Chapter 1: \\-inicializando sistema
Chapter Text
"Venham, Por aqui!"
Copper-9... Uma Terra devastada pelos Humanos. A tempestade de neve cai como um eterno lembrete da Calamidade que a humanidade Causou á vida desse planeta...cidades Destruídas, prédios abandonados, veículos...e esqueletos congelados dos antigos seres vivos, parados no tempo..em seus últimos momentos.
Mas, o que temos aqui? ...um pequeno grupo de drones operários. Correndo entre becos e se escondendo de feras.
Um desses drones, estando na frente, usando um capacete de cor Amarronzada e uma insígnia prateada no topo. Possivelmente o líder do grupo, fazendo gestos para o resto continuar. "Estamos quase! Se o que elas disseram está certo, tem um lugar seguro por aqui!"
Dos céus, escondidos entre as penumbras da noite, o brilho da lua e do Planeta vizinho fazem sombras dos prédios...e entre essas sombras, algo sobrevoa. Um zumbido agudo e oscilante começou a cortar o ar gelado, como fios desencapados crepitando.
"Vamos! Sem descanso, precisamos ir antes do gelo ou dos demônios do céu nós pegarem!" Ditou um dos operários, com HUD branco, um bigode falso e perto do líder do grupo..com um dos braços, está ajudando uma drone operária de cabelos roxos que carrega um... bebê operário, ambas com HUD roxos "Vamos encontrar um lugar seguro, Nori."
Nori - "Eu espero..Khan.." ditou a operária agora nomeada, ela olhou para a pequena bebê em braços, o corpo pequeno e em formato de uma pílula...balbuciou um pouco ao notar o olhar de sua mãe "vamos ficar seguras, Uzi.."
"Querido, Eu consigo ver a sombra deles!" Mais uma drone, agora com cabelos longos e ruivos, HUD da cor magenta, se aproximou do aparente líder, segurando um bebê Pílula que dorme. O HUD do pequeno operário sendo da cor castanho escuro.
"Que droga—...espera! Eu estou conseguindo ver!" Ao longe, o Líder do grupo ajustou as configurações ópticas e avistou uma grande porta de metal, rodeada de destroços e neve, quase soterrando o grande BUNKER–0.
"ESTAMOS PERTO, PESSOAL!" O líder gritou para o resto dos drones, parando no caminho para ajudar os que estão cedendo ao congelamento e os que estão danificados. "Vamos ficar seguros deles, tenho certeza!–"
Uma grande quantidade de neve voou ao redor... Um grande som de baque pesado ecoou e junto, um zumbido elétrico que parecia vibrar nos próprios sistemas dos Drones Operários. Está na parte da frente do grupo...onde os drones com os bebês se encontram.
Em meio a cortina de neve, um Grande X Amarelado pode ser visto, brilhando... Asas de metal se revelaram, afastando a neve com um grande impulso ... Um Drone de desmonte "Hahaha.."
Os drones começaram a gritar com a aparição do demônio dos céus, afinal...isso significa que os outros dois estão perto. Nori e Khan foram levados ao chão por causa da aterrissagem da Fera amarelada. Nori ainda segurando A bebê pílula no colo, estendeu a mão, fazendo um gesto estranho...mas antes que pudesse fazer mais alguma coisa, a cauda do Drone de Desmonte perfurou sua Tela, injetando um líquido amarelado que, fez Nori gritar de dor, mas, ao invés de se defender, levou as mãos até a bebê, protegendo ela do líquido que caia da Face.
O Drone de desmonte ria com esse espetáculo, pronto para falar algo.. até que, sua cabeça foi atingida violentamente por uma Chave inglesa, diretamente em um dos sensores no topo da cabeça, quebrando no impacto. Khan, agora com a chave inglesa banhada em líquido amarelo, gritou. "NÃO OUSE TOCAR NA MINHA MULHER!"
O drone de desmonte soltou um grito estridente de dor e o zumbido em seu corpo pulsou mais forte, ecoando a fúria em seu HUD em forma de X. Retraindo a cauda e levando a mão até a cabeça, ficando desnorteado. Khan deixou a Chave inglesa cair e, foi correndo até sua esposa e filha, levantando Nori e, tomando um susto ao ver Parte de sua tela sendo corroída e derretida.
"Não não não..." Khan levou as mãos até a cabeça de Nori, sua feição mudando para uma de Pânico.
"K-Kh-Khan.. eu estou be-b-bem." A voz da mulher estava bugando de forma caótica... A pequena uzi em seu colo, começou á chorar, emitindo um áudio de bebê chorando ao captar o grande ferimento de sua mãe "vamos para o bun-bu-bunker, Rápido!"
Khan ficou relutante...mas, uma mão no ombro tirou ele de seus pensamentos. Era o líder do grupo "Khan! temos que ir..AGORA! Aquela coisa está começando á se regenerar!"
"Grr..SUAS TORRADEIRAS MALDITAS!" A voz masculina gritou no meio da noite, repleta de ódio e raiva pura, e o zumbido em seu corpo pulsou mais forte, ecoando sua fúria. Suas mãos mudaram para garras extremamente afiadas, e um tic rápido fez sua garra roçar a própria tela, onde ficaria o nariz, um movimento quase imperceptível de ajuste.
Sem escolha, Khan levantou sua esposa junto da filha, a adrenalina simulada dando mais forças em suas articulações e mecanismos para isso, ele correu até a grande porta.
O líder, se abaixou e pegou a chave inglesa caída, em seguida, foi até sua amada, a ajudando á correr enquanto o pequeno bebê pílula em seu colo acordou, os pequenos Olhos no HUD olhando freneticamente pelos arredores, assustado.
"Droga! Precisa de um cartão!" Um dos drones do grupo socou a porta ao notar o leitor logo ao lado, congelado e brilhando com a eletricidade que lhe restava.
O líder Logo ao chegar nos portões, deixou a operária perto do restante e se afastou, olhando envolta. Conseguiu avistar um esqueleto com um jaleco, em uma posição de se arrastar na direção do bunker...um cartão avermelhado em mãos. O líder correu com todas as forças até tal e arrancou o cartão junto do antebraço do esqueleto congelado, não havendo tempo para se desculpar.
"Черт... эта штука поворачивает в эту сторону!" Exclamou a drone operária com cabelo curto e Roxo escuro, Menos vibrante que o da Nori, seu HUD vermelho-alaranjado mostra um toque de desespero. Ao seu lado, um drone operário com HUD levemente vermelho-esbranquiçado está carregando uma bebê Pílula, com HUD da cor vermelha... está adormecida.
"Entrem!" O líder bateu o cartão contra o painel... As grandes portas começaram a se abrir verticalmente, um grande vento saindo de dentro do sistemas hidráulicos. O líder ajudou os drones á subirem pelo vão dos portões que ainda estão se abrindo. "VÃO VÃO!"
Khan levantou sua amada e pulou para dentro do Bunker, que finalmente se abriu totalmente. A pós gentilmente no chão...se ajoelhando enquanto tenta calcular um jeito de cuidar do ferimento ácido. "Va-Vai ficar tudo bem..."
Ao mesmo tempo, o líder segurou a Operária de Cabelos ruivos e a ajudou para entrar no Bunker...todos estão dentro do Bunker..isso é bom.
"EU VOU FAZER DE VOCÊS O MEU JANTAR!" O Drone de desmonte gritou, agora totalmente regenerado, o zumbido elétrico pulsando como um aviso. Ele apontou as garras contra o grupo de drones e inesperadamente, as lâminas de suas garras foram Lançadas como projéteis.
"CUIDADO!" o líder abaixou os drones e a operária ruiva, dois drones que estavam distraídos, foram acertados em cheio em seus monitores. Suas telas mostrando a imagem de 'ERRO FATAL.' e seus corpos caindo no chão.
Porém, uma dessas garras bateu contra a lateral do bunker..sendo rebatida e, indo de encontro no Bebê pílula de olhos castanhos.
'PZZZZ–'
O líder sentiu uma das piores dores possíveis. Sua mão esquerda perfurada pela garra ao usar para defender o pequeno bebê. A ponta da garra apenas fez uma pequena rachadura lateral no pequenino...que começou a chorar.
"Maldito...argh.." o líder segurou a ponta da lâmina e retirou sem hesitar. Em contra-ataque, ele levou o braço para trás e lançou a lâmina com toda a força contra o Drone de Desmonte.
O drone de desmonte conseguiu defender. Mas seu braço foi o preço, o antebraço sendo perfurado pela própria lâmina e, impedindo que possa trocar de armas temporariamente.
"KHAN!" o líder chamou, ainda no lado de fora ...ele levantou a chave de fenda que havia pegado antes. O Drone operário se virou para o Líder, o olhando com uma mistura de confusão e desespero... A chave de fenda foi jogada ao lado dele, fazendo um grande Baque metálico. "Proteja Eles... não deixem que esses malditos Demônios tomem mais vidas.."
Então, ele se virou para a drone operária ruiva...dando pequenos passos até ela e o bebê pílula...levou a mão direita até o rosto dela e abriu um sorriso meigo... lágrimas se formaram nos olhos digitais de ambos. "Lyvia...Cuide dele..ok?"
"não... Não pense nisso.." a operária, Lyvia... Conseguia prever o que o Líder está pensando, mas, seu corpo não se movia direito...o gelo e exaustão não permitiram.
O líder então, levou o olhar até o pequeno bebê pílula...seu sorriso se tornou mais genuíno, passou a mão pelo visor. "Meu pequeno Atlas... Eu quero poder ver você crescer..." Uma lágrima desceu de seu HUD...uma gota de Óleo caiu pelo rosto sintético. O bebê pílula parou de chorar ao ver seu pai. "Mas para isso...Tenho que fazer uma escolha."
O líder se afastou de sua amada e filho com passos lentos... porém, seu braço foi segurado por Lyvia. "não vai! Eu...eu não con-consigo sem você...por favor.."
Ele se virou...se aproximou e, envolveu ambos com um último abraço... Ele retirou a própria jaqueta e colocou envolto de ambos, para deixá-los seguros e confortáveis. "Eu ... Eu amo vocês."
o líder se afastou com um pulo rápido, segurando o cartão com uma grande força de aperto...ele bateu tal contra o painel e digitou um código nas teclas, o Painel se retraiu para dentro do compartimento de metal e se fechou.
O líder jogou o cartão para dentro do Bunker, os portões se fechando com um atraso momentâneo pelo gelo. A Operária Lyvia engasgou de surpresa, o resto do grupo se afastaram dos portões se fechando com uma surpresa e um leve toque de preocupação.
"VOCÊS NÃO VÃO ESCAPAR!" O drone de desmonte retirou a lâmina do antebraço e se regenerou, o zumbido presente ficando levemente bugado junto do grito de raiva. aas duas garras agora se substituindo por duas grandes Espadas afiadas. Suas asas se movimentando, em prontidão para realizar uma arrancada...seu HUD em formato De X brilhando mais forte.
"Se quer tanto nós caçar ..." O líder se abaixou, pegando um Cano de Aço que estava soterrado na neve. Ele pôs na frente do corpo em uma postura de combate "Vai ter que passar por mim, torradeira voadora."
"DO QUE ME CHAMOU?!" O Drone de Desmonte Rugiu, o zumbido de interferência atingindo um volume ensurdecedor. Ele abriu vôo, avançando em uma velocidade sobrenatural até o Drone operário.
Nós últimos centímetros dos portões de se fechar, Lyvia finalmente se moveu, dando passos desajeitados até a última fresta dos portões... E, gritou. "ALEXANDER! NÃO ME DEIXE!"
Alexander... nos últimos segundos, olhou para trás. "Até mais." E, voltou a encarar o Drone de Desmonte furioso em seu caminho. Avançou sem medo, sem hesitação, com sua arma em mãos e pronta para proteger quem lhe importa. Ele liberou um Grande berro de bravura, balançando a arma contra a cabeça do Demônio dos céus.
'TRANC!'
os portões se fecharam. O ar frio parou de percorrer e...a última coisa que o grupo ouviu, foi o barulho de um impacto... O silêncio está sendo a única coisa presente no local.
"Kh-K-Khan..." Ditou Nori, agora parte de seu rosto derretido e sendo corroído pelo líquido amarelo..mas, seu corpo ainda resistindo. A dor é insuportável.
"N-Nori..a gente vai resolver iss-isso, eu posso consertar! Eu–" sua fala foi interrompida quando a própria esposa encostou a pequena bebê pílula contra o peito dele...seu silêncio evidente...e enfim, a realização "Não... Não não..."
"K-Kha-khan...Eu pr-p-preciso que você fa-faz-f@$... Faça isso...por favor.." Nori deitou no chão, Seu HUD forçando para não se deixar levar pela corrosão...seu braço então agarrou a chave inglesa ao lado de Khan..levantando para ele. "iss-isso dói ta-t-tanto..."
..sua mente ficou em branco ...mas, o corpo dele segurou a pequena uzi que, está confusa..por que ele está se afastando?...
Khan se aproximou de Yeva, a operária com cabelo roxo escuro ...ele estendeu a pequena Uzi para ela. "...por favor..."
Yeva - "...Все хорошо." A mulher segurou a bebê pílula, olhando para os pequenos olhos que se assemelham perfeitamente aos da mãe no chão. Ela olhou para o lado e viu Lyvia, de joelhos no chão e desabando em prantos, chorando junto do pequeno filho.
Khan - "Nori...m-me perdoe ..." Ele segurou a chave inglesa, levantando o objeto para cima com as duas mãos...o óleo escorrendo de seu HUD e caindo no chão, na frente da mulher de sua vida.
Nori - "Não se pr-pre-preocupe, cuide da nossa filha... Eu te amo, Khan—"
'Crack'
'Tranc'
'CRASH'
//Encerrando pesadelo
04:00 Da manhã!!!
Acorde princeso.
'Thump'
Um leve tapa foi o suficiente pra silenciar o alarme interno...o HUD mudando para um par de olhos castanhos escuros e cansados...Atlas está acordado. Ele levantou levemente da cama, seu computador na mesa está ligado... vários pôsteres grudados na parede e teto. Ao lado dele, um fone conectado a um toca fitas está solto.
Atlas - "Mais um dia...mais um fardo..."
Fim do primeiro capítulo!
Chapter 2: //-Carregando 'protocolo'
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Atlas ficou alguns segundos, ainda deitado na cama. Recobrando o pesadelo que acabou de ter em uma pequena tela no próprio HUD. O pequeno zumbido sendo puxado para os confins de seu armazenamento de memórias. ('Mais uma vez esse tipo de pesadelo..bem, hoje tem escola, que saco.')
Ele levantou da cama, olhando envolta o próprio quarto... levemente bagunçado e levemente limpo, balanceado pelo menos. Vários pôsteres de coisas que ele coletou, galáxias, criaturas de jogos e até da JCJenson(NO ESPAAAAÇOO!!!!). Em cima da mesa do computador, tem vários blueprints feitos á mão...ele tem que lembrar de terminar ou testar. Enfim, ele caminhou até o banheiro do quarto, cambaleando um pouco e com as costas arqueadas pra frente.
No banheiro, ele ficou de frente com o espelho, podendo ver seu próprio estado: seu HUD da cor marrom captando cada detalhe do próprio reflexo. Os olhos da mesma cor do HUD no visor está com pouca iluminação, como se estivesse fraco. Como sempre, sua cicatriz na lateral esquerda da bochecha ainda permanece ali, interligando o visor com a parte debaixo do queixo sintético....por fim, o cabelo escuro bagunçado. Se não fosse por estar de pé, podia se considerar totalmente uma carcaça de tão acabado que tá.
