anos de idade. Ela tinha pele clara, longos cabelos brancos, olhos cinza azulados e usava roupas leves. Ela exorcizou a maldição que nos assombrou e curou minha mãe, mas, infelizmente, a feiticeira não conseguiu salvar meu pai, e eu fiquei muito triste.

Minha mãe teve que me esconder das pessoas da vila quando alguns perceberam meus olhos. Não tinha explicação científica e os anciões achavam que eu era um demônio amaldiçoado pelo próprio Ryomen Sukuna por não ter sido sacrificado a Mizuchi. Pouco tempo após tentarem me matar, a senhorita Gojo visitou minha mãe e eu, nos revelando tudo sobre feitiçaria Jujutsu e energia amaldiçoada. Assim, descobri a verdade por trás de todos esses mitos e lendas que não existem; o medo que as pessoas sentem deles, cria maldições com a forma da imaginação. É literalmente energia negativa mágica. Portanto, os xamãs espirituais não passavam de pessoas normais que enxergavam maldições e controlavam a energia amaldiçoada sem saber de fato como funcionava tudo isso, pois faziam em crença de espíritos.

Minha mãe aprendeu a usar Jujutsu, e nós, junto com a Gojo, descobrimos que meus ancestrais foram feiticeiros poderosos que possuíam a técnica hereditária "Lâmina Fantasma" (Mienaiha), uma técnica que se baseia em lançamentos simétricos de cortes invisíveis capazes de afetar qualquer coisa que o usuário seja capaz de enxergar. Nós também descobrimos que as marcas tatuadas em mim representam alguns poderes e representações de algumas criaturas mágicas e guardiões que os xamãs acreditavam.

Nos mudamos para uma casa próxima à base do Clã Gojou, vivemos muito bem por anos, às vezes treinando Jujutsu como autodefesa. E enfim, um dia decidi entrar para a escola e virar um feiticeiro de verdade. Obrigado, Ramirya. Agora, meu foco é fatiar toda maldição que eu ver e mostrar a verdade para as pessoas sobre todas essas lendas tão temidas sem motivos e que só criam mais monstros!

...

— Sukuna! — Gojo chama Ryomen, apontando para frente de onde ele estava voando. — Cuidado com aquele besouro. Eles tão emanando um gás que impede a circulação da energia amaldiçoada pelo corpo!

— Valeu pelo aviso. — Sukuna diz com um sorriso após cortar o besouro no meio com um corte invisível.

— Seis olhos são melhores do que quatro. — Gojo sorriu de volta, arremessando cinco aranhas para longe com o Vermelho. Ryomen fez uma expressão debochada para Satoru.

  Vendo um enxame se aproximar de Geto, ele voa para cima e desce num rasante mais rápido do que um falcão, com as Lâminas Invisíveis em suas asas, cortando todos os insetos amaldiçoados em menos de um segundo.

'A maldição de Grau Especial!' Pensou voando rapidamente até a parte de trás da estrutura do restaurante, sentindo a presença forte da maldição cada vez mais perto. 'O ruim de usar uma transformação assim é que se as pessoas me virem voando por aqui, vão pensar que eu sou o capeta.' 

  Voando, Ryomen encontra a maldição. Era um humanoide fantasmagórico repleto de olhos na cara, com cauda de escorpião e asas de morcego, se movia em velocidades absurdas, conseguindo esconder a energia amaldiçoada por alguns segundos.

— Será que é por isso que o Gojo não te viu? — Ryomen se perguntou planando acima da criatura. Analisando o corpo e possíveis poderes da maldição para derrotá-la rápido.

— Para de me olhar com essa cara, seu pervertido! — O espírito avança com tudo para cima de Sukuna, quase acertando-lhe um soco no rosto, porém, o feiticeiro se inclinou para trás e bateu seu par de asas prendendo o pescoço da maldição com elas no mesmo segundo.

  Ao mesmo tempo, Ryomen ativa a Mienaiha na ponta de suas asas e corta em vários pedaços a cabeça da maldição quimérica, entretanto, a criatura regenera sua cabeça em um milésimo de segundo, e, segurando-se nos ombros de Ryomen, ela tenta picar seu peitoral com a cauda de escorpião, mas, Sukuna percebe muito antes as intenções do monstro e dá um rasante cortante para baixo, cortando a maldição em vários pedaços, que novamente, se regeneram no ar. O espírito amaldiçoado fica olhando para ele, ambos voando de uma distância não muito alta do chão.

— Você não vai conseguir me vencer em uma batalha aérea, morceguinho. — Sukuna debocha da maldição. 'Essa maldição sempre se regenera quando uso a Mienaiha, que esquisito. Nenhum outro espírito que já enfrentei era capaz de regenerar o dano dos meus cortes... Isso tá tudo muito estranho, as maldições estariam, então... evoluindo? Se adaptando aos poderes dos feiticeiros mais fortes no momento??!' 

— Em breve, nós iremos acabar com você e com o Satoru Gojo. — Disse a maldição, encarando Ryomen.

— Cala a boca, idiota que não deixa os outros pensar. — Ryomen aponta seu dedo indicador para a criatura, que fica confusa observando o gesto. — Desmantelar.

  Imediatamente, a maldição foi cortada em vários pedaços simétricos, que estavam prestes a se juntar e regenerar rapidamente, isso, se Sukuna não afundasse a cabeça da criatura no chão com um soco profundo carregado de energia amaldiçoada. Aquilo cessou o poder de regeneração da maldição, que virou pó e sumiu, enfim exorcizada.

— Tá de brinks com a minha cara que você era Grau Especial? Não é possível... — Ryomen levanta voo para ir ver seus amigos. — Se for, pelo menos, a presença do Grau Especial sumiu. Mas isso foi estranho.

  Foi quando Ryomen deu de cara com Satoru e Suguru voando com Morsfang em sua direção com expressões assustadas.

— As maldições sumiram e a Shoko também. — Suguru diz cabisbaixo. — Eu sabia que tinha algo errado com esse ataque... Droga, um de nós deveria ter ficado lá com ela.

'HÃ, COMO ASSIM!???'

— O lugar está totalmente destruído também, mas, nós não percebemos nenhuma maldição chegando lá, e eu não enxerguei nada! — Satoru fala com um tom de voz desapontado. — Além disso, roubaram nossa comida.

— QUE ÓDIO! — Ryomen expressa. — E não acredito que isso era tudo uma distração pra sequestrar ela... pobre Shoko.

— E temos um grande problema. O Satoru tá ficando meio... cego. — Geto olhou para Gojo com uma expressão de preocupação.

— Olha, até que é legal e nada cansativo enxergar como uma pessoa normal, mas, não quando estamos em perigo, né??! — Satoru ri de nervoso.

— Relaxa, Satoru. Nós vamos descobrir o que está acontecendo e recuperar seus olhos. — Suguru olha nos olhos de Satoru, que estavam praticamente sem magia alguma, porém, minimamente esperançosos.

Após alguns segundos, subitamente, os Seis Olhos de Satoru voltam a funcionar.

— AAHH, RAPAZ!!! — Satoru sente uma dor imensa nos olhos.

— Não grita no meu ouvido, maluco. — Suguru quase dá um soco na cara dele.

— Que isso, Suguru, pra quê agredir?! — Satoru brinca e Suguru apenas ignora. — Meu zói doeu pra caramba agora, mas eu tô vendo o rastro de energia amaldiçoada que levou a Shoko!

— What... — Suguru fica olhando para ele confuso.

— Que estranho. — Ryomen monta em Morsfang junto com os outros, desfazendo sua transformação de Yatagarasu.

— Verdade. — Concordou Suguru. — É como se a maldição, ou as maldições, estivessem testando nossos poderes... Primeiro, o Mugen no sonho do Satoru, depois os Seis Olhos...

— E agora as minhas Mienaiha! — Ryomen se liga. — Eu só consegui exorcizar a maldição depois de usar um golpe que não envolvia meus cortes simétricos, pois ela se regenerava sempre que eu acertava ela.

— Que loucura. — Satoru observou. — Então as coisas estão interligadas mesmo.

— Tá explicado, com certeza estão tentando se adaptar aos nossos poderes. — Suguru opina. — E devo acautelar-me, pois, talvez eu seja o próximo alvo deles.

 — E devo acautelar-me, pois, talvez eu seja o próximo alvo deles

Arte: ryoza_za (Twitter/X)

Chapter 8: 𝚅𝚎𝚗𝚎𝚗𝚘

Chapter Text

— O que fazemos com essa garota? — Uma voz masculina pergunta a alguém.

— Podemos cortá-la em pedacinhos e jogar para os amigos dela, assim veremos como eles reagem. — A outra voz responde com um tom sádico.

— Ótima ideia, farei isso agora mesmo—

— Calma, viado. Não é melhor fazermos isso na frente dos três?

— Cê tá doido? Pro moleque da família Gojou fazer nossos corpos voarem enquanto o Sukuna corta a gente em picadinhos pras maldições daquele doido de franjinha nos devorarem? Fala sério.

— Cê é doido, deve ser assim que eles lutam juntos, né?

— Assustador, se for isso mesmo. — Ele abre um saco de papelão e um cheiro forte de comida invade o local. — Quer um pouco? Eu, na verdade, acho melhor esperarmos o mestre chegar para decidirmos o paradeiro da garota.

— Uhum, também.

Pouco tempo depois que aqueles três saíram para enfrentar as maldições, as luzes do restaurante apagaram e eu desmaiei do nada, acordando agora em algum lugar que não faço ideia de onde seja, até porque não consigo enxergar com essa fita preta enorme prendendo meus olhos... Minhas mãos e pernas estão amarradas e provavelmente com cordas amaldiçoadas; eles também devem ter pegado meu celular e minha Faca Fantasma, a arma amaldiçoada que carrego comigo em casos de emergência, como esses.

Só consigo sentir o frio do chão em que estou sentada e o cheiro da comida que era para mim estar comendo com meus amigos agora. Essas pessoas que estão aqui comigo são seres humanos que provavelmente estão trabalhando com algum mestre de maldições que almeja algo contra Gojo, Geto e Sukuna... e por mais que eu confie muito que eles irão chegar aqui rapidinho e me salvar, estou bem assustada com a situação...

  A porta do ambiente se abre e Ieiri sente uma presença maligna absurdamente poderosa. Ela automaticamente para de escutar todo e qualquer som que não seja de sua própria respiração; um feitiço que afeta os sentidos humanos?

— Vejo que vocês pegaram a garota. — Disse o indivíduo que entrara. — Muito bem, vocês são tão idiotas que não sabem nem cumprir ordens e ainda querem ser recompensados? — Assim que ele fala isso, os dois rapazes se curvam na hora e olham para o chão. — Não dá pra trabalhar com assassinos de feiticeiros burros. Só o Fushiguro que presta mesmo!

— M-Mas, senhor... — Um deles tenta argumentar. — Era impossível chegar perto do Suguru Geto, o Gojo não saía de perto dele e o Sukuna estava por perto também...

— O que custava se arriscar um pouco? Gojo estava sem os Seis Olhos, era a oportunidade perfeita para você, Shirou, mandar aquele escorpião amaldiçoado contra Geto para testarmos os poderes do tranquilizante. — Ele diz.

— Me desculpe, senhor. — Shirou pede perdão.

— Da próxima vez, irei mandar o Fushiguro sozinho, já que ele é o menos incompetente de vocês. — O homem olha para Shoko presa e digita algo para alguém no telefone. — Podem ir embora daqui e deixem ela presa. Shirou, coloque um escorpião amaldiçoado escondido no uniforme da mulher e vamos falar com o mestre. As ordens são para acertar primeiro ela, e depois, qualquer um dos três que vierem.

  O homem sai pela porta e Shirou tira um pequeno escorpião-amarelo com energia amaldiçoada de um pote de vidro que estava nas prateleiras daquela sala, jogando um pó branco por cima do animal, escondendo sua energia amaldiçoada.

'O que que tá acontecendo aqui?! Eu não consigo ouvir nada, mas sinto um cheiro forte e um pressentimento muito ruim. Socorro!'

— Eu duvido que isso vá funcionar no Gojo. Ele está com os Seis Olhos agora. — O outro diz.

— Kume, ainda não temos certeza se os Seis Olhos conseguem enxergar substâncias e misturas envolvendo maldições e o que elas fazem. — Shirou explica.

— Então é mais um teste? — Kume faz uma expressão de tédio. — O Senhor Muryo não cansa disso nunca?

— Deveríamos ter descoberto como acabar com a técnica de Suguru Geto hoje, e isso, de acordo com Muryo, seria essencial para acabarmos com Satoru Gojo, mas, eu estava com muito medo.

— É, te entendo... eu também tava.

— Vamos ver se o Senhor Muryo vai pelo menos aceitar os testes com o escorpião. — Ele deixa o escorpião no ombro de Shoko e a criatura entra no uniforme dela. Em poucos segundos com uma picada, a mesma desmaia.

  O homem que foi embora dali, sabia que logo Gojo, Geto e Sukuna estariam chegando, e ele estava certo. Os assassinos sentiram a presença dos feiticeiros chegando, e logo, Kume joga uma pedra no chão, que os faz teletransportar para outro lugar, onde estava o mestre de maldições que ordenou-os e estava observando os acontecimentos daquela sala através dos olhos de uma formiga amaldiçoada.

— Ieiri!? — Ryomen corre até Ieiri preocupado.

— Tinham duas pessoas aqui dentro. — Foi a primeira coisa estranha que Satoru enxergou no ambiente, até que ele olha para Ieiri. — Cuidado, Sukuna! — Quando Ryomen tira a fita dos olhos de Shoko, o pequeno escorpião salta no rosto de Ryomen e pica seu olho inferior esquerdo.

— ARRGHH!!! — Ryomen grita de dor enquanto tenta tirar o escorpião de seu rosto, Suguru ajuda invocando uma maldição vespa e Satoru manipula o espaço, separando o escorpião de Ryomen e jogando o bicho na parede, assim, a maldição de Geto mata o escorpião rapidamente.

— Tá tudo bem, Sukuna? — Suguru pergunta a ele enquanto Satoru verifica o estado de Ieiri.

— Tô sentindo uma dor insuportável nesse maldito "mini-olho", mas, acho que vou ficar bem. Tenho imunidade a quase qualquer veneno, principalmente amaldiçoado. — Ryomen explica com um tom de voz confiante.

— Não vejo mais nada aqui. — Diz Satoru segurando Ieiri nos braços. — Suguru, acha bom você ficar aqui e investigar enquanto eu e o Sukuna vamos—

— Não, Satoru. — Suguru responde, já entendendo o pensamento de Satoru. — Se eu ficar aqui, posso ser atacado. É melhor nós irmos todos agora nos recuperar na Escola Jujutsu e contar para nossos superiores o que está acontecendo. — Ele sugere. — Irão mandar algum outro feiticeiro investigar este espaço, e então, vamos entender melhor com o que estamos lidando.

— É, melhor assim. — Concordou Ryomen, rangendo os dentes de dor.

— Hum, então tá bom. — Diz Gojo olhando para os lados.

  O esquadrão voa em Morsfang de volta até a Escola Jujutsu. Shoko acorda um pouco antes de chegar e tenta explicar para os outros o que aconteceu, enquanto curava o olho de Sukuna.

— Obrigado, Ieiri. — Ele agradece.

— Por nada, Ryomen.

— Então... qual é o nosso próximo passo agora? — Satoru pergunta, olhando para os céus.

— Curar, preparar, pensar, planejar e atacar. — Ieiri responde.

— "Pensar e analisar é sempre a melhor pré-seleção." — Geto diz olhando para Gojo.

— É... as coisas estão começando a ficar interessantes. — Satoru declara.

'E extremamente perigosas. Ficarei um pouco mais afastada das aventuras deles a partir de agora. E que fome...'

Arte do game mobile: Jujutsu Kaisen Phantom Parade

Arte do game mobile: Jujutsu Kaisen Phantom Parade

Chapter 9: 𝚃𝚎𝚖𝚙𝚘𝚜 𝚂𝚘𝚖𝚋𝚛𝚒𝚘𝚜

Chapter Text

  Os céus se revestem de trevas, nuvens densas e sombrias cobrem a paisagem noturna. Os galhos das árvores balançam com o vento forte e as temperaturas baixam significativamente; uma tempestade intensa está porvir.

— Senhor Muryo. — O homem chega a seu senhor curvando-se respeitosamente após adentrar sua morada.

— Não precisa se curvar, Ketsu. Porventura, seria eu algum tipo de deus? — Diz o rapaz chamado Muryo, vestindo roupas de frio escuras e um capuz que deixava apenas seu rosto de fora, porém, seus olhos estavam cobertos por uma faixa preta arroxeada. Ele estava assentado em uma poltrona branca com detalhes vermelhos.

— Ainda não, creio eu. — Ketsu olha para ele de forma séria.

— Até parece. — Ele ri. — Eu não quero ser o mais forte para dominar o mundo ou fazer as pessoas me adorarem. Para falar a verdade, quero estar o mais longe possível da vista de qualquer ser humano.

— Que desperdício de potencial. — Ketsu se surpreende. — Ter a oportunidade de ganhar tanto poder, mas, não querer reinar a era em que vive...

— Eu só quero saber o que acontece quando as pessoas param de sentir o que sentem normalmente. — Muryo diz calmamente.

— Mas isso vai te levar a quê? Qual é o seu objetivo mirabolante final com todos esses testes e estudos? Você não tem medo de te descobrirem e acabarem com tudo, não?

— Silêncio. — Muryo inclina sua cabeça a Ketsu, e mesmo que o rapaz não possa ver seus olhos, a pressão em seu semblante era sentida facilmente. — Meus planos estão além da sua compreensão. Apenas continue fazendo o que eu mandar.

— Tudo bem. — Rapidamente, o rapaz para de questionar seu senhor. — Você viu o que aconteceu hoje?

— Vi e confesso que foi melhor não matarem a garota. Se tivessem matado, não teriam noção das consequências. O problema, é que eles já devem desconfiar de algo errado, então aqueles dois assassinos já deixaram meu plano mais difícil por aí.

— Peço perdão por isso, eu era o responsável.

— Estou pensando em fazer tudo sozinho mesmo. Trabalho em grupo é uma merda e vocês não me entendem. — Muryo vira a cabeça para o lado.

— E o que você vai fazer agora? — Ketsu pergunta ignorando seus insultos.

  Muryo sorri.

— Brincar com o Satoru Gojo.

...

Agora são mais de duas horas da manhã. A Shoko e o Sukuna estavam exaustos e foram dormir sem comer nada. Provavelmente, foi algum efeito do veneno daquele escorpião amaldiçoado. Mandei mensagens para o diretor Yaga e para Mei-sensei sobre a situação que passamos hoje, é provável que mandem o Nanami e o Haibara investigar as redondezas do local onde a Ieiri foi levada.

Satoru e eu estamos apenas parados olhando pela janela da escola. Recentemente começou a chover e estamos muito cansados para sair daqui. A escuridão lá fora reflete completamente a preocupação que estou sentindo. São tempos sombrios e seres obscuros estão tramando nossa queda.

— Suguru... — 'A voz dele está tão sem energia...'

— Tá tudo bem, Satoru?

— Pra falar a verdade, não. — Respondeu com uma voz sincera e melancólica. — Estou com medo de ir dormir.

'E desde quando o Satoru tem medo de alguma coisa?' Suguru se pergunta. O mais forte não tem medo de nada, não tem preocupações. O que será que está acontecendo por trás de sua máscara?

— Por quê? — Pergunta Suguru, com uma expressão neutra.

— Sinto que aquela coisa que me atacou antes, me atacará novamente quando eu pegar no sono, e se eu não conseguir sair de lá...

— Ei, relaxa. — Suguru toca no ombro dele. — Essa semana eu comecei a dormir aqui na escola, então, eu posso te ajudar. — Suguru sugere. — Posso até ficar um pouco no seu quarto, se precisar.

— Obrigado, Suguru. — Satoru diz olhando para o lado e indo em direção ao seu dormitório.

  O mesmo tirou os óculos e seu olhar estava ainda mais acabado do que Suguru havia percebido. Ele estava distante e preocupado, um cenário que Suguru presenciou acontecer pouquíssimas ou quase nenhuma vez com Satoru.

— Você quer jogar algum RPG antes de dormir? — Geto entra no quarto junto de Gojo.

— É uma boa ideia. — Satoru senta na cadeira e fica observando a tempestade, que fica mais forte a cada minuto. — Hum...

— É bem assustador ficar no escurão olhando pra sua cara, brother. — Suguru riu. Os olhos de Satoru brilhavam como uma lanterna azul no escuro.

— E é bem assustador ver sua energia amaldiçoada com tantos detalhes. — Satoru responde acendendo a luz. — Já cubro meus olhos, dói bastante enxergar tanta coisa.



'Se enxergar tantas coisas em um mundo finito já me deixa mal, ver o infinito deve ser pior ainda.'

— Ei, bora jogar Warcraft? Quero upar meu Mago.

— E eu quero upar meu Ladino. — Gojo tampa seus olhos com bandagens brancas e dá um sorriso. — Bora!

Quando fui para o meu quarto, quase caindo de sono, Satoru já estava desmaiando. Ele queria continuar jogando, mas, priorizei nosso sono. Bom, se consegui fazê-lo esquecer da preocupação que o mesmo estava, já está bom. Espero que fique tudo bem com ele. Agora, preciso mimir na minha cama...

...

  Não muito tempo depois, Suguru já dormia profundamente, no entanto, Satoru estava em uma situação difícil. Acordando subitamente de manhã, quando a chuva parava de cair sobre a cidade, ele levantou-se em pânico. E Suguru, abrindo a porta de seu quarto, se assusta ao ver Gojou com as bandagens que cobrem seus olhos molhadas. Seus olhos refletiam um interno devastado.

— S-Satoru?!

Arte: anemos (Danbooru)

Arte: anemos (Danbooru)

Chapter 10: 𝙼𝚊𝚗𝚒𝚙𝚞𝚕𝚊𝚌̧𝚊̃𝚘

Summary:

Esse foi meu primeiro capítulo gigante, com mais de 3k palavras e, de todos os capítulos que já escrevi, um dos meus favoritos, com certeza. Espero que vocês consigam sentir a emoção que tentei retratar por meio dessa escrita. Amo o quão complexo tudo ficou.

Ye, tenho uma animação que fiz há algum tempo sobre esse cap! Aqui está o link:
https://youtu.be/8pLZ-y9rHH4?si=yX7o_O1UFH0k4s7k

Divirta-se.

Chapter Text

Ser invencível, ser o Honrado... sempre me deu tanta confiança. Se sou mesmo o Mais Forte e posso fazer o que quiser, então, por que estou sofrendo tão dolorosamente? Eu deveria encarar a vida com alegria e rir na cara da morte. Mas, pelo visto, a verdade não é tão simples assim...

— Bom dia, Satoru. — Uma voz ecoou de forma profunda na mente de Satoru durante a madrugada, acordando-o com um arrepio que percorreu seu corpo de maneira inconsciente.

'De onde carambas essa voz veio? Isso com certeza foi telepatia.' Levantando-se confuso, com a visão turva e sentindo seus olhos arderem, o feiticeiro coloca sua mão direita em sua cabeça, aflito, ele escuta atentamente os sons do ambiente: A forte tempestade que caía sobre aquelas bandas e o som de sua respiração agitada eram os únicos barulhos do momento. Um silêncio absoluto acompanhava seus pensamentos, separando sua mente do mundo, assim como o infinito se separa daquilo que pode ser tocado.

  Satoru não entendia o que estava acontecendo, mas, sua intuição lhe dizia que estava em perigo. Aquele momento não era normal, e as perturbações que externavam de sua mente também não eram, afinal, ele não é assim, Satoru se recusa a mostrar sentimentos tristes para qualquer pessoa. É assim que ele encara sua existência como mais forte, como quem nasceu com poder suficiente para dominar o mundo.

'Como isso pode estar acontecendo aqui na escola?! Também não tô enxergando nada demais. Pera aí...' De repente, Satoru nota algo alarmante: ele não consegue ver nenhum pouco de energia amaldiçoada fora de seu quarto.

  Assustado por estar enxergando normal ou pela possibilidade de algo horrível ter ocorrido, Satoru ignora a ardência nos olhos e se levanta correndo para ver o que está acontecendo lá fora. Abrindo a porta rapidamente, ele sente uma atmosfera pesada e sentimentos negativos invadem seu ser, como se fosse uma energia amaldiçoada que não se pode controlar.

  O relógio na parede do corredor em frente ao quarto de Satoru, marcava três horas da manhã. Ele olha para ambos os lados e não vê energia alguma. A porta do quarto de Suguru estava aberta, porém, o mesmo não estava lá. 'Mas... deve fazer menos de vinte minutos que dormi. Onde é que ele tá?' Olhando para o chão, Satoru vê e pega um pedaço de papel desconhecido que estava ali caído, repleto de palavras. 'O que é isso? Algum idiota perdeu sua lição de casa?'

"Você já parou para pensar sobre quem você é? No motivo da sua existência e no que isso afeta o destino das coisas que são e não são? Já parou para pensar no que aconteceria se você não existisse?

O mundo é um conjunto de elementos simples e muitas vezes sem sentido, que se juntam, formando sentidos e significados complexos. As pessoas são a mesma coisa. Emoções, sentimentos, ideias, significado, profundidade, coisas como essas, que regem o pensamento humano, nos tornando tão diferentes uns dos outros, não passam de pensamentos que formulamos em nossas mentes e que reagem a estímulos sensoriais após reagirem com diversas matérias simples que nossos corpos abrigam, mas, no final, somos todos a mesma coisa!

Isso nos dá brecha, para pensarmos também, que todas essas coisas não passam de uma ilusão, e, que se elas não existissem, não existiriam maldições, assim, viveríamos em um mundo perfeito. Você, Satoru, que deve enxergar até alguns átomos, deveria entender isso, entender que as pessoas e seus sentimentos são apenas um conjunto de energias inferiores que não deveriam existir.

Você não precisa levar tão a sério a ideia de que, por ter nascido mais forte do que os outros, você precisa proteger os mais fracos e ser exemplo do que é um feiticeiro Jujutsu perfeito. Qual é o grande motivo complexo disso? Pense bem, foi por que te falaram que era o certo? Isso não passa de ideias ilusórias que apenas aparentam ter um sentido. Mas, se você quiser, eu posso lhe ajudar a encontrar seu lugar no mundo e a entender você mesmo, assim, você não sofrerá com o que há de vir e fará o que quiser."

'Eu devo estar sonhando.'

'E, cara, se as pessoas são apenas um conjunto de energias inferiores que não deveriam existir, por que me importo tanto com elas? Eu não acho que nossos sentimentos são uma ilusão; é essa complexidade construída de simplórias que faz a vida ser especial. Eu que sou uma aberração, nasci para ser um deus, mas, quero ser humano, tudo por causa da forma como o mundo Jujutsu se dirige a mim desde o meu nascimento, o que é uma droga.'

'Mesmo me divertindo com o momento e com minhas lutas, minha infância foi complicada e eu não queria ser como sou, só que, se não tem como fugir de mim mesmo, vou fazer o quê? Matar todo mundo e viver uma vida solitária em todos os sentidos? Não, obrigado. E não me importo com as ideias que você, alguém que eu nem conheço, colocou aqui. Se ideias humanas, assim como emoções e sentimentos, não têm significado, então, as suas ideias também não teriam significado pra você.'

— Interessante. — A voz falou calmamente na mente de Satoru. — Espero que mude de ideia, porque isto não é um sonho.

  De repente, Satoru foi teleportado para fora da escola, no meio da tempestade, no entanto, ele não conseguia ouvir nenhum som exterior, apenas seus próprios pensamentos.

— Que cômico, você está tão acostumado em ser intocável que nem percebeu a perda do tato. — A voz ria em tons malignos.

  Satoru arregalou os olhos, não conseguia sentir nem mesmo suas roupas tocando seu corpo. Sua visão também ficava cada vez mais obscurecida e a ardência nos olhos aumentava mais e mais, até que...

Ele acordou.

Uma luz tirou-o daquela realidade e ele se levantou com o coração a mil de sua cama. Abrindo a porta, ele vê Suguru andando em direção à cantina para tomar café-da manhã.

— Suguru! — Exclamou Satoru, correndo até seu amigo. — Você não faz ideia do que— Quando Suguru se virou, mostrou ser apenas uma imaginação de Satoru, visto que, logo se transformou em uma sombra e sumiu.

— Suguru?! — Satoru chamou novamente, assustado.

O que estava acontecendo?

  Suguru não respondia, não dava sinal de vida. E Gojo não encontrava uma pessoa sequer, tanto na cidade, quanto na Escola Jujutsu. Era como se o mesmo fosse o último sobrevivente de uma extinção humana, acordando depois de um apocalipse em que fora deixado para trás.

'O que eu faço?! Para onde vou e o que tá acontecendo? Deve ser um sonho dentro de outro sonho.' Satoru começou a manipular o espaço levemente, para ver se ocorria alguma falha naquele cenário que o levasse de volta à realidade, mas, mesmo ligando e desligando o Mugen ou esmagando partículas no ar, não acontecia nada de anormal. Preso em outra ilusão e sem o que fazer, sentou-se no topo de um prédio e começou a refletir.

'Por que estou tão fraco? Se sou o mais honrado, onde está a minha honra? Sempre fui acostumado a ser chamado de coisas repletas de significados. Desde pequeno, fui tratado como um rei. Títulos como: "O Abençoado" ou "O Mais Forte", não são meras considerações, é a forma que usam para definir quem sou eu. Mas, será que esse meu "eu" é o verdadeiro? E, se for, como e por que me sinto tão desconexo disso? Parece até que fui amaldiçoado pela minha própria família desde o nascimento.'

'A grande pergunta que me faço agora é: "Quem eu sou?" E se nem eu sei quem sou na realidade, quem há de saber? Eles têm razão sobre mim? Em toda minha vida, aproveitei o momento e fui na onda das minhas emoções, perseguindo minha alegria inconscientemente; nunca cheguei a refletir de verdade sobre o meu ser, e agora... eu não entendo. Não entendo esses sentimentos.'

— Sabe o motivo? — 'De novo essa voz!' — Você leva muito a sério os significados de algo simples, mas, nenhum deles existe de fato a menos que você acredite neles. Você ainda não entende bem o que quer e no que acredita. Porém, você é diferente das pessoas "normais", e sendo forte como é, pode seguir um caminho diferente do que te fazem seguir, sem problemas. Se você deixar eu te ajudar, podemos até criar um mundo sem maldições... O que acha?

— Um mundo sem maldições? — Satoru pergunta em voz alta. Aquilo seria algum tipo de plano utópico? 'O que esse cara está tentando me dizer?'

— Sim! — A voz responde. — Pense comigo, as maldições existem porque os não-feiticeiros não sabem controlar sua própria energia amaldiçoada, mas, se pudéssemos impedir que as pessoas liberem energia negativa, não existiriam maldições, certo?

— Hum... certo.

— Revelar sobre a energia amaldiçoada para eles, poderia ser problemático por causa de governos, políticos e pessoas de poder tentando utilizar a energia de outros seres humanos para fins corruptos e sombrios.

— Eu nunca tinha pensado nisso... — Satoru prestava atenção naquilo de forma profunda.

— E entre matar todos eles ou utilizar o meu plano, eu prefiro o meu plano. — Ele para de falar, com uma pequena pausa. — Fazer com que todos as pessoas não sintam emoções, em particular, as negativas.

— Sabia que tinha ideia torta nas suas palavras. — Satoru diz, confiante. — Fazer os seres humanos não sentirem emoções negativas é errado. Nós convivemos com esses sentimentos e eles fazem parte da nossa vida. — Ele rapidamente se levanta de onde estava sentado e lança seu feitiço Vermelho para o céu, que imediatamente faz uma rachadura na pintura falsa e o traz para uma realidade, que, provavelmente, é a certa.

— Você diz isso tentando ser como eles, Satoru. — 'Que droga! Ainda não consegui fugir dessa chuva de universos alternativos e a voz desse cara me persegue.' — Não seria legal ser um deus por completo e fazer as outras pessoas viverem em alegria para sempre?

— Não neste mundo, não há alegria para sempre neste mundo. Não funciona. — Satoru diz tirando as bandagens de seus olhos e levantando-se novamente de sua cama ilusória. — Aliás, duvido que sem o negativo, existiria positivo, provavelmente, as pessoas seriam como robôs. Agora sai da minha mente, seu insolente!

— Você é mais interessante do que eu esperava. Estou impressionado. — A voz diz calmamente. — Agora, você vai me entender...

— Hã? — De repente, Satoru é levado para outra realidade, preso em uma espécie de telão, que mostrava o que aconteceria em sua vida se ações diferentes tivessem sucedido em seu passado. A principal: seu encontro com Suguru Geto quando ainda eram crianças. Foi isso o que alterou todo o destino de suas existências e ideias formadas.

— Está vendo, Satoru? — A voz continua a persegui-lo. — Existiu um caminho no passado, que vocês poderiam ter seguido, e que mudaria todo o futuro. Isso apenas comprova minha teoria de que nossas emoções, pensamentos e sentimentos nos enganam... A vida é uma ilusão repleta desses joguinhos.

— Não é possível... — Satoru ignorava as palavras finais da voz, no entanto, se chocava internamente ao ver como as coisas poderiam ter se desenrolado entre ele e seu melhor amigo. Um dos caminhos, mostrava tragédias sem fim, inclusive, a morte de Suguru pelas suas próprias mãos.

— Ao ver isso, você ainda acha que emoções e sentimentos negativos são tão importantes assim? Se você tivesse se encontrado com Suguru Geto mais tarde, vocês hoje teriam ideais bem diferentes do que possuem hoje.

— Cala a boca. — Satoru já estava muito irritado com toda essa situação, e preso, vendo tantas cenas horríveis na sua frente, ele não aguentava mais essa tortura psicológica.

  Preso, em uma casa, sozinho. Ninguém o entendia. Até que Suguru veio para o libertar dessa solidão intocável. Do ser que ele mais temia ser. E tudo isso... poderia não ter acontecido. Um movimento, um passo diferente, e todo o futuro teria se alterado. Ele não encontraria Suguru tão cedo e ambos seriam crianças sozinhas, com pensamentos completamente diferentes da realidade. Morte, cenas de guerra, muita coisa ruim se passava ali, e Satoru não sabia mais o que pensar e o que fazer.

  Subitamente, ele não sentia mais raiva nem tristeza vendo aqueles cenários, que estavam cheios de dor e sofrimento. Sua expressão estava neutra, porém, sua alma sabia que o mesmo estava sendo enfeitiçado, tendo sua humanidade manipulada, e tentava se retirar dali, mas, não conseguia. Era como se o Gojo quisesse estar ali.

— Satoru! — Uma voz conhecida chamou Satoru e sua alma o reconheceu, finalmente o desconectando da manipulação de seus sonhos e emoções, acordando para o mundo real, onde aquela voz assustadora não poderia lhe incomodar, onde o mundo ainda tinha salvação e ele ainda tinha Geto ao seu lado.

Acordando em pânico, com o coração disparado e olhos ardendo, Satoru não estava nada bem.

— A sua alma me salvou, Suguru? — Ele pergunta para si mesmo, sentindo uma profunda tristeza instalar em seu peito. — Se não fosse por você, eu estaria sofrendo até agora, e talvez, acordasse como um robô, sem sentimentos e manipulado por alguém.

  Satoru não aguentou o peso das coisas que vira, era tudo muito forte para ele suportar. Ele começou a chorar silenciosamente e saiu de seu quarto, observando pelas janelas a tempestade que havia tornado-se chuva. 'Eu não sou tão forte quanto pareço. Mas... será que isso importa? Ser forte ou não vai mudar alguma coisa no futuro? Vou conseguir salvar meus amigos e ter uma vida melhor sendo mais forte? Eu nem sei quem eu sou e o que quero de fato. Eu... não entendo.'

...

  Eram seis da manhã, e Satoru, aproximando-se da porta do quarto de Suguru, viu através da movimentação de partículas e cor mais acentuada da energia amaldiçoada, que o mesmo tinha acordado e estava levantando.

  Ao abrir a porta, Suguru faz uma expressão assustada, notando rapidamente as lágrimas de Satoru, que estava paralisado, demonstrando um conjunto de emoções tão transtornadas que refletia em sua própria alma.

— S-Satoru?!

Satoru olhou para o lado, ele não conseguia dizer nada em um cenário tão traumatizante.

— Cara, você tá bem?! — Suguru pergunta preocupado.

— É sobre isso. — Satoru tira as bandagens do rosto, com a voz fraca, quase como um susurro.

— Vem aqui, me diz o que tá acontecendo com você. — Suguru puxa Satoru para seu quarto e fica olhando para sua expressão por um tempo. — Por favor... — Ele espera por alguma resposta ou reação, mas ele entende que, conhecendo Satoru e sua mania mórbida de nunca botar para fora seus próprios sentimentos, talvez não consiga nada além do reflexo de um olhar azulado vazio e escuro.

E então, inesperadamente...

