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Asahi odiava começos. Sempre odiou. Novas salas, novas turmas, novos olhares. Ele se sentia deslocado, alto demais para passar despercebido, calado demais para se misturar.
Na manhã do primeiro dia do terceiro ano, caminhava pelos corredores da Karasuno com os ombros curvados, o cabelo preso num coque frouxo na nuca e o olhar colado ao chão. Evitava as áreas mais movimentadas e sempre escolhia os assentos do fundo.
Tinha aprendido a se proteger assim.
Mas naquela manhã, antes mesmo de chegar à sala, ouviu uma risada estrondosa explodir do ginásio. Era vibrante, cheia de vida, diferente de tudo ali.
Ele não pretendia olhar — não era do tipo que se deixava atrair por vozes assim —, mas algo naquela risada puxou seu olhar como um fio invisível.
E foi então que o viu.
Pequeno. Corpo tenso, ágil. Braços cruzados atrás da cabeça enquanto ria alto com outro jogador de vôlei. Os olhos puxados brilhavam com algo entre desafio e leveza. Seu cabelo era bagunçado, escuro e rebelde. Havia algo de feroz e ao mesmo tempo absurdamente bonito naquele garoto. Como se não pedisse permissão para existir — só existisse com toda sua força.
Asahi não sabia o nome dele ainda. Mas seu corpo respondeu antes de sua mente conseguir processar.
Um calor inesperado subiu por dentro. Uma onda lenta, inquieta. Não como aquelas reações fortes que já aprendera a conter quando sua natureza reagia por instinto. Era mais sutil. Era mais perigoso.
Aquilo… não era só atração. Era algo mais profundo.
Foi nesse instante que Nishinoya Yuu virou o rosto e o viu parado no corredor.
— Oi! — disse, erguendo uma das mãos num aceno sem cerimônia, como se já o conhecesse.
Asahi congelou.
— E-eu… oi.
Noya sorriu largo, como se estivesse esperando que ele dissesse algo mais. Mas Asahi virou o rosto e entrou na sala, sentindo o coração martelar.
Aquele sorriso não era só bonito. Era devastador.
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No final da tarde, Asahi hesitou diante da porta do ginásio. Não sabia por que havia voltado ali. Talvez só estivesse curioso. Talvez quisesse ver aquele garoto de novo.
Talvez… quisesse entender o que estava sentindo.
Ele entrou devagar. O cheiro de madeira, suor e algo mais quente — um cheiro familiar, marcante, impossível de ignorar — tomou seus sentidos. Ele odiava como isso sempre o deixava vulnerável.
Mas agora não sentia medo. Só uma estranha expectativa.
Noya percebeu sua presença antes mesmo de ele falar qualquer coisa.
— Você de novo! Vai entrar pro time?
Asahi corou.
— N-não sei… eu jogava, mas…
— Então joga. — Noya jogou uma bola para ele, com facilidade. — Quero ver como você saca.
Asahi hesitou. Mas os olhos dele não tinham julgamento. Só desejo de jogar. E alguma coisa por dentro cedeu.
O saque saiu limpo, forte, preciso. Os olhos de Noya brilharam.
— Uou. Você joga sério, hein? — Ele se aproximou com um sorriso aberto. — Qual é seu nome?
— A-asahi. Azumane Asahi.
— Hm. Asahi… — repetiu o nome como se o provasse na boca. — Bonito.
Asahi engoliu seco. Era difícil manter a postura quando ele sorria daquele jeito.
— O meu é Nishinoya Yuu. Pode me chamar de Noya.
E naquele instante, Asahi sentiu: se deixasse, aquele garoto seria o único capaz de atravessar todas as barreiras que ele construiu.
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Nos dias seguintes, Noya passou a sentar perto dele na aula. Falava alto, ria fácil, e sempre perguntava se Asahi queria comer com ele.
Asahi, como sempre, recusava no início. Mas Noya não recuava. Apenas sorria, insistia com leveza, e deixava lanchinhos ao lado dele na hora do intervalo.
Às vezes, Asahi achava que estava ficando doente. Seu corpo ficava aquecido demais. Os sentidos mais aguçados.
Mas não era nada disso. Era só ele. Noya. A presença dele bagunçava tudo de um jeito estranho e ao mesmo tempo familiar.
E o pior era que Asahi não queria que parasse.
Num fim de treino, Noya se aproximou mais do que o habitual. O vestiário estava quase vazio. Asahi ainda tirava a camisa de treino, pele úmida, pulsando calor.
Noya ficou em silêncio por um momento.
— Você sempre tenta esconder, né?
Asahi virou o rosto rapidamente, tenso.
— O q-que?
— Quem você é. O jeito que sente. — Noya deu um meio sorriso. — Mas eu vejo você, sabia?
Asahi sentiu o estômago virar. Era a coisa mais íntima que alguém já dissera a ele — e não vinha com acusação. Vinha com ternura. E desejo.
— Você… me vê?
— E gosto do que vejo — completou Noya, virando-se para sair, deixando Asahi ali, com o corpo tremendo.
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Foi só depois de algumas semanas que aconteceu.
Na saída do treino, Asahi esqueceu seu casaco. Voltou ao ginásio já vazio e encontrou Noya deitado no chão de madeira, olhos fechados, fones nos ouvidos.
Ficou parado ali por longos segundos, observando. Noya era tão diferente. Tão pequeno e tão cheio de presença. Ele não precisava se impor. Ele era.
Asahi se aproximou devagar. Noya abriu os olhos.
— Sabia que era você. Senti.
Asahi sentou-se perto. Seus dedos roçaram sem querer. Nenhum dos dois puxou a mão.
— Você… sente isso também? — Asahi perguntou.
— O quê?
— Esse… calor. Essa coisa estranha toda vez que você tá perto.
Noya virou-se devagar.
— É porque você me quer. E eu quero você também.
O silêncio caiu entre eles. Mas não era desconfortável. Era denso. Elétrico.
— Não precisa ter medo. Eu não vou te machucar. Nem tentar controlar você.
Asahi sentiu as palavras entrarem como um abraço no peito.
— Eu… nunca confiei em ninguém assim — confessou.
— Então começa comigo. Devagar. Do seu jeito.