Sem perder muito tempo, ele abriu o espelho e tirou algumas coisas. Primeiro, um pequeno frasco de spray com o nome de: 'Revitalizante de Visor' e aplicou uma leve borrifada no próprio rosto. O líquido com um aroma sútil de Chuva artificial molhou a superfície sem escorrer. Em seguida, ele pegou um pequeno limpador de para-brisa e passou pelo visor, tirando o excesso e deixando tal com um brilho parecendo novo.
Ao sair do banheiro, já se sentindo um pouco mais nítido, seus olhos caíram sobre a jaqueta, dobrada na cadeira ao lado da cama. Ele a pegou, sentindo o peso familiar, e a vestiu. O tecido surrado e um pouco grande demais abraçava seus ombros, uma proteção que ele sempre vai ter.
Finalmente, seus olhos caíram sobre o fone e toca fitas jogados na cama... Estendeu a mão e pegou, colocando o fone nós receptores sonoros e tirou a fita de dentro. Caminhou até a mesa do computador e se agachou, puxando debaixo dela uma caixa grande, cheia de fitas com pequenos papéis com nomes em cada uma.
Ele procurou entre as fitas até que finalmente encontrou: "I was made for lovin you - KISS', uma das suas favoritas...ele cuidadosamente arrumou as fitas no lugar e guardou a caixa. Segurou o walkman vermelho e colocou a fita cassete no lugar, apertando o botão de play. Assim que a música começou á tocar, uma imagem vívida preencheu seu visor:
// Iniciando Memória de Registro... //
A luz fraca da lanterna revelava uma parte esquecida do Nível C-3, paredes cobertas de mofo metálico e pilhas de sucata. Um Atlas muito mais jovem, movido pela curiosidade infantil, empurrava um armário enferrujado, revelando uma pequena cavidade. Lá, escondida sob escombros, estava uma caixa metálica, antiga e intocada. Ele hesitou, o barulho de seus próprios suspiros parecendo alto demais no silêncio do bunker. Seus pequenos dedos, antes inexperientes, tatearam a tampa, revelando um toca-fitas primitivo, fones e uma pilha de fitas com rótulos estranhos: "BILLIE JEAN", "BEETHOVEN", "HAPPY", "I WAS MADE FOR LOVIN YOU". Uma curiosidade insaciável o impulsionou a conectar o fone. O primeiro som de "I Was Made For Lovin You" foi um choque, uma onda vibrante de energia que fez seus sistemas piscarem e seu corpo pequeno tremer com um ritmo desconhecido. Não era algo programado, não era medo. Era... vida.
// Fim da Memória de Registro. Retomando rotina atual. //
Atlas suspirou, o brilho de seu HUD ainda ligeiramente mais vibrante do que o habitual para aquele horário da manhã. Um raro vestígio daquele primeiro choque de descoberta. "Será que a mãe está acordada?.."
Ele saiu do próprio quarto, olhando o clássico e cinzento corredor de sua... Casa. Ele se virou e sentiu um cheiro familiar vindo da cozinha. Caminhou até o cômodo e lá, encontrou a sua resposta.
"Ah, bom dia, filho." Disse Lyvia. Seu cabelo ruivo antes longo, agora cortado até a altura dos ombros e amarrado em um coque. Sua roupa sendo um terno e uma saia levemente longa, perfeito para uma trabalhadora. Seus olhos estavam focados em uma prancheta e junto disso, um celular grudado no topo... Na outra mão, ela está terminando de tomar o 'café' que é só anticongelante misturado com pó de circuitos coado.
"Bom dia..." Atlas respondeu enquanto escutava a música, a cabeça mexendo levemente pra cima e pra baixo com o ritmo. Ele se aproximou da pia e pegou um copo, ligando a torneira e assim, saiu ... Água destilada, perfeita para circuitos. Logo ao lado, tem uma torradeira modificada. Em instantes, duas placas de circuitos pularam pra fora.
Foi pegar, porém, ao encostar a mão, Atlas recebeu um baita choque na mão. "Ah! Quente..." Ele então usou uma luva de borracha para segurar a 'torrada' e morder, sentindo o alimento descer da garganta.
Ao contrário do do filho, Lyvia segurou a segunda 'torrada' sem problemas e mordeu, fazendo sair um pequeno choque no ar. "Filho, hoje vou ter que ir mais cedo, tudo bem? Os projetos do Khan realmente estão sendo produtivos essa semana." Sem aviso prévio, ela passou por Atlas e saiu de casa.
Atlas - "..sempre isso." Suspirou fundo, aumentando o volume da música enquanto termina de comer seu alimento e beber a água destilada. Se afastou da cozinha e foi direto até a saída, Atlas parou no meio da porta e... Olhou para a casa, antes de apertar a manga da jaqueta e, sair.
A caminhada foi até tranquila. Alguns Drones acenaram para ele, a maioria sendo membros da FRO. Nas paredes, ele podia ver pôsteres e também cartazes da própria FRO e do Khan...e Sua mãe, Lyvia.
'KHAN PRECISA DE VOCÊ.
FRO(FORÇA DE RESISTÊNCIA OPERÁRIA)'
'Drones Do Ano e todos os tempos.
Khan Doorman
"Portas são a minha verdadeira filha"
"O que quer dizer que 'isso não faz sentido'?"
Lyvia Lockerman
"As fechaduras são meus bens mais preciosos"
"Que? Não tava no script?" '
"Ugh.." Atlas apenas revirou os olhos, voltando á apreciar a música que está tocando em loop.
Uma mão de repente tocou em seu ombro, ele tomou um pequeno susto..mas logo se acalmou ao ver quem era. O HUD vermelho-sangue e opaco brilhando mais forte que o dele. As roupas do time de basquete da escola de cor Azul e preto sendo a coisa mais característica do drone jovem e levemente mais alto que Atlas..sem falar do cabelo, um loiro levemente esbranquiçado, cortado nos lados e no topo, fazendo um topete. Ele parece um valentão.
"Fala ae, como vai?" O drone falou com um tom mais amigável do que um valentão intimidando a vítima..ele logo se afasta e cruza os braços, andando ao lado do Atlas.
Atlas - "Que susto, Rex...quase que eu te dou um murro.." abaixou um dos lados do fone, para poder ouvir o amigo Rex. "Alguma novidade dos 'Garras Mecânicas'?" Questionou, Inclinando levemente a cabeça.
Rex - "Ah, cê sabe, como sempre...o meu time sempre sendo o melhor! ...quando o Thad não está em jogo, claro... Os 'Operários Ferventes' são um time difícil de vencer quando ele não falta no jogo." Realizou alguns gestos, rindo um pouco ao mencionar um Operário com o nome Thad. Eles estão agora no corredor da escola.
Atlas - "Uh, entendi...e com você o teu time já não é o melhor não? Seus companheiros ficam falando bem mal do outro time sem hesitar.." Continuou andando, dessa vez... Com a postura correta quando fala com o amigo.
Rex - "Você sabe que eles são bem temperamentais, principalmente depois do treino do coach. E você não é um anjo também, essas bugigangas que tu faz e também esse...toca fitas ainda não me caem bem." Deu uma rápida olhada para o aparelho no bolso de Atlas, então desviou o olhar e colocou as mãos no bolso
Atlas - "mano.. você tem que parar de ser tão cético, sabia? Nem tudo que é desconhecido é perigoso... Ainda me lembro de tu ter me chacoalhado por 1 hora, pensando que eu tinha sido hipnotizado... Sendo que eu só estava curtindo uma música."
Rex - "aham, aham..sei, e sobre o Marlon?! O cara tava bem á uma semana atrás, e tu viu o que rolou com ele quando ouviu uma música desconhecida? Pifou!"
Atlas - "o Marlon literalmente comia imãs, não é de se surpreender que ele iria pifar uma hora ou outra...o único problema é que ele tem que descansar."
Rex - "e sobre os E.T.S?"
Atlas - "nem vem com isso, tu já fez uma palestra pra mim sobre isso..."
Rex - "eu tô te falando! Essas músicas aí ou fitas cassete SLA o que, vão te infectar! Tu nem sabe por onde elas passaram, talvez pelos...Drones de desmonte?.."
Atlas - "São lendas urbanas, Rex... A gente nunca viu um Drone de Desmonte de verdade na nossa frente, só em fotos. Mas duvido que eles tenham sobrevivido ao frio lá fora–"
Rex - "Ah, chegamos."
Ambos pararam na frente de uma porta de metal, maior que os dois e, com uma placa acima, escrito 'Sala de aula C-6'. Ambos entraram sem muita demora.
A sala é grande, tem cadeiras para o máximo de 25 alunos, a maioria está fazia e a sala está levemente cheia, com uns 10 alunos presentes. O professor não chegou, então Rex e Atlas decidiram continuar conversando.
Rex - "E o jogo que eu te recomendei ontem, tu jogou?"
Atlas - "o de boxe? Achei legal...o little Mac é um personagem bem OP se pensar direito.."
Rex - "Hah! É meu favorito também, mas gosto do treinador dele, ele sim é casca grossa!"
Atlas - "mas por que? Se ele é tão bom... Por que não luta?"
Rex - "Atlas, Atlas... você tem que entender...ele sabe de todos os macetes, técnicas e até é mais forte, por que acha que ele treina o Mac?"
Atlas - "Ah...uh– você tem um ponto"
Rex - "hehe, sempre tenho"
"Ora ora, se não é o Quebradiço.." uma voz ditou logo atrás de ambos. Atlas suspirou fundo e colocou os fones no volume máximo, enquanto Rex virou os olhos e se virou.
"E com o Rex ainda, o duo da burrice.." uma segunda voz ditou, levemente alto...o suficiente pra Atlas ouvir mesmo com os fones no máximo
"Ryan, qual é...deixa a gente quieto dessa vez? A gente ganhou a partida de hoje. E Kevin, não fala assim.." Rex ficou perto de Atlas, ainda com as mãos no bolso.
O drone que falou primeiro, Ryan, está usando uma jaqueta levemente modificada dos 'Garras Mecânicas', apenas, com a grande palavra 'LIDER' escrita nas costas com caneta permanente. Seu cabelo levemente longo e Verde-musgo, Seu HUD e olhos sendo da cor azul-acinzentado brilhante. Um sorriso largo está na face.
Kevin, o segundo é levemente menor que Ryan, usa uma roupa que lembra um terno mas também um moletom casual. Seu cabelo azulado é curto em uma medida quase de tigela. Seu HUD e Olhos da cor da mesma cor do cabelo focado em Atlas, analisando suas ações e, até pequenos gestos.
Ryan - "Aw, que fofo da sua parte, Rex...protegendo o Produto de segunda Linha?" Ele se aproximou sem medo, ficando frente á frente de Rex...ambos ficam se encarando por alguns segundos. "Devo lembrar quem é o líder do Nosso time?"
Kevin - "E tem que lembrar que ele é o esquisito, igual a amiguinha dele em outra classe... O nome dela é 'Uxi'? Não lembro." Tirou um óculos do bolso do terno casual e, equipou. Dando passos leves na direção de Atlas. "E, devo lhe lembrar, Rex... Hoje é o nosso turno de brincar com ele."
Rex - "Ei ei..eu não gostei nada desse tom!–" fpi interceptar Kevin, mas, Ryan logo o empurrou ao chão com uma facilidade notável.
Ryan - "não vai se meter não, número 12... Ainda devo te lembrar das faltas que você levou nessa partida? Quase perdemos por um triz...E isso me deixou puto." Estalou os dedos, e enquanto Rex se levantava, Ryan foi junto de Kevin até Atlas, que está quieto e de cabeça baixa. "E aqui está, o Zero bateria social."
Atlas - "..." Permaneceu quieto, virando a cabeça para o outro lado enquanto espera o amigo levantar.
"Que foi? O Drone de Desmonte comeu a sua língua quando bebê?" Ryan colocou a mão no ombro dele, apertando com uma força que, fez um Pop-up no HUD de Atlas: 'Pressão sendo exercida na área do ombro. Recue.'
"Sabe.. você deveria parar de ouvir essas porcarias." Kevin se curvou levemente, chegando perto da cabeça de Atlas e, sussurrando Alto, para ele ouvir mesmo com a música. "Pode tirar sua atenção da aula... E fica extremamente irritante junto dessa sua cara."
Ryan - "e tá usando isso...para ignorar a gente?!" Com um movimento rápido, ele agarrou a parte de cima do fone e puxou. Atlas reagiu rápido ao segurar o cabo e Walkman. "Hey hey...melhor soltar, fracote."
Atlas - "Solta... É meu!.." puxou pra si mesmo, tomando cuidado para não acabar arrebentando o fio, mas, Ryan puxava com mais força.
Kevin novamente abriu a boca, agora com as mãos na carteira dele, com mais clareza e alto enquanto vê Rex finalmente levantar e com um símbolo de veias no visor da testa. "Parece mais fraco que ontem, som desfigurado. Sonhou com os Drones de Desmonte de novo? Ou foi com o... Papai?"
"Tsk!" Atlas fez um movimento rápido com o ombro, puxando o fone quando Ryan relaxou um pouco e, acertou Kevin no visor com uma ombrada de leve. Kevin cambaleou para trás enquanto Atlas verifica se o fio está muito esticado ou com má conexão.
Ryan - "ora... Seu B#sta!" Avançou, mas Rex parou em sua frente, segurando a gola da jaqueta. Em reposta, Ryan fez o mesmo, também com raiva estampada no visor. "Oh? Quer brigar com o líder do time, Número 12?!"
Rex - "Eu vou dizer mais uma vez...deixa eu e o Atlas quieto.."
Ryan - "e o casalzinho vai fazer o que? Me fazer escutar música até pifar?... Posso muito bem te expulsar do time." Com essa fala, o aperto de Rex ficou frouxo e, Ryan afastou ele com um empurrão e foi até Atlas.
Ryan bateu na mesa de Atlas, fazendo o mesmo o olhar enquanto afasta o Walkman dele. Ryan estendeu a mão dele com a palma aberta. "Me dá essa sucata."
"Tente.." atlas retrucou, guardando o aparelho dentro da jaqueta de forma suave e rápida. Quando menos percebeu, Kevin empurrou suas costas contra a mesa, fazendo bater de leve a cabeça "Agh..que?.."
"Isso é pela ombrada." Respondeu o drone, se inclinando de novo para falar no ouvido de atlas "usar a capa de alguém que se sacrificou pra salvar Ninguém, não lhe torna especial."
"Eu tive uma ideia ótima sobre isso!" Do bolso, Ryan retirou um par de tesouras, aproximando da manga da jaqueta de Atlas. O tal recuou o braço quando percebeu a intenção. "Kevin!"
Kevin rapidamente segurou os ombros de Atlas, para mantê-lo no lugar enquanto Ryan se aproxima, soltando uma risada doentia, se satisfazendo com a reação de Atlas.
"Não ouse fazer isso!" Empurrou Ryan, fazendo ele cambalear e bater de leve na mesa de Atlas.
"Argh... maldito!" Ryan se irritou. Avançou na direção de Rex com a tesoura em prontidão. Rex se afastou, mas, Ryan subitamente mudou de direção, se virando para Atlas.