— O-Obrigado por me salvar, Suguru... — Satoru diz abraçando Suguru, de repente, enquanto lágrimas desciam pelo seu rosto. Seu corpo tremia. — Sua alma... me livrou daquele pesadelo...

— Satoru... — Suguru enrijeceu-se a princípio, assustado pela rara demonstração de vulnerabilidade. Mas enquanto processava o peso das palavras de Satoru, sentiu seu próprio peito apertar. Algo havia o abalado profundamente. E ainda assim, em meio à sua preocupação, a curiosidade despertou dentro dele. 'Minha alma o salvou?'

— Você pode tentar me contar o que aconteceu exatamente? — Suguru pergunta, calmamente. — Eu sinto muito pelo ocorrido...

— Acho... que consigo... — Satoru se separa do abraço e senta na cadeira ao lado. Após respirar fundo e pensar por algum tempo, ele começa a contar tudo o que aconteceu. Suguru o observava apreensivo e prestando atenção nos mínimos detalhes do relato. Satoru nunca se abriu assim. O Mais Forte nunca demonstrou fraqueza. Mas isso... isso era diferente.

...

— Isso... foi perturbador. — Suguru refletia sobre as palavras de Satoru, passando a mão pelos cabelos. — Podemos deduzir agora a causa das maldições sumidas. É possível que esse homem esteja controlando as emoções das pessoas ou absorvendo grande parte da energia amaldiçoada. Agora, como ele te enfeitiçou... é um mistério.

— Não sei o que fazer... Esse cara parece ter controle total sobre meus sentidos humanos e até minhas próprias emoções. A única coisa que ele não foi capaz de deter foi a sua alma. E talvez a minha... mas não tenho certeza.

— Satoru... nós vamos encontrar uma maneira de deter essa coisa. Eu não vou deixar esse demônio ficar brincando com os seus sentimentos. Vamos detê-lo, juntos. — Geto olhou profundamente nos olhos de Gojo. Seu olhar era firme, inabalável. — Você não está sozinho nessa guerra, nós somos os mais fortes juntos e vou carregar esse fardo junto com você. Aliás, você não precisa ficar escondendo o que sente de mim, ok? Não seja diferente de quem você é, não acredite nas ideias que foram impostas a você desde o começo. — Ele colocou a mão no ombro de Satoru.

— E Satoru, força não define quem você é de verdade, você é muito mais do que esse título superficial que colocaram em você. Pare de se lamentar tanto por ter nascido desse jeito. Seus sentimentos, ideias e emoções mostram que você é tão humano quanto eu. E como um bom amigo, irei te ajudar no que for preciso.

— Eu... — Satoru abriu sua boca, mas lhe faltavam palavras. Estava emocionado e muito mais leve ao ouvir aquilo de Suguru.

— Descanse, Satoru. — Suguru falou se levantando. — Vou falar com os superiores sobre esse mestre de maldições que está tramando algo contra nós, para todos ficarem mais alerta. Nós todos precisamos encontrar esse maldito logo, e acabar com o plano dele antes que as coisas piorem.

— Obrigado, Suguru... — Satoru sorri para ele, genuinamente. — Você é realmente o meu melhor amigo.

— Não há de que, brother. — Suguru devolve o sorriso. — Eu vou estar sempre ao seu lado.

E pela primeira vez, em muito tempo, Satoru se permitiu acreditar naquelas palavras.

A verdade é que não preciso me isolar das pessoas. Não preciso querer ser mais humano ou mais "honrado"; apenas ser quem já sou. Se tenho alguém que me entende da maneira que eu sou e está disposto a me amar como sou, não preciso de mais nada. E sobre conquistar um mundo perfeito... bom, talvez, oportunidades melhores do que simplesmente acabar com as emoções negativas da humanidade surjam no futuro. É nisso que escolho acreditar.

Arte: nashizato_99 (Twitter/X)Edição de fundo feita por mim

Arte: nashizato_99 (Twitter/X)
Edição de fundo feita por mim.

Chapter 11: 𝙴𝚖𝚎𝚛𝚐𝚎̂𝚗𝚌𝚒𝚊

Chapter Text

  Nos primeiros momentos diurnos, o sol, imponente como sempre fora, amostrava seus alegres raios de esplendor sobre toda Tóquio, colorindo o céu da manhã calorosamente e trazendo uma atmosfera embelezadora à vida.

  Uma beleza que era vista com desdém aos olhos de Muryo; o rapaz jazia em uma grande casa abandonada, porém luxuosa, situada no meio da floresta. Assentado em sua poltrona branca com detalhes vermelhos, ele pensava silenciosamente em seus planos elevados e nas ações impiedosas as quais cometeria para alcançá-los com êxito.

  O vento que entrava pelas janelas da estrutura, balançava levemente os cabelos brancos de Muryo, que, com o leve soprar da brisa, já pressentia a chegada de Ketsu por ali em pouquíssimo tempo, por mais veloz que ele fosse ao utilizar sua técnica inata.

— Como foi a sua noite, Muryou-sama? — O homem baixo e robusto, de longos cabelos pretos e olhos cinzas, pergunta a seu senhor, inclinando-se a ele como demonstração de respeito.

— Perfeita, Hiro! — Ao ouvir Muryo pronunciando seu primeiro nome em uma resposta com tamanha empolgação, Ketsu se surpreende. — Satoru Gojo não será mais uma ameaça depois de hoje.

— Por quê? — Ele levanta seu olhar, curioso.

— Meus testes aprovaram a maestria que imaginei que tivesse ao manipular a mente dele. Com o mais forte dos feiticeiros incapacitado, a chance do plano der certo aumentará bastante. — Ele faz uma pausa, levantando-se e começando a andar em volta de Ketsu. — Nossos maiores problemas, agora são Ryomen Sukuna e Suguru Geto. Devemos encontrar uma maneira de tirá-los do jogo, pois são fortes. Mais do que os outros feiticeiros são.

— Seria legal usar o Fushiguro? — Hiro pergunta sentindo um clima pesado. Apesar de estar trabalhando com Muryo, ele nunca compreendeu bem seus objetivos, nem mesmo sua técnica. Ele é envolto de mistérios, desde sua personalidade, até sua própria aparência enigmática.

— Mas que ótima ideia você me deu! — Muryo se aproxima de Ketsu sorrindo. — Mande todos os assassinos da nossa equipe prepararem-se. Exceto aqueles que fazem parte da Unidade Monsuro, já que eles estão em uma missão importante contra o Clã Gojo. — Ele diz se distanciando. — A ordem é atacar a Escola Jujutsu com força total, deixando o máximo possível de feridos, mortos e danos estruturais. Mas deixe o Fushiguro por último, ele saberá o que fazer sozinho.

— C-Como assim? — Ketsu não via lógica no que Muryo estava arriscando fazer. — Isso é muito perigoso!

— Não terá perigo para mim. — Muryou fala tocando o ombro de Hiro com um sorriso confiante no rosto.

No mesmo momento que o mestre tocou-lhe, Ketsu sentiu uma camada baixa, no entanto, poderosa de energia amaldiçoada circular seu corpo.

— O que é isso, senhor?

— Você será o líder dessa missão. — Muryo explica. — Então, estou compartilhando com você a localização de Satoru Gojo ao vivo. Com esta energia amaldiçoada, um mapa da região em que ele se encontra ao lado será formado na sua mente. — Ele senta novamente em sua poltrona, coçando a cabeça. — Use com sabedoria, porque, posso voltar essa energia para mim em menos de um segundo, caso for preciso. Quando você chegar lá, te observarei e lhe darei instruções de acordo com os acontecimentos.

— Certo. Darei meu melhor, liderando essa missão! — Ketsu faz sinal de continência com sua mão direita. — Mas, posso te perguntar uma coisa antes de ir? — Ele olha para o lado.

— Você quer me perguntar mais de uma coisa. — Muryo diz com firmeza, assustando Hiro por ter supostamente lido sua mente. — Mas, vá em frente. Pergunte.

— Eh... por que eu preciso de um mapa para encontrar a Escola Jujutsu? — Ele pergunta fazendo uma expressão de inexperiência.

— Porque as barreiras de Tengen escondem a estrutura Jujutsu melhor do que as suas técnicas de camuflagem. — Muryo responde entediado. — Credo, você é muito desprovido de conhecimento.

— Infelizmente, é o que acontece quando você nasce diferente das outras pessoas. — Ketsu diz, olhando para baixo com uma expressão um pouco triste. — Bem, é melhor eu já começar a preparar o ataque.

— Excelente. Estarei de olho em vocês. — Muryo diz se levantando e saindo da casa junto de Hiro.

— Senhor Muryou. — Hiro chama, enquanto um fluxo poderoso de energia amaldiçoada corria por todo seu corpo, transformando-o em um enorme besouro humanoide. — Como você consegue enxergar com essa faixa nos olhos?

Muryo solta uma gargalhada e sorri.

— Nem todas as maneiras de enxergar são com os olhos.

...

  Pássaros voavam alegremente pelas árvores, misturando seus cantos com os sons de outras pequenas criaturas, como esquilos e cigarras. O sol estava ardente, e estudantes da Escola Jujutsu procuravam o abrigo das sombras para diminuir o calor intenso e costumeiro do verão que se iniciava, enquanto conversavam, treinavam e testavam suas novas habilidades. Porém, as coisas estavam mais complicadas para Suguru e seus amigos.

Os superiores já estão em alerta sobre os acontecimentos recentes. Investigaram o local em que a Shoko havia sido sequestrada, mas não encontraram nada alarmante. A professora Mei nos disse para não ficarmos muito longe da escola, e eu decidi estar perto do Satoru para ajudá-lo caso ele seja alvo de alguma manipulação novamente. A situação dele é tão triste que foi difícil deixá-lo sozinho no meu quarto…’

— Você é sempre bastante pensativo, hein. — Era Ryomen, que tinha visto Suguru pensando encostado em uma parede no jardim que havia do lado de fora da escola.

— Você não é tão diferente de mim nesse sentido. — Suguru respondeu virando-se para o feiticeiro de quatro olhos que chegara no local.

— Heh, e bem observador também. — Sukuna falou com um sorriso divertido no rosto. — Como está Gojou? Queria tanto zoar esse cabeça de vento e tentar acertar uns socos nele.

— E eu queria usar os óculos dele só por cinco minutinhos. — Ieiri aparece.

Arte: ooooshirasama (Twitter/X)

Arte: ooooshirasama (Twitter/X)

— Satoru está tentando descansar agora. — Suguru diz. — Já já irei vê-lo.

— E como você está se sentindo, Geto? — Pergunta Ieiri.

— Eu estou bem. — Ele diz com um sorriso simpático que vai se desmanchando lentamente até voltar a sua expressão neutra. — Apenas bastante preocupado com as coisas que estão acontecendo. Obrigado por perguntar, Shoko.

— Entendemos bem sua preocupação. — Diz Ryomen. — Tem várias coisas estranhas acontecendo, todas interligadas. Vim aqui pra te falar disso; acabei de conversar com o diretor Yaga, e ele me disse que temos más notícias vindas de dentro do Clã Gojo.

— Do Clã Gojo? — Suguru pergunta, pensativo. ‘Hm... que estranho…’

— É, ele me mandou chamar você, a Shoko, o Gojo, o Nanami, o Haibara e se encontrasse... a Tsukumo, para o Pé do Monte Mushiro. É uma emergência das grandes.

— Uma emergência agora e que tem a ver com o Clã Gojo? Essas coisas devem ter a ver com o cara que está tentando controlar Satoru e está sumindo com as maldições. Pelo que o Satoru me contou, esse cara estava falando sobre fazer todas as pessoas do mundo não sentirem emoções negativas, com o objetivo de limpar as maldições do mundo. E ele parece querer envolver o Satoru nisso de alguma forma.

Ryomen e Ieiri olham um para o outro ao mesmo tempo, fazendo expressões assustadas ao ouvir as palavras de Suguru.

— Será que ele invadiu o QG do Clã Gojo procurando por informações das habilidades que o Gojo tem? — Ieiri pergunta. — Isso se ele já não souber sobre as habilidades dele, né…

— Talvez seja algo parecido. — Ryomen diz andando em direção ao local o qual foram chamados. — Nós só vamos ter certeza quando descobrirmos exatamente como a Técnica dessa pessoa age. O problema é que ele parece ser extremamente cauteloso da forma como lida conosco.

— É um sujeito inteligente e perigoso. — Suguru admite, caminhando para dentro da escola novamente. — Vou ver o Satoru e logo nos juntamos a vocês.

— Então tá. — Ryomen acena para Suguru. — Até daqui a pouco, Geto.

— Não demorem! — Grita Ieiri.

— Até. — Suguru foi caminhando rápido, porém, silenciosamente para seu quarto.

  Quando Satoru conversou com ele de manhã, o mesmo estava exausto, e dormiu ali mesmo, sem nem se ajeitar para descansar direito.

— Suguru! — ‘Graças a Deus a voz dele está mais energética do que antes.’ Suguru pensa assim que ele ouve Satoru o chamando no corredor da escola, e se vira para ele. — Bom dia, meu brother. — Satoru se aproxima alegremente.

— Bom dia, Satoru. — Suguru sorri levemente. — Descansou?

— Ainda tô com um pouquinho de sono, mas deu pro gasto.

— Hm… bom. — Suguru fala aliviado, virando-se para onde veio. — Vim te chamar para uma coisa em específico.

— O quê? — Satoru pergunta, se colocando ao lado dele.

— O diretor Yaga mandou nos encontrarmos na entrada principal do colégio. — Geto e Gojo começam a correr. — É uma emergência vinda diretamente do Clã Gojou.

— Tô até vendo que tem a ver com o doido que me enfeitiçou…

— Pode ser que tenha relação, mas ainda não temos certeza.

  A dupla chega rapidamente à frente do elegante conjunto de pilares que davam boas-vindas à Escola Técnica Jujutsu de Tóquio, onde tinham vários feiticeiros de alto nível reunidos, conversando.

— Estou com um pressentimento muito ruim sobre toda essa situação. — Mei Mei, a professora do primeiro ano de Tokyo estava ali com seus alunos. — É bom ver você de pé novamente, Satoru. — Ela olha para Satoru, que devolve um olhar confiante a sua sensei.

— Quem esperamos? — Pergunta Kento Nanami, que estava calado, encostado em um dos pilares do local, apenas observando a situação ao lado de seu amigo, Yu Haibara.

— Alguém do Clã Gojou?! — Chuta Haibara, olhando para o feiticeiro loiro com empolgação. Nanami fez somente um "Hm", enquanto olhava para as árvores nos cantos da entrada do colégio.

— Quanto tempo... — Diz Satoru, que provavelmente, já havia enxergado quem estava chegando há centenas de metros de distância. E pela forma como ele olhava, a pessoa estava vindo extremamente rápido.

— Quem é, Satoru? — Pergunta Suguru, curioso com o sorriso alegre que se formou no rosto do amigo.

  No mesmo momento, um brilho azul explode no meio de todos, e do pó e da areia que flutuava, viam-se cabelos brancos, como os de Satoru, porém, longos e meio ondulados. A poeira se afasta, revelando uma mulher baixa, com olhos cinza azulados e roupas leves e curtas.

  Ela olha para todas as pessoas que estavam ali, que devolvem os olhares, — uns espantados, outros neutros e outros alegres — mas, um dos feiticeiros chama sua atenção de maneira especial.

— Ryomen! — Seu olhar se enche de alegria e ela corre até Sukuna.

— Ramirya! — Ele fala seu nome sorrindo, feliz ao rever uma pessoa tão querida. — Quanto tempo!

Ambos se abraçam, como numa reunião de família. Alguns feiticeiros estavam confusos com a cena.

— Senti sua falta, Rami.

— Também senti a sua, Ryomen…

Tá aí uma coisa que eu definitivamente não esperava. Mas, o Sukuna nunca nos falou muito sobre seu passado também. Quem seria essa mulher? Será que já a vi?!’

— Vocês se conhecem?! — Satoru se aproxima deles, curioso. — Que ironia do destino.

— Satoru! — Ramirya cumprimenta seu parente Gojou com um aperto de mão. — Também senti a sua falta, menino. Cê não tem nem noção do que tá acontecendo na tua família!

— Por favor, conte. — Yaga, que estava ali ao lado, pede gentilmente.

Ah, lembrei! Essa moça é tia do Satoru. A única Gojou realmente próxima a ele, considerada como alguém da família de verdade. Quando ele era moleque e ela ficava responsável por ele, era Ramirya quem deixava o mesmo interagir com outras crianças da idade dele e ter uma vida mais normal. Se não fosse por ela, eu e Satoru nunca teríamos nos conhecido, pelo menos, não da mesma forma e ao mesmo tempo, o que mudaria muita coisa. Ela é uma pessoa importante e querida para ele, e pelo visto, para Sukuna também.’

‘Porém, sinto cheiro de guerra e caos chegando. Irei preparar minhas maldições, porque alguma coisa está fazendo o ar pesar…’

Imagem: Design de personagem feminina do Clã Gojo popular feita por IA

Imagem: IA.

Chapter 12: 𝙾 𝙰𝚜𝚜𝚊𝚜𝚜𝚒𝚗𝚘

Notes:

Eu absolutamente amo esse capítulo. Deu um trabalhão pra escrever, mas é outro dos meus favoritos. Grandes coisas estão para acontecer no mundo dos feiticeiros... Fique ligado, caro leitor, cara leitora!

Chapter Text

  Os "Três Grandes Clãs", ou "Três Grandes Famílias", são importantes pilares no mundo da magia. Há várias eras, feiticeiros Jujutsu vêm evoluindo, fortalecendo suas técnicas e crescendo em valor de indivíduos. Algumas famílias de feiticeiros do passado, criaram diversas tradições e costumes, que foram passando de geração em geração harmoniosamente, porém, às vezes, sendo alterados aos poucos, de forma quase imperceptível.

  Tudo isso começou com força total no Período Heian (794-1185), após Mestre Tengen espalhar seu conhecimento espiritual, crença budista e sabedoria pelo Japão durante a Era Nara (710-794); o mesmo foi o fundador do que nós hoje chamamos de "Jujutsu", ao longo da mesma era. Tengen foi a pessoa que deu início a tudo isso, buscando a proteção da humanidade contra as maldições; o homem que construiu o sistema cuja funcionalidade mudaria o mundo drasticamente.

  A Era Heian, foi apelidada de "Era de Ouro" pela sociedade feiticeira até os dias de hoje, o ápice do mundo Jujutsu. Foram tempos caóticos no Japão, e durante esses anos, formaram-se clãs poderosos de feiticeiros, que decidiram se organizar como equipes familiares metódicas, as quais trabalham em prol do fortalecimento do Jujutsu no mundo. Alguns prosperaram, enquanto outros pereceram.

Atualmente, os três maiores e mais renomados clãs, são: Clã Kamo, Clã Gojo e Clã Zen'in.

𝙹𝚊𝚗𝚎𝚒𝚛𝚘 𝚍𝚎 𝟷𝟿𝟿𝟼.

𝚀𝚞𝚊𝚗𝚍𝚘 𝚂𝚊𝚝𝚘𝚛𝚞 𝙶𝚘𝚓𝚘 𝚑𝚊𝚟𝚒𝚊 𝚜𝚎𝚒𝚜 𝚊𝚗𝚘𝚜...

𝙾 𝚙𝚎𝚛𝚒𝚐𝚘 𝚜𝚎𝚐𝚞𝚒𝚊 𝚘 𝙷𝚘𝚗𝚛𝚊𝚍𝚘 𝚙𝚘𝚛 𝚝𝚛𝚊́𝚜.

  A neve, tão fofa quanto as nuvens e tão branca quanto os cabelos albinos que balançavam com o vento gelado da região, caía em conjunto sobre o solo daquelas bandas, dos caminhos secretos entre as florestas nevadas, que levavam ao quartel-general mais bem escondido de Kyoto dentre todas as famílias de feiticeiros cuja dedicação é inteiramente voltada ao Jujutsu da maneira tradicional: a base principal do Clã Gojou.

  O ar gelado se intensificava à medida que os pés do pequeno Satoru avançavam, pisando com calma, um pé após o outro, ao lado de um guardião, na claridade natural que refletia sua aparência tão divergente às coisas existentes do mundo. Seu olhar azulado frio e distante, sua sensação aguçadamente distorcida do que era para ser, sua percepção anormal manipulada, seu ego crescendo, sendo alimentado, tal qual o peru, que, acreditando no sustento e no lar que lhe é mostrado, é apenas mais uma marionete daqueles que, por necessidade ou crueldade, desejam tirar proveito do que o animal tem a oferecer contra sua vontade.

  Um cenário naturalmente necessário, porém utilizado de formas sujas e malignas em contextos diferentes, cuja ignorância ataca a empatia e a compreensão, controlado aos mínimos detalhes pelos detentores de poder contra os que são chamados de fracos. E no mundo Jujutsu, isso é como uma maldição enraizada no coração da organização, que age de forma quase imperceptível aos olhos daqueles no exterior, os quais trabalham duro para o bem dos que necessitam de real proteção.

  Entretanto, aos olhos de muitos que estão acima na hierarquia, essas pessoas, esses feiticeiros, não passam de engrenagens para a enorme máquina que apenas repete o mesmo ciclo por séculos. Algo que Tengen-sama não pode mais controlar, não pode mais mudar, já que o mesmo está destinado a ficar para sempre em sua câmara na Escola Jujutsu de Tokyo, os Túmulos do Corredor Estelar.


  Desde seu nascimento, Satoru foi alvo dos caprichos deturpados de seu clã e de toda a sociedade Jujutsu. Com isso, o simples fato de estar vivo gerou alvoroço no Japão, entre os clãs, feiticeiros e mestres de maldições. Assassinos estavam o tempo todo vagando por Kyoto à procura do menino Gojo, cuja cabeça valia cem milhões ou mais naquele momento.

  O garoto quase não conseguia sair de casa, e quando saía, que nunca fosse sozinho; sempre acompanhado por alguém, e a companhia não poderia ser seus pais, já que não tinham muito poder e, de acordo com os superiores, não serviam como feiticeiros guarda.

  Satoru, na verdade, nunca foi próximo dos seus pais, e pouco tempo após nascer, o enviaram diretamente para um grupo de feiticeiros que lhe ensinaram todos os fundamentos Jujutsu conhecidos, como foco principal na sua vida. Ele foi moldado, construído para ser o mais forte da Era Moderna; para ser um deus, o livramento e a solução de todos os problemas amaldiçoados que surgiam cada vez mais na Terra.

  Aquele que entre os Céus e a Terra, foi abençoado com o Ilimitado e seus Seis Olhos, para reinar com poder e serenidade, ou pelo menos, é o que todos esperam do Honrado. Não um ser humano, com um nome próprio, emoções, ideais, sentimentos, vontades, liberdade de querer e viver, mas uma ferramenta poderosa na palma das mãos das pessoas que controlam o mundo Jujutsu.

ᅠUm ex-assassino curioso, que não era nem mestre, nem feiticeiro, perseguia calmamente e sorrateiramente a criança que se tornara tão famosa em tão pouco tempo. Seu nome é Toji Zenin, e ele estava apenas... observando Satoru Gojo.

  Toji não era mais um assassino, havia encontrado um caminho mais calmo e digno para seguir a vida e esquecer os problemas do mundo dos feitiços. Ele estava namorando, e por mais que o mesmo queira muito se vingar do Clã Zenin pelo que fizeram a ele durante toda a vida, talvez, deixar essa vida de vingança, mortes, sangue e maldições, trocando-a por uma vida feliz com uma família de verdade, fosse melhor e mais saudável.

  Satoru desde sempre teve uma forte intuição, o mesmo sentia um leve desconforto e calafrios percorrem seu pequeno corpo; algo não estava certo. Tinha alguém ali, o observando, o analisando.


  O senhor que era responsável por Satoru, continuava apenas caminhando para frente, com pressa para chegar em casa logo, enquanto o garoto olhava para trás, sentindo o perigo, e vendo um homem adulto, de corpo forte, cabelos pretos espetados baixos e olhos verde escuros.

  O sujeito não apresentava aura alguma de energia amaldiçoada, a não ser que fossem as pequenas faíscas que emanavam da pequena faca que ele carregava em sua cintura.

  Ao vê-lo se virando exatamente para si, Toji entendeu rapidamente a capacidade daquele garoto e o futuro que o esperava. 'Ele é o oposto de mim', foi o que pensara. Satoru enxergou a leve mudança de expressão do Zen'in de longe, mas voltou-se para frente novamente assim que Toji deu meia-volta e foi embora.

  Era novidade para o herdeiro do Clã Gojo, encontrar gente que não apresentasse auras de energia amaldiçoada, ou, todas aquelas cores inomináveis nadando pelos corpos das pessoas, que apenas ele consegue ver.

'Que tiozão diferente.' Satoru ficou pensando no ocorrido quando voltou para casa no QG do Clã Gojou. De fato, seu cômodo era o luxo do luxo, parecia ter saído diretamente dos filmes com castelos e reinos mágicos; bem semelhante ao quarto de um príncipe, já que, o menino era teoricamente tratado como tal.

'O que será que ele queria?' Satoru pensava de olhos fechados, deitado de barriga para cima na cama de seu quarto. Ele sempre ficava de olhos fechados ou vendados quando podia, pois o esforço mental e corporal que sua visão fazia para que seus olhos enxergassem o "infinito" do mundo, era absurdamente forte. Quando mais novo, Satoru sofria de dores de cabeça constantemente, devido a tantas informações fluindo para seu cérebro, que ainda não conseguia controlar o poder do corpo da melhor maneira.

ᅠCom o passar dos anos, Satoru esquecera daquele acontecido, no entanto, isso perdurou por algum tempo em sua mente. Já que a situação havia assustado o garoto.

𝙳𝚎𝚣𝚎𝚖𝚋𝚛𝚘 𝚍𝚎 𝟸𝟶𝟶𝟹.

— Ah... que bom que nossas vidas estão melhorando de verdade agora. — A voz calma e confiante vinha de uma mulher baixa, que geralmente usava roupas largas e elegantes de cores claras. Ela tinha olhos azul-escuros como o oceano profundo e cabelos pretos espetados longos, bem ajeitados e adornados com vários enfeites dourados, como uma princesa. Seu nome é Zamani Fushiguro, esposa recém-casada de Toji, que agora, não era mais um Zenin.

  Ambos se encontravam deitados juntos confortavelmente em uma cama de casal, despidos quase por completo, suados, respirando fundo, com as bochechas rosadas e expressões cansadas.

  Toji abraçava o corpo inteiro de seu amor, acariciando suas costas carinhosamente enquanto beijava sua testa. Zamani olhava romanticamente para o rosto de seu amado, afagando seus cabelos com cuidado e encostando seus lábios nos dele lentamente. Ambos beijam-se intensamente.

— Sim. — Ele fala ao se separar do beijo, pegando o lençol ao lado para cobri-los. — Agora, nossas vidas estão muito mais estáveis. — Há tempos, Toji estava com problemas em suas relações amorosas, já que ele não conseguia ficar muito tempo com uma mulher. Ele não se dava muito bem emocionalmente com todas. Além disso, seu dinheiro estava escasso e ele teve que arranjar trabalho.

ᅠNo entanto, desde criança, sua família nunca havia o deixado em paz; aquele tormento sempre voltava para si, por mais longe que ele fosse. Pensamentos sobre ele ser um lixo, um fracassado... alguém que não consegue fazer nada direito, perseguiam-no. Toji era visto como um primata entre os feiticeiros, e essa mentalidade, claramente, não fez bem para ele. Ele odiava o Clã Zen'in com todas as forças.

  Mas desde que ele fugiu do clã, Toji pôde abandonar os Zen'in e dar o próximo passo necessário para seu futuro, sua nova vida. Uma vida normal e pacífica, longe de guerras, maldições, magia e feitiços. Mesmo que o passado ainda o persiga.

𝙹𝚞𝚗𝚑𝚘 𝚍𝚎 𝟸𝟶𝟶𝟺.

  O casal Fushiguro teve momentos bons e difíceis. Atualmente, estavam passando por uma situação financeira complicada e Toji estava desempregado, o que dificultava um bocado as coisas. Eles tiveram uma filha há poucos meses e seu nome é Tsumiki Fushiguro.


  Uma benção, alegria imensurável inundava os corações de seus pais; agora eles eram três e viviam muito felizes. Foram os melhores dias da vida de Toji, que havia sido infeliz durante toda sua vida, simplesmente por existir.

  Porém, agora ele tinha de fazer alguma coisa, deveria arranjar mais dinheiro de alguma forma. Não poderia viver com menos do mínimo e deixar sua esposa e filha passando fome. Por mais que Zamani trabalhasse antes, o dinheiro que ela recebe atualmente, não é o suficiente.

  Toji não era um homem feito para ganhar dinheiro fácil, e o mesmo não se satisfazia com pouco. Mas, dessa vez, sua família estava ameaçada e não somente ele. Não havia muito tempo sobrando para eles.

  O temido Fushiguro tinha se tornado um assassino novamente, pelo bem da sua família e seu futuro. Ele não tinha medo de nada, nem ninguém. Almejava fazer de tudo para conquistar o melhor cenário do amanhã para si, Zamani e Tsumiki.

  Mesmo que isso significasse trabalhar com pessoas... "esquisitas" envolvidas num objetivo caótico dentro do mundo Jujutsu. Toji claramente não se importava com as consequências do outro lado da moeda, ainda mais considerando seu ódio por feiticeiros de altos clãs.

...

— Que interessante. Portador da Restrição Celestial, hein? — Uma voz jovem, misteriosa e repleta de curiosidade, ecoa de alguma direção acima de Toji.

ᅠO assassino andava num beco escuro e estreito da cidade, usando uma blusa preta manchada de bege, que escondia parte de seu rosto com um capuz. Chuviscava no local, e o céu estava cinzento. Um silêncio absoluto reinava por onde o Fushiguro passava.

— Hã? — Toji olha para cima, procurando da onde essa voz viera, e de repente, ele estava de frente à uma rua vazia, ao lado de várias casas fechadas, tomando chuva. O que foi isso? Para onde ele fora levado e como?

'Que droga foi essa? Um feiticeiro ou mestre de maldições com poderes de teletransporte?' Se perguntou, visivelmente confuso. Nunca havia lidado com uma técnica parecida com isso antes.

  Toji se encontrava um pouco impressionado, mas também irritado. Ele estava indo em direção ao local onde iria matar um político famoso para ser recompensado com milhões de ienes. 'Hmm... não estou muito longe daquele beco, então pode significar muitas coisas—'

— Ei! — A mesma voz o chama, agora, mais perto do que antes. Toji instintivamente se vira para a esquerda e novamente olha para cima, no mesmo momento cujos sons chegam a seus ouvidos.

ᅠEle, então, vê um jovem, de provavelmente quinze ou dezesseis anos, sentado relaxadamente nos telhados de uma das casas velhas daquele local. O rapaz usava roupas de frio pretas e largas, tinha a pele clara, cabelos brancos como a neve, cobria os olhos com uma faixa preta arroxeada e balançava seus pés alegremente, como uma criança feliz.

— Vejo que tens sentidos muito poderosos.

— E quem é tu, irmão? — Perguntou Toji, olhando para ele com uma expressão de completo desinteresse, apesar de, no fundo, estar curioso. 'Como ele tá enxergando com esse troço na cara? E como ele sabe que tenho a Restrição Celestial?' Questionou-se, mantendo a curiosidade apenas em sua mente.

— Na verdade, você deve estar se perguntando como eu sei do seu poder, não é mesmo? — O garoto fala confiante em sua dedução, levantando-se, pulando e aterrissando, de pé, na frente de Toji, que percebe apenas agora que a chuva parecia não afetar aquele moleque, como se ele estivesse separado completamente do mundo. Ele não se molhava? Ou as gotículas de água nunca chegavam nele?!

ᅠMesmo que o garoto misterioso tenha acertado com precisão uma parte dos pensamentos do Fushiguro, Toji não respondeu. Permaneceu calado, apenas observando-o e ouvindo o que ele iria dizer após isso.

— Sabe, eu posso manipular de várias formas, praticamente qualquer energia amaldiçoada que entre em contato com a minha ou através dos meus cinco sentidos. Também consigo passar esse controle para coisas que estejam encostadas nessa fonte de energia. Só consegui te teletransportar para cá, por causa da katana amaldiçoada que você está carregando consigo. — O rapaz explica, enquanto Toji prestava atenção, impressionado ao ouvir sobre uma técnica que o mesmo nunca vira antes. 'Será que esse jovem faz parte de algum clã?'

— Minha técnica pode fazer muito mais do que isso, mas não quero explicar. — O garoto fala com tom de tédio. — Meus sentidos não encontram um pingo de energia em você, mas acham um físico impecável e sentidos humanos igualmente impecáveis, além de você sair por aí com armas amaldiçoadas e ser forte de forma sobrehumana. Isso já é mais do que prova para mim saber que cê é portador da Restrição Congênita, ou Celestial, tanto faz.


'Esse pirralho é inteligente e repleto de conhecimento sobre Jujutsu.' Pensou Toji, ainda tentando entender o quebra-cabeça que estava à sua frente. 'Ele esteve me espionando faz quanto tempo exatamente?'

— O que você quer de mim, afinal?

— Que você se junte ao meu exército de assassinos de feiticeiros. — Falou, simples e direto. — Na verdade, é apenas um convite e tanto faz se você quer ou não. Porém, prometo te pagar um bom dinheiro toda semana de trabalho. — O garoto olha para o lado e salta, de repente, flutuando no ar, ou, permanecendo num estado o qual parecia que o mesmo estava flutuando.

  Toji faz uma expressão levemente assustada. 'Essa é a técnica do Ilimitado? O tal do Mugen?' Curioso ao observar o rapaz de cabelos brancos "flutuar" e não ser acertado pela chuva, como se ela nunca chegasse a ele, Toji se lembra de Satoru Gojo, o herdeiro do clã, que nascera com ambas as técnicas hereditárias, os Seis Olhos e o Infinito.

  O assassino já tinha lido sobre as técnicas especiais de cada um dos Três Grandes Clãs e já havia visto Satoru Gojo em pessoa, então, seu conhecimento sobre técnicas e pessoas importantes dos clãs, era bem amplo. E por mais que aquele rapaz lembrasse um pouco a criança abençoada do Clã Gojou, este era diferente e estava trabalhando para assassinos e mestres de maldições.

'Esse moleque tem o Mugen e uma outra técnica poderosa que envolve energia amaldiçoada e seus sentidos humanos, mas, ele não tem os Seis Olhos, já que só pode existir um portador dessa técnica por vez, e até onde eu sei, o Gojou não morreu, pelo menos, não há dezesseis anos.' Toji começa a entender os pontos apresentados até agora.


'A não ser que a técnica desse cara possa, além de manipular, roubar outras técnicas ou copiá-las... mas não sei, ele realmente parece ser do Clã Gojo, então por que e como trabalhar com assassinos?' Toji sabe da rigidez com que são criados os membros nascidos dentro de uma das Três Grandes Famílias com técnicas poderosas. Eles não deixariam um menino tão poderoso se desviar do caminho da feitiçaria Jujutsu e trabalhar com aqueles que trazem o mal para a organização.

  Mas, talvez, há uma pequena chance de Satoru Gojo ter roubado completamente a atenção quando nascera, fazendo outras crianças do clã escaparem um pouco dos treinamentos intensos e chuvas de regras e mais regras que os superiores impunham a elas desde pequeninas.

— Como são as missões desse teu exército considerando o fator dinheiro? Aceitam trabalho individual? — Toji pergunta. — Calma, calma, calma. Antes disso, qual é o seu nome, moleque?

O rapaz "pousa" e sorri, antes de responder com uma voz calma e intensa.

— Muryo Gojo.

...

  Após esse acontecimento, Toji trabalhava com Muryou, mesmo não entendendo completamente seus objetivos, embora estivesse curioso com eles. Ele ganhava um bom dinheiro e conseguia fazer muitas coisas para si mesmo e sua família. No entanto, Zamani não sabia que seu marido era um assassino, nem mesmo que ganhava milhões.

  Quanto mais missões arriscadas e pedidos diretos de Muryo ele cumprisse, mais dinheiro ele recebia. Seus bônus aumentavam significativamente, e isso o controlava, o deixava com cada vez mais sede de dinheiro e matança.

  Toji só não sabia de onde tanto dinheiro vinha. Muryou, como chefe de uma equipe inteira e bem organizada de assassinos e mestres de maldições, não trabalhava; ficava muito parado, dando ordens, missões e planejando coisas mirabolantes.

  Era difícil compreender o que se passava na cabeça daquele sujeito. Foram poucos aqueles que tinham direito de ver um pouco mais de seu ser e de seus planos de perto, além disso, Toji é um dos únicos que sabe mais sobre sua técnica e o fato de que Muryou-sama já foi do Clã Gojou.

— Senhor Toji Fushiguro. — Era a voz de Muryo ligando para ele, modificada pelo celular de Toji, ou talvez, ele próprio tenha modificado sua voz para parecer assim.