'Slice!'
Um pedaço da manga da jaqueta caiu sobre o chão. Kevin largou os ombros de Atlas, rindo enquanto Fez um high-five com Ryan, ambos rindo do que acabou de acontecer.
Ryan - "Ha! Bom trabalho, Vin!"
Kevin - "eu que digo, Ry."
"Cuzões! Por que fizeram isso?!" Rex Cerrou os punhos, segurando dessa vez Kevin pela gola do terno. Kevin parou de rir e ficou preocupado, até que, Ryan segurou o braço de Rex e o afastou.
Ryan - "Simples... Se algo é tão velho e feio como aquela jaqueta, já conseguimos arrumar um motivo para ele trocar!" Levantou o pé, fazendo um pisão contra o pedaço cortado da jaqueta no chão, marcando ela.
'Thump!'
Atlas, que ficou olhando para a manga cortada... A pisada foi a gota d'água. Ele levantou do assento e, com um avanço rápido, segurou os ombros de Ryan e o empurrou até o chão, pegando até Rex e Kevin desprevenidos. O barulho fez os alunos que estavam ali e que estavam chegando se aproximarem, já levantando os celulares.
"O que você pensa que tá fazend–" Ryan falou, mas–
'Crack'
Um soco rachou o visor dele. Seu HUD bugou por alguns instantes, até que, viu Atlas levantar o punho novamente. "Espera–"
'Crack.'
Mais rachaduras se formaram no visor de Ryan. O corpo dele sendo pressionado no chão pelos joelhos e peso de Atlas. A 'plateia' olhava aquilo e abaixaram levemente os celulares, preocupados com a situação...mas eles não vão parar.
Rex - "Atlas! JÁ DEU! ELE DESMAIOU–"
'Crack'
Mais um soco desceu com tudo no visor de Ryan, fazendo alguns pedaços de vidro e da tela caírem no chão. Óleo está sendo derramado das laterais.
"Alguém pare isso!"
"Ele vai matar o Ryan!"
"CHAMEM O PROFESSOR!"
O HUD de Atlas está repleto de notificações, vermelhas e surgindo à cada segundo.
//Nível de raiva alto!! Necessário resfriamento.
Cancelar\\
De repente, seus braços foram segurados. Rex puxou seu amigo de cima do corpo de Ryan enquanto falava coisas que ele não compreendeu pelo tanto de notificações e, um zumbido fino em seus receptores sonoros.
A porta foi aberta com pressa, um Drone operário mais alto que todos os presentes na sala, usando um capacete de obra Branco, seu HUD da cor verde. "QUE BARULHEIRA É ESS— ?!" e então, viu a situação...Atlas soltando vários insultos enquanto está sendo segurado por Rex. Kevin agachado ao lado de Ryan que está com o Visor quebrado e HUD bugando severamente, a roda de alunos ficaram parados e se afastaram de Atlas, alguns Alunos sendo do time 'Garras mecânicas' indo ver se o Líder está bem.
"ATLAS LOCKERMAN!" a voz do professor preencheu a sala... Os gritos de alguns alunos e faladeira cessou como se a sala fosse completamente congelada. Atlas finalmente parou e olhou para o professor, as notificações sumindo e, a realização batendo. "PARA A DIRETORIA, AGORA!"
Fim do capítulo dois!
Chapter 3: \\-Carregamento Completo
Notes:
Aqui está o capítulo 3 para vocês! Espero que vocês gostem! Estou sinceramente gostando de escrever isso!
Chapter Text
"..." Costurando. Isso o que Atlas está fazendo, sentado no lado de fora da diretoria... Enquanto Lyvia discute com o Diretor sobre o que houve á minutos atrás. Ele está com o fone arrumado e, escutando música, terminando de costurar a manga cortada, exatamente como estava. "Hum..perfeito."
A porta da diretoria abriu, saindo de lá uma Lyvia com raiva estampada no visor(no formato de veias digitais), se virando para o filho e fazendo um sinal para ele seguir. Atlas silenciosamente acenou com a cabeça e, seguiu a mãe.
Caminhando entre os corredores do setor C-6, Atlas observa os operários trabalhando, alguns aproveitando a vida e, até socializando... Ele pode pelo menos apreciar a vista com a música que ouve. Mas, então, sua mãe parou na frente dele, fazendo ele tombar de leve e, o fone cair no pescoço.
"Atlas. Me fala, por que?" Lyvia questionou, seu tom não sendo de raiva, mas de ... Desapontamento. Seus olhos no visor, agora de volta ao brilho normal, ainda carregavam um sentimento profundo.
Atlas evitou o olhar dela, fixando-se no piso de metal polido. O ritmo da música, agora abafado, parecia ficar mais distante. "...Eles cortaram. A jaqueta. Pisaram nela." As palavras saíram baixas, quase um sussurro, mas carregadas de uma dor que ele raramente demonstrava. "Falaram do pai..."
Lyvia suspirou, um leve chiado metálico em seus sistemas internos. "Eu sei, Atlas. O Diretor me contou. O segundo garoto foi repreendido, o primeiro garoto... Ele vai ter que ser internado para ter o visor reparado e ambos terão trabalho de manutenção. Mas... isso não justifica o que você fez. Você quase o... Desativou. Você sabe as regras." Sua voz era um lamento, não uma acusação.
Atlas finalmente levantou o olhar, e nos seus olhos cansados havia uma mistura de fúria e exaustão. "Regras? A regra é sobre sobreviver, não sobre deixar que me pisoteiem, mãe! Eles... eles sempre fazem isso! Com a música, com a jaqueta... É do pai! É tudo o que eu tenho dele..." Sua voz subiu ligeiramente, cheia de frustração contida. "Eles sempre falam do fardo, do sacrifício dele... mas ninguém se importa quando zombam do legado dele! Eu... eu não quero que ele fique com essa imagem..."
Um silêncio pesado caiu entre eles, preenchido apenas pelo eco distante do bunker e pela batida abafada da música de Atlas. Lyvia se aproximou, sua mão pairando sobre o ombro dele, mas sem tocar. Seus olhos se suavizaram ainda mais. "Eu sei, meu amor. Eu sei o que ele significa para você. E eu sei que está difícil. Mas... o que você fez foi grave, Atlas. Muito grave. Você quase... quase desativou outro drone. O Diretor estava falando em reportar e demandar um exílio. Você entende o que isso significa?" A voz de Lyvia tremeu ligeiramente, uma emoção rara e crua em seu tom.
Lyvia - "Eu passei minutos lá dentro convencendo-o de que você não é uma ameaça real. Que foi um erro, uma exceção." Ela fez uma pausa, olhando-o nos olhos, a tristeza substituída por uma seriedade férrea. "E... o diretor, por minha causa, decidiu que você será transferido para a classe B-5. Você não estará mais no C-6."
Os olhos de Atlas se arregalaram. A surpresa e uma pontada de desorientação tomaram conta de seu visor. B-5... não era o que ele esperava. Era um passo lateral, para uma turma diferente, por uma razão que pesava. "O quê?! B-5? Mas... por quê? Eu não posso só... Deixar o Rex pra trás! Ele é meu amigo!"
Lyvia balançou a cabeça, a tristeza profunda em seu visor. "Atlas... não é uma escolha. É uma ordem. É para o seu próprio bem, para que você aprenda a lidar com isso de outra forma. E... acredite, é melhor do que o exílio lá fora. Você vai começar lá a partir de amanhã. Eu... preciso ir trabalhar. Khan precisa de mim. Tente entender, filho." Ela deu um passo para trás, sua postura rígida, a tristeza em seus olhos ainda visível enquanto ela se virava e se afastava rapidamente pelo corredor.
Atlas ficou parado, a música ainda tocando baixinho em seus ouvidos. Ele sentiu algo vibrar no bolso da jaqueta, tirando o celular e então, vendo um monte de Mensagens do próprio Rex. Decidiu responder.
———————————
[Rex]: Mano, cê tá bem aí?
[Rex]: todo mundo tá falando do que aconteceu
[Rex]: tomou bronca???
Eu... Estou bem, só vou trocar de classe. :[Atlas]
[Rex]: Que?! Nãoooooo!! Como a gente vai interagir agora??
Talvez durante as partidas de basquete ou final das aulas... A classe que eu vou é a B-5. :[Atlas]
[Rex]: oh, então tá tudo bom, é essa classe que o Thad está, inclusive...a Uzi, né?
É, mas faz muito tempo desde que eu falei com ela. :[Atlas]
[Rex]: fica tranquilo, só cuidado pra não se infectar com a esquisitice dela
Sei sei...vou indo... :[Atlas]
[Rex]: só não esquece do baile que vai rolar daqui algumas semanas.
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Desligou o celular e pôs no bolso, ele observou os arredores uma última vez antes de colocar os fones de volta e, continuar andando, ouvindo a sua música favorita.
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Não demorou muito para ele chegar em casa. Vazia e silenciosa... Perfeito para ele. Caminhou entre os corredores até chegar no próprio quarto, sentindo o frescor da sua própria zona de conforto.
Ele foi direto para a mesa do computador, o fone ainda em seu pescoço. Tirou a fita de 'I Was Made For Lovin' You' do walkman e, com um olhar pensativo, procurou na caixa de fitas. Seus dedos deslizaram pelos rótulos até encontrar um que parecia prometer algo diferente. 'Billie Jean - MICHAEL JACKSON', leu o pequeno papel. Ele inseriu a fita e apertou o play. Um ritmo contagiante preencheu seus receptores sonoros.
('Esse cara que canta deve ter sido uma estrela...'). Um pensamento cruzou seu HUD. A maioria das músicas que ele ouvia eram de artistas desconhecidos para ele, apenas sequências de áudio encontradas por acaso em fitas antigas. ('Eu vou pesquisar depois sobre').
Com a nova melodia como trilha sonora para sua tarefa, Atlas começou a arrumar sua área de trabalho. Empurrou o teclado e o monitor para o lado, limpando a superfície. De debaixo da mesa, puxou uma caixa de ferramentas metálica e pesada, fazendo um barulho seco ao pousá-la. Em seguida, trouxe pilhas de componentes eletrônicos, fios de diversas cores e pequenos módulos de processamento, E em resumo: um monte de coisa tecnológica.
Por último, ele puxou um rolo de papel amassado e o desenrolou sobre a mesa, revelando um blueprint meticulosamente detalhado. O título no topo, escrito à mão com precisão robótica, lia: "Dispositivo de Anulação Sonora Pessoal". O diagrama mostrava um pequeno aparelho de formato ovalado, com intrincados circuitos de isolamento de frequência e um microprocessador de áudio.
A ideia dele é criar um gadget que, acoplado discretamente a seus receptores sonoros, pudesse filtrar ruídos ambientais indesejados – como provocações, gritos ou a constante atividade do bunker – permitindo que apenas sons específicos passassem com clareza cristalina. Uma forma de ter paz em seu próprio sistema.
Atlas passou um dedo pela linha do diagrama, um brilho de concentração substituindo a exaustão em seu HUD. Havia muito trabalho a fazer. ('A Uzi me paga por ter me interessado em engenharia... Mas também devo agradecê-la.')
A melodia de "Billie Jean" preenchia o quarto. Atlas, imerso em seu projeto, trabalhou com uma eficiência hipnotizante. Seus dedos se moviam com precisão, separando fios, soldando pequenos contatos e encaixando microcomponentes com uma delicadeza surpreendente para alguém que acabara de quase esmagar o processador e cabeça de um colega.
Peças metálicas reluziam sob a luz fraca de sua bancada. Ele interligava um circuito complexo, seus olhos no HUD focados nos diagramas que se projetavam de seu visor. O ritmo da música parecia guiar seus movimentos, um balé silencioso de engenharia. Um pequeno módulo foi encaixado com um clique satisfatório. Fios finos, como veias coloridas, eram cuidadosamente roteados e soldados em pontos específicos. A casca oval do dispositivo começava a tomar forma em suas mãos, o polímero se unindo aos circuitos internos.
A música chegava ao seu ápice, os vocais de Michael Jackson ecoando no espaço. Atlas esticou a mão para pegar o último componente vital, uma peça-chave que selaria o aparelho... mas sua mão encontrou apenas o vazio da mesa. Ele tateou a caixa de ferramentas, revirou as pilhas de sucata, seu HUD mostrando uma linha de busca rápida, como um scanner.
"Ughh... esqueci disso..." O brilho de concentração em seu visor vacilou, substituído por uma frustração momentânea. A última peça, o Módulo Ressonador de Anti-Frequência, a que faria toda a função de anular sons indesejados, não estava ali.
Atlas suspirou, deixando a bancada com o projeto inacabado. Tirou a fita de 'Billie Jean' do walkman, deixando-a sobre a mesa, e na caixa abaixo, puxou outra cassete, deslizando 'Take on Me' para dentro do aparelho. O som de sintetizadores vibrantes e a voz cheia de eco de Morten Harket preencheram seus receptores sonoros.
Com a nova trilha sonora, ele saiu do quarto e, sem hesitar, deixou a própria casa. Os corredores do bunker, antes apenas um borrão em sua rotina, agora pareciam mais vívidos com a música e a nova missão. Enquanto caminhava, alguns Operários mais velhos, reconhecendo-o como filho de Lyvia, acenavam com a cabeça ou ofereciam um breve "Bom dia, Atlas".
Ele respondia com um aceno quase imperceptível. Mas dos drones da sua idade, aqueles que o viram ou ouviram sobre o incidente na sala de aula, vinham apenas os cochichos abafados, olhares rápidos e desvios de rota. Ele sentiu o peso dos olhares, mas deixou que a música os empurrasse para fora de sua percepção. A cidade-bunker se estendia à sua frente, e em algum lugar, estava o componente que ele precisava.
Seus passos o levaram a uma área menos movimentada, perto de um dos elevadores principais que conectavam os setores. A música de 'Take on Me' o envolvia completamente, e ele caminhava com a cabeça ligeiramente inclinada, seu olhar focado no piso. Virando um corredor estreito, Atlas estava tão absorto que não viu a figura que vinha na direção oposta, saindo apressadamente de um dos elevadores dos níveis superiores.
O impacto foi repentino e inevitável. Atlas trombou com força em algo... ou alguém. O fone escorregou de seus receptores, pendurado precariamente. A música de A-Ha foi abruptamente substituída por uma voz irritada e um som metálico de algo caindo no chão.
"Mas que porra?!" A voz era aguda, cheia de sarcasmo e raiva imediata. "Você tem olhos no visor ou botões de liga e desliga, seu pateta?! Olha por onde anda!"
Atlas cambaleou para trás, seus olhos no HUD piscando em surpresa. Ele baixou o olhar e viu a fonte da irritação. Era uma drone menor que ele, sua cabeça alcançando o peitoral de Atlas, talvez um pouco acima do seu pescoço. O cabelo roxo escuro, com mechas que pareciam brilhar em um tom roxo ou lilás sob a luz ambiente, estava preso por um gorro de lã preta. Seus olhos, no Visor, brilhavam em um roxo intenso, quase Neon, transmitindo uma fúria concentrada. Ela vestia uma jaqueta preta que parecia grande demais, com detalhes brancos e um capuz felpudo na gola, e suas pernas estavam envoltas em meias listradas e grandes, culminando em botas robustas. Ela tinha um ar gótico, emo, e agora, furioso.
No chão, entre eles, jazia uma ferramenta incomum, com pontas afiadas.
"Uzi?" Atlas perguntou, a voz um pouco embaraçada. Ele a reconheceu imediatamente, embora não a visse há um tempo. Rex tinha mencionado a 'esquisitice' dela. Agora, ele via a 'raiva acumulada' de perto.
Uzi cerrou os punhos, seu visor ainda focado em incômodo e, fúria. "Ah, que surpresa! Um dos que me conhece! O que foi, vai falar como estou estranhamente suspeita carregando uma peça misteriosa? ou você resolveu testar se drones têm reflexos com seu corpo?" Ela chutou levemente a ferramenta caída, sem desviar o olhar do visor dele. Seus olhos roxos, antes um borrão de raiva, focaram, e um brilho de reconhecimento lento acendeu neles, mas sem diminuir a irritação. "Espera aí... Atlas? É você mesmo? Pensei que você estivesse na enfermaria depois de quase desativar aquele idiota do Ryan."
"Huh, a notícia chegou até você tão rápido?" Atlas apenas revirou os olhos, um gesto sutil que Uzi provavelmente não perdeu. Ele se abaixou para pegar a ferramenta do chão, revelando-a mais claramente: não era uma ferramenta comum, mas um molde de um rifle quebrado, uma peça robusta e pesada, com marcas de uso e talvez de impacto. Uzi, por sua vez, aproveitou o momento para afastar os poucos drones curiosos que começavam a se aproximar com um olhar irritado, fazendo-os recuar.
"É, sou eu", Atlas respondeu, endireitando-se e guardando o walkman no bolso da jaqueta. "E não, não estou na enfermaria. Só... tomei uma bronca. E vou trocar de classe." Ele manteve a explicação vaga, sem entrar em detalhes sobre o exílio ou a intervenção de Lyvia.
Os olhos de Uzi piscaram. "Trocar de classe? Para onde? Não me diga que você finalmente foi expulso daquela turma de CDFs superestimados." Ela cruzou os braços, um sorriso de escárnio brincando em seu visor.
"Para B-5", Atlas respondeu, observando a reação dela.
O sorriso de Uzi sumiu, substituído por uma expressão de surpresa genuína. "B-5? Mas... essa é a minha classe, idiota. O que você vai fazer lá? Não me diga que o diretor finalmente percebeu que você é um desajustado como a gente." Ela balançou a cabeça, o gorro balançando levemente. "Enfim. O que você está fazendo por aqui? Não é o seu setor."
Atlas apontou vagamente para o elevador. "Uma peça dos meus projetos está faltando. Lembrei que encomendei a tal peça do outro bunker, então vou buscar."
Uzi inclinou a cabeça, a curiosidade superando a irritação por um momento. "Outro bunker? Como você vai fazer isso? Não tem como sair daqui para ir para um distante. A porta está trancada, e lá fora... bem, lá fora é lá fora." Ela gesticulou com a cabeça, referindo-se ao perigo dos Drones de Desmonte.
Atlas apenas deu um pequeno sorriso, um brilho de algo próximo à diversão em seu HUD. Ele começou a andar em direção ao elevador. "Vem. Me segue."
Uzi hesitou por um segundo, seu instinto de cautela lutando contra a curiosidade. "Espera aí! Onde você vai? Não posso simplesmente te seguir para qualquer lugar, seu esmiolado! E se for uma armadilha? Ou se você for explodir alguma coisa?"
Atlas parou na frente do elevador, olhando-a por cima do ombro. "Então não vem. Mas se você quiser ver algo... interessante, é agora."
Uzi bufou, mas a curiosidade era palpável. "Argh! Tá legal, tá legal! Mas se isso for uma perda de tempo, ou se eu for desativada por sua causa, eu juro que vou te assombrar como um fantasma de vírus!" Ela se aproximou, mas parou a uma distância segura. "Mas... como você vai pegar uma peça...posso pedir uma também? E... me leva junto. Eu quero ver isso." A última palavra saiu quase como um resmungo, uma concessão rara.
Atlas a olhou, um pequeno brilho de satisfação em seu visor. "Certo. Mas não reclame depois." Ele esperou Uzi entrar no elevador e, puxou algo do painel que mostra os setores...ele retirou uma fita da mesma cor do metal e, revelou um botão escondido, com o número raspado.
Uzi observou o movimento com os olhos arregalados, um pequeno "Hã?!" escapando de sua boca. "Mas que é isso? Você tem um botão secreto no elevador? Que tipo de esquisitice é essa, Atlas?"
"Eu mesmo escondi", Atlas respondeu, um leve tom de orgulho em sua voz, enquanto apertava o botão raspado.
O elevador estremeceu, e em vez de subir ou descer para os andares conhecidos, começou uma descida lenta e profunda, o som dos cabos e do mecanismo ecoando no poço. Demorou alguns minutos, um tempo que pareceu mais longo no silêncio tenso que se instalou entre eles.
Uzi, incapaz de ficar quieta por muito tempo, quebrou o silêncio. "Então... o que você está ouvindo aí? Essa batida é... familiarmente irritante." Ela apontou para o walkman pendurado no pescoço dele.
Atlas revirou os olhos novamente, mas um pequeno sorriso quase imperceptível se formou em seu visor. "É 'Take on Me' de A-ha."
Uzi soltou uma pequena risada, um som surpreendentemente leve para ela. "A-ha? Sério? Eu sempre achei que Nightcore é uma opção muito melhor para essa música. Pelo menos tem mais... energia."
"Seu gosto musical não muda mesmo, hein...", Atlas murmurou, pegando os fones e colocando-os de volta em seus receptores, um claro sinal de que a conversa estava chegando ao fim para ele.
Uzi bufou, cruzando os braços. "Ei! Qual é o seu problema? Meu gosto musical é superior, seu CDF ranzinza! Que se dane!" Ela fez uma pausa, os olhos roxos brilhando com desafio. "E não me venha com essa de 'não muda', como se o seu fosse a oitava maravilha do mundo!"
O elevador continuou sua descida, o silêncio voltando, quebrado apenas pela música abafada de Atlas e o resmungo ocasional de Uzi.
Após o que pareceram longos minutos, um rangido alto e um solavanco abrupto indicaram que o elevador havia parado. As portas se abriram lentamente, revelando não um corredor iluminado do bunker, mas um túnel escuro e úmido, com paredes irregulares de terra compactada e rochas. Apenas uma luz fraca, vinda de um ponto mais à frente no túnel, quebrava a escuridão. O cheiro de metal enferrujado e terra molhada preencheu o ar.
Uzi piscou, seu visor se ajustando à pouca luz, a boca ligeiramente aberta em surpresa. "Mas que... o que é isso? Onde diabos estamos? Isso não é... um setor do bunker."
Atlas tirou os fones, o som abafado de 'Take on Me' voltando a ecoar suavemente. Ele deu um passo para fora do elevador, a luz da fenda refletindo em seu visor. "É o caminho. Para o outro bunker." Ele começou a andar pelo túnel, sem olhar para trás, esperando que Uzi o seguisse.
Uzi bufou, ainda com os olhos semicerrados para a escuridão à frente. "Argh! Claro que é. Por que as coisas não podem ser fáceis para variar? E por que eu te segui mesmo? Que se dane!" Resmungando, ela se apressou para alcançá-lo, seus passos ecoando no chão de terra batida.
Eles caminharam por um tempo que pareceu bem longo. As luzes fracas e espaçadas no teto irregular mal quebravam a penumbra, revelando as paredes brutas de terra compactada e rochas que formavam a passagem. O ar era pesado, com um cheiro persistente de mofo e minerais. À medida que avançavam, a estrutura parecia menos um túnel de serviço e mais uma antiga mina abandonada.
Eventualmente, o caminho se abriu ligeiramente, e eles começaram a ver sinais de atividade passada. Carrinhos de mineração, velhos e enferrujados, jaziam tombados em trilhos tortos, alguns ainda carregando resquícios de carvão, pedaços brutos de cobre, ferro e outros minérios cintilantes sob a pouca luz. Picaretas fincadas nas paredes de rocha, esquecidas por seus antigos proprietários, pareciam monumentos a um trabalho árduo e interrompido. Mais adiante, alguns caminhos estavam inacabados, blocos de terra e pedra desabados bloqueando o que poderiam ter sido outras passagens.
Então, eles viram os corpos de Operários e esqueletos de humanos. Corpos de Drones Operários, há muito tempo destruídos, espalhados pelo chão em diversas posições, alguns ainda presos aos escombros ou escorados em ferramentas quebradas. Um silêncio mórbido caiu sobre a cena, quebrando o ritmo de 'Take on Me' nos receptores de Atlas.
"O-o que... o que é isso, Atlas?" Uzi perguntou, sua voz baixa, com um raro tom de incerteza. Seus olhos roxos no visor varriam os restos, tentando processar a imagem. "Uma mina? O que aconteceu aqui? Esses são... Operários?"
Atlas, que passava pelos esqueletos sem hesitar, respondeu com a voz calma, quase monótona. "Era uma mina antiga. Abandonada, usada para transporte de recurso para os demais bunkers espalhados pelo planeta." Ele não parou. "Colapso. Ou... Drones de Desmonte." A última parte foi dita com uma indiferença que fez Uzi estremecer ligeiramente.
"Drones de Desmonte? Aqui dentro?" Uzi disparou, seus olhos agora fixos em Atlas. "Você tem ideia do quão estúpido é andar por um lugar onde Operários foram... desativados? E por uma peça? Que peça é essa tão importante que te faz vir para esse fim de mundo, seu maluco? Uma arma secreta? Um detonador de bunker para nos explodir?" O sarcasmo retornou, mas com uma camada de nervosismo. Ela pegou a ferramenta de rifle quebrado que carregava, apertando-a um pouco mais forte.
"Algo que preciso. Para um projeto", Atlas respondeu, sem dar detalhes. Ele apontou para os caminhos inacabados. "Essa não é uma falha de projeto. É uma das únicas rotas que ainda permaneceram abertas para os outros bunkers, A maioria das rotas foi selada após o incidente da mina e o resto, só quem tem alto cargo no bunker consegue usar."
Uzi bufou. "Claro, porque 'segurança' é o maior dos seus problemas agora, não é? Não se perder nesse labirinto de ossos e pedras, ou ser... sei lá, empurrado por um fantasma de Operário!" Ela apressou o passo, mantendo-se mais perto de Atlas do que antes, apesar de todos os seus protestos. A luz fraca no fim do túnel parecia não ficar mais próxima, e a curiosidade dela era quase tão grande quanto o medo que ela se recusava a admitir.
Após o que pareceu uma eternidade, os dois finalmente pararam. À frente deles, o túnel terminava abruptamente em uma imponente escotilha gigantesca, massiva o suficiente para ocupar todo o perímetro da passagem. Feita de metal reforçado e enferrujado, com incontáveis rebites e engrenagens visíveis, ela lembrava os antigos vaults de histórias pré-apocalípticas, como os de "Fallout 4", emanando uma aura de idade.
"Mas por Deus..que é isso?" Uzi murmurou, seus olhos roxos no visor ampliados para captar cada detalhe da estrutura colossal. "Isso é... gigante. E antigo pra caramba. Quantos anos isso deve ter?"
Atlas se aproximou da escotilha, ignorando o comentário de Uzi. Ele bateu na superfície metálica em um ritmo bem específico, os sons secos e precisos ressoando no túnel. Era o ritmo inconfundível de 'The Night Begins to Shine'. Quase que instantaneamente, um pequeno compartimento, um pouco acima da cabeça de Atlas, se abriu com um chiado mecânico. Dois olhos brancos, cercados por rugas digitais que pareciam cicatrizes de tempo e experiência, brilharam na escuridão do vão.
"Senha." A voz que veio do compartimento era grossa, rouca, carregada de uma idade que parecia rivalizar com a própria escotilha.
"O de sempre." Atlas respondeu sem hesitação, sua voz monótona e confiante.
A pequena portinhola para os olhos fechou com um suave zumbido, apenas para abrir-se novamente após um breve segundo, revelando os mesmos olhos fixos neles.
"Então, o que você quer dessa vez, pivete? E trouxe companhia?" Questionou o dono da voz, o tom sem emoção, mas com uma clara nota de desaprovação pela presença extra.
Uzi se aproximou, sua curiosidade sendo perceptível. "Sou a companhia. E você é o quê, o guardião do esquecimento?"
Atlas, sem dar atenção à troca, foi direto ao ponto. "Você tem o Módulo Ressonador de Anti-Frequência? O último lote que pedi."
O drone misterioso não respondeu imediatamente. A portinhola foi fechada novamente, demorando um pouco mais desta vez, deixando Uzi e Atlas no escuro, apenas com a música abafada de 'Take on Me' de fundo.
Uzi cruzou os braços, nervosa. "Isso é confiável, Atlas? Ele vai mesmo abrir? E se for uma armadilha? Ele parece um daqueles vilões de filme ruim que vivem em bueiros."
Antes que Atlas pudesse responder, a portinhola rangeu e foi aberta novamente, revelando os olhos cansados do guardião. "Tem, mas você já sabe o preço. As peças foram feitas hoje."
Atlas acenou com a cabeça. Lentamente, ele se aproximou da portinhola, um de seus olhos no visor sendo substituído por um código QR luminoso. Do outro lado, o drone misterioso estendeu um pequeno aparelho e fez a leitura. Um som metálico, como o de moedas caindo em uma máquina antiga, reverberou do outro lado da escotilha. Na tela do visor de Atlas, a notificação de "-25 créditos espaciais!" piscou. Ele apenas suspirou, pegando a sacola pesada que o drone mais velho passou pelo buraco logo abaixo da portinhola.
"Apenas isso?" Questionou a voz grossa do drone atrás da escotilha, uma sugestão de expectativa não cumprida em seu tom.
Uzi, aproveitando a deixa e a distração, passou para a frente, seus olhos roxos brilhando com determinação. "Não. Eu preciso de um molde de um canhão elétrico, e junto disso, um pacote de LEDs de alta intensidade, daqueles roxos e brilhantes. Você tem?"
O drone fechou a portinhola mais uma vez, um breve momento de silêncio antes que ela se abrisse novamente, os olhos inexpressivos fixos em Uzi. "Apenas tem o LED vermelho e verde. Isso será 15 créditos pelo molde e 8 pelos LEDs. Total é 23 créditos."
Uzi se virou para Atlas, o visor com uma expressão de confusão genuína, quase uma careta.
"Que foi?" Atlas questionou, já percebendo o que estava por vir.
"Atlas", Uzi começou, sua voz inesperadamente suave, quase melosa, o sarcasmo dando lugar a um tom ligeiramente manhoso. Ela fez beicinho, uma atitude que Atlas nunca imaginou ver nela. "Seja um bom amigo e cavalheiro, pague isso para mim?"
"Nem ferrando, oportunista." Foi a resposta seca de Atlas, seus olhos no visor mal piscando.
Uzi rosnou, o beicinho desaparecendo e a raiva retornando. Ela deu um soquinho no ombro dele, que para Atlas pareceu mais um peteleco, mas para Uzi era sua forma de protesto. "Argh! Que se dane! Você é inútil!"
A voz rouca do drone ecoou da portinhola, interrompendo a discussão. "Ei, pivete. Eu posso abaixar um pouco o preço dela... Se você me der outra dessas músicas. A que você está ouvindo agora."