  Muryou tinha uma manipulação, de fato, amaldiçoada com coisas que envolviam seu próprio corpo, então, modificar sua voz para qualquer uma que ele já tenha ouvido não seria um feito difícil para suas técnicas sensoriais realizarem.

  Toji descansava tranquilo na cama de seu quarto, ao lado do berço de sua filha, depois de ter feito uma longa caminhada pela manhã com sua esposa, que estava assistindo a um programa de TV na sala de estar.

— Hm, o que que tu quer? — Toji fala com preguiça de levantar, por saber que Muryou provavelmente lhe chamará para alguma nova missão.

— Vamos atacar a Escola Jujutsu de Tóquio com força total. E, se conseguirmos enfraquecer Ryomen Sukuna e Suguru Geto de alguma forma, Satoru Gojo estará morto, meus objetivos estarão quase completamente concluídos e te pagarei com dinheiro que dure praticamente sua vida toda, hoje mesmo.

— Quê?! — Toji exclama, mas logo abaixa sua voz para não acordar Tsumiki. Ele vai andando em direção ao quintal de sua casa para conversar melhor.

— Tô falando sério. — A voz de Muryo tinha um tom irônico.

— E isso tem chances de dar errado?

— Tem chances de dar certo e chances de dar errado para ambos os lados, no entanto, independente do desfecho, nós teremos vantagem, e digo "nós", se você se safar vivo, obviamente. — Ele termina com uma risadinha.

— Pare de brincar com coisa séria, moleque...

— Tá, tá... como os mais velhos são chatos, eu hein.

— Tu que é babaca, fica aí só—

— Então vem trabalhar, vagabundo. — Muryou corta.

— Ô, seu filho da p—

— Brincadeirinha! — O Gojo grita. — Vem cá que eu vou te explicar o que vai acontecer e te dou um bônus semanal.

...

— Talvez, o Clã Gojou deixe de existir. E se isso acontecer, pode arruinar diversas outras áreas do mundo Jujutsu. As coisas ficarão feias, especialmente para você, Satoru. — Ramirya explicava para os feiticeiros, assistentes e membros da Escola Jujutsu o que estava acontecendo, de dentro da sala de reuniões do colégio. — Seu pai, Makoto Gojo, tinha uma posição bem alta no clã, de suprema confiança. Era ele quem comandava as unidades principais de proteção do QG, e também, quem guardava o cofre principal da nossa base junto de outros membros poderosos do clã. Mas, Makoto era um traidor! Ele, de alguma forma que ainda não sabemos ao certo, envenenou vários guardas, deixando vários deles inconscientes, e roubou todo o dinheiro deles, dos cofres, do cofre principal e o SEU dinheiro, seu e da sua mãe, Satoru. Só que detalhe, o seu dinheiro foi roubado, provavelmente, alguns dias ou semanas antes dessa situação dos cofres.

— Santas batatas!!! — Disse Haibara, expressando seu nervosismo acerca do ocorrido.

— Não brinca que meus bilhões foram de base? — Satoru estava incrédulo. Não era próximo da sua família, mas não imaginaria tal situação acontecendo, ainda mais com seu próprio pai. — Mané, agora eu tô pobretão.

— EU NÃO ACREDITO!! — Exclama Sukuna, que olhava para Gojou com seus quatro olhos arregalados. — Não acredito que você era bilionário e nunca me deu nem um milhãozinho. Os de verdade eu sei quem são!

— Vai te lascar, doido. — Satoru revira os olhos e ignora o drama de Ryomen. — Mas, tia, o que aconteceu com meu pai?

— Eu e mais alguns guerreiros tentamos contê-lo, mas, tinham centenas de maldições em forma de insetos gigantes atacando a base. Muitas crianças se feriram e outras até morreram, infelizmente. — Ela pausa ao falar essas palavras, fazendo uma expressão triste. — Foi um desastre. Seu pai conseguiu fugir e não sabemos para onde ele foi. Alguns guardas que sobreviveram, disseram que aquele homem não parecia ser Makoto, mas sim que alguma coisa estava possuindo-o, ou talvez, ele já estivesse possuído há muito tempo e esperou algum momento em específico para agir.

— Desastroso... — Murmura Yaga. — Sentimos muito por tanta destruição ter passado pela família Gojo. Essa situação é crítica.

— Hm... — Suguru fazia expressões neutras. Ele estava quieto, extremamente pensativo.

  Satoru queria saber o que ele estava pensando, afinal, era Suguru quem sempre chegava mais perto de descobrir os mistérios. Seus pensamentos eram interessantes, dedutivos e atrativos quando se tratava de entender um cenário amplo e desvendar os mistérios por trás dele, que eram, normalmente, interligados com itens e acontecimentos que a maioria das pessoas não pensaria primeiramente, por parecerem desconexos.

— Agora há pouco, tinham mestres de maldições rondando nossa região. — Continuou Ramirya. — Conseguimos capturar apenas um deles, e quando o questionamos sobre quem estava por trás de tudo isso, o cara falou o nome "Muryo" e, no mesmo momento, presenciamos seu corpo explodir em energia amaldiçoada e virando pó. E é por isso que decidi vir aqui falar com vocês sobre isso, presencialmente. Nosso clã está sob ataque constantemente, então, toda ajuda será bem-vinda.

— Estarei indo pra lá, imediatamente. — Fala Mei Mei, abrindo a porta da sala. — Quem mais vem comigo?

— Eu vou. — Ieiri levanta a mão. — Posso ser bem útil para curar os feridos.

— Nós também. — Nanami e Haibara ficam de pé.

ᅠEnquanto alguns membros da equipe, incluindo Shoko, se dispunham para ajudar o Clã Gojo, Satoru sentia algo estranho no ar ao ouvir o nome que sua tia acabara de dizer. Era uma sensação assustadora que perturbava sua mente profundamente.

— Muryo? — Estranha Satoru. — Tipo... Muryou Kusho?

  "Muryo Kusho" era o nome do mundo interno do Ilimitado, ou seja, a suposta expansão de domínio que os usuários do Mugen, e principalmente, em junção com o Rokugan, poderiam tentar aprender a fazer durante suas batalhas, porém, nenhum membro do Clã Gojou nunca conseguiu expandir esse domínio. Por isso, mesmo que exista uma teoria por trás da existência dele, muitos acreditam que é um domínio impossível de se obter, justamente por ser infinito, imensurável.

  Controlar o Mugen não é fácil mesmo que se tenha os Seis Olhos, exige muita prática e dor de cabeça para diferenciar energias, de cores, auras, átomos, pessoas e feitiços, algo que Satoru está bem acostumado em lidar desde pequeno, então, para ele, deveria ser um pouquinho mais fácil.

  Mas expandir um domínio não é algo tão simples, o próprio Satoru nunca conseguiu expandir um, fazendo parte do mundo do Infinito ou não. Mesmo estudando ao máximo e colocando toda a teoria adquirida em prática, parecia impossível... a não ser que tivesse um motivo específico para ele não conseguir realizar tal feito. Algo poderia estar impedindo ele.

'Quem é esse cara? Será que é ele que está acabando com a minha vida? E esses insetos amaldiçoados são parte das técnicas dele ou de outra pessoa trabalhando com ele? E ele foi nomeado em homenagem ao Muryo Kusho? Será que meu pai estava trabalhando em segredo com esse tal Muryou? São muitas perguntas e poucas respostas... Preciso parar quieto no lugar e pensar com mais calma...'

— É... não sabemos quem é esse cara. Ele tem nome de gente que nasceu no Clã Gojo, com certeza, em homenagem ao Mukagen, mas não há registro algum sobre ele em nenhum lugar. — Ramirya se levanta. — Então, temos muito mistério pela frente para se descobrir.

ᅠO olhar de Suguru para Ramirya intrigou Satoru. Ele percebeu alguma coisa. Algo está prestes a acontecer e ambos sentem isso. Tem alguma coisa muito errada em toda essa história.

'Que ansiedade.' Satoru pensa, um tanto preocupado. Seu corpo queimando, sua mente cheia, repleta de vozes. Ele está há algum tempo tentando suportar seus próprios pensamentos silenciosamente. 'Aquele louco tá tentando me manipular novamente? Ou é a minha cabeça que está me torturando aos poucos sem eu perceber?' Independente se o estado mental de Satoru piorava pelos poderes de uma técnica do inimigo, ou naturalmente, essas alucinações eram claramente consequências da noite passada.

— Vocês não vêm? — Ramirya pergunta olhando para Satoru, Suguru e Ryomen.

— Eu bem que gostaria de ajudar vocês, só que, tô sentindo que talvez alguma coisa aconteça aqui também. — Sukuna tinha uma intuição poderosíssima. Ele entendia as sensações de Satoru e Suguru completamente.

'Eu não quero nem pisar naquela... vila de príncipes e princesas. A base do meu clã — Que eu gostaria de dizer que não é meu —, é o último lugar que quero estar na minha vida.' Satoru não responde, porém, apenas seu olhar já é o suficiente para dar uma resposta negativa a Ramirya.

  Ela o entende, ela sabe que Satoru não tem uma relação muito amigável com seu próprio clã. Na verdade, ele tem um trauma e uma repulsa pelo Clã Gojo, que sua tia compreende completamente. Ela nunca o forçaria para ir até lá, só porque ele é, provavelmente, o mais forte, e resolveria todos os problemas que cercavam a família.

  Para Satoru, sua família de verdade são apenas Suguru, Ieiri, Ryomen e Ramirya. E sua família biológica, aqueles que estão no Clã Gojo, lideram uma prisão que tortura fisicamente e psicologicamente seus membros, um fato que causou apenas mais ódio em Satoru pela sua família. Como não cuidavam dele como um ser humano, ele até estranha quando alguém o trata como uma existência de igual para igual.

  Satoru apreciava a forma como sua tia agia, livre, despreocupada, forte, se vestia como queria e fazia o que queria. Porém, devido a isso, ela sofreu muito dentro do clã e nunca pôde subir na hierarquia. É por pessoas como seu sobrinho, que Ramirya tem o desejo de um dia, mudar o clã para melhor.

— Vou ficar aqui com Satoru e Sukuna. — Suguru se levanta. — Espero que as coisas possam melhorar para o Clã Gojo.

— Apreciamos a colaboração. — O diretor Yaga pega um caderno e dá para Kiyotaka Ijichi, um aluno do segundo ano que está fazendo estágio como assistente de supervisão na Escola Jujutsu. — Ijichi, acompanhe Mei e os outros feiticeiros. Preciso que faça e me envie um relatório de guerra até o final do dia. Se não for possível hoje, diga-me os motivos via telefone, assim que puder entrar em contato conosco.

— Entendido, senhor. — Ijichi pega o caderno e se junta à equipe.

— Até mais tarde, pessoal! — Ieiri acena para seu grupo de amigos e segue caminho com a professora Mei.

— Até mais! — Suguru dá tchau.

— Toma cuidado! — Sukuna avisa.

— E não fuma na cara de ninguém não, hein! — Por fim, Satoru acena com um sorriso.

  Os colegas se despedem e Ramirya volta com eles até a entrada do colégio. Satoru queria ter passado mais tempo com sua tia, tinha saudades dos tempos que ambos zoavam por aí juntos, e nostalgia da época de quando ele era criança e ela levava ele para vários lugares divertidos que qualquer pessoa do Clã Gojo nunca deixaria Satoru sequer pisar no chão ou respirar o ar local.

— Outro dia eu venho aqui para visitar vocês melhor. — Ramirya sorri simpaticamente, enquanto bagunçava os cabelos de Satoru com sua mão direita. — Mas, estou muito feliz em ver vocês saudáveis.

— Você vai voltar logo, né? — Sukuna pergunta, apreensivo. — A gente ainda precisa jogar algum jogo todo mundo junto!

— Verdade. — Concordou Suguru. — Seria divertido.

— Prometo que não vou demorar muito pra voltar, belê? — Ela se vira e se posiciona para ir embora.

— Belê! — Os três respondem juntos.

— Então tá! Tchau, tchau, meus amores. — Ramirya imediatamente já havia sumido do local com sua super velocidade.

Poucos segundos depois...

— Sukuna, Satoru. — Suguru os chama. — Vocês também estão sentindo isso?

— Algo estranho no ar?

— Que o mundo vai acabar? — Satoru diz ironicamente, no entanto, havia algo dito de forma séria por trás de suas palavras cômicas. O mundo acabar poderia significar outra coisa, que Suguru iria entender.

  Satoru estava tremendo faz tempo. Ansiedade percorrendo sua cabeça, alucinações de várias cores e formas invadindo sua visão e seus pensamentos, enquanto a paranoia fazia um ninho em sua mente. Ele não conseguia saber se essa situação era natural ou se fazia parte das técnicas de tortura psicológica de seu oponente, que provavelmente, é esse tal Muryo.

— Primeiro, vamos pro meu quarto. Não quero ver você caindo com a cabeça no chão aqui fora. — Suguru diz observando Satoru, que aparentava estar com tontura, e se aproxima dele, pronto para ajudá-lo caso algo acontecesse.

— Relaxa, Geto, eu tô bem. — Satoru diz com um tom confiante e um sorriso falso, enquanto anda aparentemente sem dificuldades ao lado de seu amigo. Ação que parece deixar Sukuna confuso, mas Suguru sabe que, na verdade, ele não está bem.

'Droga, por que eu estou ficando tão fraco, do nada? Isso é muito frustrante. Não adianta nada ser tão forte por fora e tão fraco por dentro.' Satoru e os outros dois entram no quarto de Suguru, que, surpreendentemente, estava uma zona.

'Oh, caramba, eu esqueci de arrumar a cama dele quando eu acordei e saí igual um caminhão desgovernado do quarto.' Ao ver sua cama bagunçada, Suguru dirige um olhar de lado um tanto julgador a Satoru.

— Satoru...

— Desculpa, Suguru... — Ele tira os óculos e olha para baixo, com uma expressão arrependida.

— Só não vou fazer você arrumar, porque você tá mal.

— Hahahahaha! — Ryomen estava gargalhando do cenário.

— Cala a boca, Sukuna. — Satoru ameaça acertar-lhe um soco.

— Brincadeira, Satoru. Nem esquenta com isso. — Era bem comum para Suguru, presenciar cenários assim em seu quarto, já que Satoru sempre arranjava alguma loucura para fazer com ele, e o resultado era explosivo, caótico.

  Fora as noites que Satoru aparecia de repente na porta para madrugar com ele, às vezes assustando Suguru com seus olhos brilhando intencionalmente.

— Mesmo assim, vou arrumar. — Satoru arruma os lençóis bagunçados e senta na cama. Sua visão estava embaçada e ele se sentia um pouco tonto, fora de si.

— Ownt... — Sukuna faz uma expressão maliciosa. Ele não perde uma oportunidade de fazer piadas.

— Sukuna! — Agora, foi a vez de Suguru ameaçar Ryomen. — Por que você não foi lá atrás da Shoko, hein? Fica aqui zoando igual uma criança de quinto ano.


— Ô, nem fala nada da Ieiri que o Gojou é fofoqueiro.


— Como é que é, amigo?


— Ah, deixa quieto. — Suguru revira os olhos, com uma expressão forçada de decepção. — Ei, quero que vocês dois fiquem atentos ao que vou falar. Com a escola vazia, as coisas ficam mais perigosas para nós. Se souberem da nossa localização, podem nos atacar a qualquer momento.

— Isso é verdadeiramente preocupante. Até acho que a situação no Clã Gojo é apenas uma distração para o real objetivo de Muryou, se é que é ele mesmo quem está por trás das coisas. — Diz Ryomen, em posição de pensamento.

  Satoru concordava com eles, mas falar algo, no momento, era difícil. Sua boca e nariz estavam ardendo e sua mente perturbava-se infinitamente, era impossível controlar seu próprio vazio tão cheio. Tudo surgia e desaparecia dele, de repente.

'Isso é real? Será que não estou em outro sonho ou universo alternativo? Será que, na verdade, nada disso aconteceu? Estou vivo mesmo ainda? Não, isso não é um cenário fake. Meus amigos estão aqui... e eles parecem reais, não são minhas alucinações. Que luz acolpá é essa na minha frente...?'

"Acolpá" é o nome de uma das quatro cores que apenas Satoru consegue enxergar. E ela é, normalmente, relacionada a perigos.

— Satoru? — Ao olhar para seu melhor amigo, Suguru percebe que o mesmo estava adormecido, ou inconsciente na cama. Seria sono excessivo ou ele desmaiou? — Satoru?!

  De repente, fogo se espalha pelo dormitório. Tudo explode intensamente e vários pedaços dos materiais usados nas estruturas da Escola Jujutsu voam para tudo quanto é canto.

  A força da explosão lança Suguru para longe e ele bate fortemente as costas em uma árvore. Uma dor insuportável percorre seu corpo e ele se sente imóvel, mas logo ele se segura e se levanta, imediatamente invocando Morsfang e outras duas maldições de nível um. Seus olhos observavam o campo de batalha. Os destroços da escola estavam envoltos em chamas e centenas de insetos amaldiçoados vinham voando, roendo e destruindo ainda mais a estrutura do colégio e sua base.

'Não acredito, era realmente uma distração. Estamos em menor número aqui'. Suguru invoca uma maldição em forma de coruja chamada Haruka, ela era especialista em entender os seres humanos e conseguia entregar mensagens facilmente, como um pombo correio ultra melhorado e poderoso. 'Não posso usar o celular agora... ele caiu no meio dos destroços. E acredito que usar você seja uma opção melhor.'

— Por favor, chame reforços.

'E onde será que o Satoru foi parar?! Ele está extremamente vulnerável numa situação dessas!'

— Getou! — Sukuna pousa na frente de Suguru com sua transformação Yatagarasu ativada, ao mesmo tempo que ele corta um besouro gigante no meio. — Vamos procurar o Gojo, ele deve estar caído em algum canto por aqui, mas tem muitas maldições atrapalhando. Vou tentar derrubar todas que eu conseguir enquanto você luta por terra, beleza?

— Beleza!

— Espero que o Sr. Olhos Azuis esteja com o Mugen ativo. — Sukuna levanta voo.

— Também. — Suguru não perde tempo e corre pelos destroços ao redor da escola, procurando desesperadamente por algum sinal de Satoru, enquanto esquivava-se e derrubava várias maldições facilmente, com a ajuda aérea de Sukuna.

'Satoru?!'

  Então, ele viu. Entre os destroços, uma parte desabada da construção que acumulava sangue em baixo, uma poça. O peito de Suguru apertou. Ele correu, lançando-se para frente e começando a puxar os escombros, pedaço por pedaço, com os dedos tremendo.

  Encontrando o corpo de Satoru no meio da bagunça, Suguru tira com cuidado os destroços de cima de Satoru, olhando para seu estado com uma expressão de terror. Ele não estava com o Infinito ativado, então tudo caiu em cima dele, machucando-o.

  Ele apresentava ferimentos abertos horríveis e uma parte de seu uniforme havia rasgado. Sangue escorria de sua cabeça e barriga. Seus cabelos eram como neve tingida de vermelho. Assustado, Suguru tenta ouvir os batimentos cardíacos de Satoru, que estavam tão rápidos quanto as asas de um beija-flor batendo.


'Droga, Satoru, você quase me matou do coração. Eu não quero nem pensar no que eu faria se te perdesse assim...' O alívio e o pavor brigavam por domínio no interno de Suguru. Ele estava vivo. Mas quanto tempo isso duraria? Aqueles ferimentos… Quem quer que tenha feito isso, que colocou seu melhor amigo nesta situação… Suguru tinha vontade de matá-lo.

— Ora, ora, o que temos aqui. — Ao ouvir a voz, Suguru se vira e vê um homem de longos cabelos pretos e olhos cinzas. Sua percepção lhe dizia que não era um espírito amaldiçoado, mas também não era um ser humano.

— Quem é você? — 'A escola está caindo aos pedaços, e pelo visto, apenas nós três estamos aqui. Todos os outros foram fazer suas missões ou ajudar o Clã Gojo.'

'Nem sei se posso contar o Satoru, ele está completamente sem condições para lutar, então, as coisas são comigo e com o Sukuna. Além disso... a vida de Satoru está em jogo, e enquanto eu estiver respirando, esses demônios não irão encostar nem em um fio de cabelo dele.'

— Meu nome é Hiro Ketsu e eu sou um híbrido de humano e maldição. — Ele fala, criando asas gigantes de libélula nas costas. — Prazer em finalmente conhecer você, Suguru Geto.

'Um quê? Híbrido de humano e maldição?! Nunca li sobre isso antes em nenhum livro da escola. E ele me conhece, de alguma maneira. Que interessante. Só que, estou com pressa, preciso derrotá-lo logo para ajudar Satoru e Sukuna. Não posso perder nem mais um segundo aqui.'

  Suguru respirou fundo, cerrando os punhos. Ele chama seus espíritos amaldiçoados para perto, formas monstruosas aproximando-se, em posição. Seu olhar mortal fixou-se no de Ketsu, inabalável. Ele abre sua boca, pronto para dar o comando letal.

— Morsfang, destrua-o.

Arte: VYNJAKU (Twitter/X)

Arte: VYNJAKU (Twitter/X)

Chapter 13: 𝚄𝚖 𝙳𝚎𝚜𝚝𝚒𝚗𝚘 𝚂𝚘𝚖𝚋𝚛𝚒𝚘 𝙵𝚘𝚛𝚖𝚊𝚍𝚘 𝚗𝚊 𝙸𝚗𝚘𝚌𝚎̂𝚗𝚌𝚒𝚊 𝚍𝚘 𝙿𝚊𝚜𝚜𝚊𝚍𝚘

Notes:

Esse capítulo é para vocês, fãs do Suguru Geto, o silêncio, a filosofia, a proteção; para vocês, fãs do Ryomen Sukuna, a coragem, a animalidade e a força; para vocês, fãs do Satoru Gojo, a impulsividade, a criatividade e a infinidade; e para vocês, novos fãs do Muryo Gojo, o mistério, a inteligência e as sombras.

Chapter Text

  Nuvens brancas preenchiam o céu azul. Sons suaves vindos de pássaros ecoavam pela mata. Odores agradáveis viajavam pelo ar puro. A visão e a imaginação melhoravam tais aspectos, trazendo um perfeito sentimento de solitude para o menino que estava sentado sozinho naquele velho banco de madeira, próximo à floresta.

’Será que a mamãe vai vir me procurar? Queria pelo menos pegar um livrinho com o senhor Wakari ou conversar com ele, antes que fique mais tarde.’ Suguru era uma criança esperta até demais para alguém com oito anos de idade. Hoje, ele fugiu de casa, buscando ficar só, não querendo ir para a escola, já que lá não é nada divertido para ele.


  Suguru vivia com sua família numa região afastada do urbanismo, denominada Miyama. Com tantas paisagens naturais belas e lugares calmos, propícios para se obter o verdadeiro conhecimento que desejava, com leitura, reflexão e sem muito estímulo sensorial, Suguru preferia seguir por esse caminho ao invés de se jogar no abismo desconfortavelmente barulhento e repetitivo cuja vida era a escolar.

  Grande parte desse pensamento viera de más experiências sociais que o mesmo obteve ao longo do tempo, então ele desejava estar longe de pessoas. Suguru era o que as outras crianças enxergavam como “esquisitão” ou “antissocial”, algo que ele aprendeu a lidar e a ignorar, consequentemente, o tornando mais solitário e afastado dos outros; ainda mais pelo garoto ver coisas que o resto da garotada não via e achava maluquice: fantasmas, ou o que conhece-se com o nome “técnico”, maldições.

  Suguru nunca contou para sua mãe ou seu pai sobre as maldições que via desde a passagem dos quatro para os cinco anos de idade. Como a região em que ele se encontrava era mais afastada da parte metropolitana e mais central de Kyoto, ambiente com menos pessoas, Suguru via monstros de nível quatro, os tipos pequeninos e que demorariam mais tempo para desenvolver-se e tentar atacar de verdade um ser humano.

  Era curioso encontrar-se com esses fantasminhas, assombrações que, enquanto ele olhava atentamente para seus detalhes, outras pessoas passavam por dentro das criaturas, como se elas fizessem parte das imaginações de Suguru e não estivessem ali de fato. Era complicado para ele provar algo que não era visível, concreto para os outros.

‘Acho que já vou indo no Wakari.’ Suguru se levantou calmamente. Seus olhos amarelo-escuro desviavam dos raios solares acima, atraídos pelas cores escuras das roupas dele, enquanto com pequenas e sensíveis mãos, tentava prender seus longos cabelos negros, atrapalhando-se um pouco, mas não demorando para conseguir um resultado o qual julgava decente. ‘Uh… queria tanto conseguir fazer igual a mamãe faz pra me arrumar.’

  Calmo e observador, atento aos seus arredores, Suguru pegou sua mochila vermelha e foi andando por um pequeno caminho após o banco, que fazia uma curva escondida, adentrando num caminho secreto por dentro do matagal ao lado. ‘Seguindo por aqui, vou chegar na casa dele mais rápido.’

  Ele pisava destemido naquele solo natural que exalava cheiro de terra molhada, banhado de cores verdes vibrantes e decorado com folhas que caíam das enormes árvores e voavam com o vento agradável que balançava e desarrumava os cabelos de Suguru. ‘Ah, não! Eu não quero arrumar de novo.’ Pensou ele, lembrando do esforço chato que fora usado para prender o cabelo, pouco tempo atrás.

  Aquele lugar era um lar farto para insetos, aracnídeos, mamíferos pequenos e plantas de variados tipos. Seres vivos espalhados perfeita e cuidadosamente em um belo e frágil ecossistema que Suguru adorava observar e estudar, sempre interessado em coisas simples e naturais.


  Chegando de frente à uma porta de madeira, acima de uma pequenina escadaria construída com pedaços de tronco e rocha, Suguru bateu-a suavemente, esperando educadamente ser atendido enquanto observava um esquilo pular de uma árvore para outra, correndo saltitante para dentro da imensidão esverdeada do bosque.

— Pode entrar, Sugu! — Falou uma velha voz masculina, com tom de amigável intimidade, vinda do interior da moradia. — A porta está aberta.

  Suguru abriu a porta com cuidado, tirando seus tênis pretos e substituindo-os por chinelos brancos de visita que o sr. Wakari deixava na entrada, especialmente para o menino. Ele guarda seus tênis em uma sacola plástica transparente e põe-na dentro de sua mochila.

  A aparência interior da casa daquele senhor era muito bonita e até um pouco luxuosa aos olhos de Suguru: as paredes eram uma mescla perfeitamente simétrica de tábuas de madeira Sagi bem cuidadas, entrelaçadas fortemente com bambu e decoradas com vasos de plantas sem flor, que estavam pendurados por todos os cômodos. O teto era feito de madeira revestida com fibras das mais fortes árvores da floresta, as quais seguravam folhas verdes esculpidas de forma artificial pelo dono da casa.

— Bom dia, senhor Wakari. — Diz o pequeno Geto, fazendo reverência como sinal de respeito.

— Bwhaha! — Wakari ri, sentado à frente de Suguru em uma poltrona branca com detalhes vermelhos. — Não precisa de tanta formalidade, Sugu. Sente-se.

— Hm. — Suguru sentou no sofá verde-escuro ao lado de Wakari. ‘Ele sempre me chama por algum apelido assim.’


‘É bom sentar nesse sofá. Muito confortável. Às vezes, eu queria poder passar mais tempo com o Wakari, acho que ele se sente meio solitário vivendo aqui no meio da floresta. E ele não tem nenhum animal!’

— Suguru. — Chamou Wakari, interrompendo os pensamentos de Suguru. — Já faz um tempo que quero te contar algo que talvez você não vá acreditar, mas aconteceu comigo e juro que é verdade.

— Por quê? — ‘Se bem que eu vejo fantasmas e monstros invisíveis todo dia e ninguém acredita em mim… todos pensam que é a minha imaginação fértil e só.’

— É uma história um tanto anormal, mas sinto que vale a pena te contar. — Wakari afirma, fixando seus olhos castanho-escuro no profundo vislumbrar flavescente de Suguru.

— Tá. — Suguru se ajeita no sofá, enquanto Wakari se levanta para pegar chá de hortelã na cozinha. — Também quero te contar uma coisa depois. — ‘Será que é o que tô pensando? O sr. Wakari também pode ver fantasmas?’

  Suguru não imaginava nada do tipo acontecendo antes, todas as suas conversas com Wakari até agora tinham sido mais supérfluas, coisas de criança, ou assuntos sobre os livros que o senhor emprestava para o pequenino ler e que ele tanto se fascinava. Porém, alguma coisa na mente de Suguru, dizia para ele, que os dois tinham alguma coisa mais imprevisível em comum, e não era o gosto por natureza, solitude ou livrinhos.

— Hmm, quer chá? — Wakari oferece, aproximando-se dele. — É de hortelã.

— Sim, por favor. — Suguru pede educadamente.

  Ambos tomam chá, enquanto Wakari contava sua história para Suguru com as mãos trêmulas:

— Antigamente, eu tinha um cãozinho chamado Tobby. E esse cãozinho, todas as noites, parava, farejava e ficava encarando fixamente um canto específico da parede do banheiro. Após ver o mesmo cenário todos os dias e conferir que não era nada visível, me perguntei seriamente se espíritos, ou talvez Youkais, não existiam de fato e morassem aqui por perto. — Ele faz uma pausa, tomando grande quantidade de chá. — Ugh, conforme os anos se passaram, me acostumei com o que Tobby fazia. Mas, um tempo após envelhecer, Tobby, ao invés de apenas olhar, começou a latir para a parede. Uma semana depois disso, quando voltei de uma caminhada na floresta, encontrei o corpo de Tobby morto no chão do banheiro e ele… apresentava uma queimadura nas costas. Isso aconteceu um mês antes de eu conhecer você, e durante esse tempo, estive acendendo incenso e procurando a proteção de espíritos que nem sei se acredito, por medo de ser morto naquele banheiro algum dia.

— Que triste… — Suguru estava pensativo sobre a história.

‘Será que foram os monstros invisíveis que mataram ele? Nunca vi eles atacarem uma pessoa, mas já vi eles agarrados nelas. Será que eles podem atacar animais? Se for isso, então o Tobby conseguia enxergar um monstro e o sr. Wakari não. E esse monstro matou Tobby assim que ele ficou velho, ou o monstro evoluiu para uma forma que ataca outros seres…’ Suguru não tinha certeza se as maldições que via, poderiam evoluir, porém, como algumas delas eram parecidas com Pokémons, ele montou essa teoria se baseando nesse anime.

— Eu acredito na sua história. — Suguru termina de tomar seu chá e coloca a xícara na mesa de madeira à sua frente. — Antes de contar pra você a coisa, o senhor deixa eu ir no banheiro ver a parede? — ‘Eu tenho quase certeza que é um fantasma.’

— Hmm, vem comigo. — Wakari se levanta, pega as xícaras de chá e coloca-as para lavar em sua louça. Ele caminha com Suguru por um pequeno e escuro corredor até o lugar onde supostamente é o banheiro.

— Quantos anos o Tobby tinha quando…

— Onze. — Respondeu Wakari, se virando para o Geto com uma expressão triste. — E faltava apenas mais um dia para serem doze anos.

— E amanhã é seu aniversário de sessenta anos, né? — Eles viram-se para a direita e chegam numa porta de madeira fina com batente de bambu.

— Você tem uma memória muito boa, Sugu. — Wakari sorri gentilmente para Suguru e abre a porta do banheiro.

‘Pelo que li no livro “Segredo dos Animais”, onze anos é uma idade bem avançada para cães. Se esse fantasma é tipo um predador e espera a presa dele chegar numa idade mais avançada para atacar, então o senhor Wakari também pode estar em perigo!’

  O banheiro tinha uma aparência mais artificial do que o resto da casa. A cor dos azulejos era azul-esbranquiçado, as paredes tinham uma textura parecida com galhos de cor bordô, e alguns objetos, como privada, pia e banheira, variavam as cores entre cinza-escuro e branco-acinzentado.

— Dentro do vidro de proteção, à esquerda. — Mostrou Wakari, e Suguru seguiu. — Era aí onde Tobby encarava a parede.

‘Eu sabia.’ Ao chegar mais perto e olhar para o lado esquerdo, Suguru surpreende-se ao ver um pequeno ser que brilhava nas cores vermelho e laranja.

  O bicho tinha a forma de uma lagartixa com dezenas de olhos esbugalhados espalhados pelo corpo, presas semelhantes a uma serpente e dois rabos. ‘Sabia que era um fantasma!’

— Não sei se você vai acreditar em mim. — Disse Suguru, se virando para Wakari, que se aproximava do garoto. — Mas eu posso ver fantasmas e monstrinhos invisíveis, de verdade. E o que vejo aqui na parede, é um monstro com a forma de uma lagartixa. Ele brilha vermelho, tem vários olhos, dentes que lembram uma cobra e duas caudas.

  Wakari estava boquiaberto. Ele realmente acreditava no que Suguru estava vendo, mas não entendia o motivo dele mesmo não conseguir ver a criatura.

— Pobre Tobby…

— É, esse monstro deve ter feito isso com ele. E eu acho que tem a ver com a idade…

— Idade? — Wakari parecia estar pensativo e nervoso.

— Cães são animais interessantes. Alguns conseguem prever o que vai acontecer no futuro com seus instintos. Acho que, por ter chegado nessa idade, Tobby previu que esse bicho iria matar ele. — Suguru explica. — Por isso os latidos.

— Você é muito inteligente para uma criança. — Wakari o elogia.

— Obrigado, senhor.

— Não é nada. — Sorri Wakari. — Mas, se a “mecânica” desse monstro… tem a ver com idade avançada, então ele pode tentar me atacar amanhã?

— Sim… Como nós nos livramos dele? — Questiona Suguru, aparentemente, já bolando algum plano.

— Eu não consigo ver esse bicho, mas eu confio em você, garoto. — Afirma Wakari. — Se só você consegue vê-lo e interagir com ele, acho que você pode estudá-lo, caso deseje me ajudar.

‘Hm… nunca me envolvi tanto com esses monstrinhos, mas estudar eles mais de perto é uma ideia legal. Pode ser perigoso, mas vai ser diferente, talvez vale a pena tentar. Imagina se tivesse como domar esses bichos… Ter monstrinhos de estimação… poder evoluir algum voador e voar nele… explorar lugares diferentes… Caramba! Pensando assim, eles são mesmo como Pokémons que existem de verdade.’

‘Tenho que entender primeiro, se o comportamento deles é mesmo parecido com o de um animal comum. Então, talvez, dependendo dos comportamentos deles, tenha como domesticar e treinar.’ Suguru pensava longe. A ideia de estudar as maldições com mais proximidade e detalhes, encantou sua mente agitada e criativa, que já pensava em dezenas de cenários diferentes que poderiam ocorrer futuramente, caso sua ideia funcionasse e as coisas se desenrolassem assim.

— Vou levar ele, ou ela, para outro lugar. — Suguru desperta de seus longínquos pensamentos, decidido a estudar a criatura e, naquele panorama, ajudar Wakari.

— Não é perigoso? Melhor pegá-lo com uma luva. — O senhor sugere. — Vai que ele é estilo lagarta-de-fogo.

— Verdade! — Suguru se liga. — Você pode me emprestar uma luva?

— Claro, garoto. — Wakari sai andando até seu quarto para pegar um par de luvas.



— Aqui está. — Wakari entrega um par de luvas amarelas para Suguru. — E ainda combina com a cor dos teus olhos.

— Hehe! Obrigado. — Suguru agradece e se vira para a criatura, preparando-se.

  Um sentimento diferente pingava com cada vez mais quantidade e força no coração de Suguru. Uma premonição? Previsão? O que é esse sentimento, essa energia faiscante, inundada de ação, gotas de aventura e bordas de caos percorrendo seu sangue? Ele não conseguia reconhecer, exatamente, as emoções e os sentimentos que sentia. Alguns ele não entendia, e outros, ele só passou a entender, ou a começar a entender, na adolescência.

‘O que sinto agora, parece ser tão forte… Não parece ser algo que uma outra criança normal sentiria. Vai ver, eu realmente nasci diferente dos outros, para ser diferente. Talvez, eu nasci para fazer coisas diferentes, para viver num mundo diferente das outras pessoas. E talvez, eu até conheça pessoas diferentes de outras pessoas também, assim como eu. Pessoas que me entendam, que eu possa aceitar a amizade e formar laços de verdade, se for possível.’

  Pensando tão profundamente, olhando tão fixamente para a fraca energia azulada que emanava da criatura, como se fosse uma parte de sua alma, Suguru se viu fortemente conectado por aquela faísca brilhante e atraente. Estaria ele descobrindo seus poderes Jujutsu?

  Suguru toca na maldição, um toque leve e pesado e repleto de significado… um toque que reflete seu futuro amaldiçoado, como se fosse o maior desejo de seu espírito, e no mesmo momento, a energia amaldiçoada do monstro se expande, suas cores escurecem e a forma de lagartixa gira de maneira espiralada, misturando-se a energia escura, por fim, em segundos, se transformando em uma esfera negra do tamanho da palma da mão de Suguru.

 um toque que reflete seu futuro amaldiçoado, como se fosse o maior desejo de seu espírito, e no mesmo momento, a energia amaldiçoada do monstro se expande, suas cores escurecem e a forma de lagartixa gira de maneira espiralada, misturando-se a en...