Atlas suspirou, um chiado audível em seus sistemas. Era um pedido estranho, mas o preço... Ele retirou o walkman do bolso, tirou a fita 'Take on Me' e a entregou através da portinhola. O drone do outro lado, em troca, devolveu a fita 'The Night Begins to Shine' que Atlas havia entregado anteriormente como pagamento por sua própria peça. Uma troca silenciosa e peculiar.
A portinhola se fechou por um instante e logo se abriu novamente, e uma segunda sacola foi empurrada para fora do buraco.
"Agradeço pela troca, pivete. Nos vemos na próxima compra." A voz do guardião soou um pouco mais satisfeita.
"Lá se vai metade da minha mesada..." Atlas acenou com a cabeça, pegando a sacola de Uzi e entregando a ela. No seu próprio HUD, a notificação de '-18 créditos espaciais!' apareceu. Ele abaixou a cabeça, aceitando o prejuízo. Atrás dele, Uzi estava toda feliz e com uma energia de Gremlin, segurando a sacola com seu novo molde e os LEDs, seus olhos roxos brilhando com excitação.
"Ugh, fala aí...", Atlas questionou Uzi, enquanto os dois se afastavam da escotilha, caminhando de volta pelo túnel. "Pra que você vai precisar disso? Projeto escolar? Não me diga que você vai fazer um canhão de verdade."
Uzi inflou o peito, um sorriso largo e cheio de orgulho rasgando seu visor. "Projeto escolar? Que se dane! Eu vou fazer uma arma elétrica Incrível pra caramba! Daquelas que realmente funcionam! Achei uns diagramas antigos perdidos no meio de uma caixa que meu pai deixou largada na dispensa, e esse molde é perfeito!"
"Mas por que construir uma arma, Uzi?" Atlas perguntou, parando por um instante, o som da música em seu walkman já um eco distante. "Mesmo para um projeto de escola... não faz sentido. Não temos inimigos dentro do bunker."
O sorriso de Uzi aumentou drasticamente, fazendo seus caninos afiados aparecerem em um brilho ameaçador. Os olhos no visor dela se fixaram nos de Atlas, com uma intensidade maníaca. "Heh, não surta, a ideia é incrível!"
A cena corta para o drone atrás da porta. Ele estava em um recinto que parecia um misto de depósito e oficina, coberto por um manto velho e cercado por pilhas de caixas de metal enferrujado. Ele segurava a fita 'Take on Me' e estava prestes a inseri-la em um aparelho arcaico de áudio.
Foi então que um Grito Enorme e de pura confusão ecoou de trás da escotilha principal – não dentro do Bunker, mas sim do túnel.
"O QUE?!?!"
O drone misterioso bufou e, voltou a colocar a fita cassete no dispositivo. "Pivetes..."
A cena mudou novamente, focando em Atlas. Ele estava parado no túnel, a poucos metros da escotilha agora silenciosa. Sua expressão era uma mistura de surpresa e desacreditação profunda. Os olhos em seu visor estavam levemente maiores e ocos, representando um choque, um olhar arregalado de quem não consegue processar o que acabou de ouvir. Na lateral de seu visor, um pequeno suor digital escorria, um sinal raro de seu sistema sob estresse extremo.
Uzi, no entanto, irradiava uma energia vibrante, os olhos roxos brilhando com um fervor quase maníaco. Ela gesticulava com a sacola do molde do canhão elétrico e dos LEDs.
"Genial, não é?!" Uzi exclamou, a voz cheia de triunfo e uma alegria frenética. "Eu vou construir a arma! Uma arma elétrica incrível pra caramba™ que finalmente vai acabar com todos aqueles Drones de Desmonte lá fora! E então... eu vou ser a salvadora do bunker! Ninguém mais vai precisar ter medo, e meu pai... meu pai vai ter que me agradecer por isso!"
Atlas, ainda em choque, levantou a mão e deu um tapa fraco no próprio visor, como se tentasse redefinir seus circuitos ou sair de um pesadelo.
"Uzi..." ele começou, sua voz embargada pela incredulidade. "Essa ideia é simplesmente Maluca e Estúpida! Ninguém em sã consciência iria fazer isso, nem mesmo você! Seus circuitos pifaram, foi?!" Ele exclamou, o tom subindo pela primeira vez.
Uzi apenas manteve o sorriso, que agora se alargava ainda mais, mostrando ainda mais seus caninos afiados. Uma calma assustadora se instalou em seu visor, contrastando Atlas.
"Não" ela respondeu, a voz perigosamente confiante. "Meus circuitos estão ótimos. E a ideia é tão genial que... eu não vou sozinha." Seus olhos roxos fixaram-se nos de Atlas, o brilho quase se tornando uma promessa.
Uzi - "Eu vou levar você!"
Atlas - "... Que?"
Fim do capítulo três!
Chapter 4: \\-Nível de planejamento: alto
Notes:
E aqui está o capítulo 4! Espero que vocês gostem de ler! Estou tendo muitas ideias para essa história e vou explorar cada um!
Ah, e para a informação geral... A história se passa 1 semana antes dos eventos principais de Murder Drones, então vai demorar um pouco para as coisas acontecerem.
Chapter Text

Atlas piscou, os olhos em seu visor tentando se ajustar. ('... Como que eu acabei nessa situação?') O pensamento ecoava em seus circuitos, um loop.
Ele se encontrava sentado em uma cama, o corpo de drone afundando ligeiramente no colchão macio. A coberta abaixo dele era de um tom profundo, mas ele não conseguia discernir se era azul ou roxa, porque a luz extremamente roxa que emanava de um conjunto de LEDs estrategicamente colocados no quarto de Uzi influenciava cada pixel de sua percepção visual. Era um ambiente que gritava "Uzi Doorman" – caótico, mal iluminado por onde deveria ser claro, e estranhamente confortável para alguém que gostava de sombra. Além de ver um pôster de filme grudado na parede; 'O eletricista'.
Logo à sua frente, Uzi estava sentada em uma cadeira giratória, os pés apoiados na mesa improvisada cheia de sucata e ferramentas. Ela apontava para algo no computador na mesa, o visor iluminando seu rosto com um brilho esbranquiçado. Seus olhos roxos estavam fixos na tela, mas um sorriso crescia lentamente em seu visor, um sorriso que se tornava levemente preocupante para a saúde mental de quem o observava. Era a alegria pura e desequilibrada de alguém à beira de uma grande — e terrível — descoberta.
"Viu só, Atlas?" Uzi começou, sua voz cheia de um entusiasmo febril, que contrastava bruscamente com a resignação de Atlas. "Eu disse que era genial! Olhe isso!" Ela gesticulou para o que parecia ser um diagrama complexo na tela, misturando esquemas com anotações rabiscadas à mão e o que pareciam ser blueprints e fotos. "Com este molde, e alguns ajustes nos esquemas que eu já fiz... nós podemos fazer um. De verdade! Só... uh... faltam algumas peças para a montagem final. Nada que a gente não consiga, claro!"
Atlas apenas a observava, um pequeno suor digital já se formando em seu visor novamente. Ele não tinha a menor ideia de como havia sido arrastado para o centro da loucura de Uzi, muito menos para a sua próxima grande ideia suicida.
"Uzi..." Atlas começou, a voz num tom baixo e incrédulo. Ele abaixou a cabeça e encostou a mão suavemente no próprio visor, como se tentasse se certificar de que aquilo não era um erro de sistema. "Eu ainda estou tentando processar... Você. Você está falando que vai DIRETAMENTE para a toca dos Drones de Desmonte... E VAI ME LEVAR?" A última parte saiu quase como um sussurro, mas carregada de um desespero profundo.
Uzi apenas confirmou, com a cabeça erguida e o sorriso inabalável, sem a menor hesitação. Seus olhos roxos brilhavam com uma convicção quase assustadora. "Exatamente! Pense nisso, Atlas! A minha genialidade, combinada com a sua... uh... assistência técnica, vai ser imparável! Nós vamos mudar a história dessa colônia! Seremos os heróis que finalmente acabaram com aqueles parasitas assassinos!" Ela gesticulou no ar com um entusiasmo desmedido, como se já estivesse visualizando os aplausos e reconhecimento.
"A gente vai ser MORTO!" Atlas praticamente gritou, suas mãos apertando os joelhos. Ele se inclinou para a frente, tentando fazer Uzi entender a gravidade da situação. "Você ainda diz que a última peça dessa... dessa 'arma elétrica incrível pra caramba' está lá na toca deles, a Espiral de Corpos... E você vai principalmente À NOITE?!" O tom óbvio e desesperado de Atlas preencheu o quarto.
Uzi apenas balançou a cabeça em confirmação, um sorriso zombeteiro em seu visor. Então, um emoji de joinha (👍) piscou no canto do seu HUD, demonstrando uma confiança irritante. Ela pegou o blueprint amassado da mesa, desdobrando-o com um estalo e abrindo-o bem na frente do visor de Atlas.
Uzi - "Exatamente!" ela respondeu, com uma determinação inabalável. Com o dedo, ela começou a apontar os detalhes de cada peça, cada circuito intrincado da 'arma elétrica incrível pra caramba' no diagrama. "Veja bem, Atlas! Este é o coração do mecanismo, o Regulador de Pulso Dinâmico. É o que vai concentrar a energia. E aqui", ela moveu o dedo para outra seção, "o Conector de Sobrecarga Quântica, para amplificar o tiro. Então o Núcleo de poder! Só falta essas três peças, as mais importantes. a terceira, por acaso... fica em um lugar bem, uh, exótico." O brilho maníaco em seus olhos roxos sugeria que 'exótico' era um eufemismo grosseiro para 'suicida'.
Atlas finalmente afastou o blueprint do rosto, cruzando os braços e fixando seu olhar nos olhos roxos de Uzi, que ainda ardiam com uma determinação maníaca. "E o que vai me fazer pensar em colaborar?" Sua voz era plana, desafiadora.
Uzi parou, a mão ainda no diagrama. Seus olhos roxos desviaram-se por um instante, o cérebro da drone processando rapidamente. Ela precisava de um ângulo.
"Pense na glória, Atlas!" ela começou, gesticulando dramaticamente. "Nossos nomes nos livros de história! 'Uzi e Atlas: Os Salvadores de Copper 9'! Você não quer ser o co-herói que finalmente chutou a bunda daqueles Drones de Desmonte e salvou todo mundo? Ter uma estátua de nós dois na entrada do bunker?"
Atlas apenas ergueu uma sobrancelha, um pequeno chiado escapando de seus sistemas. "Não."
Uzi bufou. "Argh, sem graça. Ok, ok. Pense na lógica então, seu CDF! É o único jeito de acabar com eles! Ninguém mais vai fazer isso! Você acha que o Khan vai ter uma ideia brilhante com a porta? E seu pai... ele faria isso! Ele lutou! Ele não deixaria a colônia ser a próxima vítima!"
Atlas balançou a cabeça lentamente, os olhos firmes. "Isso é suicídio, não lógica. E não, ele não faria isso sem um plano que não envolvesse a morte certa."
O sorriso de Uzi se contraiu, e ela se inclinou para perto, um bril brilho perigoso em seu visor. "Olha aqui, Atlas. Você veio até aqui, sabe de tudo sobre o meu plano... Já sabe demais. Ou você me ajuda, ou... bem, eu posso 'acidentalmente' contar pro diretor sobre o seu pequeno atalho escondido."
Atlas observou-a, a expressão de Uzi oscilando entre a agressão e um desespero quase infantil. Ele suspirou, o suor digital em seu visor voltando a aparecer. "Chantagem? Sério? Esperava mais... quero ver quem ele vai se importar mais, um adolescente que vai nas minas ou a adolescente planejando ir pra fora do bunker. Nem pensar."
Uzi rosnou, batendo o blueprint na mesa. "Então o que você quer?!"
Atlas observou-a, a expressão de Uzi oscilando entre a agressão e uma frustração mal disfarçada. Ele suspirou, o suor digital em seu visor voltando a aparecer. "Eu quero uma razão para não te deixar aqui e voltar para a minha casa."
Uzi cruzou os braços, um brilho perigoso em seus olhos roxos. Ela inclinou a cabeça, estudando Atlas como um problema de lógica a ser resolvido. "Olha aqui, seu 'gênio' da engenharia", ela começou, o tom carregado de um sarcasmo afiado. "Não é que eu 'precise' de você, seu pedaço de tédio. Eu consigo montar isso sozinha. Mas vai ser um inferno. Vai levar o triplo do tempo, eu vou ter que explodir algumas coisas no processo, e provavelmente o bunker vai ter que lidar com mais uns... acidentes."
Uzi fez uma pausa dramática, o sorriso retornando, mas agora com um ar de desafio. "Mas se você, o 'grande Atlas' que se importa tanto com a eficiência e com não ter um desastre nuclear no seu colo, realmente se importa, então você me ajuda a fazer isso direito. Ou você é só mais um inútil nesse bunker que só sabe fazer nada e se esconder?"
Atlas abaixou a cabeça, o visor tentando processar uma resposta, um refutamento àquela provocação. Uma onda de algoritmos se formava em seu sistema, buscando uma lógica que derrubasse a de Uzi. Mas Uzi, como sempre, não deu a ele a chance de respirar. Ela ditou o próximo ponto, direto ao cerne de seus medos.
"Você acha que aquelas três portas de metal enferrujado do bunker vão proteger a gente para sempre?" Uzi perguntou, a voz abaixando, perdendo o sarcasmo e ganhando uma seriedade fria que fez Atlas gelar. "Vai haver uma falha, Atlas. Uma hora ou outra. E quando menos esperarmos, quando estivermos vivendo nossas vidinhas 'tranquilas' aqui dentro, sem fama ou atenção... nós vamos perder." Seus olhos roxos, fixos no visor de Atlas, transmitiam uma verdade dolorosa. "Nós vamos perder os nossos pais."
A mão de Atlas, que antes descansava em sua coxa, tremeu levemente. Em seu HUD, uma notificação de sistema, urgente e vermelha, piscou: 'Trauma.zip sendo executado'. Era a memória do pai, do sacrifício, do vazio. Mas Atlas, com uma decisão abrupta, deu um tapa seco na própria cabeça, um som abafado no quarto. A notificação de trauma sumiu instantaneamente, substituída por um sóbrio 'níveis de seriedade: Estabilizado.' O suor digital se intensificou por um milésimo de segundo, e então cessou.
Ele levantou o olhar para Uzi, seus olhos no visor agora firmes, mas com uma resignação visível. "...Tá, me convenceu..."
Uzi já estava abrindo a boca, um sorriso de vitória começando a surgir em seu visor, pronta para comemorar seu triunfo. Mas Atlas não havia terminado.
"MAS...", Atlas continuou, a voz dura e inconfundível. "Depois disso, depois que essa loucura acabar – ou der errado – eu não quero me meter em mais nada. Eu quero viver tranquilo, sem fama, sem atenção, sem mais nenhum plano de 'salvar a colônia'. Nada de heroísmo barato ou excursões suicidas. É um acordo." Seus olhos se estreitaram em uma advertência. "E se eu morrer nisso, se essa sua ideia maluca me matar... eu prometo que vou te assombrar e puxar tua perna à noite."
Uzi não esperou por mais uma palavra. Assim que Atlas terminou sua ameaça de assombração, ela soltou um grito de vitória, um som agudo e triunfante, e confirmou com um aceno frenético da cabeça. "Fechado! E nem pense em me assombrar, eu tenho anti-virus para fantasmas!"