Arte: QIAN (Pinterest)

𝟽 𝚊𝚗𝚘𝚜 𝚍𝚎𝚙𝚘𝚒𝚜.

‘Ah, sim… essa foi a minha primeira maldição. A maldição que amaldiçoou meu futuro para sempre.’ Em meio a uma batalha mortal contra um híbrido de homem e espírito amaldiçoado, Suguru, ao escolher uma maldição em específico para ajudá-lo na luta, se lembrava de suas origens. Era nostálgico, sua primeira maldição foi nomeada em homenagem a seu Pokémon favorito da época em que ele tinha oito anos.

  Silenciosamente, Suguru faz um movimento com seus dedos e invoca a maldição… Charmander: um lagarto bípede gigantesco com resplandecentes cores flamejantes, garras enormes, dentes afiados e escamas pontiagudas que surgiam de um pequeno chifre da ponta de seu focinho até o final de sua cauda, terminando em um espinho mortal.

  A criatura fixa seus olhos amarelos reptilianos nos olhos amarelo-escuro de Suguru com uma expressão de reconhecimento… e Suguru sente esse olhar em sua alma. Entendendo instintivamente a situação, Charmander vira a cara ferozmente para Ketsu produzindo um rosnado, e ao abrir a boca, chamas de cor carmesim são lançadas em direção ao inimigo, que foge em desespero.

‘Você conseguiu evoluir do nível quatro para o nível especial! Estou impressionado e surpreso com isso. Nem parece uma lagartixa agora, e sim um dinossauro.’ Suguru é, provavelmente, o feiticeiro que mais entende sobre a natureza das maldições. Desde criança, ele as estudou por muito tempo, aprendendo gradativamente por si mesmo, sem ter participado de nenhum clã de feiticeiros ou da Escola Jujutsu; como um verdadeiro feiticeiro mestre da Manipulação de Maldição.

  Ele descobriu que maldições de um nível são capazes de evoluir para outro dependendo de suas condições ou treinamentos, podendo mudar seus ataques e formas físicas; também descobriu que algumas maldições são inteligentes ao nível humano, e outras, podem até se comunicar de alguma forma. Além disso, algumas maldições, mesmo sendo feitas de uma certa emoção negativa, podem sentir outras emoções, mas elas têm um instinto próprio, que é, afetar de alguma maneira, os seres vivos de carne e osso.

‘Minha técnica me permite manipular praticamente qualquer maldição, e considerando minhas interações com cada uma, é bem provável que elas sejam capazes de sentir emoções positivas e desenvolver sentimentos, como o Morsfang; esse espírito até se parece com um animal.’

‘Com todo o conhecimento que obtive quando criança e aqui na escola, eu consigo treinar minhas maldições e entender seus instintos e natureza da melhor maneira possível, tendo facilidade na evolução. Juntando a manipulação por natureza que minha técnica permite, tenho um potencial amaldiçoado infinito na maioria das batalhas, já que, invocar maldições, não gasta quase nada da minha própria energia. Então, é só eu ser inteligente e pensar estrategicamente.’

  Ao ver Charmander cair no chão com um golpe poderoso de ventania das asas de libélula de Ketsu, Suguru aponta sua mão para o lagarto, transformando-o em energia amaldiçoada pura e absorvendo-o de volta para seu estoque de maldições. ‘Não uso você há anos, então preciso voltar a te treinar. Isso foi apenas um teste, mas prometo te libertar novamente outro dia.’

— Você fala bem pouco. — Diz Hiro, desviando rapidamente de uma mordida de Morsfang e quase acertando um soco no queixo de Suguru, que se inclina para o lado habilidosamente e acerta um chute na barriga do rapaz com força. Ele desfaz suas asas de inseto, que estavam meio queimadas, e encara Suguru e suas maldições.

‘Por manipular seres perigosos, ele deve achar que não tenho um bom combate corpo a corpo.’ Suguru parte para cima do oponente, antes do mesmo esperar, desferindo um combo de socos poderosos no Ketsu, que defende a maioria e contra-ataca alguns. Porém, Hiro não consegue fazer muito contra o Geto, quando uma grande maldição de nível um em forma de gorila ciclope, tenta pisotear o adversário de seu controlador e ele desvia aceleradamente para o ar, se afastando de Suguru e suas maldições.

  Entretanto, era no ar que já estava Suguru, montado em cima de Morsfang, que salta do dragão e agarra o Ketsu numa velocidade anormal, desferindo nele um Harai Goshi poderoso no ar, que faz o homem-maldição deslocar seu ombro ao colidir seu corpo contra o chão. ‘Caramba, faz tempo que não uso golpes de judô nas minhas lutas.’

— Não preciso falar para vencer. — Diz Suguru, aproximando-se de Ketsu, enquanto Morsfang e as outras duas maldições de nível um cercam o inimigo. — Aliás, estratégia e imprevisibilidade são chaves interessantes de se adquirir para vencer num jogo de xadrez, independente do quão poderoso você seja, ou esteja.

— Que droga você tá falando? — Hiro pergunta sem entender nada, levantando-se com dificuldade e com as mãos brilhando na cor roxa. Ele sentia medo, porque Suguru era claramente mais forte e mais esperto do que ele. Mas ele ainda tinha de tentar, afinal, ele é um mestre de nível especial.

— Af… é melhor falar com maldições. — Suguru responde com sarcasmo. — Elas me entenderiam. ‘Começaram a aparecer gotas roxas na mão desse cara. Não posso finalizá-lo ainda, especialmente se isso for o que tô pensando que é…’

— Hmph… — O ombro esquerdo de Hiro brilha na cor laranja, em um segundo colocando-o de volta no lugar.

— Mantay, agora! — Suguru manda sua grande maldição em forma de arraia voadora atacar Ketsu, enquanto ele montava em Morsfang e comandava os ataques de seu monstruoso gorila ciclope.

  Ao ver Mantay caída no chão e soltando um líquido roxo pela boca, poucos segundos após suas ações, Suguru já havia deduzido tudo; o próprio ataque da arraia era um teste que ele mesmo tinha bolado em seu plano para derrotar Hiro mais rápido. ‘Essa coisa roxa deve ser veneno. Lembro de ver isso lutando contra aqueles insetos amaldiçoados ontem, na frente daquele restaurante. E é o mesmo veneno que fez Shoko desmaiar e estava no escorpião amaldiçoado.’

  Hiro ataca por baixo de Suguru e Morsfang, afundando uma kunai envenenada na pele do dragão, que faz o mesmo rugir e perder o controle do voo, caindo no chão rapidamente e derrubando Suguru de cima dele.

‘Morsfang…!’

  O gorila ciclope protege Suguru da queda, agarrando-o levemente com suas mãos e o colocando no solo, mas de repente, o monstro cai com a cabeça no chão, cuspindo veneno.

‘É agora!’

  Prevendo que Ketsu o atacaria por trás naquela exata ocasião, Suguru mexe seu corpo para o lado ligeiramente, invocando uma maldição em forma de lança, que ele segura na mão e, imediatamente, transpassa e impala Hiro, acertando seu peitoral em cheio, no preciso segundo em que ele atacaria Suguru com força total.

— AARRRGHHH!!! — Ketsu grita, desesperado e sangrando muito, quando Suguru desativa a maldição-lança e deixa o mestre de maldições cair no chão, gemendo de dor e agonia. Ele não imaginava que, como um grau especial, seria derrotado tão facilmente. Suguru Geto estava em outro patamar.

— Xequemate. — Suguru diz, olhando Hiro de cima com uma expressão fria. Ele guarda Morsfang em seu estoque de maldições e se prepara para pegar alguma informação com Ketsu e encerrar sua vida ali mesmo. ‘Não terei piedade de você, muito menos de Muryou, quando eu o encontrar.’

  Mas, antes que Suguru abrisse sua boca, ele sente uma mudança de força do vento.

— Geto! — Sukuna chega voando num rasante com uma expressão assustada. — Já matei todos os insetos amaldiçoados que estavam em volta da escola. Não estou vendo mais ninguém por aqui.

— Que estranho. — Observa Suguru, nervoso. ‘E o Satoru ainda está inconsciente e ferido ali no chão…’

— Quem é você? — Sukuna pergunta olhando para Ketsu, com uma expressão curiosa e irônica. — Levou uma coça, hein.

— C-Cala a b-boca… — Hiro fala com dificuldade e vomitando sangue, incapacitado no chão.

— Sukuna, você ainda tem aqueles protótipos de poção de energia reversa da Shoko guardados? — Suguru pergunta, ignorando as murmurações de Ketsu.

— Tenho sim. Por quê? Vai tentar curar esse maluco aí que tá todo desgrenhado no chão? — Sukuna desfaz sua transformação Yatagarasu e começa a procurar as poções em uma pequena bolsa que ele estava carregando na blusa. — Aliás, você achou o Gojo?

— É exatamente por isso. — Suguru se aproxima. — Satoru está muito ferido ali atrás e precisamos agir rápido, já que podemos ser atacados novamente logo logo.

— Toma. — Sukuna dá dois pequenos potes de vidro com um líquido vermelho-alaranjado brilhante para Suguru.

— Só isso?

— A única pessoa que tomou essas coisas até agora fui eu. A Ieiri não teve tempo de testar em animais, maldições ou outras pessoas. Posso te garantir que funciona, mas eu tenho uma resistência especial contra vários tipos de substâncias químicas e venenos amaldiçoados. E Gojou, apesar de ter coisas que o torna meio diferente de nós, é mais humano biologicamente do que eu. — Sukuna ri.

— Entendi. — Suguru corre até Satoru, que ainda estava inconsciente por ali. — Permaneça em alerta, Sukuna!

— Pode deixar!

‘Satoru pode perder sua vida muito fácil nesta guerra, bem como todos nós. Por mais forte que a gente seja, os poderes dos oponentes são perigosos e temos que lidar com eles de forma racional e estratégica.’ Suguru chega até ele e se alivia por nada demais ter acontecido nesse meio tempo.

  Satoru respirava pela boca com dificuldade, apertando forte seus olhos e mordendo seus próprios lábios, emitindo sons de agonia, como se estivesse tendo um pesadelo. Suas roupas sujas de sangue, seus ferimentos abertos, seus cabelos brancos quase vermelhos… Suguru nunca tinha visto Satoru tão ferido, incapaz e vulnerável em todos os dias que passaram juntos.

— Sinto muito que esteja passando por tantas coisas horríveis. — Suguru se abaixa e segura a nuca de Satoru cuidadosamente, derramando as gotas da mistura amaldiçoada reversa em seus lábios entreabertos, esperando que a poção possa ajudá-lo a recuperar a consciência, se regenerar e ficar bem novamente. Pelo menos fisicamente.

— Se pudesse entrar na sua mente, eu absorveria todas as suas emoções negativas. — Suguru fala, enquanto derrama todo o líquido do outro pote nas feridas abertas de Satoru, curando-as instantaneamente. — Mesmo que eu fosse amaldiçoado com elas.

— Não seja tão sentimental, Suguru. — As palavras saem devagar da boca de Satoru, com um tom melancólico tentando ser irônico. Ele tosse, levantando sua cabeça lentamente, e por fim, abrindo seus cansados olhos azuis. — Prefiro quando você é mais sarcástico e misterioso. — Satoru sorri divertidamente.

— Satoru… — Suguru se levanta e ajuda Satoru a ficar de pé. — Te prometo que vou te ajudar a sair desse sofrimento. Nós vamos acabar com a raça do Muryou.

— Com certeza. — Satoru diz, confiante. — Caramba, eu tô horroroso. — Ele ri ao ver seu reflexo num pedaço de vidro quebrado no chão e faz uma expressão de espanto cômico, coçando a cabeça.

— Xiu, você tá sempre horroroso. — Suguru ri, observando sua expressão de reação debochada enquanto caminha com ele até Sukuna. — Mas aí, como você está se sentindo?

— Estranhamente normal. — Ele suspira, procurando seus óculos escuros no bolso das calças.

— Ah, eu acho que vi seus óculos quebrados no meio dos destroços.

‘Ah, ele vai começar a xingar a própria visão, tô até vendo.’ Era fácil para Suguru, prever as reações de Satoru acerca dessas coisas. Enquanto todos dizem que nascer com os Seis Olhos é uma bênção, Satoru diz que é uma maldição. ‘Ele está sempre estressado com isso.’

— Que merda. — Satoru diz irritado. — Ficar enxergando meus próprios átomos de oxigênio bagunçados por eu falar muito rápido é um saco.

— Não imaginava que você poderia ver isso. — Suguru sempre foi curioso sobre como a visão de Satoru funcionava. — Que interessante.

— Vocês demoraram um século! — Sukuna grita para Satoru e Suguru, que acabavam de chegar no local. — Eu tive que ficar aqui escutando esse doido reclamar no meu ouvido, e agora ele desmaiou de tanto perder sangue. É pra mim salvar ele ou não?

— Caramba, um meio humano meio maldição que pode criar cinquenta maldições diferentes do tipo inseto a cada dois dias e ainda mantê-las guardadas. — Satoru olha para Ketsu desmaiado curiosamente. — Acho que essa foi a técnica inata mais maluca que eu já analisei.

— Seria bem interessante estudarmos e questionarmos ele. — Suguru sugere. — Eu nunca tinha visto um híbrido antes.

  De repente, algo é lançado em meio ao trio e uma fumaça branca sobe, fazendo todos tossir. O corpo de Hiro desaparece em meio ao gás e Satoru corre até onde estava o corpo, forçando os olhos sobre a poça de sangue deixada por ele, procurando por alguma pista de energia amaldiçoada ou partículas.

  Olhos azuis brilhantes em meio a fumaceira procuram incessantemente por respostas. Satoru salta e utiliza o Mugen para flutuar, encontrando, aproximadamente cem metros à sua frente, dois formatos familiares escondidos no matagal de frente à entrada da Escola Jujutsu, que agora, eram apenas blocos quebrados e pedaços do que já foi alguma coisa.

‘Aqueles dois… É a mesma energia amaldiçoada que vi naquela instalação em que Shoko estava presa.’ Satoru usa o teletransporte, surgindo na frente de Shirou e Kume, e com um leve olhar mais extravagante do que o normal, em menos de um segundo, ambos caem no chão, com a pele de suas mãos e pés estourando de forma pressionada.

  Ambos murmuravam e gemiam de dor, tentando se levantar com seus próprios corpos, não conseguindo se apoiar sem mãos nos braços e pés nas pernas. A movimentação de suas auras de energia amaldiçoada, dizia para Satoru que eles não conseguiam mais usar suas técnicas sem essas partes do corpo, ou seja, a vitória estava garantida.

  Satoru tinha seus punhos fechados próximo ao rosto, o que indicava que o mesmo havia manipulado o espaço e os átomos dos dois assassinos que estavam na sua frente. O sangue fresco dos inimigos em seu rosto e seu olhar azulado frio indicava que ele não estava para brincadeira. Sua técnica lhe permitia fazer coisas muito piores do que aquilo, caso ele desejasse.

‘Vocês são tão fracos que dá até vergonha. Preciso de um oponente mais poderoso, ou eu vou acabar enlouquecendo e agindo de forma violenta com quem eu não preciso.’ Satoru se teleporta com os dois para onde Suguru e Sukuna estavam. Ele se sentia muito estressado; queria usar toda a sua força nos inimigos, usar toda sua energia negativa contra Muryo e todos os seus poderes de sua técnica da forma mais letal e brutal possível.

‘Tenho tanta força, que preciso me segurar para não matar essas pessoas em menos de um segundo. E quando estou contra esse tal Muryo, que deveria ser derrotado o mais rápido possível, eu não consigo fazer nada, sou eu quem perco para ele em menos de um segundo… Isso me deixa tão nervoso.’

— Me digam agora tudo o que vocês sabem sobre Muryo. — Satoru diz sem enrolações, pisando com força nas costas de Shirou, como se quisesse quebrar suas costelas, enquanto, com sua mão direita, controlava partículas no ar, esmagando e queimando as células que formavam os olhos de Kume. — Ou eu mato vocês da pior forma possível.

  Ryomen e Suguru estavam surpresos ao verem Satoru agir de forma tão cruel. Aquilo não era uma atitude comum dele contra outros seres humanos, mesmo que fossem assassinos ou mestres de maldições. Além disso, seu olhar brilhante era frio e sádico, assustador.

  Suguru parecia enxergar o que Satoru sentia por trás de suas expressões indecifrávelmente incabíveis da situação. Ele normalmente não era violento e sado-masoquista desse jeito, mas uma manipulação em seu psicológico, poderia despertar o “lado sombra” de Satoru, fazendo-o mostrar traços de personalidade que talvez nem ele conheça direito.

— Nem tente impedir ele, Sukuna. — ‘Acho que o estresse emocional e o próprio poder dele, tá deixando o Satoru maluco… Também pode ser efeito da química da poção de energia reversa, ou, uma mistura de todas essas coisas.’

— Eu não tô de brincadeira. — Satoru carrega seu feitiço Vermelho na ponta de seu dedo, prestes a acertar o braço direito de Shirou com sua massa de energia carmesim mortal.

  Enquanto o clima do dia muda, com nuvens cinzentas aparecendo pelo céu azul e sinais de chuva começando a surgir tenebrosamente, Satoru sorria com suas ações, carregando uma expressão sádica no rosto. Sedento por mais violência. Ele sentia tudo como se fosse uma diversão, como se estivesse apenas expressando a onda de sentimentos que vinham em sua mente.

— ARGHH!!! — Kume não aguentava mais a dor. — TÁ BOM, EU FALO!

— Hm... — Satoru, imediatamente, para de torturar os dois, concentrando seu olhar nos olhos de Kume, que já demonstrava sinais de cegueira, chamuscados violentamente.

— Muryo está— Antes que ele pudesse terminar a frase, tanto ele, quanto Shirou, explodiram instantaneamente, transformados em energia amaldiçoada, uma energia que Satoru pôde presenciar sumir na frente de seus olhos.

‘Droga…’ Satoru olha para baixo, vendo o sangue de seus inimigos no chão, como se fosse a única prova de que essas pessoas existiram e estiveram por ali. ‘P-Por que eu fiz aquilo?’ Se perguntou melancólico e visivelmente arrependido, enquanto tentava limpar o sangue que estava grudado em seu rosto com suas mãos. ‘Faz apenas um dia desde que tive aqueles sonhos manipulativos estranhos… e eu já me perdi nas minhas emoções? Tão rápido assim?’

— Satoru… — Geto e Sukuna se aproximam dele, devagar. — Existe algo que… possamos fazer para ajudar?

  Satoru respira fundo, olhando para ambos com olhos azul-escuros vazios e sem brilho. ‘Eu não sei… Estou com medo… medo de destruir todos. Medo de machucar meus amigos. Medo de me perder no que sinto.’ Ele não responde, apenas os encara, quando começa a garoar. Seu Infinito impedia as gotículas de água de cair na sua pele.

  Enquanto parecia estar perdido em sua mente, desestabilizado emocionalmente, Suguru adentra seu Mugen e toca no rosto ensanguentado de Satoru, limpando as manchas vermelhas de sua face com seus dedos.

  Ryomen tentou, mas não conseguiu chegar perto, pois o Mugen o impedia. Suguru era a única pessoa que Satoru deixava adentrar seu Mugen, sem necessariamente existir uma permissão. Ele era o único que poderia tocá-lo de forma física, emocional ou espiritual.

— Ele está na minha mente de novo. — Satoru fala olhando para Suguru, sem se mover.

— E o que ele diz? — Suguru pergunta com uma expressão neutra.

— Que você vai morrer e eu vou viver no vazio infinito. — Ele olha para Suguru, alternando as cores de seus olhos entre azul escuro e claro.

— Não escute ele, Satoru. Nós vamos vencer. — ‘Vazio infinito… todas essas palavras… são significativas. Sem dúvidas, a mente de Satoru deve estar um verdadeiro inferno agora.’

— Suguru. — Satoru olha para ele, com lágrimas nos olhos. — Eu confio em você… — Ele cambaleia e cai nos braços de Suguru, inconsciente.

— Satoru… — Suguru olha para ele, novamente naquele estado, e um ódio profundo contra Muryou cresce em seu coração.



— Muhahahahah!!! — Muryou ria incontrolavelmente. — Já era pro Satoru Gojo! E agora que Suguru Geto tocou nele assim que comecei a manipular o Gojo, é só entrar na mente do Geto através do contato de sua energia amaldiçoada também! — Ele levanta da cadeira onde estava, correndo para fora da casa abandonada com seu celular na mão. — Fushiguro, mate Ryomen Sukuna. Já dei um jeito no Suguru Geto.

— Beleza, já estou no ataque. — Toji responde pelo telefone.

— Todas as unidades de assassinos, me escutem. — Muryo fala na mente de todos os assassinos de sua equipe, através do contato de sua energia amaldiçoada. — Vou deixar Suguru Geto inconsciente com a técnica dos sentidos sensoriais. Depois, tragam o corpo de Satoru Gojo para mim, e ajudem o Fushiguro a derrotar Ryomen Sukuna. — Ele explica, com ânimo. — Qualquer um que tentar desobedecer minhas ordens, eu mesmo vou matar.



— Eu vou acabar com a sua raça, Muryo! — Suguru fala sozinho.

‘Eu que vou acabar com a sua, Suguru Geto.’ Muryo responde através da mente de Suguru, que se assusta com a resposta dele e entra em desespero.

— Sukuna! — Suguru grita, olhando para Ryomen. — O Muryou entrou na minha mente. Por favor, estou confiando em você para salvar todos nós. — Várias maldições de Suguru, começam a surgir de vários lugares, para ajudar Sukuna.

— É o quê?! — Ao ver Suguru cair inconsciente na sua frente, Ryomen permanece imóvel. ‘Que droga, deixaram tudo nas minhas mãos! Hã… Meus instintos dizem que tem alguém vindo pra cá, e é muito forte.’

  Ryomen se vira para o lado velozmente, vendo um homem encapuzado, de cabelos negros espetados baixos e olhos verde-escuro encará-lo. Ele não tinha aura nenhuma de energia amaldiçoada, mas a intuição de Ryomen o ajudou a impedi-lo de ser pego de surpresa. ‘Esse cara parece ser muito forte… que absurdo. Talvez eu tenha que usar o Mizuchi.’

— Quem é você? — Ele pergunta, com a tatuagem em sua testa brilhando na cor azul.

— Toji Fushiguro. — O homem responde, tirando uma adaga amaldiçoada do bolso e matando várias maldições de Suguru em segundos.

— Hikarinoshu, Mizuchi! — Ryomen grita, e uma aura colossal de energia amaldiçoada começa a surgir em volta de seu corpo. ‘É agora!’

 

Chapter 14: 𝙵𝚘𝚛𝚌̧𝚊 𝚍𝚊 𝙽𝚊𝚝𝚞𝚛𝚎𝚣𝚊

Notes:

Outro dos meus grandes capítulos favoritos finalmente sendo postado para outras pessoas verem. Hoje tenho uma pergunta para vocês, leitores, uma pergunta que eu não acho que vá ser respondida, mas acho que vale a pena perguntar sobre: qual é a opinião de vocês sobre o Ryomen Sukuna que criei em minha história?

Espero que gostem do capítulo! ^^

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Técnicas inatas, também chamadas por alguns de "encantamentos", se manifestam de formas bastante... curiosas. Sabemos que elas estão completamente interligadas ao destino, ou seja, parte delas está conectada com a existência de Tengen-sama. Mas não é apenas isto, visto que esses tipos de técnicas são poderes que parecem fazer parte da nossa personalidade, daquilo que estamos destinados a ser e das experiências que iremos viver.

É como se houvesse uma espécie de seleção natural, que faz os seres humanos destinados à feitiçaria, desenvolverem seu próprio Jujutsu de maneiras diferentes, para resistir e sobreviver ao que irão passar de forma específica. Não sei se isso acontece tão minuciosamente devido aos poderes de Mestre Tengen, ou, se é algo divino nos ajudando a vencer as forças do mal. Mas, acho tudo isso fascinante, porque, com tanto poder, vêm os desafios em nossa vida, que são tão desafiadores quanto nossos poderes.

Além de ter a Mienaiha, minha técnica hereditária, eu também tenho uma inata, que provavelmente, existe em mim desde o meu nascimento, já que fui batizado de Ryomen Sukuna, o nome de um deus imaginário que os xamãs da minha antiga aldeia acreditavam. Nomes são significativos e carregam um peso enorme a quem os possui, além disso, os rituais e as malditas marcas que fizeram em mim quando menor, são todos atrelados aos Youkais e suas energias mágicas.

Me amaldiçoaram tão profundamente, que despertei a "Youkaishin"; essa técnica inata me permite se transformar em Youkais e guardiões de ambos os lados Yin e Yang: Kagenoshu e Hikarinoshu. Cada conjunto de tatuagens do meu corpo, guarda a maldição de cada uma dessas criaturas místicas em que posso assumir a forma.

Mas será que valeu a pena ter sido tratado como um objeto de ritual por esse poder? Valeu a pena ser perseguido, porque achavam que, por se parecer com o próprio deus deles, eu era um demônio amaldiçoado pelo que acreditam ser o verdadeiro? Bom, creio que dores da vida como essas, apesar de perturbadoras e amargas... e, apesar de isso não ser minha culpa, me fizeram desenvolver um poder, que talvez, sem ele, eu não estaria aqui; não estaria lutando no presente, com meus poderes tão temidos obtidos no passado para proteger o futuro.

...

  A chuva ficava cada vez mais potente. Geto e Gojo jaziam no chão. Apenas um dos mais fortes restou para contar história. E ali estava ele, provavelmente, com o destino do mundo todo em suas mãos: Ryomen Sukuna, o jovem amaldiçoado com poderes Youkai.

  Ao contrário de seus amigos, Ryomen poderia considerar-se intacto mental e fisicamente. Além disso, a vida de ambos estava em jogo, qualquer descuido e eles poderiam morrer facilmente. Porém, mesmo com essas preocupações, Ryomen decide, pela primeira vez, utilizar a mais forte de suas transformações, na forma máxima e completa, para enfrentar o inimigo que chegara ali.

  De acordo com os calafrios e outros avisos intuitivos que ele pode sentir ao enfrentar inimigos muito poderosos, esse era como um "final boss", mesmo não apresentando uma única faísca de energia amaldiçoada. Ryomen sabe que tem algo de especial nesse assassino; ele confia em sua intuição e sabe que essa batalha não será nada fácil.

Seu adversário pensa o mesmo.

E ele não está despreparado ou surpreso por lidar com os poderes do garoto Youkai.

  Ao ativar a técnica "Hikarinoshu", Sukuna assume a forma de Mizuchi, o Dragão Guardião dos Rios. Seu corpo inteiro é revestido por uma energia amaldiçoada luzente, logo, transformando-se num enorme dragão de cor azul claro e escuro, pelos rosa-avermelhado cobrindo grande parte de seu corpo serpentino, longos bigodes, um par de chifres vermelhos, curvados da mesma maneira que as tatuagens de sua testa são quando na forma humana, e olhos vermelhos brilhantes com pupilas em forma de fenda.

  Sua aparência era extremamente ameaçadora e divina aos olhos de qualquer um que o visse naquele momento. A aura resplandecente mística e poderosa que o dragão emanava, era absoluta e digna de um verdadeiro Youkai guardião da luz, mesmo que aquela criatura fosse, na verdade, um humano amaldiçoado usando técnicas Jujutsu.

'Será que vou sentir falta de dois pequenos olhos a menos?' Ele se pergunta, ironicamente, mas logo percebe que sua visão não será um problema, já que ela está agora equiparada à visão de uma águia. 'Independente. Hora do show!'

— Que monstrengo. — Toji diz com um sorriso maquiavélico, observando a criatura à sua frente, que flutuava com seu longo corpo elegantemente, enquanto o encarava com um olhar reptiliano penetrante. — Vou adorar te cortar.

— Então você também gosta de cortar? — Diz Ryomen, formando um sorriso igualmente maquiavélico enquanto se eleva lentamente. Sua voz estava mais alta e abafada nessa transformação. — Que maravilha! Agora fiquei com vontade de aprender o Teorema de Tales na prática!

  Em um segundo, ele avança com tudo para baixo, utilizando da Mienaiha nos ventos, no ar, e em qualquer lugar que seu corpo passar. Ele está coberto de lâminas invisíveis simétricas para todos os lados. Toji se prepara para um ataque bem pensado, enquanto seus sentidos captam, através do vento, o quão velozes serão os cortes que ele terá de enfrentar para derrotar o Sukuna.

  O dragão monstruoso passa voando com seu rasante por Toji, que desvia da colisão com o corpo de Mizuchi a tempo e impede os cortes simétricos de o alcançarem, quando ele utiliza sua katana amaldiçoada, "Lâmina do Vazio", para absorver os golpes da Mienaiha com ela, fazendo-os desaparecer da existência. Com uma rápida cambalhota, o assassino consegue ligeiramente contornar a situação já prevista por Ryomen, que tenta acertar Toji com as garras, sem sucesso.

  Aproveitando-se de seu tamanho, Ryomen arqueou seu corpo para trás, chicoteando sua cauda para atacar enquanto simultaneamente gerava correntes de vento afiadas com sua Mienaiha. Mas Toji não era bobo. Ele leu a situação perfeitamente. Com um salto perfeitamente cronometrado, ele pousou em cima das costas enormes de Mizuchi, segurando a Lâmina do Vazio em suas mãos — a mesma arma que o tornava intocável aos cortes invisíveis de Ryomen.

  Vendo que Toji estava em cima dele e tirava outra arma do bolso, cuja aparência despertava uma sensação de nervosismo em sua mente, Ryomen não hesitou. Ele se vira de ponta cabeça e voa criando movimentos aleatoriamente giratórios e extremamente destrutivos, os quais cortavam qualquer coisa que estivesse por perto, exceto por Toji, que caiu no chão antes dos cortes começarem a aumentar sua velocidade.

A batalha está apenas começando.

'Aquela arma era a Lança Invertida do Céu, do Clã Zen'in!' Pensou Ryomen, entendendo o desespero instintivo que se formou em sua mente. Essa é a arma de nível especial mais poderosa do Clã Zenin, cuja habilidade é forçar a desativação de qualquer técnica que entrar em contato com ela. Um equipamento bastante mencionado nos textos de história sobre antigas ferramentas amaldiçoadas no primeiro ano da Escola Jujutsu.

— Desce aqui, seu desgramado. — Grita Toji, tomando chuva no chão, olhando para Ryomen flutuando acima. — Não ia aprender o Teorema de "Tavares"?

'Preciso tomar cuidado com aquela katana também, nunca ouvi falar sobre ela, mas ela suga meus golpes, de forma muito parecida com o Azul do Gojo. Supondo que esse cara esteja trabalhando com Muryo, ele provavelmente roubou essa arma da família dele, então... Já sei o que fazer.' Antes que Ryomen pudesse se mexer, Toji havia pulado de uma árvore ao lado, prestes a atacar com a Lança Invertida do Céu.

  Ryomen percebe antes e em um meio segundo, ele abre sua boca, atirando um poderoso jato d'água cortante em Toji, conseguindo causar danos fortes ao assassino, que é empurrado para trás, colidindo com uma árvore. Antes que fosse acertado novamente com a água mortal do dragão guardião, Toji segura na árvore, levantando-se rapidamente e saltando, desviando de um corte na vertical que, por sua vez, acerta e derruba a árvore que o Fushiguro estava.

  O feiticeiro em forma de dragão vai voando para o alto das árvores, prestes a aplicar seu próximo plano de batalha. Pulando de galho em galho pelas árvores velozmente, Toji estava confiante de que Ryomen não se arriscaria a lutar corpo a corpo num lugar repleto de obstáculos da natureza, e provavelmente tentaria acertá-lo de longe, aproveitando seu controle sobre a chuva e a água.

Ou, pelo menos... foi o que Toji pensou.

  Quando estava prestes a se locomover para a próxima árvore, Toji vê o corpo alongado do dragão passando na sua frente quase na velocidade da luz, tão rápido entre as árvores, que provavelmente, os cortes só irão fazer efeito quando os ventos acompanharem a velocidade daquela criatura; era como um furacão cortante direcionado.

  Alguns segundos depois, todas as árvores que o vento tempestuoso guiado por Mizuchi atingiu, estavam no chão, cortadas de forma perfeitamente simétrica. Os poderes de Mizuchi alteraram a chuva natural da região, aumentando consideravelmente a força dos ventos e da quantidade da água, criando uma tempestade intensa.

  Ryomen, flutuando lá do alto, não conseguia enxergar, nem cheirar ou sentir onde Toji estaria. 'Ele provavelmente caiu morto no meio da floresta, junto com as árvores. Não teria como alguém sobreviver a esse ataque.'

Mas, então, uma terrível percepção o atingiu.

'A menos que... ele tenha se esquivado.'

A preocupação acerta em cheio seu peito.

'Atrás de mim?!!'

  Mesmo sem olhar para trás, Ryomen sabia que o assassino estava ali, e decide chacoalhar seu corpo para todos os lados, a fim de acertar Toji com suas Mienaiha, no entanto, o Fushiguro absorvia todos os golpes com a Lâmina do Vazio, prestes a acertar o dragão com sua Lança Invertida do Céu.

  Ryomen decide aumentar sua velocidade, fazendo com que o vento e a força da tempestade levassem Toji para o chão novamente, que dessa vez, foi acertado por um pequeno corte transversal em seu braço, sangrando um pouco. À sua frente, o enorme dragão se prepara para soltar um jato de água ainda mais poderoso do que antes, mas um tiro de energia amaldiçoada, vindo de algum lugar das árvores caídas, interrompe seu ataque com sucesso, acertando seu focinho.

  Eram assassinos, vários deles, carregando ferramentas amaldiçoadas perigosas e correndo em direção a Ryomen. 'Esses caras nem parecem ser tão fortes, mas eles estão carregando armas com habilidades absurdas para seus níveis. Se isso é plano do Muryo, então ele é o cara mais louco que eu já vi!'

— Eu vou cortar todos vocês, dane-se! — Ryomen voa com super velocidade até o exército de assassinos em diante. Ele sabia que chegaria neles mais rápido do que Toji, assim, derrotando todos eles com facilidade, para enfrentar o mais forte deles sozinho.

  Ele avança ferozmente, fazendo movimentos serpentiformes para se esquivar mais facilmente de possíveis ataques de longa distância, e em todo lugar que seu corpo passava, ele deixava um rastro de cortes diagonais e horizontais. Toji tentou correr atrás do dragão, mas era uma tarefa difícil. Ele estava mais rápido, e seus cortes invisíveis deixados pelo ar, atrapalhavam sua perseguição.

  Ryomen passou como um tufão pelos assassinos, matando alguns no primeiro corte e desmembrando outros com facilidade. Ele vai passando por eles para cima e para baixo tão rápido, que o tempo de seu corpo curvar para o próximo movimento era impossível de se perceber tendo olhos humanos normais. Os gritos agonizantes de seus inimigos ecoavam pela tempestade, corroendo algo profundo dentro de Sukuna, mas ele continuava sua harmônica e letal coreografia, sem hesitar.

  Ao parar com sua dança mortal, observando todos do céu, Ryomen pôde ver apenas um monte de pedacinhos de carne, pele e tecidos espalhados pelo chão, que era como uma piscina de sangue humano fresco, o único vestígio de que existiram pessoas ali. Logo, a chuva limparia a sujeira resultante da guerra.

  Aquela visão deixou Ryomen perturbado, pois lembrava-o de quando a maldição sob a forma de Inugami invadiu sua aldeia e matou seu pai, no mesmo dia que ele despertara seus poderes Jujutsu. 'Não... não posso ficar me comparando com uma maldição! Eu não sou um monstro. Tenho meus motivos pra estar fazendo isso.' Mas ele rapidamente se recompõe. Não é hora de ficar colocando sua humanidade em dúvida.

— Mó chacina. — Toji chega no local e vê a situação com uma expressão de desdém, se preparando para continuar a batalha contra o dragão. — Agora... eu vou te matar, moleque.

  Ryomen já estava acumulando poder desde que derrotou aqueles assassinos, pois sabia que Toji estaria logo ali em frente. Ele, então dá um rugido estrondoso olhando para os céus cinzentos, e quando Toji estava prestes a acertar seu rosto com um enorme salto, ele se inclina para trás, fazendo com que as Mienaiha se dirijam totalmente para o lado oposto, ao mesmo tempo, que ele solta um jato d'água carregado em Toji, que conseguiu cair no chão sem nenhum arranhão, absorvendo os ataques do Sukuna com sua Lâmina do Vazio.

  Do chão, Toji imediatamente tenta acertar a cauda de Mizuchi com sua Lança Invertida do Céu. Ryomen lança um corte invisível para o alto com um movimento de suas garras, e de repente, todas as gotículas de chuva naquela área se transformaram em gotas de água cortante, fazendo com que Toji tivesse que pegar sua katana imediatamente para se defender de dezenas de pequenas gotas de cortes, que acertavam-no em cheio, causando uma pequena, porém dolorosa, onda de danos que ardiam em sua pele.

  Ryomen sabia que não poderia avançar com tudo para cima de Toji e cortá-lo de uma vez. O assassino tinha instintos inumanos, com certeza acertaria Mizuchi e faria ele voltar a sua forma humana com o poder da Lança Invertida do Céu. Por isso, cada ataque deveria ser bem pensado, mas Ryomen não sabia ao certo como derrotar Toji nessa forma. Mesmo usando golpes muito poderosos, o Fushiguro conseguia sobreviver a coisas absurdas e ainda contra atacar com potência.

'É minha primeira vez nesta forma, então minha experiência é apenas teórica tentando ser colocada em prática.' Seu corpo inteiro começa a brilhar com uma forte aura de luz. Ele gira em torno de onde Toji estava lutando contra a chuva, e segue aumentando sua velocidade. 'Estou ficando cansado. Preciso vencer essa monstruosidade logo!'

  Os ventos ficavam cada vez mais rápidos e a chuva cada vez mais assustadora. A escuridão invadia os céus daquele dia e as gotas de chuva cortantes procuravam derramar sangue naquelas terras. Toji tinha dificuldades em se movimentar devido às forças da natureza, que estavam favorecendo o dragão guardião. 'Essa é, com certeza, a luta mais difícil que já estive em toda a minha vida.' Pensou o Fushiguro, rangendo os dentes.

— MORRA! — Rugiu Ryomen. E em alguns milissegundos, os ventos, a chuva, as águas, toda a energia se juntou, formando um redemoinho de água e ventos, em volta de Toji. Ambos os elementos poderiam cortá-lo mais rápido do que a katana de um samurai.

Porém, Toji, não estava mais lá...

  Ele havia usado os próprios cortes invisíveis de Ryomen contra ele. Ele os bloqueou e absorveu com a Lâmina do Vazio, criando um caminho através da tempestade, e saltou direto para o dragão.

Ryomen sentiu um lampejo de admiração. Seguido imediatamente por desespero. Ele estava ficando sem energia e prestes a perder a luta.

  Toji estava a alguns centímetros de acertar Mizuchi com sua Lança Invertida do Céu. O corpo do dragão, que já estava brilhando, emite um clarão, na esperança de cegar Toji, no mínimo por alguns segundos, mas Toji reflete a luz de Mizuchi com sua Lâmina do Vazio. Ao menos, isso deu tempo suficiente para Ryomen se inclinar um pouco e tentar acertar um corte invisível gigantesco em Toji, mandado por sua cauda no ar.

'É impossível escapar disso.'

  Um trovão ecoou no horizonte e o céu brilhou em branco. Quando a luz desapareceu, Toji estava de pé no chão. Completamente ileso e sorrindo maleficamente. Olhando diretamente para Sukuna.

Aquele homem... Não tinha medo de nada.

— Droga! Você é humano mesmo? — Diz Ryomen enraivecido, ao mesmo tempo que outro raio cai no horizonte, deixando o contraste de luz e sombras em seu olhar avermelhado ainda mais imponente, conforme a tempestade se agrava.

— Droga! Você é humano mesmo? — Diz Ryomen enraivecido, ao mesmo tempo que outro raio cai no horizonte, deixando o contraste de luz e sombras em seu olhar avermelhado ainda mais imponente, conforme a tempestade se agrava

Arte por mim: Satoki-Me (DeviantArt)
(Speedpaint da arte no YT! Link nas notas finais!)


— Mais do que qualquer um! — Toji responde e começa a correr em volta de Ryomen. 'E você não escapará da minha lâmina, dragão.' Toji era muito veloz para ele conseguir acompanhar com a visão.

'Não tem jeito... essa é a minha última esperança.' Ryomen se eleva, e com um rápido sopro de luz, uma gota d' água cai lentamente ao chão. Quando Toji já havia saltado em Mizuchi, e segurava firme nos bigodes do dragão, olhando para seus olhos vermelhos com uma expressão de vitória, ele enfinca sua lança nas duras escamas do guardião dos rios, no mesmo momento que a gota d' água cai no chão.

— Se eu morrer, te levo junto. — Ryomen sorri vendo o sangue roxo de sua forma dracônica espirrar no rosto de Toji, e fechando seus olhos, seu corpo, o oxigênio conectado por seu corpo, seu sangue, os ventos e toda a água, cada gota de chuva da área, explodem em milhões, bilhões, trilhões de minúsculas partículas de luz, com propriedades cortantes minuciosas.

  Um clarão de luz, com um brilho tão forte quanto aquele que se pode ver no sol à olho nu. Ventos velozes, diminuindo sua agressividade. Gotículas de chuva, caindo suavemente no solo, limpando a sujeira do sangue. A explosão de luz foi tão poderosa que fez o tempo do mundo travar por um milésimo de segundos.

...

  Ryomen se encontrava com a cara no chão, completamente exausto. Ele se levanta, atordoado, vendo o quão diferente o lugar estava desde quando fechara seus olhos na forma de Mizuchi. Era uma sensação assustadora acordar depois daquilo, uma sensação de dar calafrios.

'Eu tô vivo...' Sentindo a garoa leve, ele olha para os lados, e só encontra árvores cortadas caídas no solo, os destroços da Escola Jujutsu lá no fundo, poças d' água formadas pela tempestade e o céu cinzento. 'Será que... eu consegui... vencer...?' Ele estava tão tonto que sentia que desmaiaria novamente.

'Não posso cair aqui no chão. Não sei se eu venci a luta, mas preciso ir ver aqueles dois!' Ryomen se recupera e segue em frente. Ele nem havia percebido que não estava em sua forma completamente humana ainda. Era como um humanoide, forma humana, porém, com aspectos dracônicos, como garras, chifres e cauda.

  Ele corre em direção aos seus amigos, mesmo sem energia alguma. 'Aquele assassino... não deve estar morto. Eu sinto isso, e não posso deixar ele continuar seus planos. Ele é forte, ele é inteligente, mas eu não tô nem aí.' Ryomen chega rapidamente até o local.

  Sua visão obscurece e ele treme vendo aquele cenário. Aquele não era o assassino... Era alguém mais ameaçador do que ele. Mesmo que não desse para olhar em seus olhos, mesmo que ele tivesse, provavelmente a mesma idade que Ryomen, a pressão e o medo de ver aquele ser o assombravam profundamente. Ele não conseguia nem se mexer. Estava paralisado.

  O garoto usava uma faixa preta arroxeada, roupas largas escuras, tinha um sorriso maquiavélico no rosto e seus cabelos eram brancos. Sem dúvidas, Ryomen estava vendo Muryou em pessoa, levando arrastado o corpo de Gojo com apenas um braço, como se não fosse nada.

  Ryomen corre para salvar Satoru, mas assim que ele tenta acertar um golpe em Muryo de costas... ele não consegue se mover. 'MUGEN?' Essa era a mesma sensação que ele tinha quando encostava no Infinito de seu colega, seja com ou sem intenção. Ryomen estava tão aterrorizado que não sabia nem o que pensar. 'O que eu faço...?!'

  Muryou se vira para ele e sorri. Um sorriso que arrepia até a alma Youkai do Sukuna. Aquele ser... não era normal. A intuição de Ryomen não pôde avisá-lo de que ele estava lá, e a presença desse garoto... é diabólica, sombria. Tão sombria, que dava vontade de chorar, correr e implorar pela vida apenas de olhar para seu sorriso.

'Não, eu não posso falhar agora. Maldito Muryo, isso tudo era plano dele para pegar o Gojo! Mas o que ele quer com o Gojo?!!'

— Ahahahah! Que fofo ele tentando salvar o amiguinho. — Muryo ri e toca na testa de Ryomen, que sente um desconforto perturbador com tal ação. Era como se a própria Morte estivesse tocando seu corpo e zombando dele. Uma força da natureza absoluta, reinando sobre outra força da natureza, que é obrigada a se curvar à mais poderosa na hierarquia.

— Eu vou te cortar em mil pedaç— Antes que pudesse terminar de falar, Ryomen imediatamente cai inconsciente no chão, aos pés de Muryo.

— Shhhh... boa noite, "Sukuninha". — Diz Muryo, imitando a forma e tom de fala de Satoru e jogando com violência o corpo de Ryomen para longe, perto do corpo de Suguru, no meio do matagal. — Espero que sua mente se divirta lembrando do quanto você se esforçou para falhar da mesma maneira. Além de falhar, tirou vidas como se não fossem nada, que grande feiticeiro Jujutsu, hein. — Ele diz com sarcasmo.

'Os mais fortes, não passam de um título sem significado. Vocês são só um monte de átomos e energias que, por acaso, fazem mais do que deveriam.' Muryou segura Satoru em seus braços, e vai levando-o lentamente, caminhando pela parte ainda viva da floresta. De repente, sumindo com seu teletransporte e aparecendo para fora das barreiras da Escola Jujutsu de Tóquio.

— Qualquer ser humano pode se intitular ser alguma coisa qualquer, alguma força da natureza, entidade... — Muryo se teletransporta mais uma vez, agora à frente da casa abandonada que o mesmo tomou como sua moradia. Ele entra na casa, fecha a porta e deixa o corpo de Satoru no chão.

— Mas nada disso tem significado. Exceto, quando a força da natureza é a Vida. — Ele olha para Satoru, logo sorrindo e puxando sua faixa do rosto. — Ou a Morte.

 

Notes:

Aqui está a speedpaint da arte que fiz para este capítulo!
https://www.youtube.com/watch?v=j1_8gJHIW7Y&t=3s

Chapter 15: 𝚅𝚒𝚍𝚊 𝚎 𝙼𝚘𝚛𝚝𝚎

Notes:

Os fãs de angst vão gostar desse capítulo... Mas, caramba... será que o Satoru já não sofreu demais, não? O bichinho não tem paz na minha mão kkkkk. O que será que tá acontecendo nesse capítulo giga-enorme que a autora demorou pra postar e que tem mais de 5 mil palavras? Não vou dar spoiler, hehe, descubra por si próprio xD

Chapter Text

E quando abro meus cansados olhos azuis, com a mente cheia de pensamentos sombrios e vozes irritantes percorrendo toda a minha consciência, vejo aqueles olhos vermelhos diabólicos atravessarem minha alma. Sinto as sombras do pesadelo invadirem meu ser, e elas apagaram a única faísca de luz que ainda restava em meu coração.


...

  Pouco tempo após a derrota dos primeiro anistas da escola de Tóquio contra Muryou Gojou e seus assassinos, Haruka, a maldição coruja de Suguru, havia retornado ao seu dono. Ele se encontrava inconsciente ao lado de Sukuna, no momento, perto do matagal que ainda restava ao redor do colégio destruído pela batalha.


  Junto dela, chegaram três feiticeiros do segundo ano — Utahime Iori, Akari Nitta e Atsuya Kusakabe. O cenário visto por eles era um verdadeiro horror para qualquer aluno que estudasse na Escola Jujutsu, que havia sido completamente destruída pelo inimigo. Além disso, dois dos mais fortes estavam feridos no chão e Satoru Gojo simplesmente desapareceu.


— Nossa, que dragãozinho fofo! — Exclama Nitta. — Será que o Geto tá vendendo barato?


— Meu Deus, Nitta. — Utahime olha para ela desapontada. — É O SUKUNA, MULHER.


— Nossa... eu não sabia que tinha gente que virava bicho nessa escola...


— Eu queria saber como foi que eles perderam. — Kusakabe se questiona. — Esse tal Muryo é um estrategista forte e difícil de enfrentar. Há minutos, nem sabíamos sobre sua existência, e agora, ele já causou toda essa bagunça.


— Será que o Gojo ainda está vivo? — Pergunta Utahime. — E onde estão o diretor Yaga e todo o alto escalão numa hora dessas? Não ficaram sabendo de nada?


— Já entrei em contato com Yaga. — Respondeu Kusakabe, com as mãos nos bolsos de seu uniforme. — Ele estava participando de uma reunião com o alto escalão no exato momento da batalha. Já deve estar vindo para cá nos ajudar, a base não fica muito longe da escola.


— Vão acordar daqui uns dez minutos. — Diz Nitta, guardando dois pequenos potes de vidro vazios em sua bolsa. — Shoko e eu produzimos esse líquido para dar um up na energia física e amaldiçoada de qualquer pessoa. Ele funciona perfeitamente em casos de perda de consciência!


— Ótimo. — Kusakabe fazia carinho em Haruka, que havia pousado em seu braço. — O Geto é realmente um ótimo feiticeiro, como pode... treinar maldições a ponto de parecerem animais de estimação?

𝚄𝚖 𝚍𝚒𝚊 𝚍𝚎𝚙𝚘𝚒𝚜...

  Aquele dia estava marcado como dia de prova teórica para os primeiros anos, no entanto, os feiticeiros responsáveis pela estrutura da escola, ainda estavam ajeitando as salas de aula e refazendo tudo. Claro que, com a ajuda da magia, era tudo mais fácil, porém, a Escola Jujutsu de Tóquio era enorme e difícil de se reconstruir rapidamente, mesmo com a ajuda das técnicas de Tengen.


  Ao mesmo tempo, o desaparecimento de Satoru suspendeu as aulas em todas as Escolas Jujutsu do Japão. Muitos feiticeiros foram enviados para investigar o ataque de Muryo e sua relação com o Clã Gojou; e rastreadores estão procurando por ele incansavelmente ao redor do país.


  Suguru estava em um quarto provisório separado da bagunça, sentado na cama com uma expressão melancólica no rosto. Ele estava pensativo. 'Logo devem encontrar alguma coisa dele... eu tenho certeza...'


— Geto? — Era a voz de Sukuna, vinda de trás da porta junto de uma leve batida. — Posso entrar?


— Entre. 'No way. Nunca vi o Sukuna sendo educado assim.'


  Ryomen abre a porta e Suguru não fica surpreso ao vê-lo com uma expressão tão desanimada. Ter falhado em sua forma mais poderosa contra Toji e não ter conseguido salvar Satoru, provavelmente o deixou em dúvida sobre si mesmo.


— Sukuna. — Suguru o chama, assim que ele senta ao lado dele. — Você não consegue voltar ao normal ou não quer? — Ele pergunta com curiosidade, se referindo ao fato de Ryomen ainda estar em sua forma humanoide.


— Ambos. Penso que pode ser um efeito que aconteceu por eu ter desativado minha transformação ao mesmo tempo que utilizei o golpe mais forte do Mizuchi, que também, foi ao mesmo tempo que aquele assassino me acertou com a Lâmina Invertida do Céu. — Ele responde, olhando para o chão e mexendo suas garras de forma ansiosa. — Mas, não estou com vontade de ficar tentando voltar ao normal também. Nesta forma, eu não tenho fome, nem sede, e me sinto confortável assim.


— A Ieiri já te viu assim? — Suguru pergunta para ele com um sorrisinho.


— Não... E espero que não veja. — Sukuna responde com uma expressão levemente envergonhada.


— Ué, e qual é o problema? — Suguru ri.


— Calma aí. — Sukuna se levanta, olhando para os lados com atenção.


— O que foi? 'Será que a intuição dele sentiu algo?'


— A nossa turma chegou!


— Oh, beleza. — Suguru se levanta e os dois feiticeiros vão correndo até o lado de fora do colégio. 'Espero que não tenham notícias tão ruins.'

  Ao chegarem lá, Ryomen e Suguru se reencontram com Mei-sensei, Shoko, Nanami, Haibara, Ijichi e os feiticeiros de reforço que foram enviados para proteger a escola de ser atacada novamente.

— Que bagunça. — Observou Mei Mei, olhando atentamente para os feiticeiros que estavam tentando organizar as dezenas de árvores cortadas do lado de fora do colégio. — Eu deveria ter percebido que Muryou tinha cartas na manga. Ele usou o ataque ao Clã Gojo apenas como uma distração para capturar o Gojo.

— Geto! Sukuna! — Shoko vinha correndo em direção aos dois. — Vocês não têm noção do quanto eu tô exausta. O que aconteceu?!

— Resumidamente, os assassinos nos atacaram e capturaram o Satoru. — Diz Suguru, cumprimentando Ieiri.

— Como não houve nenhuma alteração nos fluxos de energia amaldiçoada das ruas de Tokyo, sabemos que ele está vivo. — Nanami se aproxima para conversar. — Só precisamos saber onde ele está.

— Hm. — 'E como ele está.' Pensou Suguru.

— Ficou bonitão, Ryomen. — Shoko cumprimenta Sukuna, que estava com uma expressão tão embaraçada que Suguru já sabia exatamente como ele se sentia ao ver que ela reconheceu-o sem dificuldades.

— Que nada. Minha forma humana é bem mais bonita que essa! — Ele diz se movendo de forma expressiva e com um sorriso irônico, trocando de assunto. — Como foram as coisas lá na base da família do Gojo?


'Estou me segurando para não rir vendo o quão nervoso ele está. Isso é muito engraçado porque nunca vi o Sukuna agir assim. Deve ser especificamente por causa dessa transformação. O Satoru estaria caindo de propósito no chão de tanto rir agora e provavelmente zoaria ele pro resto da vida vendo isso.' Suguru apenas observava a situação.


— Pude curar muitas pessoas. — Diz Shoko, se virando para a professora Mei. — Mas...


— Nós, feiticeiros de ação, não fizemos muita coisa. — Completou Mei Mei. — Capturamos poucos assassinos e não conseguimos informação alguma deles, pois todos morriam quando tentávamos fazer eles abrirem a matraca.


— Bom, pudemos exterminar os insetos amaldiçoados restantes e ajudamos os feridos. — Falou Nanami. — Já são boas ações.


— E eu pude enxergar o movimento da energia amaldiçoada dos assassinos quando eles explodiram! — Exclamou Haibara. — O caminho parecia parar perto de Miyama, Maizuru ou Kameoka.


  Suguru tremeu, sentindo calafrios desesperados por todo o corpo. 'Miyama??' Não havia nome de cidade mais familiar para ele no país. Era aí que ele morava, não muito longe do QG do Clã Gojo e da Escola Jujutsu de Kyoto. Neste lugar, onde todo o seu futuro amaldiçoado foi construído quando ainda era uma criança. 'Será que era por isso que antes eu estava lembrando do sr. Wakari e da minha primeira maldição?'


— Nós já avisamos e relatamos essas novas informações a todos os feiticeiros Jujutsu. — Ijichi se aproxima com um caderno de anotações em suas mãos. — Uma equipe do terceiro ano de Kyoto já foi enviada para investigar essas cidades e suas vizinhanças.


'Sinto algo muito forte ao ouvir sobre Miyama. Tem alguma coisa muito errada nessa história. Não sei o motivo disso tudo... Deve ser intuição. Quando se trata de coisas relacionadas ao Satoru e a mim, tudo parece intuição ou... espiritual? Ele afirma que minha alma tenha salvado-o em um sonho manipulado. O que é bem curioso, e eu queria poder me lembrar disso.'


— Terra chamando Getou... — Shoko dá um peteleco na testa de Suguru, que estava olhando para o chão fixamente por um tempo, pensando.


— Ei! Você não usa Jujutsu de ataque, mas isso aqui dói! — Ele responde com uma expressão forçada de tédio.


— Todos os feiticeiros Jujutsu, escutem! — Era o diretor Yaga, que havia chegado correndo no local. — Os últimos rastros de energia amaldiçoada do Satoru foram encontrados numa casa abandonada no meio de uma floresta em Miyama, junto da energia de um Gojo desconhecido! Deduzimos que seja o Muryo.

'Isso... é coincidência demais pra ser verdade...' Tudo parecia estranhamente estar interligado de alguma forma, Suguru só não entendia a lógica disso. Como e por quê?


— Se a energia dele acaba lá e ele ainda está vivo... então, ele só pode estar...


— Em um domínio fantasma. — Deduziu Sukuna. — Lutando sozinho contra Muryou durante todo esse tempo.

𝚄𝚖 𝚍𝚒𝚊 𝚊𝚝𝚛𝚊́𝚜...

'Respira fundo, Satoru, respira fundo. Você tá vivo! Acorda, caramba! Acorda!' Eram o que as vozes em sua cabeça diziam, desesperadas. 'Você precisa levantar e lutar. Você é o mais forte, não é? Então aja como o mais forte.' Satoru não sabia onde estava. Era tudo escuro e o único som que ouvia eram seus pensamentos inquietos e inseguros. Estaria sonhando?

'Cala a boca!' Foi o que seu pensamento respondeu para as vozes, usando outra voz, que ficava mais adentro em sua mente, num lugar onde poucos pensamentos tinham opinião desde que Muryou começou sua manipulação psicológica, há mais ou menos um ou dois dias. Satoru se sentia completamente o mais fraco, por ter perdido a cabeça em tão pouco tempo.


  De repente, num escuro menos nebuloso, Satoru tenta se levantar, com o coração batendo em impulsos instintivos de sobrevivência, que já o avisavam do enorme perigo que estava à sua frente. Por que ele sentia de forma tão intensa? Muryou era assustadoramente familiar e seu olhar avermelhado dava calafrios. Satoru tinha certeza de que nem Sukuna com toda a sua coragem selvagem se sentiria bem ao olhar para esse ser.


'Por que estou aqui?!' Ele se pergunta, confuso. Não se lembrava bem do que havia acontecido antes de cair desacordado. Porém, não havia muito tempo para pensar, ele precisava derrotar Muryou agora que tinha a chance. Ele nem pensa em tentar se divertir com a luta, pois extinguir essa ameaça de uma vez por todas seria, claramente, a melhor opção.


  Satoru cai no chão novamente. Olhos da cor do sangue adentrando seus pensamentos como uma visão num filme de terror. Apesar de estar com a mente quebrada em pedaços e de se sentir completamente derrotado, Satoru tentava racionalmente rejeitar esses sentimentos, por mais difícil que fosse, já que era tudo controlado por Muryo. Sua mente não era mais sua. Ele sentia sua consciência sendo roubada e sua liberdade arrasada.


— Expansão de Domínio... — Diz calmamente Muryou, levantando sua mão para fazer o movimento do selo para seu feitiço.


  Mas, Satoru se levanta rapidamente. Apesar de toda dificuldade em se mover ou em pensar em qualquer coisa, ele para de querer apenas pensar, mesmo que inconscientemente.

"Toda escolha tem consequências."

"Pensar e analisar é sempre a melhor pré-seleção."

"Pense nisso, Satoru."


— Muryo Kusho!

  Ambos expandem seus domínios ao mesmo tempo, no mesmo exato segundo e pela primeira vez na vida deles. Satoru sente grande parte de sua energia sendo sugada e ocorre uma colisão entre dois infinitos, de mesmo número, mesmo tamanho, mesma família... como se fosse o mesmo domínio contra si próprio. Algo tecnicamente impossível de se acontecer no Jujutsu.

𝟼 𝚊𝚗𝚘𝚜 𝚊𝚝𝚛𝚊́𝚜...

  Mais uma manhã se iniciava. O sol aparecia com seus raios calorosos por toda Kyoto. Os pássaros cantavam. As crianças brincavam pelas calçadas da vila, repletas de neve funda e fofa. Os trabalhadores dispunham suas farfúncias, já colocando a mão na massa. Os feiticeiros, grande parte se organizando para missões. A agitação e o barulho começam a se intensificar.


  Olhos azuis observam os movimentos pela janela, curioso, pensando em como fugir de lá em um dia tão fervoroso e tradicional. Satoru não gostava daquela bagunça, ele queria ir embora, explorar o exterior e se divertir como alguém normal. Mesmo que estivesse dentro de casa, ele ainda conseguia enxergar todas as pessoas e suas auras de energia amaldiçoada insuportáveis perambulando por aí. Era uma experiência irritante.


'Queria continuar dormindo, mas não acho que vou conseguir.' Ele pensa, se jogando na cama mais uma vez, entediado. Sabia que logo estaria chegando o momento em que seu professor o chamaria para fazer a prova mais importante da vida dele — ou pelo menos, era o que os adultos do Clã Gojo falavam, mas Satoru achava que talvez não fosse verdade —, uma avaliação de todos os conhecimentos teóricos sobre todos os clãs que existiam e ainda existem no mundo Jujutsu, com foco maior nas técnicas, culturas e em absolutamente tudo que envolva o Mukagen e o Rokugan.


'Isso só vai me cansar. Ruim é que é quase impossível fugir de casa numa hora dessas, e tentar fazer isso no meio da prova só vai me dar mais problemas. Que chato...' Satoru se prepara, vendo através das paredes, uma aura de energia amaldiçoada da cor preta subir as escadas de sua casa e vindo até seu quarto. 'Eu quero ir embora.' Ele coloca um travesseiro na frente de seus olhos para não ver as energias, mas não funciona. Apenas faz com que ele veja cada vez mais e mais átomos se agitando em sua frente.


— Satoru Gojo? — A voz chama por trás da porta. — O senhor já está pronto?


— Não. — Satoru responde com um tom de desinteresse. 'E eu odeio quando vocês me chamam de "senhor". Eu sou uma criança, não um velho!'

  A porta se abre, revelando um homem alto, que usava óculos, roupas escuras de aspecto elegante e um chapéu preto. Satoru olha para ele com uma expressão que seu sensei provavelmente entenderia como um "não quero" ou "sai daqui". Após algumas experiências exteriores, Satoru ficara um pouco... rebelde com seu clã.


— Estando pronto ou não, você vem. — Ele diz com autoridade. — E pare com essas rebeldias de querer fugir da responsabilidade, Satoru. Se não, nós iremos dar uma lição naquele garoto que você fica andando junto.


  Satoru faz uma expressão preocupada ao ouvir isso. Todo e qualquer contato que ele tinha com outras pessoas que não faziam parte do clã, qualquer comida diferente que ele provasse ou lugar que ele andasse, era motivo para um escândalo e vários castigos diferentes.


— Olha só o que o mundo exterior fez com você. — O professor fala de forma dramática. — Não era para você ter esse tipo de reação. Estávamos planejando mesmo deixar você de castigo aqui na base até atingir doze anos de idade.


— Mas, Naru-sensei...


— Sem "mas". — Naru corta. — Vamos proibir a sua querida tia Ramirya de vir pra cá também.


— Tá bom... eu vou... — Satoru se levanta, pega sua bolsa e vai andando para fora do quarto, com uma expressão de indiferença, mas que, interiormente, escondia desconforto.


— É assim que deve ser. — Naru fecha a porta do cômodo e anda ao lado do pequeno. — Mas nós ainda estamos pensando no seu castigo, então trate de ser respeitoso ao máximo com todos e de ficar calado a menos que te perguntem algo, Satoru.


  Satoru acena positivamente com a cabeça e continua a andar. Ele nem havia dormido direito noite passada, sua cabeça doía e ver tanta sujeira em sua frente só deixava a situação pior. Ele queria ir o mais longe possível dali. Se encontrar com seu novo e único amigo e aprender coisas novas, muito mais legais do que Jujutsu, enquanto andava pela floresta era uma experiência mil vezes melhor do que viver daquele jeito, com sua infância sendo roubada e pisada.


'Existem tantas coisas legais no mundo... tantas coisas que eu nunca vi, coisas divertidas... Talvez tenham mais pessoas gentis também... lugares legais e comidas mais gostosas do que as daqui. O mundo não deve ser só um monte de textos antigos chatos sobre feitiços, pessoas morrendo, caos, clãs, regras e comemorações sem graça, né? Depois que descobri o mundo de verdade com minha tia e com o Geto, eu só quero ir embora daqui e ser quem eu quero ser.'

  Chegando na grande biblioteca do clã, Naru leva Satoru até uma sala no fundo do corredor, onde ficavam os livros sobre a história de cada era do Japão. Fechando a porta e sentando-se numa cadeira, ele aponta para frente, indicando o lugar onde Satoru sentaria. O professor tirava de sua mochila vários papeis e os organizava em sua mesa.


'Espero que essa prova não demore muito, minha cabeça tá doendo... mas não quero falar pra ele... Ele com certeza vai querer me dar um castigo, dizer que eu tinha que saber como fazer isso parar ou saber como dormir bem ou coisas do tipo. Eu tô cansado disso.' Satoru se senta na cadeira e começa a observar o lugar. Era uma sala branca, vazia e pequena, apresentando apenas as cadeiras e mesas dos dois que ali estavam e uma janela de madeira pequena lá trás.


— Boa prova. — Naru entrega dez folhas repletas de textos para Satoru. Essa era a prova: Dezenas de questões objetivas e dissertativas ao mesmo tempo. — Lembrando que não iremos tolerar mais de cinco respostas que contenham qualquer erro ou uma resposta que esteja inteiramente errada. Ao todo, são cinquenta questões e você não pode me perguntar nada. Também não pode sair da sala até terminar. Quando terminar, coloque as folhas na minha mesa que você será liberado. Ali no canto, perto da janela tem um banheiro e água, caso precise. Como você vai demorar algum tempo, estou indo lá fora falar com meus superiores. Até daqui a pouco. — Naru pega sua mochila, sai da sala e tranca a porta.


— NARU-SENSEI!!! — Satoru levanta e corre até a porta, gritando seu nome desesperado. Aquilo era mesmo algo normal? Todas as crianças do clã passavam por isso ou apenas ele? Por que ele passava por coisas tão ruins, por motivos que não pareciam fazer muito sentido? Era mesmo necessário toda essa rigidez e inclusive trancá-lo lá dentro? — Sensei...?

'Acho que esse professor não gosta mesmo de mim... Ninguém gosta. Só me tratam bem porque querem que eu seja um feiticeiro Jujutsu forte.' Ele respira fundo, olhando com uma expressão triste para a porta fechada. 'Nem tomei café-da-manhã... e não tô conseguindo pensar direito... E se eu não conseguir fazer essa prova? Ah, eu vou conseguir... vou tentar! Quanto mais rápido eu fizer, mais rápido vou estar livre para ir embora!' Satoru vai até sua mesa e senta novamente na cadeira. Ele tira suas coisas da bolsa e começa a fazer o exame.

...


  Três horas depois, Satoru havia parado na quadragésima segunda questão e se sentia completamente exausto. Ele estava deitado no chão olhando para o teto. Olhar para cima naquela sala mais branca do que seus cabelos fazia ele delirar e ter ilusões de ótica quando vários átomos diferentes flutuavam pelo ar. Satoru brincava com eles às vezes, explodindo-os, juntando-os e criando formas de diferentes seres andando pelas paredes. Mas, manipular o espaço também era cansativo, então Satoru evitou fazer isso naquele momento.


  Até mesmo pensar se tornava uma tarefa exaustiva ali. Ele só queria comer e ir dormir, descansar em algum lugar silencioso, onde poderia parar de enxergar tantas coisas desnecessárias e relaxar sua mente inquieta. Até que aquela sala tinha poucas coisas para seus olhos focarem e era silenciosa o suficiente para o mesmo descansar, e assim, Satoru acabou dormindo por dez minutos, mesmo morrendo de fome.


Ele teria dormido mais, se Naru-sensei não tivesse entrado na sala e o acordado:


— Agora não é hora de dormir, Satoru! — Ele sacode seu corpo, o acordando no susto. — Vamos! Falta pouco para você terminar o teste. Levante-se e continue. Não seja fraco e nem pense em desistir. Isso é coisa de gente covarde. — Naru simplesmente sai da sala novamente e tranca a porta.

'Por que ele faz isso...?!' Satoru sentia vontade de chorar, mas se ele fizesse isso e Naru descobrisse, ele com certeza seria punido. Qualquer atitude ou emoção que fosse enxergada como uma fraqueza ou obstáculo para o menino que se tornaria o mais forte do mundo, deveria ser completamente erradicada e evitada.

Ele deveria se manter firme e continuar a prova, mesmo que fosse contra sua vontade e sentimentos. 'Quando vão parar de fazer isso comigo? Quando vou me tornar logo alguém forte o suficiente para me deixarem em paz?' Satoru se senta na cadeira novamente e continua a avaliação. 'Um dia, vocês não vão mais me segurar.'

— Eu vou conseguir.

...

  E quando estava na última questão, Satoru não sabia como responder.

"Se dois membros da família Gojo fossem capazes de expandir o Vazio Infinito e lutarem entre si, expandindo seus domínios no mesmo momento, o que aconteceria na colisão e após ela?  Explique ."

  Não há registros oficiais de que algum membro da família Gojo tenha conseguido realmente expandir esse domínio antes, sejam usuários do Mugen ou portadores dos Seis Olhos. A esperança deles era de que aqueles que nascessem com ambas condições, poderiam ter acesso ao Muryou Kuusho. E a existência desse poder era puramente baseada em teoria.

  No entanto, tendo apenas informações teóricas sobre como um desses domínios sequer funciona, ficava ainda mais difícil para Satoru responder à pergunta. Nunca houveram relatos sobre colisões com domínios idênticos até agora, e uma colisão de dois Vazio Infinito com certeza seria diferente de uma colisão de domínios "comuns".

'Hmmm... vou criar uma teoria, porque não tem como eu saber exatamente.' Então Satoru teve algumas ideias, pensou, comparou com suas informações comuns sobre expansão de domínio e criou uma teoria. Era a única forma de responder a essa pergunta sem que parecesse uma resposta exatamente errada.

  Satoru escreveu que em uma colisão de dois domínios Muryo Kusho, o domínio do usuário que tivesse mais experiência ou desenvolvimento da técnica engoliria o outro, como numa técnica normal. Caso as duas técnicas estivessem com o mesmo nível de desenvolvimento e maestria, as duas se quebrariam com informações infinitas sendo trocadas dos cérebros de um usuário para o outro, que poderia resultar em uma explosão dos domínios, onde a expansão retornaria para a mente do usuário, mas o oponente seria sugado para dentro do domínio enfrentado, ficando ambos presos em um "domínio fantasma", cada um na mente de seu oponente.


  "Domínio fantasma" ainda não era um termo oficial na sociedade Jujutsu. Como um domínio inato é a manifestação dos poderes, técnicas e personalidade de um usuário que existem dentro de sua mente, e a expansão desse domínio permitia o usuário expandi-lo para o mundo real, resultando em atividades paranormais que podem quebrar as leis da natureza e do mundo, existia uma velha teoria criada pelo Clã Kamo que considerava alguns domínios permanecerem invisíveis para todo o mundo físico, menos para aqueles que estivessem lutando dentro desses domínios.


'Espero que considerem minha criatividade. Não tem como a minha explicação estar totalmente errada, é só uma teoria... e eu utilizei meus conhecimentos sobre clã para isso. É, vai ficar tudo bem.' Satoru se levanta e coloca todas as dez folhas em ordem numérica na mesa do professor Naru. 'Por favor, agora me deixe em paz...' Satoru estava cambaleando, seus olhos fechavam devagar e ele ia perdendo o equilíbrio.

  A porta se abre e Naru vê Satoru caindo desmaiado para trás. Antes que o garoto batesse a cabeça no chão, ele o agarra e vai levando seu corpo desacordado até sua casa. 'Você conseguiu, Satoru. Aguentou a pressão muito bem, apesar de ceder ao sono por dez minutos. Espero que não tenha deixado isso afetar seu desempenho na prova.'

  Algum tempo depois, Satoru acorda em seu quarto. Ele abre seus olhos devagar, ainda com a cabeça doendo e sua barriga roncando. 'Eu... tô na minha casa?' Satoru sai do quarto e vai em direção a cozinha, onde ele encontra uma marmita em cima da mesa e uma carta do seu professor.

"Seu resultado na prova é 46/50. Sua última resposta foi ilógica. Sobre seus comportamentos rebeldes, decidimos deixar você aqui por pelo menos um ano sem ficar saindo. Você vai aprender mais coisas e ficar muito mais forte. Se não tivesse errado tanto na prova, estaria livre. Pode descansar o resto do dia agora e aproveite o alimento."
~ Do seu querido professor, Naru Okkotsu.

— Querido? Você me odeia, professor. E eu sinto isso... — Aquela tarde, naquele momento, Satoru perdeu a fome e chorou. Ele não aguentava mais manter tudo para dentro.

'Se eu estou chorando só agora, isso significa que eu sou forte ou fraco? E o que isso impacta no meu futuro? Ser o mais forte ou mais fraco é alguma coisa? Eu quero mesmo fazer parte do Jujutsu ou tenho que fazer isso porque estão me obrigando? Será que quando eu crescer e for libertado, vai ser mais divertido ou menos sofrido que isso?'

  E não havia ninguém para ajudá-lo com seus sentimentos, ninguém queria saber como ele se sentia ou o que pensava sobre a sua vida. Uma criança esperta que poderia ter um futuro brilhante e feliz... carregava um enorme peso nas costas e um rasgo profundo em seu coração, completamente sozinha e abusada emocionalmente.

𝚅𝚘𝚕𝚝𝚊𝚗𝚍𝚘 𝚊 𝚊𝚝𝚞𝚊𝚕𝚒𝚍𝚊𝚍𝚎...

  Satoru abre os olhos e se encontra em um lugar completamente diferente de tudo na realidade. Seus pés não afundavam na superfície líquida, mas ele se sentia suspenso naquele vazio, uma sensação inconfundível que lembrava-o de seus próprios sentimentos e estado mental.