Com uma energia renovada, ela disparou até a mesa do computador. Em um movimento rápido e desorganizado, ela se abaixou e, de debaixo da mesa, puxou uma pilha enorme de blueprints amassados e papéis rabiscados, jogando-os sem cerimônia em Atlas, que teve que levantar os braços para não ser soterrado.
"Certo, engenheiro!", ela exclamou, voltando para sua cadeira giratória e empurrando-se para trás com os pés. "Aqui! Pra você construir isso aí pra mim! Comece por esses que são mais urgentes!"
Atlas suspirou, um ruído quase imperceptível. Os papéis escorregaram de seus braços para seu colo. "Dá uma mão e já pegam o braço todo...", ele murmurou, a resignação pesando em sua voz. Ele pegou o primeiro blueprint da pilha e começou a analisá-lo.
Em geral, os esquemas detalhavam uma série de equipamentos tecnológicos improvisados, mas engenhosos, claramente destinados a uma incursão em território hostil. Ele reconheceu o molde do canhão elétrico que Uzi havia comprado, mas havia muito mais.
Um dos projetos mostrava um par de Botas de Impulso Controlado, com diagramas intrincados de pequenos jatos de ar comprimido para saltos controlados e investidas.
Outro blueprint detalhava um Visor Tático Multiespectral, com lentes que prometiam visão térmica, detecção de movimento e até um zoom de longo alcance, projetando todas as informações diretamente no HUD do usuário.
Havia também esboços para Luvas de Nulificação Sensorial, com diagramas mostrando pequenos emissores eletromagnéticos nas pontas dos dedos e na palma, capazes de disparar um pulso focado para desorientar os sensores de um inimigo. E até um pequeno Módulo de Campo de Força Pessoal, que parecia mais um escudo de energia de bolso do que qualquer coisa confiável.
Atlas passou um dedo por um dos diagramas, seus olhos no HUD já calculando materiais e complexidades. Uzi havia sido despreocupada, e surpreendentemente, boa nisso. A loucura dela era... estruturada.
"Ugh...", Atlas suspirou, largando a pilha de blueprints no colo. "Vou ver o que vou fazer."
"Ótimo!", Uzi exclamou, empurrando-se para a beira da mesa com a cadeira giratória. "Eu sabia que o seu... o que quer que seja... iria concordar! Tenho certeza que algo sem noção de Sci-fi que você tem na sua cabeça vai dar certo. Meus diagramas e a sua... sua chateação com eficiência vão fazer a gente acabar com todos eles!"
Atlas balançou a cabeça em descrença. Antes que pudesse responder, Uzi se levantou da cadeira, bateu o pé no chão com um estalo e apontou para a porta.
"E agora, fora do meu quarto, urgentemente!" ela ordenou, um brilho de posse em seus olhos roxos. "Não quero que você roube minhas ideias ou respire meu ar! Nos vemos na escola amanhã, seu CDF insuportável!"
Ela começou a empurrar Atlas para fora do quarto, empurrando-o pelas costas. Atlas, desequilibrado, tentava se desviar enquanto equilibrava os blueprints, seu walkman pendurado no pescoço e a sacolinha com a peça de sua própria invenção, um lembrete do porquê ele havia saído em primeiro lugar. Ele tropeçou para fora do quarto, e ouviu o som da porta se fechando ruidosamente atrás dele.
E assim, Atlas se viu no corredor, com a mochila e uma pilha de papéis, agora oficialmente um cúmplice.
Atlas suspirou, um som de resignação profunda, e começou a guardar os blueprints na mochila, tentando amassá-los o mínimo possível. Ele mal havia saído do quarto de Uzi, ainda estava no corredor da casa sob a luz fraca, quando ouviu uma voz.
"Atlas?" A voz era levemente grossa e adulta, com um tom de surpresa contida.
Atlas tomou um susto e se virou abruptamente, deixando cair um dos blueprints. Sua expressão de alívio por ter escapado de Uzi foi rapidamente substituída por uma de pânico.
À sua frente, estava um drone mais alto que ele, com a mesma altura de sua mãe, Lyvia. Ele usava uma jaqueta com um estilo militar da cor azul, uma roupa típica da FRO. O drone tinha um bigode, um HUD branco e um visor com a tela rachada e rugas digitais na região da testa. Era Khan Doorman, o pai de Uzi, líder da colônia e o Construtor de portas, parado ali, olhando para ele com uma expressão que Atlas tentava discernir de Surpresa e confusão.
Atlas suou frio, o pequeno brilho digital na lateral do seu visor retornando com força total. Em um movimento desajeitado, ele pegou o blueprint que havia caído e o escondeu rapidamente atrás de suas costas, enquanto a sacola com a peça e os outros papéis balançavam em sua mão.
"HEEEEEY... Tio Khan!...", Atlas disse, sua voz um pouco mais alta e estridente do que o normal. "Uh... O que faz aqui?"
Khan inclinou a cabeça levemente, a expressão em seu visor com o rachado esquerdo ainda ilegível. "É a minha casa, Atlas. E acabei de voltar de uma reunião importante."
"Ah sim, sim! Sua casa... Haha!" Atlas soltou uma risada nervosa e seca. "É... TENHO QUE IR!" Ele começou a andar rapidamente, tentando escapar do corredor e da situação desconfortável.
No entanto, Khan se moveu, interceptando Atlas e bloqueando sua passagem. "Atlas. O que você está fazendo aqui? A essa hora... Você deveria estar em sua casa. Lyvia já deve ter chegado e deve estar preocupada."
Atlas tentou pensar em uma desculpa, mas nenhuma parecia boa o suficiente. Sua mente travou. Antes que pudesse balbuciar qualquer coisa, Khan olhou para a porta fechada do quarto de Uzi, pensou por um instante, e então seu olhar voltou para Atlas, um pouco mais direto. "Você... estava com a Uzi lá dentro?"
Atlas congelou. As palavras mal formadas escaparam de seu sistema. "uuuuhhhhhhh...."
De repente, a expressão séria de Khan desapareceu, substituída por um sorriso caloroso. Ele soltou uma risada, um som surpreendentemente jovial. "Ah, garoto! Há quanto tempo! Faz um bom tempo que você e a Uzi não interagem assim... Ou muito menos que ela te leva para o quarto dela! Pensei que vocês tinham parado de se falar de vez."
"É...", Atlas começou, limpando o suor digital de seu visor com a mão. "Você sabe, eu... senti saudades de conversar com minha amigona, Uzi! Hehe..." As palavras soaram estranhas até mesmo para ele, e a quantidade de suor em seu visor aumentou ao mencionar 'saudades' e 'conversar'.
Khan deu alguns tapinhas reconfortantes no ombro de Atlas, um som metálico e paternal. "Fico feliz em ouvir isso, garoto! Fico muito feliz. Eu sabia que a minha menininha não ia ficar sem amigos por muito tempo. Mas me diga, ela falou de algum projeto de porta nova e revolucionária com você? Uma que se feche em um décimo de segundo? Ou que tenha um selo de vácuo reforçado com... uh... aço inoxidável?"
Sem esperar por uma resposta, Khan continuou, seu olhar se perdendo nas próprias ideias. "Acabei de voltar de uma reunião importante da FRO. A pauta era, claro, segurança. Mas, como sempre, os outros são muito lentos para entender. Minhas propostas são as únicas que realmente fazem sentido, o único caminho para a paz..."
"Ah, se não fosse pela Lyvia!", Khan suspirou, um sorriso saudoso em seu visor. "Ela é a única que realmente me entende nisso. Nenhuma fechadura ou painel de segurança funcionaria se não fosse por ela! E minhas portas não seriam tão úteis sem o toque dela. Admito, não sou bom com fechaduras... mas ela é excelente. Uma verdadeira Lockerman."
Atlas apenas concordava, ficando levemente receoso quando Khan mencionava o trabalho de Lyvia. Em seu HUD, uma notificação quase cômica apareceu: 'Niveis de Drama adolescente crescendo drasticamente!'. Mas, antes que a barra de status pudesse subir mais, Atlas conseguiu cancelar a notificação, colocando uma pequena distração no canto da tela... um joguinho de dinossauro que pula, que se tornou um ponto de foco em meio à sua ansiedade.
Khan suspirou novamente, a mão dele repousando no ombro de Atlas. "Eu... eu sei do que aconteceu na sua classe hoje, Atlas."
Atlas abaixou a cabeça, o corpo enrijecendo. Ele apertou os punhos, pronto para receber uma bronca monumental. Em vez disso, ele apenas sentiu um leve afago em sua cabeça. Levantando o olhar, viu Khan fazendo tal coisa.
"Foi uma maneira errada de lidar com as coisas, garoto", Khan disse, a voz suave e sincera. "Mas... pelo menos você mostrou que se importa verdadeiramente com seu pai. Alexander... ele teria orgulho de você. Você já está quase uma imagem espelhada dele."
"É..." Atlas admitiu, a voz baixa. "Isso o que a maioria que conhecia ele sempre fala." Ele apertou levemente os blueprints que ainda segurava atrás das costas, um peso invisível sobre seus ombros.
Khan se agachou levemente, ficando na altura do Garoto Atlas. Seu olhar, apesar da tela rachada, era sério e empático. Ele falou em voz baixa, como se compartilhasse um segredo. "Alexander... foi um Operário corajoso, com uma bravura que eu nunca vi em mais ninguém. Se não fosse por ele, ninguém estaria aqui hoje. Ele deu a vida para proteger os próximos... Principalmente você e a Lyvia. Ele fez o que era preciso. E eu... vou prosseguir nisso. Vou proteger todos. E um dia, Atlas, você também irá."
Atlas sentiu algo no processador e no próprio núcleo. O aperto em seu blueprint se suavizou, relaxando. Em seu HUD, uma mensagem apareceu rapidamente: 'Motivação paterna: 101%'. Ele balançou levemente a cabeça, como para se livrar do sentimento. "Obrigado, Tio Khan.."
Khan soltou uma risada calorosa e voltou a ficar de pé, arrumando levemente seu capacete de operário azul e seus óculos de segurança vermelhos. "Bem, eu vou para o meu quarto e oficina agora, Atlas. Tenho que planejar os outros projetos de porta. A segurança é primordial, como sempre!"
"Você... não vai ver se a Uzi está bem?", Atlas perguntou, olhando para a porta fechada.
"Ah, não se preocupe com a minha menininha", Khan respondeu, com uma confiança que, na verdade, era mais uma forma de negligência. "Ela sabe se cuidar. E com um gênio como ela, as coisas vão dar certo. Tenho certeza!" Ele se despediu de Atlas com um aceno de mão e se dirigiu ao próprio quarto.
Atlas se despediu também e, com os ombros um pouco mais pesados, saiu da casa dos Doorman. Ele guardou o blueprint em mãos na sua mochila e, se afastava entre os corredores do bunker-0, o eco de suas palavras e as promessas de Uzi ainda em seu processador.
Fim do Capítulo 4!
Chapter 6: \\- Nova Classe, Novos colegas
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\\04:00 Da manhã!
– Hora de acordar, princeso!
O bipe monótono do alarme ressoou no visor de Atlas, mais uma vez. Ele grunhiu, um som de resignação, e levantou a mão para bater levemente na própria testa. Seus olhos digitais piscaram e o aviso de alarme foi substituído por sua interface padrão. Ele mal conseguia se lembrar de como tinha chegado na cama.
Olhou para o lado, para a mochila que estava encostada na parede. Através do tecido, ele podia ver o volume irregular dos blueprints que Uzi havia lhe dado na noite anterior. O peso deles parecia ecoar em seu próprio processador.
No lado dele, o walkman e os fones de ouvido estavam soltos sobre a cama. Atlas ainda estava usando a jaqueta, os cadarços dos sapatos ainda amarrados, como se ele tivesse chegado em casa, desabado na cama e apagado na hora, exausto mentalmente pelo turbilhão de eventos.
Atlas - ('... Aquilo tudo não foi um pesadelo...') o pensamento ecoou em seus circuitos, um loop de descrença. ('Eu realmente concordei com a ideia estúpida da Uzi. Por que eu disse sim? Eu sou um idiota...')
Atlas balançou a cabeça, uma onda de processamento caótico percorrendo seus circuitos. ('Ugh... fazer o que. Aceitei o trato, agora tenho que cumprir...') Ele sinceramente não sabia se a pontada latejante em sua cabeça era uma dor de cabeça real ou apenas um erro de leitura do seu próprio processador. A linguagem humana, com suas nuances ilógicas e emocionais, era surpreendentemente... influenciadora.
Ele se sentou na beira da cama, sentindo o leve calor do tecido deixar suas costas.
\\[Iniciando rotina de despertar...]
\\[Recalibrando sensores ópticos...]
Sua visão momentaneamente ficou desfocada antes de se ajustar ao foco nítido do seu quarto. Os sensores simples mostrando diferentes visões do ambiente, como visão noturna e de calor.
\\[HUD: Temperatura interna: 23°C - Estável]
\\[HUD: Executando varredura de diagnóstico...]
\\[HUD: Todos os sistemas: Nominal, sem presença de vírus.]
Ele suspirou, a rotina matinal, sempre tão precisa e lógica, parecia estranhamente deslocada diante do caos que ele havia aceitado para o seu dia. Atlas finalmente levantou, se alongando enquanto ouve leves estalos vindos de suas articulações e juntas.. era como um check-up manual para si mesmo.
Ele se dirigiu ao banheiro, o som abafado de suas passadas ecoando no pequeno espaço. Ao se encarar no espelho, a imagem de sua aparência bagunçada o confrontou. O cabelo, os olhos levemente opacos... Ele parecia cansado, quase vazio.
('Eu pareço um lixo.') Atlas pensou, com um suspiro digital. ('Se eu fosse um Drone de desmonte, eu me desmontaria.')
Com um balançar de cabeça, ele fez a pequena rotina de limpeza de seu visor, deixando mais limpo e levemente brilhante. Ele arrumou o cabelo com os dedos, tentando dar-lhe uma aparência mais organizada, mas desistiu rapidamente.
Ele saiu do banheiro e foi até a sua cama. O walkman e os fones de ouvido estavam exatamente onde ele os havia deixado. Ele pegou o aparelho, tirou a fita de 'Billie Jean' e a substituiu por uma com o título 'Brother Louie'. O clique da fita se encaixando foi um som de satisfação. Por precaução, o mesmo colocou umas 3 fitas de músicas aleatórias no bolso .. pra caso precise.
Atlas saiu do quarto, caminhando pelo corredor. Com um movimento automático, ele arrumou os fones de ouvido em sua cabeça e, em seguida, deu play no walkman. A batida sintetizada de 'Brother Louie' começou a tocar, abafando os sons de seus próprios passos.
Chegando na cozinha, ele avistou Lyvia, já de uniforme e tomando seu 'café' diário, um líquido preto e fumegante que ela segurava com as duas mãos. Ela parecia estar perdida em seus próprios pensamentos de trabalho.
Atlas - "Bom dia, mãe...", ele disse, a voz baixa, quase inaudível sob a música pra si mesmo.
Lyvia ergueu o olhar e um pequeno sorriso se formou em seu rosto. "Oh, bom dia, filho." Ela deu um gole no café, e então o olhou mais atentamente. "Está preparado para a sua nova classe? O Khan me contou que você e a Uzi voltaram a conversar."