  Aquilo era um abismo infinito de águas calmas e espelhadas, como se o próprio chão tivesse se transformado em um reflexo fluído e imutável. O céu era uma vastidão cósmica que se estendia infinitamente, repleta de estrelas cintilantes e borrões de galáxias distantes que pareciam observá-lo com um olhar que atravessava o tempo e o espaço. Algo naquele ambiente desafiava as leis da física, isso era o Muryou Kuusho de seu oponente.

  A sensação de estar sendo observado era opressiva, e o silêncio assustador do ambiente deixou Satoru nervoso. Parecia que o próprio espaço estivesse ciente de sua presença naquela prisão transcendental. Será que o seu Vazio Infinito também era assim? Ou depende muito de como é a mente e personalidade formada de quem expande o domínio?


  Cinco gigantescas esferas vermelhas flutuavam ao redor, seus contornos manchados pela distorção da realidade. Uma delas, no centro, irradiava uma energia tão palpável quanto o próprio ar e se assemelhava a um olho, que parecia ser o único ser consciente naquele lugar.

'Muryo.' Pensou Satoru, entendendo rapidamente o motivo do Gojo de olhos vermelhos não estar fisicamente ali. Ele não via nenhum átomo a não ser os de seu próprio corpo e vestimentas, ou seja, tudo aquilo era formado puramente de energia amaldiçoada.

Ambos estavam em um domínio fantasma, dentro da mente do outro.

'Então, como carambas a minha resposta naquela prova de quando eu tinha nove anos estava errada? Domínios fantasma existem. E essa expansão de domínio é semelhante a minha percepção inicial sobre o Muryo, então a aparência e algumas habilidades dependem da personalidade do indivíduo. Esse deve ser o domínio inato da própria consciência de Muryou. E será que ele está preso na minha consciência? Se for isso... então que bom pra ele, deve ser divertido mesmo fazer parte da minha mente naquele estado infernal.'

'E, apesar de estar aqui, não estou me sentindo tão mal. Será que o Muryou não consegue me manipular aqui? Além disso, senti a minha energia sendo gasta quando expandimos os domínios, sendo que eu tenho o Rokugan. Bom, eu consegui analisar mais ou menos as técnicas dele quando olhei para ele, mas não entendi nada porque era como se fosse eu mesmo refletido... Que droga esse cara realmente é?!'

— Agora que ficou divertido. — A voz de Muryo ressoa num tom exultante na mente de Satoru. — Adoro joguinhos mentais. É prazeroso te ver tão confuso mesmo que eu não esteja lhe manipulando.

— Eu não entendo você. — Satoru olha para a gigantesca esfera vermelha em sua frente. O som parecia vir de lá, como se fosse o núcleo de conexão entre a mente de Muryo, seu domínio inato, e a mente de Satoru. 'Nem meus olhos conseguem processar o que está acontecendo. Deve ser alguma manipulação... vou tentar não demonstrar preocupação com isso.'


— Mas eu entendo você. — Muryou responde com um tom irônico. — E não adianta esconder seus pensamentos. Mesmo se não estivesse preso no meu domínio, sou capaz de sentir e compreender tudo o que você pensa e sente.


— Que loucura, mermão. Então por que não me mata logo com a sua manipulação, hein?


— Porque mesmo que tenhamos nascido compartilhando a mesma energia amaldiçoada, você tem um controle desesperadamente forte sobre ela com os seus Seis Olhos.


— É O QUÊ?!

A mente, o corpo e a alma de Satoru congelaram.

Compartilhando a mesma energia amaldiçoada? Agora tudo fazia sentido. Tudo o que era impossível, se tornava possível se isso fosse verdade.

'VOCÊ É...'

— MEU IRMÃO?!

Satoru não sabia como reagir ao ouvir aquilo. Se antes já estava assustado, agora ele estava entrando em real pânico. Seu corpo inteiro tremia em desconforto e medo.

  E é por isso que tudo o que estava acontecendo no momento, não era impossível. A própria existência de Muryo Gojo e suas técnicas eram consideradas uma anomalia. Irmãos gêmeos, especialmente monozigóticos, sempre foram um mau presságio no mundo Jujutsu. Resumidamente, de acordo com as tradições dos Três Grandes Clãs, ambos deveriam estar mortos, no entanto, as chances do Rokugan estar presente em alguma das crianças, era algo maior do que essa regra.

'AAHH! Sinceramente, eu não me importo que ele seja meu irmão gêmeo perdido que ninguém nunca viu na vida ou coisa do tipo.' Satoru estava desacreditado, mas tentava pensar com mais clareza e racionalidade. Apesar de estar lutando contra a impulsividade. 'Resolvo esses assuntos depois que eu sair daqui. Tudo isso é um conjunto de loucuras, anomalias e teorias se tornando realidade; Muryo está jogando mais informações na mesa para me confundir mais e me fazer perder ainda mais a cabeça.'

  Se o controle do Mugen de qualquer um dos dois parar de funcionar por um milésimo de segundo, eles serão atingidos por um número infinito positivo e negativo de informações incontroláveis, maior do que tudo o que já se viu, e seus cérebros dificilmente sobreviverão a sobrecarga sem explodir.

'Minha energia está se esvaindo aos poucos, então tenho que fugir desse domínio antes que ele acabe com meu Mugen e eu morra. Sem informações sobre o oponente, terei que deduzir sobre isso. Mas como? Só tenho agora a informação pessoal de que ele possivelmente é meu irmão, e não existe registro nenhum sobre a existência dele na minha família, pelo menos, não que eu saiba. Mas pensando bem, eu nem sabia que essa praga existia... Hum, não devo conseguir me comunicar com o exterior também, já que é como se eu estivesse em outro mundo, invisível, intocável e abstrato.'

'A vontade de simplesmente desistir, de morrer é grande... mas não posso, não vou desistir; e não é porque eu sou o mais forte. Acho que ainda vale a pena viver. Eu tenho amigos que se importam comigo e que gostam de mim. Graças ao Suguru, que eu considero verdadeiramente como um irmão, eu sei o que é a vida de verdade. A vida é uma dádiva e eu lutarei por essa graça com todas as forças.'

— Olha ele, todo heroico, todo protagonista. — Muryou zoava em voz alta na mente de Satoru.

— Cala a boca, capeta! — Satoru estava muito irritado com Muryo. — Se você é meu irmão ou não, eu não tô nem aí, só sei que eu vou sair daqui.

— Quando eu sair daqui, irei te absorver. Assim, terei o Rokugan e o Gomukan ao mesmo tempo. Espero que já tenha se despedido de seus queridos amiguinhos, Satoru. — Ele termina a frase rindo, uma risada que ecoava alto e terminava cada vez mais baixa na mente de Satoru, até desaparecer.

'O que que é Gomukan? Hã, ele mesmo deve ter criado um nome para a técnica inata dele. Mas não é hora de ficar pensando em como e porquê as coisas estão acontecendo desse jeito e nem no objetivo desse lunático, se não eu só vou ficar mais doido. Preciso pensar em algo para fugir daqui e sobreviver, focar na vida, ou a minha vontade de morrer irá me consumir junto das sombras da morte.'

Imagem: IA

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Chapter 16: 𝙾 𝙿𝚘𝚍𝚎𝚛 𝚍𝚊 𝙼𝚎𝚗𝚝𝚎

Notes:

Boa noite, pessoal! Esse capítulo aqui está recheado de coisas bizarras, então cuidado! Ahahahaha, nevermind... Tenho certeza que aqueles que estão interessados no Muryo Gojo irão curtir a vibe mais dark, filosófica e de certa forma... traumática. Boa leitura!

Chapter Text

Satoru e eu deveríamos estar mortos; ou melhor,  eu  deveria estar morto. Nascer com o Mukagen já é incomum, e o Rokugan é como se fosse uma escolha do destino. Por mais que eu não acredite com toda a certeza nisso, não posso deixar de admitir que faz sentido e pode ser verdade.

Nascer com ambas condições é raro, considerado um presente divino, uma bênção. Mas, na real, essas coisas não passam de uma maldição com os conceitos ilusórios e deturpados pelo povo do Clã Gojou, que dizem ser algo tão bom. Meu irmão sofre por causa disso até hoje e eu teria morrido se tivesse crescido no clã.

Tudo tem um lado bom e um lado ruim, mas quase sempre, a humanidade está sofrendo, praticando, falando e pensando ações ruins mesmo sem perceber, ou seja, o lado ruim se sobressai nas energias repugnantes desse conjunto de átomos que formam vida. Uma vida sem valor algum, se é que a palavra "valor" pode significar alguma coisa hoje em dia também.

Irmãos gêmeos idênticos também são raros entre feiticeiros, e por compartilharem a mesma energia amaldiçoada — algo que atrapalha totalmente o desenvolvimento de seus feitiços —, são desprezados pela maioria, especialmente por causa das tradições dos Três Grandes Clãs. Quando Satoru e eu nascemos, a euforia por uma das crianças ter os Seis Olhos foi enorme, porém, não nasci com tal poder.

Muito pelo contrário...

Eu sou cego.

~ 𝟽/𝟷𝟸/𝟷𝟿𝟾𝟿 ~

  Quando Kuroki deu à luz Satoru e Muryou Gojo com a ajuda do médico e especialista em feitiçaria antiga — Naru Okkotsu —, ela e seu marido, Makoto, estavam abismados por serem gêmeos diagnosticados com o Mukagen; até o momento em que Satoru abriu seus olhos, o que só aumentou o caos. Seus pais sabiam que, por terem feito essa criança nascer, seriam levados para posições privilegiadas no clã e ganhariam muito dinheiro com o garoto.

  Mas, havia um problema, seu irmãozinho, Muryou Gojo, tinha olhos vermelhos e não enxergava nada. Dizem que apenas um feiticeiro pode nascer com os Seis Olhos em centenas de anos, uma espécie de maldição do destino solitário, porém, por serem gêmeos monozigóticos, tanto Muryou quanto Satoru deveriam ter herdado tal condição.

  O Clã Gojou ainda não sabia que haviam nascido irmãos gêmeos e muito menos que um deles herdou o Rokugan. A família havia chamado o sr. Okkotsu para fazer o parto em casa, porque ambos eram pessoas muito reservadas e não queriam chamar muita atenção, como sempre acontece toda vez que uma criança nova nasce.

— O que vamos fazer com esse menino cego? — Perguntou Kuroki. — Não podemos ter um inútil atrapalhando Satoru, mesmo que ele tenha o Ilimitado.

— Calma, Kuroki. — Acalmou Makoto. — Sei que Satoru não será muito próximo a nós, pois você logo terá de entregá-lo aos superiores. Ele provavelmente terá uma vida complicada e a energia amaldiçoada compartilhada de Muryou pode atrapalhar, mas ambos ainda não passam de recém-nascidos. — Ele explica calmamente. — Podemos esperar que o clã desenvolva algum feitiço que passe o controle total da energia amaldiçoada de um corpo para outro.

— Impossível. — Falou Naru, observando os bebês dormindo no berço da casa da família. — Feiticeiros muito engenhosos tentaram fazer isso durante a Era Edo e acabaram criando uma maldição que controlava e absorvia as energias dos feiticeiros. Com isso, uma unidade inteira do Clã Zenin teve de exorcizar a criatura. Depois, nunca mais tentaram desenvolver algo similar. Mesmo que esses pequeninos Gojo não passem de recém-nascidos, é melhor cortar o mal pela raiz, antes que Muryo desenvolva alguma versão de técnica ramificada do Rokugan, feita para seu próprio corpo e que pode ser perigosa para Satoru, já que é a energia amaldiçoada dele que habita Muryo e vice-versa. Ele não pode arriscar ter concorrentes tão cedo ou ser fragilizado pela energia do irmão ser a dele mesmo.

— Mas, senhor... se ele desenvolver uma espécie de mutação dos Seis Olhos, não seria o ideal estudá-lo? Pode ser que—

— Tive uma ideia melhor. Venha comigo; e leve Muryou acobertado, bem escondido. — Naru abriu a porta da casa e saiu, esperando por Makoto lá fora.

— Hã? — Kuroki estranha Naru, ele parecia ter alguma intenção oculta por trás de suas conversas. — Toma cuidado, Makoto.

— Pode deixar, Kuroki. — Makoto estava relutante, pensando que Naru talvez quisesse levá-lo para sacrificar Muryou em algum lugar e forjar um pacto para fortalecer as habilidades de Satoru em troca. — E por favor, tente cuidar bem do Satoru enquanto ele ainda tem tempo para ser uma criança livre.

— Tá... certo. — Ela responde revirando os olhos. Para ela, tanto faz cuidar bem da criança ou não, desde que consiga um maior status no clã, roupas chiques e dinheiro, é só isso o que importa.

  Makoto não gostava desse tipo de comportamento. Algumas tradições das Três Grandes Famílias não faziam o mínimo sentido para ele, muito menos a forma como Kuroki pensava sobre seus filhos quando se tratava de técnicas ou condições hereditárias.

  Ela levava muito mais a sério o dinheiro e status que ganharia com isso em vez do cuidado e do amor. Isso ia contra o que Makoto pensava sobre família, ou seja, ele pensava contra o clã quase inteiro. Sua vontade de abandonar tudo e viver livre, como aquele Zen'in que nascera sem energia amaldiçoada, só crescia.

'Queria conseguir levar o Satoru daqui. Criar ele e Muryou como crianças normais em alguma vila humilde no interior. Provavelmente, Muryou morrerá hoje e Satoru terá uma vida extremamente sofrida. Não sei se consigo, mas preciso pelo menos tentar pensar em algo para salvá-los.'

  Então, Makoto seguiu Naru para fora do QG. O silêncio tomava conta do ambiente noturno e frio que se intensificava com os ventos. 'O que eu tô fazendo da minha vida?' Ele se pergunta mentalmente, enquanto anda atrás do sr. Okkotsu. 'Pobre Muryo, não queria sair com ele aqui nesse frio.'

'Não tenho nenhuma técnica ou poder, então não posso fazer nada a não ser tentar fugir com os meninos, preciso aproveitar qualquer chance que der.' Após andar alguns minutos, ambos chegam à beira de um rio com altitude de queda elevada. 'Não, nem pensar...' Se alguém caísse aí dentro, dificilmente conseguiria nadar para fora, parecia tudo muito alto e escorregadio.

— Faremos um ritual para o espírito ancestral do Clã Gojo, Sugawara Michizane, tomar a vida desta criança defeituosa do destino e devolver seu poder ao Satoru, o verdadeiro escolhido e honrado entre os céus e a terra. — Naru explica, virando-se para o pai Gojou aflito. — Este rio foi onde nosso ancestral morreu e se tornou um espírito rancoroso. Mesmo sendo um tipo de maldição, ele ainda tem consciência humana e ajuda o seu clã diversas vezes em troca de sacrifícios. Porém, ainda que a família Okkotsu seja descendente dele, ele só aceitará sacrifícios vindos de um Gojo, já que seu pacto é com o Clã Gojou.

'Que absurdo! Eu não posso fazer uma atrocidade diabólica dessas. Pacto com uma maldição?!' Makoto estava incrédulo com a tranquilidade com que Naru explicava aquilo. Somente ele via isso como algo incabível? Ele que era o "maluco" por defender a família, as vidas das pessoas e não seguir regras tão rígidas e sem sentido?

— Ah! — Antes que Makoto pudesse dizer alguma coisa, Naru rapidamente o empurrou para o rio congelante. Para ele, acabar com o pai e o filho que causariam problemas para Satoru e o clã ao mesmo tempo, era como pegar dois coelhos numa cajadada só.

— Você acreditou mesmo naquela bobagem de ritual? — Naru pergunta, no momento em que Makoto cai na água, tentando manter Muryou acima de sua cabeça. — Esse espírito rancoroso ancestral realmente existe, está selado em algum lugar invisível além desse rio. Mas ele não tem consciência humana e nem ajuda nenhum clã.

'Acreditando nisso ou não, preciso sobreviver e levar o Muryou embora daqui!' Apesar de tentar pensar racionalmente, a mente de Makoto estava uma bagunça e ele não sabia como se movimentar bem naquele rio corrente gelado. 'Pelo menos ele!'

  As águas o balançavam violentamente para todos os lados. Era impossível nadar com apenas um braço — já que ele estava segurando Muryou no outro —, sem ser puxado pelas águas, afundando o corpo nas geleiras. Agir rápido poderia ser fatal, bem como não agir, e pensar demais iria matá-lo, então, ele apenas seguiu seus instintos.

'Que pai idiota eu fui...' Eles já estavam longe de onde Naru havia empurrado-os e Makoto não conseguia mais nadar. O frio e o cansaço se apoderaram dele e, congelando, mesmo tentando ignorar a dor, ele foi perdendo a consciência.

'Muryou, tenha um destino tranquilo aonde quer que sua alma seja levada, e Satoru, espero que você consiga se libertar das correntes horríveis que o prenderão durante sua vida. Eu amo vocês, meus filhos.' Como último impulso de vida, Makoto se agarra às beiradas do rio, colocando com cuidado o pequeno Muryo em meio à mata ciliar.

  Quando ele sobe o menino para cima, tentando o tirar do alcance do perigo, ele escorrega com Muryou nos braços e cai de costas na água fria novamente, perdendo a consciência e suas últimas forças. Makoto e seu filho logo morreriam afogados, estando inconscientes e com hipotermia.

— Plano muito bem-sucedido. — Disse Naru para si mesmo, enquanto observava de longe toda a situação. — Agora é só inventar uma boa mentira para a senhorita Kuroki e entregar Satoru para os superiores. Com a energia do irmão correndo em seu sangue, ele será sozinho o mais forte, e vou treiná-lo para isso. Irei criar um deus entre o Clã Gojo e ganhar minha recompensa! — Ele segue retornando para o QG.

  Tudo teria terminado assim, se uma outra pessoa não estivesse também observando a situação ao longe. Uma mulher alta com constituição atlética, pele e olhos claros, cabelos longos e escuros e sobrancelhas grossas, que eram ligeiramente arredondadas nas laterais internas. Suas roupas eram curtas, leves e elegantes, de cores cinza com manchas verde-claro. Ela se chamava Yorozu Fujiwara.

'É a minha oportunidade.' Yorozu vai correndo até o rio, e fazendo um selo de feitiço com suas mãos em forma de círculo, ela manipula sua própria energia amaldiçoada para a direção focada rapidamente, transformando-a em metal líquido e logo em seguida, materializando-o em uma mão de metal amaldiçoado gigante.

  Ela traz os corpos quase congelados de Makoto e seu recém-nascido até ela e põe suas mãos no rosto de Muryo. No mesmo momento, ele voltou a respirar e começou a chorar silenciosamente, tremendo de frio.

— Acalme-se, vou cuidar bem de você, querido. — Ela disse, virando-se para o corpo de Makoto. — Afinal, estou mesmo precisando de um novo corpo, já estou neste há anos e essas técnicas e familiares não me interessam. — E assim, a mulher que antes era Yorozu Fujiwara, tornou-se Makoto Gojo, e seu antigo corpo e técnicas transformaram-se em energia, uma energia que fora absorvida pelo novo Makoto. 'Ainda tenho as técnicas da Yorozu comigo. Vai facilitar meu plano.'

...

— Pode entrar! — Quando Naru entrou na casa da sra. Kuroki, ele levou um grande susto: Makoto estava lá, conversando com sua esposa. 'Como ele sobreviveu? Até onde eu saiba, esse cara não tem nenhuma técnica amaldiçoada.'

— Senhor Okkotsu! — Makoto exclama, correndo em sua direção. — Obrigado por nos salvar daquela maldição, você estava certo. Agora, Satoru será forte e não teremos problemas.

'Hein!?' Naru não estava entendendo nada. Suas fantasias de Muryou se tornar uma maldição ou ter nascido com uma mutação amaldiçoada incontrolável eram verdades? E como Makoto sobreviveu? Parecia que seus planos estavam sendo usados contra ele próprio, isso não tinha como existir.

'Preciso usar minha técnica e vasculhar as memórias dele, só assim vou entender o que realmente aconteceu.' Naru olha por um segundo profundamente nos olhos de Makoto e a informação das cenas se passa em sua cabeça. Ele arregala os olhos, vendo que, na verdade, Muryou era realmente um perigo não só para Satoru, mas para qualquer um. Ele havia tentado controlar o Mugen antes de aprender o que isso ao menos era.

'Quando Makoto caiu no rio, ele tentou proteger Muryou, mas Muryou tinha algum poder inconsciente sobre seu pai, que o fazia afundar e ter mais dificuldades em nadar. Acredito que ele estava controlando o Mugen instintivamente para se proteger, com isso, mexeu com muitos átomos ao redor.'

'Assim que ele começou a perder a consciência, a energia amaldiçoada de Muryou começou a inconscientemente alterar o pH da água, deixando tudo ácido. Isso causou dor em Makoto, ele pôde acordar e sair da água congelante se agarrando aos canteiros do rio e usou uma espécie de poção de energia reversa para parar qualquer sinal de hipotermia.'

'Ao olhar para trás, uma maldição em forma de nuvem vermelha subiu da água para os céus, como se tivesse morrido e sua alma fosse levada. Makoto se sentiu aliviado. Que cenário estranho.'

— Eh... de nada?

— Eu entendo o porquê você quis me matar, mas relaxa, já me livrei do Muryo e não vou causar problemas. — Makoto diz com uma expressão calma.

— Entendi... — Naru ainda estava tentando processar as informações, mas ele achava que faria sentido Makoto agir assim, sem perceber que o Okkotsu tinha segundas intenções por trás de seus atos. Em sua visão, ele era muito confuso e um pacifista bobo para entender situações com mais de uma face. — Que bom que você está vivo e entendeu, então... — Naru ainda estava entendendo, mas não parecia que Makoto queria ir contra o clã. 'Ah, dane-se, Satoru vai ficar longe dele a vida toda mesmo. Ficar tentando entender o que já aconteceu não vai dar em nada. E Makoto não pode fazer nada. Por que me preocupar?'

— Então, já decidiram o que vão fazer com o Satoru? — Perguntou Kuroki, olhando para Satoru, que dormia profundamente em seu berço.

— Vamos levar você e ele aos superiores do clã. — Naru responde, em tom explicativo. — Vocês ficarão numa casa de luxo feita especificamente para casos como o dele e quando ele deixar de tomar leite materno, se interessando mais por comidas mastigáveis, você deixará de acompanhá-lo para começarmos o treinamento especial.

— Ah, já vão agora? — Makoto pergunta com um tom de voz preocupado.

— É melhor para o clã que eles saibam sobre Satoru e protejam ele a todo custo do mundo exterior. Makoto, treine bem e se prepare, porque é bem provável que assassinos de feiticeiros e mestres de maldições ataquem o QG para matar o "pequeno príncipe" quando ficarem sabendo disso.

— Certo. — Ele responde, enquanto Naru olha para ele com um certo desconforto.

 

— Vamos Kuroki? — 'Vou precisar usar um feitiço para apagar as memórias deles sobre o nome "Muryou". Se bem que superiores dificilmente acreditariam em uma mutação de técnica, fora que eles também teriam matado Muryo pelas regras. Ainda assim, é bom que ele e seu nome não sejam lembrados, como se ele nunca tivesse existido.'

...

  Algum tempo se passou e Makoto estava sozinho em casa escrevendo em um caderno.

— Não acredito que aquele doutor acreditou na minha lábia. — Ele estava com uma expressão pensativa. 'Através do contato que a família Okkotsu teve com os Fujiwara, quando usei o corpo da Yorozu, fiquei sabendo que a técnica de Naru Okkotsu era a de ler memórias de pessoas que entrem em contato visual profundo com ele, além da habilidade de apagar alguma informação específica da memória de alguém, uma habilidade que funciona apenas uma vez por pessoa.'

'Com isso, usei a técnica da Manipulação de Memórias, para alterar as lembranças de Makoto para um cenário que eu mesmo criei. Ao mesmo tempo que ocultei todas as memórias dos meus corpos passados.'

'Assim, Okkotsu tinha evidências de que o que aconteceu era verdade, sendo que, na verdade, Muryou não passa de um bebê inocente. E eu cheguei aqui mais rápido do que ele usando a técnica da Yorozu.' Ele tira do bolso um objeto amaldiçoado vermelho em forma de cilindro e fica olhando. 'Vou embora do QG e criar você na minha casa, lá é muito mais seguro.'

'Sei que ganharei privilégios aqui e poderei participar de muitas coisas interessantes, então estarei voltando pra cá às vezes. É uma boa ideia.' Ele coloca o objeto que continha Muryou de volta no bolso e sai da casa. 'Okkotsu já entrou na minha mente uma vez e não deletou nenhuma memória minha, o que significa que ele já não representa mais perigo. E se ele tivesse deletado, ele teria deletado a memória errada, já que eu manipulei meus próprios pensamentos... certo. É essencial estar mais de um passo à frente do inimigo.'

— Senhor Makoto! Meus parabéns pelo seu filho, ele vai se tornar um deus quando crescer! — Disse uma senhora que passava ali por perto. — Ah, e você quer algumas panquecas doces bem quentinhas?

— Oh, eu adoraria, senhora. Muito obrigado.

𝟽 𝚊𝚗𝚘𝚜 𝚍𝚎𝚙𝚘𝚒𝚜...

— Pai, você sempre me fala sobre meu irmão e sobre eu nem precisar treinar para derrotar ele ou coisa do tipo... mas... por que enfrentar ele? Ele tem minha mesma idade, né? Tenho vontade de conhecer ele.

— Muryo, Muryo, em breve você vai entender o potencial que existe em você. — Makoto explica, fazendo carinho nos cabelos de seu filho. — E você vai entender o motivo de todas as coisas do mundo, você é inteligente, assim como eu. — Ele termina a frase com um riso.

— Mas eu nem sei como é o mundo de verdade, de forma concreta. — Ele diz, curioso. — Você fala que ninguém vê o mundo pela mente como eu vejo, mas às vezes, isso faz minha cabeça doer, porque eu sempre vejo átomos, células e energia antes das formas das pessoas superficialmente se formarem na minha cabeça, com apenas um toque ou cheiro!

— Minha nossa! Que vocabulário vasto para uma criança pequena. — Makoto o elogia. — Você consegue ler meus pensamentos, Muryou?

— Não, só consigo ler o dos outros que minha energia chega perto mesmo.

— Que interessante.

— Eu queria conseguir enxergar, ver com os olhos normalmente.

— Eu entendo. Mas você pode enxergar melhor uma pessoa do que alguém que tem uma visão boa. — 'Não é à toa que ele é o único que pode ver minha cicatriz.' — Sabe por que, filho?

— Por quê?

— Nem todas as maneiras de enxergar são com os olhos.

...

Eu e meu pai sempre tivemos conversas profundas sobre o mundo. Sei que a humanidade é nojenta e só se perde cada vez mais. Satoru não enxerga os outros da mesma forma que eu enxergo, e é por isso que ele sofre. Se importa demais com coisas que não precisamos. Emoções e sentimentos não são tudo isso. Energia negativa cria maldições. Maldições matam e são mortas. E o ciclo só continua. Os feiticeiros nunca irão descansar.

Se formos pensar numa solução, ou todo mundo vira feiticeiro, ou todos os não-feiticeiros morrem; são opções muito extremas. Por isso, eu acredito que nasci assim por um propósito... Satoru é alguém repetente para a sociedade Jujutsu, uma ferramenta para continuar refazendo o ciclo infinito das lutas contra maldições que nunca acabam! Eu sou uma anomalia até mesmo ao lado do meu irmão. Ninguém nunca nasceu com uma técnica como a minha antes, e extra: ninguém me entende! Eu só sofro nesse mundo. Ninguém quer conversar comigo, além do meu pai, que vive ocupado com suas coisas. Mas eu entendo, minhas opiniões são mórbidas e parece que eu não ligo pra ninguém. Talvez seja verdade, talvez eu não entenda o que é essa tal "empatia" de fato.

Mas eu não ligo pra isso. Sou assim, e não vou rejeitar meu ser diferente igual o Satoru vive fazendo. Ele só faz isso porque ainda não entendeu seu propósito no mundo, não entendeu que ele e seus amigos são apenas ferramentas nas mãos do mundo Jujutsu. Às vezes, eu realmente acho que toda essa história no mundo de propósito e valor, é tudo mentira. Que as vidas dos seres humanos são só coincidência. Absolutamente tudo é capaz de moldar nossos cérebros imbecis. Mas, enfim... Eu vou mudar isso, por um mundo mais racional.

Se minha vida vai ser só isso e eu nunca vou conseguir ser alguém que vive uma vida normal... Se essa maldição de ser diferente e de estar ligado ao meu irmão feiticeiro sempre me perseguir pelo resto da vida, então resolvi seguir o que eu acredito ser o meu propósito: acabar com o mundo Jujutsu e trazer um mundo onde todas as pessoas vão poder viver sem se preocupar com espíritos amaldiçoados. Infelizmente, eu e meu irmão vamos continuar sendo os mesmos, mas é o preço a se pagar pela liberdade da humanidade.

Mesmo que ele seja a única pessoa que eu acho interessante nesse mundo, além do meu pai, eu não posso deixar que o sentimentalismo fale mais alto do que a racionalidade. Meu objetivo é outro.

Preciso ceifar a Vida de Satoru e assim, apagarei o reflexo imperfeito de mim mesmo.

O mundo perfeito me aguarda.

O mundo perfeito me aguarda

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Chapter 17: 𝙿𝚎𝚛𝚍𝚒𝚍𝚘

Notes:

Mano do céu, o que essa história tá virando? Nem eu sei. Perguntem para a minha dona consciência mental e suas filosofias malucas! Mas fala sério, isso aqui tá muito épico, né?
Boa leitura!

Chapter Text

— Como você conseguiu essa cicatriz? — Apesar de não conseguir enxergar com os olhos, o pequeno Muryou, de nove anos de idade, mantinha seu rosto levantado, como se estivesse realmente olhando para a testa de Makoto.

— Quando chegar o momento, você saberá. — Ele responde, se levantando de onde estava sentado no jardim em frente à casa deles. — E seu irmão também.

  Era um dia ensolarado na casa deles e Makoto parecia inquieto andando pela casa, procurando por algum papel ou livro em específico. Muryou pensou que sua pergunta lembrara seu pai sobre alguma coisa relacionada.

'O que ele tanto planeja que tem a ver comigo e com o meu irmão? E se eu não quiser participar disso e traçar meu próprio caminho, o que ele diria?' Muryo não era alguém que gostava muito de fazer tudo o que falariam para ele fazer, principalmente contra sua vontade; parecia uma forma de manipular sua liberdade.

— Pai. — Ele chama. — O que você está procurando?

— Um livro que eu havia levado do Clã Gojo. — Makoto responde, olhando de canto para o menino e seus olhos vermelhos curiosos. — Preciso parar de procrastinar meu plano. Mas acho que eu devolvi para a biblioteca deles.

— Quando você vai me contar o que é o seu plano, afinal? — Muryou pergunta direto, sentando no chão próximo a ele. 'Quando ele achar que eu vou entender. Ou seja, daqui alguns anos.'

— Em breve. Você ainda é muito jovem, filho. — Ele diz calmamente. — Não que isso lhe impeça de descobrir as coisas e que seja proibido uma criança saber. Você é um pequeno gênio, mais esperto que grande parte dos adultos. Mas quero que você aproveite sua infância o quanto puder e seja feliz. Não se envolva tão cedo nesse mundo sujo com problemas de gente velha, igual o seu irmão.

'Sabia que ele falaria algo assim.' Pensou Muryou, sem surpresas. 'Eu nem preciso conseguir ler os pensamentos dele com a minha técnica para entender o que ele vai falar para mim posteriormente.'

— Obrigado, pai... Mas, sendo sincero, eu não ligo para as outras pessoas. É muito difícil eu sentir alguma conexão com as outras crianças, até porque eu sempre tenho que agir de forma normal, coisa que eu não me vejo sendo. E elas são só um monte de átomos falantes que não sabem pensar de forma lógica, apenas pensam em brincadeiras e emoções. Nunca senti ninguém igual a mim. Como eu acabo com esse sentimento solitário?

— Você tem pensamentos tão interessantes que eu fico impressionado. — Makoto ri com admiração. — Acho que um dia você vai encontrar alguém, algum amigo que te entenda, mas isso parece ser apenas um detalhe, não é? Você parece mais interessado em outras coisas. — Ele para por alguns segundos, após falar com um leve tom de empolgação. — Entretanto, você acha que seu irmão te entenderia se vocês se encontrassem e se conhecessem?

— Hm... — Muryou começa a pensar. — Não sei como meu irmão age e pensa, então não dá pra mim ter uma base. — Ele coloca o dedo indicador perto do queixo. — Mas, se ele já percebeu o que o mundo é para ele, então talvez ele pense algumas coisas parecidas comigo. Além disso, os poderes dele são um complemento dos meus! Teríamos tanto assunto para conversar e testes para fazer juntos.

— Interessante... — Makoto para, olhando para o teto por alguns segundos inconscientemente. 'Quando ele descobrir que pode acessar todos os pensamentos, memórias e sentimentos de Satoru Gojo apenas controlando uma parte de sua energia amaldiçoada... coisas muito interessantes irão acontecer. Talvez seja bom adiar meu plano, não tenho tanta pressa.'

𝚅𝚘𝚕𝚝𝚊𝚗𝚍𝚘 𝚊𝚘 𝚙𝚛𝚎𝚜𝚎𝚗𝚝𝚎...

— Sukuna. — Suguru o chama, enquanto eles começavam a se arrumar para ir até onde Satoru está. 'Sei que ele está muito longe, mas voando nós chegamos rapidinho.' — Você consegue usar sua forma máxima novamente? Não estou conseguindo chamar Morsfang por algum motivo.

— Posso tentar. — Ryomen responde ao tomar uma poção de energia amaldiçoada que Shoko deu a ele. — Uou! Me sinto revigorado.

— Hã, não imaginei que isso funcionaria em você nesta forma. — Ieiri analisa. — Mas pensando bem, faz sentido. Essa poção é puramente feita da energia amaldiçoada e as suas transformações também!

— E como é o gosto disso? — Suguru pergunta curiosamente.

— Tem gosto de café preto com açúcar. — Ryomen responde sinceramente.

— Sério?! — 'E eu aqui me matando comendo essas esferas de maldição com gosto de vômito.'

— Isso porque eu modifiquei no laboratório. — Shoko explica. — Já provei o gosto bruto da energia amaldiçoada e é horroroso. Quero nem imaginar o gosto de uma maldição inteira. Me pergunto como você aguenta viver comendo maldições, Geto.

— Calma lá. — Ryomen arregalou os olhos para Suguru. — Você... come maldições?

— Cê não sabia, homi? — Shoko olha para ele com uma expressão cômica.

— É que eu vim da roça e...

— É assim que eu controlo minhas maldições. Minha técnica é um inferno para quem a usa. — Suguru pausa, enquanto Sukuna processa as informações. — Vamos indo, te conto mais detalhes no caminho.

...


'Pra onde esse maluco foi? Será que ele já conseguiu escapar da minha expansão de domínio? Mas caramba, como se escapa de um lugar feito somente com energia amaldiçoada e que é infinito?' Satoru estava andando em círculos no Muryo Kusho de seu irmão.

  Ele não sabia como sair de lá e Muryou desapareceu de sua mente. Por um lado, isso era um alívio, já que o Gojo de olhos vermelhos era como um demônio para seu semelhante. Porém, ouvindo ele falar, Satoru poderia ter descoberto pelas entrelinhas alguma forma de sair do domínio dele.

'Tudo o que fiz, até agora não deu em nada. Já até tentei expandir meu domínio aqui pra dentro, mas não consigo, já que Muryou está preso no meu. Seria arriscado também. Creio que as minhas melhores alternativas são duas em específico.'

'A primeira opção é gastar toda a minha energia amaldiçoada, assim, a energia de Muryou virá repor a minha, anulando seu Mugen e controle pelo meu domínio. Ele será paralisado pelas informações infinitas em meu domínio, recuperarei o controle e sairei daqui expandindo-o contra o dele ou absorvendo-o. Essa opção tem grande chance de dar certo, mas grande chance de dar errado caso eu não controle a energia restante para meus olhos. E considerando as habilidades de manipulação da minha própria energia amaldiçoada que o Muryo tem... posso morrer facilmente assim.'

'A segunda opção envolve ir até aquelas esferas vermelhas gigantes e tentar achar uma saída por lá ou quebrar elas. Já que esse domínio é infinito e teoricamente impossível de se escapar, ele deve ter pontos fracos bem específicos, mas simples. É por ali que Muryou provavelmente controla tudo, então se eu destruir, talvez ele perca o controle e o domínio volte para sua mente.'

'Bom, a segunda opção não envolve riscos de morte, então tentarei primeiramente ela, e depois vou tentar a primeira. Se não funcionar, ou eu penso em outra coisa ou... eu morro.'

'O que pode ser até... bom?'

  Ele para por alguns segundos e se senta na água, olhando para o chão espelhado do ambiente com uma expressão melancólica.