Atlas parou de mastigar seu cubo de energia. Ele franziu o olhar, uma expressão que era o equivalente a um suspiro. ('Khan fofoqueiro...') ele pensou, a música em seus fones o impedindo de ouvir perfeitamente os sons ao seu redor. "Ugh... sim, voltamos... eu suponho..." Ele engoliu em seco. "E estou pronto sim... Só não vai ser a mesma coisa."
Lyvia, com sua programação maternal, percebeu o desconforto dele. Ela se aproximou, deixando o café na bancada. "Hum... filho... eu sei que é difícil se adaptar a algo novo... O Rex não vai estar lá também..." A menção ao amigo de Atlas fez sua voz amolecer. "Mas promete para mim que vai se manter longe de encrencas e... fazer amigos? Pelo menos um?"
Atlas olhou para o chão, balançando a cabeça lentamente. A música parecia não fazer mais efeito contra a súbita onda de emoções que o atingiu. Era um pedido simples, mas ele sentiu o tom de voz da mãe. "Tá... Mas não garanto nada..."
Lyvia deu um sorriso satisfeito. "Esse é o meu garoto!"
Atlas revirou os olhos, um pequeno gesto de impaciência que sua mãe não notaria. ('Uma ova... Aquele cartaz nos corredores dizendo que "Fechaduras são seus bens mais preciosos" diz o contrário...') A imagem do cartaz da revista 'Operarios Em Operação' com a foto da mãe e Khan estampados veio à tona em sua mente. Ele rapidamente empurrou o pensamento para longe. "Tá, tá... Você não vai pro seu trabalho?"
"Ah, sim! Obrigado por lembrar, tchau filho! Tenha uma boa aula!" Lyvia terminou o 'café' em um gole, pegou a prancheta que estava na mesa, ajustou o cinto de ferramentas e saiu pela porta de casa com pressa. O som abafado da porta se fechando, junto com o alarme de segurança sutil, foi a última coisa que ele ouviu dela.
Atlas apenas suspirou, o som eletrônico ecoando no silêncio da cozinha. Ele não sentiu fome, o estresse dos últimos eventos havia reprimido qualquer necessidade de nutrição. Pensou em como as notícias viajavam rápido no bunker. Lyvia já sabia da interação com Uzi, provavelmente através da fofoca de Khan.
Mas não tinha muita importância. Ele pegou um copo, enchendo-o com água dilatada gelada, e tomou um gole longo. A frieza do líquido foi um alívio momentâneo para o calor que ele sentia em seu processador. Ele colocou o copo na pia e se dirigiu à porta de casa, pronto para mais um dia.
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Caminhando pelos corredores do bunker, Atlas ouvia e caminhava na batida da música em seus fones. Passou por alguns Operários que carregavam caixas de ferramentas pesadas e conversavam animadamente, suas bocas se movendo em sincronia com as palavras.
Em seguida, ele passou por uma patrulha da FRO, que acenou para ele amigavelmente. Atlas devolveu o aceno com um movimento em modo automático, e um leve sorriso se formou na sua boca, embora seus olhos permanecessem focados à frente. Ele não ouviu o que eles disseram por causa do volume da música em seus fones, mas a intenção amigável foi clara de acordo com suas expressões.
Ele avistou, em um canto, um grupo de Operários jovens, comendo e jogando um jogo em seus celulares. Eles pararam de jogar para observá-lo, sussurrando um para o outro enquanto ele passava. Atlas fez o possível para ignorá-los, mantendo o foco em seus próprios pensamentos e na batida da música.
No final de sua caminhada, ele entrou em um dos elevadores da colônia. O ar lá dentro era um pouco mais frio, com um cheiro metálico forte. Ele apertou o botão 'B-5', o nível próximo da saída do bunker. O elevador fechou e em seguida, começou a subir lentamente.
Atlas, de pé no canto, se permitiu relaxar um pouco, a música em seus fones lhe dando uma leve animação e vontade de cantar junto. Ele fechou os olhos, e sua mente começou a trabalhar.
Os blueprints que Uzi lhe dera se projetaram em seu subconsciente. Ele os analisou um a um, categorizando os desafios lógicos de cada peça.
Primeiro, as Botas de Impulso Controlado. A ideia de pequenos jatos de ar comprimido para saltos controlados parecia... imprudente. A engenharia era simples, mas o equilíbrio séria quase impossível de dominar. ('Com certeza ela vai quebrar a cara com isso...') ele pensou, com um leve desdém.
Em seguida, o Visor Tático. Ele se assemelhava a óculos de esqui, e as lentes com detecção de movimento e zoom pareciam viáveis. A parte mais complexa seria a programação e as peças...sem falhas. ('Não é tão difícil, mas se ela usar isso e pular de uma altura considerável, pode se desestabilizar no ar... E vai por mim, ela vai.')
As Luvas de Nulificação Sensorial eram, em sua opinião, o item mais interessante... Ou perigoso. Os emissores eletromagnéticos nas pontas dos dedos para desorientar os sensores de um inimigo ao toque. A teoria era fascinante, mas o perigo estava em um pulso descontrolado. Um erro e ele ou ela poderiam acabar fritando os próprios circuitos. ('Isso é um problema sério, preciso ser cuidadoso com o projeto. Não quero ser o culpado por... por nada de ruim a ela.')
Por fim, o Módulo de Campo de Força Pessoal. Ele parecia ridículo, um escudo de energia de bolso de uma série de TV. A teoria era, novamente, viável, mas a energia necessária para um campo de força eficaz seria absurdamente ridículo. Ele teria que projetar uma bateria ou núcleo especial só para isso. ('O mais difícil e improvável de todos... a energia necessária seria enorme. Uzi com certeza vai reclamar caso eu não faça.') ele suspirou.
Fazer tudo isso em 1 semana até parece fácil para um operário engenheiro, mas para um simples adolescente engenheiro? É pior cada análise mental. E cada um deles, com Uzi como a operadora, parecia ter um potencial catastrófico.
A melodia foi abruptamente interrompida por uma vibração em sua jaqueta... ele tirou o celular do bolso e viu a notificação na tela. Abriu a conversa.
——————
[Rex]: "E aí, cara! Já chegou na sala nova? Eu já tô na minha, sem você aqui é mo chato"
- Rex mandou ma selfie dele na sala, com um sorriso largo, parecendo popular e rodeado de amigos. A legenda diz: "Vê se não me esquece! Sdds kk"
——————
Atlas respirou fundo. Ele rapidamente pausou a música e digitou uma resposta.
——————
"Não, tô no elevador. Vou chegar na nova sala em breve." :[Atlas]
[Rex]: "Uuuuh, que chique! E aí, como tá sendo? A gente não pode nem ir na mesma sala, que ridículo... Mas pelo menos tem uma gatinha lá, né? Já deu uma olhada?"
"Não... Não cheguei ainda." :[Atlas]
[Rex]: "Ah, ta! Mas fica de olho, hein! Ah, vou ter que ir agora, o professor chegou, Tchau, Atlas! Te vejo no final da aula!"
"Tchau..." :[Atlas]
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Atlas desligou a tela, sentindo um vazio. Rex era um cara legal, e a nova classe parecia uma punição. Quase que imediatamente, uma nova notificação piscou. Desta vez, era da Uzi.
——————
[Uzi]: "Onde vc tá??? Não me diz que vc esqueceu os projetos, pq eu te mato!!!"
[Uzi]: "Eu já tô na sala e o professor entediante ainda está jogando paciência, e vc nem chegou!!"
"Estou no elevador. estou chegando. E não, não esqueci. Os blueprints estão no meu quarto." :[Atlas]
[Uzi]: "Espero que não perca eles! Pq se não, vou te dar uma surra na escola. Vai fazer assim que sair da aula, não é?!"
"Não posso fazer as coisas rápido se vc me apressa. Preciso de peças, 1 semana pode até dar... Se eu não dormir." :[Atlas]
[Uzi]: "que se dane. Eu quero os equipamentos! E até séria melhor se você descansar as vezes... Mas não estrapola!"
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Atlas suspirou, sentindo uma pontada de irritação, não por ser apressado, mas pela lógica falha dela. O elevador parou com um leve solavanco. As portas se abriram para o corredor do B-5. A voz de Uzi em sua cabeça falando aquilo era a última coisa que ele precisava.
Atlas caminhou pelos corredores, seguindo o que aparentava ser o caminho para a sala de aula. Os fones ainda na cabeça, ele ouvia a música, mas seus sensores já captavam os sons distantes de vozes e risadas.
A porta de metal, com a placa "Sala B-5" acima, estava à sua frente. Ele respirou fundo, pausou o walkman e os fones foram para o pescoço.
('Ok, Atlas. Simples. Entra, diz seu nome, não faz contato visual com ninguém e senta. Sem interação. Sem perguntas. Apenas existe.') ele pensou, sua mente processando a rotina de autodefesa social.
Finalmente, ele levou a mão até a porta e abriu. O som e a energia da sala o atingiram em cheio. Ele deu de cara com o professor, um drone de aparência exausta, com olhos castanhos alaranjados neons que o olhavam diretamente com uma expressão vazia e cansada.
Professor - "Hnm, você deve ser o aluno encrenquero... Que o diretor falou sobre?"
"Uhm.. é, professor... Aquilo só foi um acidente...", Atlas respondeu, sua voz um pouco mais suave que o normal.
"Sei... só não repete isso... Vem." O professor se virou e guiou Atlas até a frente da sala.
De lá, Atlas pôde ver todos os alunos. A sala era um mosaico de subgrupos sociais. Havia um círculo de garotas em uniformes amarelos e vermelhos de líderes de torcida, mexendo nos celulares. Thad, o operário com HUD verde-limão, com seu uniforme de basquete dos 'Operários Ferventes', estava em pé com outros garotos.
Em um canto, havia um outro grupo. Uma drone com óculos e olhos azuis conversava timidamente com um garoto de olhos rosa claros e uma expressão excessivamente relaxada, que parecia estar se inclinando preguiçosamente em sua cadeira. Perto deles, outro drone com um capacete azul-ciano estava sentado... Com chamas no topo de seu capacete.
Finalmente, avistou Uzi. Ela está em sua cadeira, sentada sozinha na parte de trás da sala, longe das interações. Ela não estava fazendo nada, apenas olhando para Atlas com seus olhos roxos, como se ele fosse um tipo de troféu.
Atlas - ('Ugh... mais animado que a minha sala... Mas talvez eu possa só ficar na minha...'), ele pensou, um fio de esperança ingênua em seu processador.
O professor bateu algumas palmas, um som metálico e seco que ressoou pela sala. "Ok, classe... quietos agora." O murmúrio na sala de aula diminuiu, e a atenção de todos se voltou para ele e, consequentemente, para Atlas.
Os sussurros começaram imediatamente no grupo de líderes de torcida. A Drone de cabelos loiros e HUD rosa neon curvou-se para cochichar algo para sua amiga, com os olhos fixos em Atlas. Thad, por outro lado, apenas o observou, um pequeno sorriso se formando em seu rosto, como se ele já soubesse de algo que os outros não sabiam.
"Então" o professor continuou, os olhos cansados se movendo da classe para Atlas. "Esse do meu lado é... Atlas Lockerman. O aluno transferido de outra classe por causa de um acidente... Vocês já devem saber."
A menção do "acidente" foi como jogar um fósforo em gasolina. Os sussurros explodiram em um murmúrio audível de fofocas e risadas contidas. O grupo de líderes de torcida riu abertamente, e mesmo os garotos do basquete e os outros alunos, que estavam quietos, se inclinaram para conversar.
('E ótimo... Lá se esvai minha quietude...'), Atlas pensou, sentindo todos os olhares perfurarem sua cabeça.
"Enfim, espero que... se encaixe aqui..." o professor disse, sem convicção. Ele apontou para um dos únicos lugares convenientemente vazios, ao lado de Uzi. "Pode se sentar ao lado da Uzi Doorman ali..."
('ÓTIMO! APENAS ÓTIMO!'), o pensamento de Atlas foi um grito de resignação em seu processador. Sua esperança de invisibilidade foi jogada no fundo de seu armazenamento. "Certo... Obrigado, professor...", ele respondeu, sua voz cabisbaixa.
Atlas caminhou lentamente até a cadeira. Cada passo parecia uma eternidade sob o peso dos olhares da classe. Ele se sentou no lugar, caindo na cadeira como um boneco de pano sendo jogado.
"... O que tu quer?", ele perguntou, sem rodeios, sem se virar.
Uzi já estava olhando para ele, um sorriso sutil e presunçoso nos lábios. "Nada..." ela respondeu, e então sua voz ficou levemente mais alta. "... só queria conversar, Amigooo..." A palavra foi dita de forma estendida, alta o suficiente para toda a classe ouvir.
"Huh? O que deu em você?-" Atlas mal teve tempo de terminar antes de Uzi arrastar a mesa dela com um ruído estridente, deixando-a bem perto da dele.
Uzi então olhou para trás, dando um sorriso presunçoso na direção da drone de cabelo loiro e HUD rosa neon que apenas respondeu com uma risada provocativa junto da amiga de cabelos azuis e franja roxa.
Uzi arrastou a mesa e se recostou na cadeira, um sorriso sutil nos lábios. Olhando na direção de Atlas. "O que foi? Tá com medo de ter uma amiga?"
Atlas nem se virou para olhá-la. Ele ainda estava processando o olhar da classe. "Primeiro, não age desse jeito inocente pra cima de mim. E segundo, você acabou de me usar para provocar alguém. O que você quer?"
"Olha só, o princeso tem sentimentos...", Uzi disse, em um tom de voz que não disfarçava o sarcasmo. "Relaxa, Amigo. Pelo menos agora você tem alguém para sentar do lado. O que é melhor do que a maioria dessa sala pode dizer."
Atlas - "Eu preferia ter a minha paz. E a propósito, sua imprudência só me fez ser mais ainda o centro das atenções. O que, por acaso, eu estava tentando evitar."
"Ah, por favor. O que um 'acidente' não fez, a minha 'amizade' só consolidou." Uzi riu, um som seco e baixo. Ela então se inclinou, sua voz agora mais séria, quase um sussurro. "Enfim, não me enrole. Os projetos do meu Canhão elétrico irado pra caramba! Ou convergente de fótons amplificado magneticamente! O que você achou? Já imaginou ele pronto?" Os olhos roxos dela brilharam com uma intensidade quase maníaca.
Atlas olhou para a sua frente, como se estivesse focado no professor, mas sua mente estava ocupada. Ele hesitou. "Uhm... a sua... arma é complexa. O design do amplificador magnético é interessante, mas para atingir a potência que você quer, vamos precisar de um dissipador de calor específico e do Núcleo de poder ..."
"Eu sei disso!" Uzi sussurrou, impaciente, mas com um toque de excitação. "Eu já tinha pensado no dissipador! Talvez a gente possa usar aqueles módulos de energia antigos que ficam no setor 7? Eles eram bem potentes..."
"Talvez...", Atlas respondeu, surpreso que ela já tivesse pensado em algo tão específico. "Mas sobre o cano da arma... Ela teria que aguentar a potência do tiro.. talvez pudéssemos conseguir o material em algum lugar.."