'Bom? Mas calma. Por que eu quero viver? Ou morrer? Não, na verdade, eu quero viver mesmo? Mas... por que pensar tanto? Por que eu simplesmente não começo a tentar voltar a viver? Bom, será mesmo que a vida tem tanto valor? Ah, Muryou e suas filosofias acabaram comigo. Ele sabe exatamente meus pontos fracos.'

Um dos motivos do porquê você está pensando assim é que você acha que não tem chances de vencer Muryou. Seu pensamento de querer ser sempre o mais forte, aquele que sempre resolve tudo sozinho te domina, mesmo que você não queira. Mesmo que tente pensar que seus amigos também podem te ajudar, você escolhe não ser ajudado, isso tudo inconscientemente. Para você, se você não pode vencer Muryo, ninguém mais pode.

  Satoru paralisa.

  O forte pensamento racional ressoa profundamente em seu ser, fazendo-o refletir melhor sobre si, agora que se vê mais liberto das correntes do feitiço de seu irmão.

'Faz sentido...? Minha personalidade é uma bagunça. Outro motivo é que Muryou me fez praticamente desistir da vida. Se eu não me importasse tanto com aqueles três, eu provavelmente já teria cometido suicídio. Mesmo que eu esteja sob o controle desse moleque há tão pouco tempo, ele me causa uma dor psicológica tão grande que eu não acho que sentiria muita dor se me matassem. Essa dor perfura minhas antigas cicatrizes, o meu eu vulnerável que nem eu entendo direito.'

"O mistério da existência humana não é apenas manter-se vivo, mas encontrar algo pelo qual viver."

'Onde foi que eu ouvi essa frase? Parece-me ter saído de algum livro de filosofia que o Suguru gostava de ler. Talvez algum daquele tal Dostoiévski. Independente de onde veio... faz sentido... mas, será que eu posso pelo menos me considerar um ser humano...?'

"Seus sentimentos, ideias e emoções mostram que você é tão humano quanto eu."

'Suguru...'

  Ele reflete por mais um pouco de tempo e se levanta da água.

'É claro que eu sou humano, só que experiencio o mundo de uma forma bem diferente dos outros. O problema é que essa minha diferença é tão gritante que pode me separar eternamente daqueles que eu tanto me importo. Não sei se vou querer continuar vivo depois, mas eu preciso pelo menos tentar derrotar Muryo, pelo bem deles.'

Você consegue, Satoru. Não é sua culpa que você nasceu desse jeito e foi criado para ser dessa maneira. Seus amigos te aceitam exatamente como você é e você não precisa mudar nada em você. Seja você mesmo. Acredite que a vida não é apenas isso, ela é uma dádiva, lembra? Existem momentos muito ruins, mas aproveite os bons. Faça da dor a sua força. Você sobreviveu tudo aquilo quando ainda era uma criança, você é não apenas um feiticeiro Jujutsu, mas um guerreiro da vida.


'Cara, minha mente é muito esquisita. Às vezes ela quebra em pedaços, e outras, ela do nada começa um discurso de protagonista de anime. Mermão, eu não garanto nada, mas vou tentar dar meu máximo para sair daqui e ajudar quem precisa de mim. Se já estou quebrado mesmo, então como irão continuar me quebrando? Não tem como matar algo que já está morto. Mas eu ainda quero viver! Vou viver, vou vencer a Morte e trazer a Vida de volta ao jogo.'

  E com uma forte confiança quebrada, reencontrando seus cacos no chão e colando-os todos de volta em seu coração, Satoru foi correndo até as grandes esferas vermelhas que ficavam ao longe, naquele domínio que tudo parecia estar perto e ao mesmo tempo longe, um real paradoxo infinito.

'Depois quero entender como foi que meu irmão viveu todos esses anos... e o que se passa na cabeça dele, porque esse domínio aqui é assustadoramente opressor.' Depois de alguns minutos andando, correndo e enfim chegando após usar o teletransporte, Satoru estava em cima da esfera maior, e não havia literalmente nada ali.

  Ela emitia uma energia de cor vermelho-escuro que se movia com giros, formando um traço espiralado ilimitado nas mesmas posições. O feiticeiro usou toda a sua força em um soco, quebrando a esfera em mil pedaços, mas o domínio ao redor ainda permanecia intacto.

— Droga! — Caindo da esfera que acabara de quebrar, Satoru sentiu a energia vermelha atingir seu Mugen... e ela conseguia adentrá-lo.

  O Gojou arregalou os olhos, assustado com algo tão anormal acontecendo, e tentou expulsar a energia para fora. Ela puxava seu corpo inteiro para baixo, atravessando um abismo sem fim que ia além das águas supérfluas espelhadas. Ele tinha certeza que era questão de tempo para o mesmo morrer por alguma questão desconhecida.

'Nunca vi uma energia capaz de ultrapassar meu Infinito. Muryou tem muitas cartas na manga, e eu, em contrapartida, não tenho nenhuma.' Ele olha confuso para os lados, enquanto cai infinitamente em uma velocidade supersônica. Não conseguia usar o teletransporte com as energias vermelhas atrapalhando seu controle sobre a energia amaldiçoada, e lá naquele lugar, não havia átomos, a não ser os dele próprio.

— É, essa era a alternativa mais segura pra meter o pé daqui e mesmo assim, tô sentindo que vou morrer. Pelo menos, eu tentei... — Ele fala para si mesmo, fechando os olhos enquanto adentra o vazio sem fim.

  Mas antes de ceder completamente, um pensamento final cruzou sua mente. 'Ainda pode haver uma chance.'

  Como um último ato desesperado, Satoru reuniu toda a sua energia amaldiçoada restante e, com tudo o que lhe restava, forçou seus olhos a se abrirem novamente, brilhando intensamente. Ele luta contra a energia que está sugando seus poderes e tenta controlá-la, mas parecia que ela já estava sob o controle de outra pessoa involuntariamente. 'Maldito Muryou! Como que eu escapo disso?'

'Espera!'

  Ele tem uma ideia.

  Satoru concentra toda a sua energia para tentar usar uma das outras únicas habilidades que ele nunca conseguiu fazer antes: Vazio Roxo.

  Sua face encheu-se de empolgação temporária quando ele pôde testemunhar aquela luminosa massa gigantesca e destrutiva sendo construída pelas suas próprias mãos. Naquele poder, ele depositou tudo o que ainda lhe restava, mental e fisicamente.

  Sentindo tanto poder exterior começando a adentrar seu Mugen no momento em que ele estava prestes a soltar o Vazio Roxo, com a ajuda das energias vermelhas, que agora, começaram a se desestabilizar, Satoru perdeu a consciência...

Sem poder.

Sem energia.

Sem esperança.

Sem fé.

Sem vida...

Até que tudo simplesmente explodiu.

Edição de imagem/arte: SIO_89 (Pinterest)

Edição de imagem/arte: SIO_89 (Pinterest)

...

— Tsk, eu sabia que sair do domínio do Satoru seria mamão com açúcar. Agora eu quero ver, ou melhor, quero sentir, ele fugir do meu. — Muryou reapareceu em sua casa, e conseguia sentir vários resquícios de energia amaldiçoada diferentes pelo local. O que indicava que os feiticeiros conseguiram o encontrar e provavelmente buscaram reforços. Ele deveria dar um jeito de fugir dali imediatamente.

— AH, na verdade, acho que não preciso fugir mais! — Ele diz confiante, quando começa a sentir uma massa absurda de energia amaldiçoada exterior preenchendo seu corpo rapidamente, como uma devolução.

  De repente, ele abre seus olhos, que agora, em vez de vermelhos, eram roxos.

  E ele consegue enxergar literalmente tudo.

  Uma mistura de sua técnica hereditária mutante, Gomukan, com a origem da mutação, Rokugan, e o Mukagen; todas as condições amaldiçoadas do Clã Gojo fundidas em um só indivíduo.

  Esse ser... acabara de roubar o título dos feiticeiros mais fortes do mundo.

  Agora, ele era o único "Mais Forte".

— HAHAHAHAHA!!!

'Ahh, irmãozinho... agora está tudo corrigido, farei bom uso de seu poder. Esse mundo finalmente terá o que realmente merece, agora que eu tenho o poder supremo!'

  Neste exato momento, Muryo sentia-se num estado transcendental. Experimentava ondas poderosíssimas de uma energia amaldiçoada com potencial infinito ardendo por seu corpo. Via cores e partículas inomináveis flutuando pela sua visão através dos olhos. Agora, ele não mais precisava processar o mundo pela sua mente; ele conseguia enxergar, e enxergar tudo o que existe, de tal forma que sua humanidade já parecia estar longe da própria existência.

  Era assim que Satoru processava sua solidão? Seu ser intocável? Muryou começou a questionar se realmente entendia a mente dele ou se ele apenas deduzia suas ações racionais e irracionais através das escolhas do passado e temperamento personalístico do seu irmão. Talvez, seja isso o que significa sentir empatia. Os irmãos não pareciam ter sentimentos tão diferentes um do outro, pensando desta forma. Ainda assim, isso não mais importa para o Gojo manipulador; agora, neste momento, ele só quer botar a próxima fase de seu grandioso plano em prática.

'A Vida, a luta dos feiticeiros, só trouxe Morte até agora, só continua em seu ciclo. A Morte sozinha, será que traria Vida? Em parte, mas o ciclo ainda continua... No fim, a Vida só traria o cheio, e a Morte o vazio. Por isso, precisamos de ambos conceitos, de ambos os poderes. E é por isso que roubei a Vida de Satoru.'

'Com o equilíbrio do universo em minhas mãos, meu plano funcionará e finalmente poderei despertar a lendária técnica abençoada "Ryoikozo", trazendo tudo à Jinsekai.'

'O mundo perfeito me aguarda.'

 

Chapter 18: 𝚅𝚊𝚣𝚒𝚘-𝙲𝚑𝚎𝚒𝚘, 𝙲𝚑𝚎𝚒𝚘-𝚅𝚊𝚣𝚒𝚘

Chapter Text


‘Hã… O que é isso?!’ 
Satoru acorda desnorteado. Seus olhos não ardiam, ele não sentia dor, nem queimaduras, nem cortes ou qualquer ferida física após aquela explosão. O sol estava forte e ele não conseguia olhar para ele sem se incomodar com a luz, que antes costumava ser tão insignificante para seus olhos.

‘Por que não estou enxergando “nada”? E onde é que eu tô?’ Ele se pergunta desesperado, levantando-se rapidamente, enquanto observa seus arredores…

  Areia.

  Cores quentes.

  Calor, sol escaldante.

  Montes de areia.

  Montanhas ao longe… de areia.

  Era tudo o que Satoru conseguia enxergar.

‘Mas que droga é essa? Eu até que gostava do calor, mas… não tão quente assim! Será que estou dentro de algum daqueles universos alternativos de Muryou?’ Ele pausa e começa a racionalizar a situação, começando a andar em círculos repentinamente.

‘Hummm… Se for isso mesmo… se isso for real, então essa expansão de domínio do Muryo não é um real “vazio infinito” como a minha, mas sim um vazio cheio de mundos infinitos.’ Pensou, notando a enorme dualidade que seus poderes demonstravam. ‘Extremamente contraditório, hein? Eu gosto disso. Pena que está literalmente me matando.’

  Satoru para de andar em círculos e olha para todos os lados daquele local. Não havia uma exata “saída” daquele mundo, era tudo feito de areia e mais areia, calor e mais calor. Os lugares que pudessem ter algo a mais eram montanhas tão longe que sua visão não conseguia diferenciar se aquilo era real ou uma ilusão. ‘Ou será que tudo isso aqui já não é uma baita de uma ilusão?’

  O feiticeiro simplesmente anda em linha reta, tentando não pensar muito em seu irmão e nas coisas que fizera, por mais que fosse impossível. Ele tenta se teletransportar para os céus e flutuar para tentar encontrar alguma saída daquele lugar, mas descobre da pior maneira possível que seus poderes não funcionam naquela realidade. É como se ele não tivesse mais energia amaldiçoada, apenas a habilidade de ver ou se conectar com ela, já que ele estava, possivelmente, em um mundo dentro do domínio de Muryo, feito de energia amaldiçoada.

‘Não consigo usar nenhum feitiço. Como vou sair daqui? Não quero morrer de sede nesse deserto infinito.’ Ele pensa, enquanto continua caminhando. Sua garganta seca gritava por ajuda. ‘Será que esse mundo é “completo”? O negativo não pode existir sem o positivo. Tenho certeza de que, se esse mundo é tão mortal assim, ele deve ter um lado bom, uma parte que seja minimamente positiva, ou positiva no mesmo nível que o negativo é.’

— Devo encontrar água aqui logo, em algum momento. — Ele diz confiante e com a voz rouca para si mesmo, caminhando com dificuldade pelo deserto abrasador. Seus pés queimavam, uma dor nunca antes sentida por Satoru.

‘Sem poderes… sentindo dores comuns a qualquer um, tendo preocupações como qualquer um. Muryou, irmão, o que é que você está querendo que eu sinta ou veja? Enxergo dezenas de possibilidades em minha mente, mas por que nenhuma delas parece estar correta?’

— Bom… — Ele suspira. — A humanidade requer um preço alto a se pagar.



— Geto, o que é aquilo? — Chegando perto do local, Ryomen e Suguru veem uma massa de energia roxa enorme em alta velocidade se aproximando em direção aos dois.

  Ryomen voa para cima e lança uma camada de luz cortante na massa, mas ela suga toda a luz como se fosse um buraco negro em movimento, que continua devorando todas as árvores da floresta ou qualquer ser que estivesse em sua frente. Até que ela encosta numa montanha e explode em energia amaldiçoada.

— Isso foi um… Vazio Roxo? — Questionou Suguru, com uma expressão levemente surpresa. Ele se lembrava bem das conversas sobre técnicas que tinha com Satoru. ‘Ele não sabia fazer o Vazio Roxo e nem expandir o Muryou Kuusho, mesmo que ele seja considerado o maior prodígio do Jujutsu moderno. E ele se incomodava bastante com isso, já que parecia haver algum motivo desconhecido específico para ele não conseguir.’

— Nunca vi o Gojo usando essa técnica. — Ryomen observa.

— É porque esse cara não é o Gojo que a gente conhece. — Suguru aponta para o ser que apareceu flutuando acima deles.

— Satoru ficaria feliz em ver como seus amigos se importam com ele. — Diz Muryou com uma expressão neutra. — Se o mesmo ainda estivesse entre nós. — Ele sorri de forma maliciosa e esplendorosa. Seus cabelos brancos balançavam com o vento enquanto seus olhos púrpura encaravam os feiticeiros e uma aura opressiva emanava deles.

  O primeiro instinto de Sukuna ao ouvir aquilo foi atacá-lo com uma poderosa mordida, ao mesmo tempo que Geto pulou de cima do dragão e tentou prender Muryo com uma maldição polvo, que tinha vários tentáculos espinhosos.

  Muryou desvia da mordida facilmente, exorcizando a maldição com apenas uma piscada de seus olhos, em seguida, arremessando Suguru com tudo para o chão, que tem sua queda amortecida por uma maldição elástica em forma de tapete voador.

  Sua velocidade era apenas uma mera brincadeira.

  Mizuchi vem com garras e dentes para cima de Muryo, mas o Gojou segura a mandíbula do dragão como se não fosse nada, socando seu focinho e esquivando-se das Miehaina lançadas pelas suas garras.

  Sua força não era como nada neste mundo.

  Ryomen estava atordoado quando o mestre de maldições o encarou com seus olhos misteriosos, jogando o garoto Youkai em uma árvore, que cai em sua cauda, o prendendo.

  Suguru vai voando até Muryo, invocando várias maldições do tipo atiradora, que atiram todas juntas, bombas, venenos, espinhos, lasers e outros elementos perigosos em Muryou. Entretanto, nenhum ataque era capaz de chegar até sua pele.

  Seu Mugen não era mais a separação entre dois mundos, mas sim de dois universos.

  E em ambos, Muryou era um deus.

‘Mugen maldito!’ Suguru chama mais maldições de grau elevado, mas nenhuma conseguia atingir aquele homem monstruoso. ‘É como se eu estivesse enfrentando o Satoru, mas muito mais forte, com uma aura divina e capaz de controlar o espaço físico e metafísico ao mesmo tempo!’

  Muryou encara profundamente os olhos de Suguru e o feiticeiro desmaia em apenas um segundo de contato visual. Ryomen observava tudo, após se soltar, chegando em uma conclusão: ‘Ele deve entrar em contato com nossos cérebros a partir do contato de energia amaldiçoada com os cinco sentidos humanos. Então, como ele já me tocou, provavelmente já está lendo meus pensamentos e, se duvidar, até…’


‘Até mesmo seus movimentos futuros.’ Muryo responde Ryomen por telepatia, flutuando acima dele. ‘Pode esquecer, dragãozinho. Você é forte, mas não é um deus, mesmo tendo os poderes dos Youkais.’

  Ryomen joga uma poderosa onda de luz em Muryou, que consegue adentrar seu Mugen e quase acertar seu peitoral em cheio, caso seus olhos não percebessem antes.

  Aproveitando-se da surpresa de Muryo, Mizuchi passa voando por ele rapidamente, com lâminas invisíveis feitas de luz rodeando seu corpo. Mas Muryou se recupera antes e acerta Ryomen com o feitiço Vermelho, posteriormente apagando-o mentalmente.

‘Você foi inteligente. Sua luz feita de fótons cortantes não tem massa e consegue ultrapassar o Mugen, mais ou menos como um raio de sol. Isso é poderoso, mas não funciona em mim dessa maneira, Ryomen Sukuna.’ Ele se vira para o outro lado.

‘Preciso expandir meu domínio e enviar o mundo todo para “Jinsekai”. Então esse mundo finalmente mudará para sempre…’

— Ei, Gojo do mau! — Muryou já sabia que os outros feiticeiros haviam chegado, seus sentidos humanos e mágicos estavam tão aprimorados que era tudo facilmente previsível. E quem falara isso foi Haibara, e ao seu lado, tinham vários feiticeiros Jujutsu encarando Muryo, prontos para atacar.

‘Que tédio, mais insetos entrando no meu caminho.’



‘Que canseira.’ Satoru se joga no chão, fadigado. Seu rosto, sua pele branca queimando. Ainda que ele estivesse com Mugen, isso não o impediria de ser afetado pelo sol, mesmo que a energia amaldiçoada deixasse sua pele mais forte. ‘Pelo menos, não tô vendo milhares de partículas na minha cara.’ Ele se levanta novamente, exausto.

‘Preciso continuar. Não posso desistir. Não posso deixar Muryou vencer.’ Ele prossegue, seguindo sua intuição. ‘Parece que estou andando há horas e nada muda.’

‘Me pergunto se a noção de tempo aqui seja diferente do tempo na Terra física…’

Imagem: Pinterest (autor/fonte desconhecido(a))

 

Chapter 19: 𝙼𝚎𝚕𝚑𝚘𝚛𝚎𝚜 𝙰𝚖𝚒𝚐𝚘𝚜

Chapter Text

  Sol...

  Calor...

  Sede...

  Era verão.

  Um verão bem quente.

  Raios solares atingiam o rosto de Satoru, que havia recém fugido de casa. Apesar de não gostar muito do calor, poder senti-lo naturalmente era sinônimo de liberdade — o que ele mais almejava.

  O garoto andava destemido pelos bosques de um parque ecológico, um pouco afastado de seu QG. Ele desconfia que Ramirya pode estar o observando, mas isso não seria um problema para ele, já que sua tia normalmente se juntaria ao mesmo, defendendo-o de qualquer tipo de ameaça que possa surgir.

  Ele, porém, infelizmente, não poderia desativar seu Mugen por tanto tempo, já que, a qualquer momento, algum inimigo poderia tentar algo ruim contra sua vida. No entanto, Satoru não tinha medo algum das outras pessoas; ele queria conhecer o mundo e aprender sobre a sociedade geral e as culturas que existem por fora do mundo Jujutsu.

'Será que picolé é bom? Nunca cheguei a provar um. Me falavam para nunca comer nada vindo do exterior porque poderia estar envenenado, sendo que eu já disse mil vezes para eles que meus olhos conseguem enxergar as partículas responsáveis pela formação de qualquer tipo de veneno na comida. Fora o extra de poder ver objetos amaldiçoados com facilidade.'

  Satoru raramente experimentava novos alimentos. Normalmente, apenas quando saía com sua tia, Ramirya. 'Humm... acho que vou procurar alguma coisa geladinha pra tomar.'

...

'Que calor dos infernos.' Passeando sozinho novamente por aí, Suguru reclamava do calor.

  Ele usava tênis vermelhos, uma mochila de mesma cor, shorts vermelho-escuros e um haori cor de vinho com leves detalhes pretos em forma de chamas nas pontas. Seus cabelos estavam presos em um coque. Era um estilo com vestimentas relativamente simples, porém acessíveis e confortáveis para o menino.

  Suguru tinha uma pequena maldição em seu ombro que tomava a forma de uma nuvem com mãos e um rosto infantil. Ela tinha a habilidade de controlar a temperatura de seu corpo, podendo passar esse efeito para qualquer ser que a mesma tocasse.

— Que bom que tenho você, Swirlix. — Suguru diz para a pequena criatura, fazendo um cafuné na "cabeça" da nuvenzinha. — Esse calor só acaba comigo. Não sei como que o Sr. Wakari gosta.

  Enquanto falava com Swirlix, por um rápido momento, Suguru tem um reflexo corporal imediato, pulando para trás em uma cambalhota assim que uma faixa quase invisível de energia azul tenta puxar sua maldição.

'Mas o quê?' Ao olhar para frente, ele vê um jovem com provavelmente sete ou oito anos de idade. Ele tinha uma expressão neutra no rosto e suas mãos estavam posicionadas de uma maneira como se estivesse controlando algo no ar e seus olhos de cor azul brilhante pareciam forçadamente semicerrados.

  O menino tinha cabelos brancos levemente bagunçados, sobrancelhas e cílios igualmente brancos. Sua pele era clara, muito clara. Suas roupas consistiam de: sandálias zori de cor azul escuro com listras azul claro, um kimono yukata azul claro com pequenas listras diagonais brancas e um obi cinza-esbranquiçado com detalhes triangulares brancos.

— Você é feiticeiro? — O garoto pergunta, se aproximando com cuidado e com as mãos agora abaixadas.

— Um quê? — Suguru questiona confusamente. — E por que diabos tentou pegar minha "nuvem fantasma"? Como consegue ver ela?

  Suguru se afastou, mantendo Swirlix atrás dele. A maldição demonstrava pequenas gotas de água feitas de energia amaldiçoada em seu rosto, o que indicava preocupação ou medo. Suguru colocou uma de suas mãos por trás de seu corpo, fazendo com que sua "nuvem-viva" encontrasse conforto em sua mão.

'Esse moleque... O tipo de energia que ele usou é igual a dos fantasmas. É... igual a que eu sinto em mim!'

— Pera lá... — O menino começa a rir.

'Por que ele tá rindo? Que esquisito.'

— O nome dessa maldição não é "nuvem fantasma". — Ele explica, com uma expressão curiosa e cômica ao mesmo tempo. — Acho que já entendi...

— "Maldição"? Quem é você, afinal? — Suguru pergunta mantendo distância. Ainda se sentia levemente ameaçado.

— Vou te explicar tudo o que precisar saber. — Ele diz com uma expressão calma. — Ah, e meu nome é... Satoru Gojo.

...

— Então... vocês são tipo os "Caça-Fantasmas", né? — Ambos estavam conversando sentados em um banco de madeira, no parque.

  Após uma longa sessão de explicações, perguntas e respostas vindas de Satoru, Suguru já se sentia muito bem informado sobre tudo.

  Ele estava contente por saber sobre tudo isso. Desde o início, Suguru sempre se sentiu sozinho e isolado do mundo por não encontrar uma alma que pudesse o compreender, por acharem que o mesmo era apenas uma criança com muita imaginação fértil, fantasioso, exagerado, mentiroso, estranho ou até mesmo "doido".

  Suguru imaginava que existia alguma investigação, algum estudo, alguém que se dedicou a pesquisar sobre isso. Ele tinha esperanças de que algum dia encontraria alguém que entendesse isso, que tivesse mais informações.

  No entanto, ele não imaginava que todo esse fenômeno já acontecia desde milhares de anos e já era estudado e dominado por uma organização inteira de pessoas apenas com tais características: os feiticeiros Jujutsu.

  Satoru riu.

— O que são os "Caça-Fantasmas"?

— Ah, é uma série de televisão. Nunca assistiu? — Suguru pergunta, inclinando sua cabeça.

— Não. Nunca me deixaram assistir televisão lá em casa. — Satoru explica, observando as árvores ao lado.

— Entendi...

'Pelo que eu entendi, ele tem acesso a muitas coisas de luxo, no entanto, não lhe permitem desfrutar muito de itens que possam educá-lo sobre o "exterior" de onde ele vive. E deve ser por isso que ele não assiste televisão.'

— Qual é o nome da minha técnica? — Suguru pergunta, tentando mudar de assunto.

— Manipulação de Maldição. — Satoru responde com um leve sorriso. — Ela te permite absorver espíritos e assumir e controle de suas vontades até mesmo sem nenhum treinamento.

'É uma técnica raríssima...' Observou Satoru, em pensamento.

— Interessante. — Suguru se levanta e começa a ajustar sua mochila. — Ei, Gojo, preciso ir para casa, antes que fique muito tarde. Mas... é um prazer conhecer você e acredito que vamos aprender muita coisa juntos.

  Ao escutar aquelas palavras, Satoru sentiu uma mistura de alegria com melancolia. Ao mesmo tempo que ele acabara de encontrar alguém legal com quem poderia fazer amizade, ele ainda se sentia preso em sua casa.

'Espero que eu te veja novamente...'

— Tudo bem... Tchau, Geto!

— Tchau.

  Não muito tempo depois, Satoru também voltou para casa.

𝙰𝚕𝚐𝚞𝚖𝚊𝚜 𝚜𝚎𝚖𝚊𝚗𝚊𝚜 𝚍𝚎𝚙𝚘𝚒𝚜...

— Oi, Suguru. — Satoru estava sentado em um banquinho esperando por ele no parque.

— Olá. — Suguru se senta ao lado dele. — Tudo bem?

— Uhum. — Ele afirma, sem muita animação na voz.

'Por que será que ele quase sempre está assim antes de começarmos a conversar?'

— Hm... Eu estava indo pra escola. E cara, aquilo é como uma prisão pra mim. — Suguru desabafa.

'Prisão...'

— Te entendo... — Satoru olhava silenciosamente para o céu. Seu olhar azulado estava escuro, refletia melancolia.

— Hm. — Suguru se vira para o lado e começa a mexer em sua mochila, tirando duas embalagens coloridas de dentro e entregando uma delas a Satoru.

— O que é isso? — Satoru força a visão, para tentar ver o que há por trás da embalagem.

— Você está dando spoilers a si mesmo. — Suguru ri, achando curioso os comportamentos diferentes de Satoru. — Abre e vê.

'Sério que ele nunca viu um picolé antes?'

   Satoru abre a embalagem, se atrapalhando um pouco. Ele vê um picolé do mesmo azul de seus olhos, exalando um cheiro agradável de tutti-frutti. Ele imediatamente começa a degustar-se dele.

'Espero que ele goste.' Enquanto isso, Suguru também tomava seu picolé, um picolé de chocolate com brigadeiro por cima.

— Suguru, essa é a melhor coisa que eu já provei na minha vida! — Satoru diz com um tom extremamente animado. — Que perfeição de picolé!

  Suguru sorri levemente vendo tamanha empolgação de seu novo amigo com algo tão simples.

— Você gostou mesmo. 'É... o ambiente que ele vive deve ser muito tóxico...'

— Adorei! — Ele sorri alegremente.

  Suguru olha para o lado. No meio do matagal, ele observa dois gatos: um gato preto e um gato branco, correndo um atrás do outro enquanto perseguiam uma borboleta de asas roxas com pintinhas vermelhas.

  O gato preto tropeça num galho e fica para trás, no momento que o gato branco dá vários saltos quase certeiros na borboleta, cujo escape quase se realiza se não fosse pelo gato preto, que do meio das moitas, salta e agarra a borboleta, surpreendendo o gato branco, que mia para o preto, em seguida, trocando afagos um com o outro.

— Suguru. — Satoru o chama, tocando seu ombro; ação que dá um leve susto no de cabelos pretos. Sua mente viajava em dezenas de pensamentos observando a natureza.

— Hm? — Ele olha para Gojo, tentando manter-se "pé no chão". O menino já havia devorado por inteiro o picolé de tutti-frutti.

— Estou vendo uma maldição de terceiro grau chegando no meio do parque. — Satoru olha para o meio do mato, com os olhos brilhando.

— Quer ir lá? — Suguru termina seu picolé, jogando o palito no lixo ao lado do banco. — Acho que conseguiríamos lidar com uma dessas.

— Bora. — Satoru se levanta, preparando-se. — Os espíritos daqui são bem mais fracos do que aqueles que se formam na cidade grande, já que as emoções negativas são bem mais concentradas no meio urbano.

— Bom saber disso. — A dupla segue caminhando para onde Satoru viu a energia da criatura.

'O Satoru tem muito conhecimento... Isso é muito bom.'

— Qual tipo de maldição é essa?

— É um "Garra-Trauma". Maldição em forma de aranha que se gruda em vítimas quando estão em esportes, movimentação intensa ou em brinquedos radicais, como a roda gigante. Ela causa sensações ruins, como: enjoo, medo, memórias traumáticas e ansiedade na vítima, fazendo com que ela solte mais energia negativa, assim alimentando cada vez mais o poder do monstro.

— Então, é bem provável que essa maldição já evoluiu bastante visitando esse lugar... — Suguru começa a pensar. — Vou tentar capturar ela. Uma aranha amaldiçoada vai ser interessante para a minha "coleção de Pokémons".

  Eles chegam no local, mas continuam escondidos por trás do matagal, e veem a aranha grudada no ombro de uma criança, que chorava e chorava para ir embora do parque. Os pais tentavam acalmar a menina, que não sabia que seu medo estava sendo causado por uma criatura invisível.

— Putz... como vamos fazer isso? — Suguru começa a pensar em uma solução para o problema. 'A Swirlix poderia chamar atenção da aranha e atrair para mim ou...'

— Vou mexer no espaço e separar ela da criança. — Disse Satoru com uma de suas mãos levemente aberta e olhos brilhando.

  Com pouco esforço, ele desgruda a maldição das costas da garota e a aranha imediatamente vai saltando até Gojo e Geto, que correm para uma parte com menos obstáculos por trás dos arbustos.

— Aqui ninguém vai ver a gente interagindo com ela.

'O que foi aquilo que o Satoru fez? Controlou o espaço, partículas ou a energia amaldiçoada do ar? Ou da gravidade? Ou é literalmente todas as coisas que tô pensando que é?'

— Agora, Geto! — Satoru desvia do pulo da aranha e Suguru joga uma maldição em forma de peixe-espada na criatura, acertando-a em cheio e atravessando-a.

— Very nice. — Ele comemora, chamando seu peixe de volta.

— Muito bom! — Satoru sorri, se divertindo.

  Suguru se aproxima da aranha quase morta, colocando a mão perto dela e transformando-a em energia, uma energia que vai rodando e girando de forma espiralada até se tornar uma esfera negra com brilhos amarelo-escuros.

  Ele coloca a esfera dentro de sua boca e a engole.

  Contudo, de repente...

'Q-Que gosto é esse...?!'

  Suguru quase cai para trás. Ele se sente mal, muito mal. Aquilo tinha um gosto horrível, que o lembrava das vezes que vomitou, quando doente.

— Tá... tá tudo bem, Suguru? — Satoru nota a palidez repentina no rosto de seu amigo e sua expressão aterrorizada e se preocupa.

— Sim... Mas o sabor dessa coisa foi um terror. Eu nunca tinha sentido um gosto tão ruim antes. — Ele explica com uma expressão desconfortável.

— Hum... Provavelmente suas maldições anteriores não haviam feito mal a muitos seres vivos ou tinham pouca energia amaldiçoada, eram mais fracas. Quanto mais cheia de negatividade e poder um desses seres tiver, o gosto deve piorar.

— Faz sentido! Argh... que nojo! — Suguru olha horrorizado para o chão.

— Vamos tentar tomar alguma coisa doce! — Satoru sugere, pegando na mão de Suguru e levando-o para o meio das barraquinhas de comida do parque.

  No caminho, ambos veem a criança que ajudaram brincando no pula-pula. Ela parecia animada.

  Suguru sorriu.

  Aquilo parecia a coisa certa a se fazer, mesmo sofrendo com o gosto da amargura daquela maldição.

— Vem, Suguru! Vamos comer aqueles dangos de chocolate que estão vendendo na barraquinha! — Satoru puxou a mão do amigo, devolvendo-o de volta à realidade.

'Fiz o pequeno príncipe ficar viciado em doces, agora? Eu mereço...'

...

'Por que comecei a me lembrar de tudo isso agora?' Satoru se levanta, saindo de sua barraca no meio do deserto a noite para tomar água no lago que encontrara outro dia.

  Sua cabeça doía, seus pés doíam, seus olhos ardiam, as vozes contraditórias em sua mente não se calavam e ele estava morrendo de frio. 'Talvez eu devesse tentar fazer combinações de roupas melhores para o frio.'

  Ele já havia até aprendido a fazer alguns tipos de costuras com fibras e cortes de seu próprio uniforme, formando novas roupas; elas não eram da melhor qualidade, nem as mais resistentes, no entanto. Mas a sobrevivência com elas se tornava mais fácil.

  Neste momento, ele usava um conjunto de roupas semelhante a roupas desérticas. Um corta-vento mais ou menos rasgado, coberto por um manto de tecido fino, levemente mal costurado nas bordas, uma imitação simples de shemagh no pescoço e a calça de seu próprio uniforme, costurada em uma mistura com fibras do deserto.

'Eu estava certo de que encontraria fonte de vida aqui, mas... comer esses frutos duros não é nada divertido.' Ele pensa, se referindo às frutas que achou para se alimentar, um dia depois que encontrou água — isso se, cada dia naquele mundo eram mesmo 24 horas na Terra.

  Satoru chega até o lago e começa a encher sua pequena garrafa — que o mesmo também criara — de água, enquanto sua mente se enchia de perguntas sem respostas.

'Há quantos dias já estou aqui? Será que alguém me ouve? Alguém sabe da minha existência? Como sairei daqui? Meus amigos precisam de mim. Será que, se eu me matar, eu volto para a realidade? E se tudo isso for um sonho ou uma ilusão e apenas a morte for capaz de me fazer acordar?'

  O feiticeiro não sabia há quantos dias já estava preso naquele mundo, nem tampouco como era a relação de tempo nele, mas ele sentia como se estivesse ali há semanas, sozinho. Nesse meio tempo, conseguiu água, comida, roupas, objetos e dorme em um conjunto de folhas e galhos organizados em um padrão específico como abrigo.

  Era tudo muito simples, quebrado e defeituoso, mas dava para se acostumar e usar isso tudo, pelo menos por um tempo. 'Pelo menos, até eu ficar maluco e começar a ter crises existenciais e a vontade de encerrar minha vida crescer.'

  Conversar com as plantas para se distrair parecia "coisa de doido", mas não tendo nenhuma outra companhia viva naquele ambiente deixava as coisas atormentadoras para ele.

  Satoru sentia muito a falta de alguém para conversar.

  Aquilo era um inferno isolado.

  E ele já estava praticamente no limite.

— Suguru, Ryomen, Ieiri, Ramirya... Me perdoem... — Ele diz, deitando novamente em sua "cama", deprimido, em prantos, sozinho.

'Espero que vocês consigam derrotar Muryo, pois já mesmo eu... não tenho tanta esperança.'

Arte: reynisxxsimart (X/Twitter)

Arte: reynisxxsimart (X/Twitter)

 

Chapter 20: 𝙿𝚛𝚘𝚖𝚎𝚜𝚜𝚊 𝙰𝚖𝚊𝚕𝚍𝚒𝚌̧𝚘𝚊𝚍𝚊

Chapter Text


— Satoru. — Suguru chama seu amigo. — Como é a sua vida lá na sua casa? Eh... se não se importa em responder...

  Ambos estavam no clássico banco de madeira do parque ecológico onde se conheceram pela primeira vez. Eles sempre conseguiam aproveitar muito dos bons momentos um com o outro. Esse lugar, com o tempo, tornou-se muito especial para eles.

  Principalmente para Satoru. Toda e qualquer novidade que pudesse provar, comida, conversas, assuntos diferentes, conhecimento mundano, era tudo uma grande aventura para ele, uma nova história com experiências que valiam a pena conferir, uma a uma.

  Ele queria poder lembrar-se disso quando crescesse mais. Queria ter memórias boas na infância, apesar de não ter sido para isso que foi treinado. Ele vivia entre dois mundos: ser o "príncipe", herdeiro do Clã Gojo ou ser a criança que vivia presa dentro de sua mente.

'Faz tempo que estou curioso. Eu não acho que todos os feiticeiros e sociedades Jujutsu sejam iguais em cultura, costumes ou estilo de vida, mas ele claramente parece ter vindo de um lugar rígido.'

— Hum... — Satoru demora um pouco para responder, como se estivesse refletindo bastante sobre como dar a resposta de forma cuidadosa.

  Suguru percebe isso.

— Entediante. — Sem mais detalhes, ele responde após pensar por alguns segundos.

— Hm... Entendo. — 'Ele não deve ter liberdade para conhecer culturas humanas comuns, ou pelo menos, é o que tudo indica.'

— Suguru. — Ele o chama. — Você pode me prometer uma coisa?

— Hm? — Geto inclina a cabeça para Gojo, curioso.

— Enquanto estivermos vivos, não vamos deixar o outro "partir". — Ele diz "partir" fazendo sinal de aspas com os dedos.

'Partir... Não literalmente e literalmente, eu suponho. Espera, que... mórbido. — Suguru entende rápido o que Satoru quis dizer. 'Te entendo. Entendo tanto que me sinto até melancólico.'

— Prometo. — Ele responde com uma voz firme e confiante. Sua postura revelava seriedade e compreensão.

  Satoru olhou para ele com brilho nos olhos e uma sensação de intensa profundidade emocional invadiu Suguru. Aquela sensação, era uma conexão, uma conexão poderosa... Parecia até que a parte mais forte da aura de energia amaldiçoada de ambos estava em intenso movimento.

  Aquela situação em breve se tornaria um símbolo da amizade entre os dois, que ficaram inseparáveis até um certo acontecimento...

...

— Seu professor miserável! — Um mês após começar o grande castigo de Satoru após a importante prova dada por Naru-sensei, Satoru ainda não conseguia sair de casa.

  Neste momento, Naru havia acabado de sair do quarto de seu aluno, ensinando-o algumas coisas. Como Satoru tem ficado revoltado, Naru chamava feiticeiros com técnicas relacionadas a controle emocional e hipnose, para mantê-lo sob controle, assim não apresentando mais perigo.

'Esses feitiços me deixam maluco! Pouco depois que vão embora, eu começo a sentir uma tristeza irracional profunda misturada a dores de cabeça intensas. Agora, estou sentindo mesmo é ódio; tenho vontade de estourar os miolos desse monstro de dentro pra fora, mas se eu fizer isso, vou ter consequências...'


  Ele se joga em sua cama, mais uma vez, com lágrimas nos olhos. 'Preciso ter paciência. Ah, Suguru... espero que você saiba que estou vivo. E será que a tia vai conseguir vir aqui me visitar? Sinto tanto a falta dela.'

...

  Satoru estava tendo muitos sonhos e flashbacks relacionados a seu passado, como se o universo estivesse tentando dizer algo a ele. Mas ele não acredita tanto nisso.

'Hum... Nossa promessa... Aquilo foi amaldiçoado. O que senti naquele dia e vi, era uma energia amaldiçoada única e muito forte. Algo metafísico. Talvez seja por isso que minha alma e a dele parecem conectadas.'

'No final de tudo, era isso o que Muryo estava querendo dizer: se não tivéssemos nos conhecido coincidentemente aquele dia ou... se não tivéssemos feito aquela promessa, muitas coisas mudariam; seria diferente.'

'Tendo contato com minha mente, ele leu meu passado e futuro, ou parte do futuro, mas agora, sem contato, ele nem deve imaginar que ainda estou vivo. Imagino que se acontecer alguma coisa com o Suguru na Terra, algo vai acontecer por aqui.'

  Satoru se levanta de onde estava, se espreguiçando.

'Se a gente estiver mesmo conectados.'

...

  Suguru escutava muitos sons: vento, respiração, ruídos de terror e seus próprios pensamentos aceleradamente confusos. Até que ele abre seus olhos e descobre o que está acontecendo.

  Ryomen estava voando com uma transformação chamada "Suzaku", que fazia o mesmo criar asas, penas, bico e todo o resto de como se forma o corpo de uma ave — um lendário pássaro de fogo, semelhante a uma fênix.

— Fiquei com medo que você acordasse logo me dando um tapa por instinto. — Ele diz soltando uma gargalhada enquanto ajeitava Suguru em suas garras.

  Logo em seguida, ele joga Suguru para cima e desacelera o voo, fazendo com que o feiticeiro ficasse montado em cima dele.

— Estava um pouco desnorteado ainda... Ainda estou processando o que está acontecendo.

— O Gojo tem razão. Você acorda parecendo um zumbi! — Ryomen faz uma manobra pelas nuvens, voando cada vez mais rápido.

  As correntes de vento geladas batiam com força no rosto de Suguru, e ele acordou de vez.

— Mas isso aqui acontecer em momentos de emergência não é normal, não. Esse controle que o Muryo tem sobre o que sentimos em toda a parte do cérebro, emoções e sensações... isso é diabólico.

— Tenho que concordar! — Suzaku dá outro rasante em altas velocidades. — Muryou sumiu com todos os feiticeiros. — Sua voz fica séria. — Estamos indo para a Escola Jujutsu agora ver o que aconteceu. Sinto algo sinistro vindo de lá.

— Droga. — Diz Suguru, tentando manter a calma. — Você acha que ele fez o que para "sumir" com os outros assim?

'Ainda estou preocupado com toda a situação envolvendo Satoru. Se o que o Muryo falou não for um blefe...'

— Se ele e o Gojo estavam lutando num domínio fantasma mesmo, é possível que eles ainda estejam todos vivos dentro da mente dele. — Seu tom de fala indica dúvida, possibilidade. — Mas isso não é uma certeza, Geto. Não duvido muito do Gojo realmente ter morrido.

  Suguru estava olhando para ele com uma expressão indiferente, mas que demonstrava um pingo de tristeza oculta. Apesar de estarem tentando camuflar suas inseguranças e preocupações para não atrapalhar em sua missão, ambos estavam nervosos e sem muitos planos para lidar com a situação.

— Precisamos de um plano. Mas antes, precisamos entender o Muryo.

— Talvez ele queira prender todas as pessoas ou todos os feiticeiros em uma espécie de domínio? Só que ele não conseguiria fazer isso fora do Japão, por conta das barreiras de Mestre Tengen...

— Tengen! — Suguru exclama. — É isso!

— Hã?

  Uma simples peça do quebra-cabeça inteiro parecia entregar a resposta completa a Suguru. Ele não tinha certeza do plano exato de Muryou, mas sua intuição palpitava em sua mente que as coisas estavam conectadas, tinham uma a ver com a outra, de alguma forma, por mais que parecesse inexplicável.

— Ele quer desativar as barreiras de Mestre Tengen, e deve ter um plano para isso. Muryo é esse tipo de pessoa, o tipo que cria planos antes da execução, e reservas dos mesmos, caso dê errado.

  Ryomen sorri, mesmo na transformação de Suzaku, e Suguru acha engraçado.

— Câmaras do Corredor da Estrela, aqui vamos nós! — Ele dá um rasante veloz para baixo. — Vamos com tudo!

...

'Mais um dia se passa comigo aqui, e estou ficando sem esperanças. Fiz novas roupas para mim e acho que sobreviver aqui não é tão difícil assim... Porém, viver sozinho é muito triste. Não tenho notícias de nada, nem ninguém, nem mesmo de Muryo.'

  Satoru andava pelo deserto com uma expressão cansada. Ele apresentava olheiras e machucados pelo corpo, algo que nunca ficava por muito tempo na Terra, já que ele sempre usava energia reversa para se curar.

'Está ficando difícil comer aqui. Na verdade, sempre foi... insuportável. Mas melhor comer essas coisas do que morrer de fome, eu acho.' Ele olha para o pedaço de fruta dura em suas mãos, com um olhar vazio. 'Quantos dias eu aguentaria comer nada? Estou achando que se eu comer isso de novo, vou vomitar.'

  De repente, Satoru escuta um som estrondoso, que lembrava um rugido, um rugido conhecido, familiar, misturado a muitos sons de vento.

— Morsfang?! — Surpreso, ele corre em direção aos sons, e ali estava, a maldição favorita de Suguru, a mais forte e mais conectada emocionalmente a ele. Aquela que ambos encontraram e capturaram no dia de sua promessa...

'A promessa amaldiçoada!'

— Estou tão feliz em te ver, amigão! — Ao chegar no dragão, que repousava no chão, esperando pelo Gojo, ele o abraça. A criatura afaga seu focinho no rosto de Satoru, mostrando os dentes de forma não ameaçadora.

— Como você conseguiu me encontrar aqui? Como entrou aqui? E onde está o seu mestre?

  O dragão rosnou baixinho e moveu-se para trás, fazendo movimentos repetitivos com a cabeça. 'Ele está querendo me dizer alguma coisa.' Ele dá uma cabeçada em Satoru, levantando-o para que montasse nele.

— Ei, vai com calma! Onde é que cê tá me levando? — Ele começou a voar e voar para bem longe de onde o Gojo estava. — Adeus, minha casinha de pobre; adeus, frutos duros horrorosos!!!

...

'Agora que estou livre daqueles vermes, nada me impede de realizar meu plano.' Muryou flutuava acima da entrada para onde fica Tengen-sama, preparado para qualquer coisa.

  Mas antes que pudesse respirar fundo uma só vez, ele sente um objeto afiado transpassando seu Mugen, e ele rapidamente teletransporta para o chão, avistando o agressor.

— Logo você, Fushiguro? — O Gojou sorri maleficamente, encarando o assassino.

— Além de não me pagar, está querendo sumir com o mundo todo? Se isso não afetasse minha vida, te deixava quieto, mas não posso deixar você fazer isso. — Seu semblante era sério e ameaçador.

'Como ele ficou sabendo disso? Não posso subestimá-lo. Meu feitiço principal é praticamente inútil contra ele. Mas um mero humano sem energia amaldiçoada não pode vencer aquele que foi agraciado com meu propósito.'


— Hm... — Muryo abaixa a cabeça com os olhos fechados, ainda sorrindo. — Então, vamos. Surpreenda-me!

Arte: @lailu0125 (Twitter/X)

Arte: @lailu0125 (Twitter/X)

Chapter 21: 𝙷𝚞𝚖𝚊𝚗𝚒𝚍𝚊𝚍𝚎

Chapter Text


Sempre prezei pela liberdade. Odiava o Clã Zen'in pela rigidez excessiva, tantas regras desnecessárias. São um bando de idiotas desesperados por controle, exagerando tradições e alienando seu povo.

Eu não queria servir a esses velhos nojentos. Não queria ser feiticeiro. Minha vida tinha de ser livre. Eu quem deveria escolher meu próprio caminho.

Mesmo assim, mesmo nascendo sem um pingo de energia amaldiçoada, eles não me deixaram em paz. Me tratavam como lixo, pior que um animal de rua que fora abandonado.

Agora, essa maldição voltou para mim. Muryou pode vencer qualquer ser vivo facilmente, em segundos, quando sua energia amaldiçoada entra em contato com a do oponente.

No entanto, é exatamente por isso que sou o único capaz de acabar com ele. Sou um "mero humano", a maior fraqueza de um deus.

...

  Muryou aponta o dedo indicador de sua mão direita para Toji, carregando e soltando seu feitiço Vermelho sete vezes mais rápido do que seu irmão faria.


  Toji já imaginava que ele tentaria vencê-lo à distância. Batalhas corpo a corpo são arriscadas para os oponentes do Fushiguro e Muryo sabe muito bem disso. A barreira do Infinito era uma proteção "de enfeite" contra aquele assassino e suas engenhocas geniais.


  Toji se esquiva do Vermelho e se vira para trás, prevendo o teletransporte de Muryo, que controla os átomos ao redor do Fushiguro, com esperança de explodir suas células ou conseguir algum controle com seu corpo sem usar energia amaldiçoada diretamente.


  Balançando a Lâmina do Vazio por toda a parte, Toji consegue refletir o controle do espaço para o outro lado, surpreendendo Muryou. Aquela arma era lendária. Ela não somente refletia ataques, mais quaisquer anormalidades que entrassem em contato com sua matéria, usando energia amaldiçoada ou não. Toji só tinha de saber exatamente como e quando usá-la.

— Você é só um peão se achando o rei. — Toji diz com uma expressão indiferente.


— E você é aquela torre que fica desesperada para proteger o rei quando perde todos os seus aliados.

  Muryou abre sua mão em direção ao Fushiguro, controlando cada partícula e ligação atômica referente ao vento com perfeição, e o movimento, imediatamente, é visto na realidade como uma enorme onda de vento cortante, disparada em menos de um segundo.

  Toji consegue esquivar-se do ataque. Movia-se em uma velocidade absurda que apenas os irmãos Gojo conseguiriam acompanhá-lo naquele momento.

  Ele se aproxima de Muryo e desfere um golpe nele com sua Lâmina do Vazio, que atinge seu Mugen ao mesmo tempo que o Gojou desvia, tentando acertar o assassino com um punho recheado de energia amaldiçoada, que é completamente sugada para o espada do inimigo.

  Muryo começa a controlar o Mugen para flutuar diagonalmente sob Toji, virando-se para o lado em que ele já havia deduzido que estaria e acertando-o com o feitiço Vermelho em dois nanosegundos.

  Toji é jogado para longe com o impacto da energia e levanta velozmente, assim que Muryou cai violentamente para cima dele, visando acertar um soco que manipulava o feitiço Azul consigo. Ele usa a Lâmina do Vazio para se defender do golpe, e a ferramenta amaldiçoada reflete o Azul de volta no agressor, porém, a energia não o acerta devido ao Mugen.

  Muryo estava admirado com as habilidades que aquela lâmina proporciona ao usuário. Ele não imaginava que aquilo poderia entrar em contato com o Mugen sem afetá-la e muito menos que pudesse absorver parte desse poder para seu próprio núcleo.

  Se aproveitando das distrações do Gojo, Toji avança novamente. Ele sabia que seu adversário teletransportaria, ele só precisava adivinhar para qual lado seria. Mas antes de qualquer pensamento racional, ele instintivamente reage por reflexo a um ataque vindo da esquerda.

  Fingindo que atacaria com a Lâmina do Vazio na mão direita, ele tenta acertar um soco poderoso com o punho esquerdo em Muryo, que já preparava um ataque com energia amaldiçoada — algo que Toji já previa —, mas era apenas um alarme falso. Muryo tenta acertar um chute em Toji, que já sentia que isso aconteceria e desvia do chute, bloqueando também o próximo soco com o seu próprio.

  Muryou sorri e Toji sabe o que aquele sorriso significa.

'Maldito!'

  Ele rapidamente solta a Lâmina do Vazio para cima e, com a mão direita, agarra em milissegundos uma adaga afiadíssima, tentando esfaquear Muryo e conseguindo causar um corte em seu pulso esquerdo. Ele desfaz o sorriso, e com uma expressão séria, dá uma cambalhota para trás.

'Que droga. Fushiguro esperto. Acabou com meu plano de explodir o corpo dele com pressão atômica constante.'

  Toji guarda a adaga e recupera sua espada em um piscar de olhos, já na frente de Muryo, prontinho para atacar novamente, mas ele pula. Ele salta. Pois sabia que Muryo tentaria atacá-lo com um vermelho.

  No ar em uma posição inadequada para movimentação em batalha, Toji deveria ficar esperto. Para Muryou fechá-lo em um feitiço Azul, como um mini buraco negro mortal, era coisa de um segundo.

  Ele tira duas bolinhas pretas do bolso, e joga uma delas numa árvore. Assim que Muryo estava prestes a acertá-lo com um chute no ar, que o esmagaria no chão, a bolinha que grudou a árvore se conecta a que estava sendo segurada por Toji, formando uma corrente que o puxa para a árvore rapidamente, escapando do ataque de Muryo.

  Antes que Muryou se teletransportasse para trás dele, Toji começou a tirar mais bolinhas do bolso e a usá-las enquanto lutava, esquivando-se, defendendo-se de ataques, atacando e fugindo em uma pura dança mortal com malabarismos, espaço, tempo e energia; todos sendo controlados e esmagados pelos poderes de Muryo e Lâmina do Vazio de Toji.

  Em um certo momento da batalha, silenciosa e rápida a cada segundo que se passava, mas que durava cada vez mais infinitos na mente dos dois, Muryou se teletransporta para trás de Toji, enquanto ele automaticamente saca sua Lança Invertida do Céu e mira para trás, porém, Muryou controla o ambiente mais rápido.

  Toji é jogado para longe e colide com uma árvore, que quase cai em cima dele quando Muryou tenta apagar sua existência com um vácuo Azul poderoso, pequeno, mais tão destruidor quanto qualquer buraco negro.

  O assassino lança sua arma em Muryo, pegando de raspão em sua blusa e lançando-se agressivamente para frente, mas Muryo teletransporta-se para cima de Toji, caindo com os pés em cima dele enquanto controla todos os átomos e partículas existentes abaixo de seus pés, impedindo um contra ataque.

  O corpo de Toji ficou imóvel até seu queixo bater no chão. Mas ele ainda conseguia se mover. Era forte, indestrutível. Ele tenta se defender com sua espada, mas o Gojo se teletransporta novamente para mais longe.

  Muryou faz um movimento com os dedos de sua mão esquerda que lembrava o selo de feitiço usado por Satoru para controlar o Mugen, no entanto, este era feito ao contrário. Toji tenta esquivar-se quando percebe o movimento, mas Muryou é mais veloz.

...

Quando criança, eu tinha que trabalhar o tempo todo. Minhas mãos viviam cheias de bolhas e machucados e minhas pernas cambaleavam tanto, todos os dias, que eu tinha que passar num curandeiro rabugento que reclamava da minha existência todos os dias para se sentir melhor — fisicamente.

— Pirralho fracote e vagabundo! O que diabos tu tá fazendo aqui tão cedo? Vai trabalhar, seu macaco fedorento!

Eu nunca respondia, porque sabia que seria pior para mim. Achava que se eu tivesse nascido mulher, isso não aconteceria comigo, só que, com o tempo descobri que elas são tratadas ainda pior aqui. O líder do clã costumava dizer que qualquer mulher que não ande três passos atrás de um homem merece ser esfaqueada.

Sobre esse assunto, não tenho o que reclamar. Nasci sem um pingo de energia amaldiçoada e, apesar de em troca, ter nascido com outros sentidos sensoriais ultra melhorados, os superiores do clã nunca me valorizaram. Usam essa minha força desde a infância, como se eu fosse um escravo.

Um dia, minha mãe propôs ao meu pai que eu fosse arremessado na arena de treinamento infestada de maldições de nível três até o nível um, quando eu tinha apenas doze anos de idade.

Esses idiotas, que me recuso chamar de meus pais, me jogaram no fundo do poço, naquele inferno, com apenas uma arma na mão, enquanto riam do meu desespero. Vermes imundos se afundaram na minha carne, fantasmas assolaram meus sentidos, alucinações encheram minha visão, sangue escorria por todo o meu corpo e meus ferimentos eram terríveis.

Algumas horas depois, eu havia exorcizado todos os monstros. E meus pais, ao invés de me elogiarem, ficaram calados, com expressões apáticas. Quando caí inconsciente no chão, levaram meu corpo todo ensanguentado e machucado para a droga daquele curandeiro, aquele que me odeia.

Tenho uma cicatriz na boca, e várias nas costas e no abdômen até hoje, que ganhei depois desse ocorrido.

Meu irmão... Nem lembrava da existência dele. Na verdade, minha memória não é das melhores. Nem me lembrava que eu havia passado por tantos problemas durante a infância. Isso tinha ficado tudo para trás, mas, rever isso tudo agora... dói.

Queria ter memórias melhores para rever no final da minha vida, mas a única certeza que tenho agora, é que a vida não é um plano justo para todos os seres. Não importa se é feiticeiro ou não feiticeiro, animal, planta, ou qualquer outro ser existente.

Aprendi que a vida não tem nada reservado a você. Não existe um destino grandioso. Mesmo que você seja abençoado pelos céus, a desgraça do pecado é a maldição de toda vida, implantada em todos os corações. Não tem como fugir dele. É preciso enfrentar essa maldição todos os dias.

Muito tolo eu, descobrindo isso apenas no fim da vida. Meu irmão, Jinichi Zen'in, era a única pessoa que eu gostava de conversar naquela aldeia imunda. Ele tentava impedir que as atrocidades acontecessem comigo, mas de nada adiantava. Seu coração não parecia corrupto. Ele ainda tem chances de escapar do sistema.

Quase me esqueci! Vou ter um filho menino logo logo... Megumi, minha bênção.

Espero que sua vida seja boa. Que desperte alguma técnica do Clã Zenin e esfregue na cara deles que pelo menos o seu pai tem uma boa genética. Minha utilidade, taxada de lixo para eles, serve para alguma coisa. Mas mesmo que ele nasça com alguma técnica dos Zen'in, não quero que ele os sirva. Eles não o merecem.

Mesmo longe de vencer Muryou, cheguei perto, tentei, durei muito tempo. Que Satoru Gojo o encontre e o mate. Somente ele pode deter essa aberração.

...

  Uma luz... um som agoniante ao mesmo tempo; tudo... Toji sentia tudo e nada naquele momento, antes de cair no chão com sangue escorrendo de seu nariz, boca e sua cabeça, que fora praticamente explodida com a pressão do controle espacial atômico de Muryou.

'Ah... quando alguém tão interessante quanto ele morre, é delicioso ler seus pensamentos. A vida não é justa? Você tem tanta razão, Toji Fushiguro. É por isso que irei torná-la justa.'

— Pobre Fushiguro... — Muryou se aproxima do corpo devagar, olhando-o com um sorriso sarcástico. — Não se preocupe, sua família viverá bem, em eterna alegria.

— Que tipo de distopia trevosa é essa que cê tá planejando? — Ryomen estava na frente de Muryou, encarando-o com um olhar mortal. — Se você fizer isso, ele nunca será lembrado da forma como merece. E se alguém se ferir, não vai sentir dor e chorar? Não vai ficar triste? Cara, sua ideia não faz muito sentido, Muryo! E você não é Deus.

— De fato, não sou Deus. — Ele responde, olhando profundamente nos olhos de Ryomen. — Mas farei o que acho certo. Me fundi com meu irmão; a junção dos Seis Olhos com os Cinco Sentidos pode finalmente acabar com esse ciclo maldito de feiticeiros arrogantes controlando pobres crianças para lutarem contra maldições até o fim do mundo. Vocês, que acreditam em destino e besteiras parecidas, deveriam entender que o "Honrado" será finalmente honrado como deveria, a partir do poder dele, que salvará o mundo. As maldições vão sumir e o sofrimento da humanidade também sumirá.

'Irmão? Satoru nunca havia mencionado isso. O que exatamente está acontecendo aqui?' Suguru chega perto dos dois e os três começam a se encarar sem trocar palavras, sons ou realizar qualquer movimentação brusca.

— Pior que eu entendo a sua ideia. — Diz Suguru, antes que Ryomen partisse pra cima de Muryou. — Não sei como foi exatamente a infância do Satoru e muito menos a sua. Mas, o mundo é cruel. Eu compreendo suas motivações, mas não concordo com seus meios.

  Ele fala calmamente, flashbacks de seu passado com Satoru passando pela sua cabeça, enquanto ele sentia seu peito apertar. A nostalgia, e em seguida, a preocupação batiam, e o medo de seu melhor amigo nunca mais voltar o assombrava.

— A vida é uma dádiva. — Ele continua. — Imperfeita e conflituosa do jeito que é. A perfeição deve estar reservada apenas para aqueles que já terminaram sua passagem por este mundo e buscavam praticar o bem, a paz e a justiça.

  Ryomen escutava as palavras de Suguru e se sentia levemente emocionado. 'Ele sabe o que diz. Sábias palavras, Geto.' Como alguém que sempre buscou a justiça e a verdade, desde a tragédia em sua vila, ouvir aquela visão humanitária de mundo confortava e validava-o como pessoa, mesmo não sendo totalmente um ser humano.

— Aprecio seu otimismo e agradeço por se importar tanto com meu irmão. — Muryo diz, olhando para Geto. Suas palavras eram surpreendentemente genuínas; os dois feiticeiros sentiam isso.

'Na verdade, foi o Satoru que brotou do nada na minha vida.' Suguru pensou, antes de lembrar que Muryo conseguia ler pensamentos e estava sorrindo para ele, verdadeiramente.

— Mas... — Ele desmancha o sorriso. — Eu não caio no discurso do Jujutsu! — Assim que os feiticeiros avançaram para cima dele, Muryou faz seu selo de feitiço. — Expansão de Domínio...

Muryou Kuusho!

Imagem: Anime Jujutsu Kaisen

Imagem: Anime Jujutsu Kaisen

 

Chapter 22: 𝙴𝚛𝚛𝚘 𝚍𝚎 𝚞𝚖 𝙶𝚎̂𝚗𝚒𝚘

Chapter Text


  Satoru sentia o vento passar por seus cabelos. Fazia dias, ou talvez, muitas semanas que o mesmo havia sorrido genuinamente pela última vez em sua vida.

  Morsfang voava animadamente pelo deserto, subindo quase que infinitamente aos céus.

— Cara, o sol vai queimar a gente, assim! — 'Ou será que o sol desse lugar é falso? Será que isso tudo é apenas uma ilusão da energia amaldiçoada?'

  Até que, em um momento, o céu — ou a "pintura" do céu — começa a rachar e um vento avassalador se lança sobre os dois.

  Satoru se segura fortemente nas escamas de Morsfang, enquanto o dragão se equilibra e tenta desviar o corpo dos pedaços pesados de energia amaldiçoada que se materializavam acima deles.

  As nuvens, antes aparentemente fofas, eram agora massas grandes e sólidas de energia negativa pesada, que batiam em Morsfang, dificultando o controle de voo.

  O sol desapareceu e tudo escureceu-se em volta dos dois indivíduos. 'Parece que esse mundo está chegando ao seu fim.'

'Não consigo enxergar nada. Apenas escuto os sons da energia caindo na terra, parecendo um enrome abismo negro, agora. Está tudo tão escuro agora que pode ser que não exista mais uma matéria física sequer neste lugar. Sinistro!'

  Satoru e Morsfang conseguiram escapar da destruição, no entanto, enquanto continuavam voando, eles apenas vagavam pelo vazio infinito, procurando por algum caminho, alguma salvação, por alguma luz em meio a escuridão.

  A única coisa que viam era a negritude da ausência total, se é que isso possa ser considerado "alguma coisa".

— Se descermos, não acho que iremos encontrar muito. — Disse Satoru, olhando para baixo, para Morsfang escutar melhor.

'Quando acordei no deserto, antes eu havia explodido alguma coisa dentro do domínio de Muryou embaixo de um lugar em que eu me sentia submerso. Então, eu desci e...'

— Ahá! Morsfang! Suba. Continue subindo o máximo que puder!

'O ponto fraco do meu suposto irmão gêmeo perdido é seu próprio vazio materializado. Ele deve achar que é um grande herói, mas seus métodos não vão funcionar. Seu próprio poder mostra isso: um mundo infinito, cheio de outros mundos vazios e igualmente infinitos. Sua mente é de fato brilhante; tem potencial ilimitado e mundos criativos, pensamentos quase certeiros com promessas vazias.'

  De repente, uma luz forte adentra a escuridão do vazio infinito e atinge os olhos azuis de Satoru. Um segundo depois, ao abri-los...

"BAK!"

  Um som avassalador, seguido de dor agoniante, atinge seu cérebro, fazendo com que o mesmo desmaiasse no mesmo momento.

...

  Uma "sombra."

  Sua silhueta era muito parecida com a de Suguru, com seus cabelos soltos.

  Satoru olhou para baixo. Suas mãos eram apenas luz, um dourado lourejante e intocável. Aquela sensação, aquele sentimento... divino, sentia como se fosse a sua verdadeira "honra".

— O que te salvou. — Começou a "sombra". — Não foi a alma dele, só para você saber.

'Hum...?' Satoru rodou a cabeça. Não estava entendendo nada. Eram muitas coisas, muitos pensamentos, muitos fatos, questionamentos, suposições, sensações, emoções, percepções e sentimentos juntos, tentando ser processados ao mesmo tempo.

  Mas... ele não sentia dor física alguma. Muito pelo contrário, era como se seu corpo não existisse.

— No entanto, não é hora de explicar para você como as Sonzinko funcionam. — A voz da entidade demonstrava serenidade e confiança, mas também causava uma sensação desconcertante a Satoru.

'Quem e o quê carambas é essa criatura?! Eu sinto que já escutei essa voz antes, mas onde é que foi isso?'

— Meus parabéns por quebrar o destino e resolver seguir seu propósito real, buscar sua própria identidade. Você quebrou a corrente da maldição e agora é quem sempre foi em seu coração honrado. Continue sendo quem você é.

  Ao terminar de falar essas palavras, a entidade sombria se desfaz na frente de Satoru, que se sentia emocionado e assustado ao mesmo tempo ao escutar aquilo e presenciar toda essa situação misteriosa.

'Sonzinko...?'

— Tem certeza que isso será necessário? — Satoru escuta uma voz feminina fantasmagórica que parecia vir de cima, ou o que teoricamente seria para cima, já que o lugar que ele estava não passava de um vazio branco, sem forma, volume ou fim.

— É o melhor dos futuros. — Uma voz masculina de tom profundo responde, e antes que Satoru possa perguntar o que diabos estava acontecendo e de quem era aquelas vozes, ele já não estava mais presente naquele lugar.

...

  Satoru abre seus olhos em pânico. Está tão acelerado que consegue escutar seu coração bater. Ele se levanta, apoiando-se com suas mãos trêmulas no chão e olha o ambiente em volta: tudo estava se transformando.

  As paredes quebravam, revelando serem feitas de energia amaldiçoada. O mundo todo desmoronou na frente do Gojo.

'O que tá acontecendo?! Não aguento mais investigar isso e surgirem cada vez mais perguntas em vez de ao menos uma mísera resposta. Eu realmente não tô entendendo mais nada!' Ele sai correndo das materializações que buscavam acertar sua cabeça.

  Quando tudo se acalmou, Satoru percebeu que tinha retornado à Terra e tudo aquilo era real. Ele podia sentir que era.

— Ufa. — Ele diz aparentemente aliviado. — Finalmente escapei da mente do Muryo.

  Apenas agora, Satoru havia notado que seus poderes voltaram a si. Ele estava tão confuso mentalmente e focando no porquê, o quê e como aquelas coisas estavam acontecendo que até esquecera de sua visão "perfeita" e de sua tremenda força como feiticeiro.

'Estava focado sendo humano demais para se preocupar com poderes. Senti medo, ansiedade, perigo... Senti uma confusão mental natural, e até agora estou sentindo ela. Isso é que é viver, mesmo sentindo-se tão morto ao mesmo tempo? Ainda não tenho respostas para isso, mas quando eu puder conversar com Suguru...'

  Suguru.

  Ele para de pensar.

'Preciso salvá-los, meus amigos.' Ele finalmente foca para o presente e realidade. 'Para onde será que o Morsfang foi? Ah, bom, depois vejo isso. O que importa agora, é que estou de volta e essa minha velha maldição de nascença voltou para mim... Preciso usar ela, usar toda a minha força e expulsar a Morte da terra dos viventes.'

  Então, ele percebe que estava naquela casa. Aquela casa onde Muryo havia o prendido com sua expansão de domínio, após a grande batalha na Escola Jujutsu.

  Antes que fosse até a porta para sair de lá, ele vê um gabinete com um espelho acima, grudado na parede. Em cima do gabinete, havia um punhado de papéis meio rasgados e velhos.

  Havia escrita nos papéis, mas todos estavam riscados. Ou quase todos. Um deles, era vermelho e grande, e continha escrita em negrito:

Irmão, eu errei. Não sei se você ainda está vivo. Não sei se você ainda tem chances de escapar. Eu não tenho certeza. Sinto muito por isso. Minha intenção era criar um mundo perfeito, para você e para todos os feiticeiros; as pessoas boas, que merecem descanso, merecem parar de serem usadas como engrenagens desse sistema maldito que só acumula corpos inocentes em prol de ciclos malignos. Entretanto, eu não queria viver uma vida sem você.

Quando era criança, meu pai me contava sobre você indiretamente, de uma maneira que induzia minha curiosidade. Parecia até que ele me manipulava para chegar até você. Quando estudei sobre Jujutsu, tudo me pareceu muito rígido, muito sem liberdade. Quando entrei pela primeira vez na sua mente, quando aprendi que poderia fazer isso por compartilharmos a mesma energia amaldiçoada, percebi o quão magnífica a sua mente era, percebi que talvez eu finalmente teria um amigo, alguém que me entenderia. Mal esperava para te conhecer.

Mas eu também percebi outra coisa: traumas, tristeza, dificuldades, abuso e sofrimentos. Percebi um padrão de pensamento e situações em quase todos os feiticeiros com potencial. Eles parecem não questionar muito o que fazem, para onde vão e quando irão parar. Crianças são forçadas a fazer o que não deviam e têm suas mentes adoecidas sem qualquer culpa ou escolha. Queria te livrar disso. Você tem tanta luz, mas ela vive presa em você e não é culpa sua.

Eu tinha tanta confiança no meu plano. Agora, ele deu errado e tudo entrou em colapso. A única coisa que poderia me ajudar, seria você. Eu não sou a Vida, eu não crio, não ilumino, não entendo como funciona isso. Eu sou a Morte, eu destruo, eu escureço e não consigo concertar, nem afugentar minhas próprias sombras. Eu errei em achar que poderia fazer o seu papel utilizando minhas próprias mãos, utilizando a mistura de nossos poderes em um só ser. Isso criou desequilíbrio e caos.

Se você estivesse aqui, talvez as coisas teriam sido diferentes. Pensei em manipular você para me ajudar no começo, mas não vi bom futuro nisso. Preferia morrer pelas suas mãos a ser morto por qualquer outra causa, longe do meu objetivo ser concluído, ou ao menos compreendido de uma forma mais empática por você. Pelo menos, seu melhor amigo me ensinou o que era empatia. Eu não fui empático com você, nem ninguém, mas sim egoísta e obsessivo. Pareço frio, pareço não sentir nada, e quando sinto algo, se torna obsessão. Foi isso o que me matou.

Agora, já se passaram meses que meu mundo perfeito se tornou imperfeito. Você ainda não voltou. Se voltar, espero ainda estar vivo. Quando Jinsekai se quebrar, as maldições voltarão, e não temos mais a barreira de Mestre Tengen para defender o mundo todo, pois eu a destruí. E esse, infelizmente ou felizmente, quem sabe, pode ser o fim do mundo.

— De Muryou Gojo para Satoru Gojo, opostos que nunca deveriam ter sido separados.

  Silêncio total.

  Por um momento, Satoru olhava com um olhar vazio para aquela carta.

  E em outro, lágrimas desciam das suas bochechas.

  Meses? Ele estava fora da Terra faziam meses? Ou teria ele viajado no tempo?

'Eu realmente julguei mal Muryou. Ele é meu irmão, de alguma maneira ainda desconhecida. Agora, eu finalmente entendi as peças desse quebra-cabeça. Ainda é meio confuso, mas estou entendendo...' Ele pensava, triste. 'Ele é um gênio mal compreendido. E até mesmo os gênios podem cometer erros. Isso não invalida quem são em essência.'

  Lágrimas caiam cada vez mais de seus olhos, mesmo que ele tentasse contê-las. Cada vez mais que pensava em Muryo, mais ele o entendia. Ele não o odiava. Não, ele não sentia nada ruim por ele. Sua mente havia ensinado seu coração, que estava já despedaçado e tudo era aos poucos compreendido em cada parte dos pedaços.

  Os sinais, todos passavam pela sua cabeça. As tentativas de Muryo em "acordá-lo" para a vida. Suas teorias racionais, que pareciam mais como testes para a mente de Satoru. Toda aquela situação, tinha um significado maior.

  A única coisa que ele sabia, agora, era que deveria seguir em frente. Independente de como estava se sentindo, não tinha mais tempo para refletir sobre nada. Ele tinha de encontrar Muryou. Sua junção com seu irmão gêmeo era a chave para salvar o mundo inteiro.

  Satoru olha para o espelho. Fazia muito tempo que não olhava para seu reflexo. Ele vê um ser com cabelos brancos quase cinzas, olhos azul-escuro vazios e cansados, cicatrizes, machucados, sujeira e roupas levemente rasgadas.

— Eu tô acabado. — Ele diz com um suspiro sem graça e um sorriso, tentando parecer mais bonito.

  Sem perder mais tempo, Satoru deixa a energia amaldiçoada reversa correr em seu sangue e sai correndo do local, pulando e utilizando seu Mugen para flutuar, pronto para encontrar Muryo.

— Se prepare, meu irmão. — Ele respira fundo, dá uma leve batida nos cabelos para desmanchar a sujeira e com um olhar quebrado, mas ainda esperançoso, ele segue para sua próxima aventura amaldiçoada.

 — Ele respira fundo, dá uma leve batida nos cabelos para desmanchar a sujeira e com um olhar quebrado, mas ainda esperançoso, ele segue para sua próxima aventura amaldiçoada

Arte: artista desconhecido(a)

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