"E as luvas?", Uzi interrompeu, mordiscando o lábio inferior da boca. "Você viu o esquema dos emissores? A gente precisa garantir que o pulso seja focado, pra não dar pane geral em quem for atingido... mas também tem que ser forte o suficiente pra derrubar um drone de desmonte."
"Sim, os emissores precisam ser calibrados com precisão. Um pulso descontrolado pode ser perigoso para o alvo... e para você também."
Uzi deu de ombros. "Detalhes. O importante é que funcione. E o módulo de campo de força? Aquilo vai ser épico!"
Apesar de suas dúvidas sobre a viabilidade do campo de força, Atlas percebeu a genuína empolgação de Uzi. Ela não estava apenas mandando construir armas; ela tinha uma visão clara do que queria e, surpreendentemente, já havia pensado em alguns dos desafios técnicos.
"O campo de força... parece algo que cairia bem em você," Atlas comentou, um leve sorriso surgindo em sua boca. "Por ser literalmente coisa tirado de anime."
Uzi respondeu com um cascudo, um som metálico e oco. "Ei! Não dê pitaco nos meus interesses, seu babaca!" Ela sussurrou, irritada, mas havia riscos roxos abaixo dos olhos em seu visor.
Atlas deu uma risada curta quase inaudível, com a reação dela. A irritação de antes estava se desfazendo em algo próximo de... Um tempinho divertido... Talvez.
A conversa de Atlas e Uzi foi interrompida de forma abrupta. Uma bolinha de papel amassada acertou a parte de trás da cabeça de Uzi, quicando no chão. Ela se virou na cadeira, com um olhar que prometia dor, e Atlas se virou junto por curiosidade.
Logo atrás, o grupo das líderes de torcida estava rindo, principalmente a drone de cabelo loiro e HUD rosa neon.
"Ora, ora," a drone loira disse com um sorriso malicioso. "Finalmente a esquisita da sala conseguiu um amigo... Ou ele veio por pura pena?" As amigas riram em uníssono.
"Que se dane! Fica quieta!", Uzi retrucou, um símbolo de veia surgindo na lateral de seu visor.
"Relaxa, Uzi," a loira continuou, ignorando a raiva de Uzi. "Eu só estava pensando que ele combinaria mais se andasse com o Thad ou... com a garota mais popular daqui." Ela fez um gesto em direção a si mesma, convencida.
Atlas, que até então estava em silêncio, apenas observando a troca, decidiu falar. "Uh... questão... Quem é você, loirinha?"
A risada do grupo parou na hora. As líderes de torcida se entreolharam, chocadas. O rosto da loira mudou de arrogância para confusão, e ela pigarrou, tentando recuperar a compostura.
"Do que você tá falando? Eu sou Lizzy, a garota mais popular dessa escola!" ela se apresentou com um tom de voz que esperava que fosse impressionante.
Atlas apenas olhou para ela, depois para Uzi, e depois para o chão. "Nunca ouvi falar de você."
Uzi soltou uma risada alta e clara, um som que ecoou na sala de aula. Era a primeira risada genuína que Atlas tinha visto dela, e a expressão no rosto de Lizzy não tinha preço.
"Como que você não ouviu falar de mim?!" Lizzy perguntou, incrédula. "Eu e minhas amigas fizemos o maior número de torcida no jogo de basquete dessa semana! Passou em todas as telas!"
"Eu não vejo jogo de basquete...", Atlas respondeu, sua voz neutra e sem qualquer intenção de ofender. "Eu não gosto muito."
A risada de Uzi, que estava alta, agora ficou mais contida. Ela levou uma mão à boca, tentando abafar o som, quase caindo da cadeira enquanto balançava de um lado para o outro.
Lizzy bufou, um som audível de frustração. "Você vai ver só por isso!", ela ameaçou, virando-se abruptamente e balançando o rabo de cavalo como um chicote, antes de voltar para seu grupo.
Atlas ficou confuso, os olhos neons piscando enquanto ele tentava processar a reação dela. Ele se virou para Uzi, que ainda estava se recuperando do ataque de riso. "... Sério mesmo, qual seu problema?"
Uzi então, em meio às risadas fracas, falou com a voz ofegante: "Isso... isso foi uma das melhores coisas que eu vi... desde que pirateei aquele anime dos caras bizarros em poses gulosas!"
"Nem vou questionar...", Atlas respondeu, sua voz neutra enquanto ele olhava para o professor.
Uzi finalmente parou de rir, dando uns tapinhas metálicos e ocos nas costas de Atlas. Ele apenas suspirou. Ela se inclinou, falando em sussurros para que ninguém mais ouvisse. "Ok, ok... O plano. Eu tenho uma ideia de como podemos sair do bunker para pegar o núcleo de poder! É até bem simples..."
"Como?", Atlas perguntou, sua curiosidade despertada.
"Eu te falo depois da aula", ela sussurrou de volta, com um sorriso conspirador.
Nesse exato momento, o professor bateu palmas e, em seguida, deu um golpe seco no quadro negro com um pedaço de giz. Ele pediu a atenção da sala em um tom de voz super monótono.
"Atenção, classe. A atividade de hoje é sobre 'Análise Econômica de Consumo'..." Ele escreveu no quadro questões sobre comprar melancias em um supermercado. "Vocês terão seis dias para completar esta atividade. Sem atrasos."
A maioria da sala resmungou em protesto. As líderes de torcida reviraram os olhos, e os garotos do basquete começaram a reclamar sobre o prazo. No entanto, a garota tímida de óculos, Thad e Atlas permaneceram quietos.
"Hm... interessante...", Atlas murmurou para si mesmo. Ele puxou uma folha de papel que estava debaixo da carteira e pegou o lápis que estava solto em sua mesa, começando a copiar as questões no quadro.
"Psiu, Atlas... psiu!" Uzi quietamente chamou a atenção de Atlas enquanto ele copiava as questões do quadro. Atlas, sem desviar o olhar do quadro, inclinou a cabeça levemente em sua direção.
"O que é?", Atlas perguntou, sua voz baixa e focada.
"Ei... copia pra mim e responde tudo.", Uzi sussurrou, empurrando uma folha vazia na direção dele com a mão.
Atlas parou de escrever por um momento e olhou para ela, o visor piscando. "Cata coquinho, Uzi."
"Que se dane!", Uzi respondeu, irritada. "Você é chato demais."
Atlas - "É para você mesma fazer. A não ser que você queira abortar a missão suicida, e se concentrar em tarefas mais importantes."
Uzi recuou na cadeira, o visor piscando. Ela o encarou por um momento, e então, sem hesitar, respondeu: "Eu recuso! Eu vou fazer o plano!"
"Bem, tentei pelo menos...", Atlas murmurou, voltando a copiar a atividade. Ele levantou o fone, trocou a fita para 'Cheri Cheri Lady', e o som da nova melodia preencheu seus receptores sonoros.
Uzi, com uma pequena reclamação, pegou o lápis na própria mesa e, resmungando baixo, começou a copiar as questões no caderno.
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Depois de algum tempo, a maioria da classe terminou a atividade. O grupo de Lizzy fez com que outros drones copiassem para elas, e o restante da sala se ocupou com conversas e celulares.
O professor, que tinha ficado sentado em sua cadeira o tempo todo, levantou o olhar cansado e falou em seu tom monótono "Podem fazer o que quiserem. O meu salário vai cair do mesmo jeito."
Uzi então levantou a mão, sua expressão gótica parecendo mais irritada do que o normal. "Professor, posso ir ao banheiro?"
O professor, que estava com uma garrafa de anticongelante na mão, olhou para ela com seus olhos cansados. "Nós não temos bexiga, senhorita Doorman. Não precisamos ir ao banheiro."
"Que se dane!", Uzi retrucou, levantando-se com pressa e saindo da sala sem permissão.
O professor apenas deu de ombros, sem se incomodar. Ele suspirou, abrindo a garrafa e dando um gole em seu anticongelante.
Atlas apenas ficou levemente confuso, o visor piscando enquanto ele processava a ação dela. Ignorando a saída de Uzi, ele calmamente guardou o papel com as questões dentro da jaqueta para fazer depois.
E então, ele ouviu passos se aproximando de sua mesa. Atlas soltou um suspiro quase inaudível, pensando que sua paz finalmente tinha acabado. Ele se virou, já esperando uma provocação, mas em vez disso, avistou Thad, sorrindo em sua direção com uma expressão genuinamente amigável.
"E aí, cara?", Thad disse, com uma voz relaxada. "Você é o Atlas, né? O amigo do Rex dos 'Garras Mecânicas'?"
Atlas hesitou por um momento, surpreso com a abordagem. "Uhm... sim, sou eu. Mas... como você sabe quem eu sou?"
Thad riu, sentando-se na carteira à sua frente com uma informalidade que Atlas achou desconcertante. "Cara, não tem como não reconhecer o filho da criadora das fechaduras do bunker! E o Rex também falou de você, disse que você é um gênio da engenharia. É maneiro ter você na nossa sala!"
"Ah... valeu", Atlas respondeu, um pouco sem graça. A fama de sua mãe era algo que ele tentava, em vão, ignorar.
"Mas e aí, como é? É verdade que você é tipo o mestre das fechaduras?" Thad perguntou por pura curiosidade... e também pelos rumores.
Atlas deu de ombros. "Não sei. Só sou bom em consertar coisas. As fechaduras são só... fechaduras... Que é a especialidade da minha mãe. Ela acha que eu quero suceder o posto dela.."
"Entendi. É que o Rex disse que você é a única pessoa que ele conhece que pode consertar o celular dele sem que ele exploda..." Thad riu de novo. "Mas e aí, cara, o que você acha da turma?" Ele fez uma pausa, e então olhou para o lugar vazio de Uzi. "E da Uzi? Ela é... uhm... bastante intensa."
Atlas considerou a palavra. "Intensa... Sim, acho que é uma boa palavra. E teimosa." Ele pensou sobre a conversa que acabara de ter. "Mas ela tem ideias... únicas."
"Certo. Bom, se quiser, pode sentar com a gente. Lizzy e a galera estão doidas para te conhecer. Dizem que você é o novo 'bad boy' da turma." Thad disse, lançando um olhar divertido para o grupo popular.
Atlas olhou para o lugar de uzi, que está vazio, e depois para Thad. Ele estava em uma encruzilhada social. "Uhm... valeu, Thad. Mas acho que... vou ficar por aqui mesmo."
Thad sorriu, compreensivo. "Sem problemas, cara! É bom ter você por aqui. Falou!" Ele se levantou e voltou para seu grupo, deixando Atlas mais uma vez em seu canto, mas com uma sensação estranha.
Atlas suspirou fundo, arrumando os fones e voltando a tocar a música.
Depois de alguns minutos, Uzi voltou pela porta, indo correndo até Atlas e dando um tapinha nas costas dele. "OK, plano. Rápido." ela sussurrou, impaciente.
Atlas apenas suspirou e levantou da cadeira. Uzi então olhou para o professor e perguntou: "Podemos sair?"
O professor olhou para o relógio e respondeu com sua voz monótona: "O sinal ainda não tocou..." E, nesse exato momento, o sinal tocou, um som eletrônico agudo que ecoou pela sala. O professor apenas deu de ombros e tomou mais um gole de seu anticongelante.
Uzi soltou uma risada triunfante. Ela aproveitou a dispersão da classe para segurar o ombro de Atlas e puxá-lo na direção da saída. Atlas apenas fechou os olhos, resignado, e se deixou ser levado. A música em seus fones, a melodia dramática de '(I Just) Died in Your Arms', se tornou a trilha sonora perfeita para seu dia caótico.
Mas, enquanto ele ia na direção da saída, esbarrou em alguém com quase a mesma dele. Ambos caíram no chão. O walkman e os fones caíram entre ambos.
"Ah... desculpa..." Atlas murmurou.
Ao mesmo tempo, uma voz feminina respondeu com a mesma coisa, mas em russo. "Извините..."
Ambos estenderam as mãos ao mesmo tempo para pegar o walkman. A mão de Atlas para guardá-lo de volta o mais rápido possível, e a outra mão, ele supôs, para devolver.
Nesse momento, quando as duas mãos se encostaram, um pequeno e minúsculo choque elétrico aconteceu, quase imperceptível, conectando as mãos dos dois. Ambos afastaram as mãos bruscamente e olharam um para o outro.
Atlas olhou para a drone em sua frente. Ela usava o uniforme das líderes de torcida, tinha cabelos roxos escuros longos e olhos e HUD de um vermelho carmesim forte. Ela estava quieta, e ele também. O silêncio entre os dois era quebrado apenas pelo burburinho da sala.
Foi então que Lizzy, atrás da garota, chamou por ela. "Doll! Você se machucou?"
Ao mesmo tempo, Uzi chegou por trás de Atlas, parecendo irritada. "Pegue o toca-fitas idiota logo e vamos! O professor já está olhando."
Atlas e Doll se olharam por mais alguns instantes, um momento de silêncio compartilhado. Rapidamente, Atlas pegou o walkman e os fones, levantou-se e estendeu a mão para a garota.
"Hum... desculpa... Eu não estava olhando por onde andava...", ele disse.
A garota, agora identificada como Doll, segurou a mão de Atlas e levantou. Enquanto o fazia, ela respondeu em russo: "В порядке, это была и моя вина."
No visor de Atlas, uma notificação piscou.
//[TRADUÇÃO AUTOMÁTICA E NOVA LINGUAGEM RECONHECIDA: RUSSO]
Doll - "[Está tudo bem, foi culpa minha também.]"
Doll olhou para o visor de Atlas por um momento, uma expressão indecifrável em seu rosto. Ela desviou o olhar para o chão e perguntou, em um tom de voz quieto e frio. "[Você também se machucou?]"
"Não, só foi uma quedinha...", Atlas respondeu. "E você? Se machucou?"
Doll - "[Também não.]"
Não deu muito tempo para conversarem. Lizzy se aproximou e puxou Doll pelo braço, levando-a para a saída, e ao mesmo tempo, Uzi chegou atrás de Atlas, o puxando pelo ombro. Ambos se olharam enquanto saíam da sala, em direções diferentes, perdidos nos corredores lotados.
"Quem... era ela?", Atlas perguntou, ainda um pouco atordoado.
Uzi o puxou até pararem perto dos armários. "É só a Doll. Vice-líder das líderes de torcida, melhor amiga da Lizzy. E agora você sabe o porquê de ela ser estranha." ela disse, revirando os olhos. E então, ela olhou para Atlas, ficando levemente surpresa.. mas, um sorriso lentamente se abria na face dela.
"Espera... não me diga que você..." ela sussurrou, notando as linhas da mesma cor do visor dele, que piscavam sutilmente abaixo de seus olhos.
"Hey, para de olhar assim para mim... Tem algo no meu rosto?", Atlas perguntou, sentindo um arrepio de nervosismo.
"Nada... Hehehe" Uzi disse, ainda rindo sarcasticamente, e abriu o próprio armário com um soquinho.
"Para com esse sorrisinho irritante!", Atlas exclamou, sentindo a frustração crescer.
Uzi ainda estava rindo, mas se virou para ele, retirando algumas coisas do armário. Eram algumas peças dentro de uma sacola: resistores, fios, e pequenas peças de metal. "Isso deve facilitar um pouco", ela disse. "É só o básico, mas já é um começo para a gente ir até o setor 7."
Atlas pegou a sacola, surpreso. "Uhm... obrigado, Uzi."
"Não precisa agradecer..." Uzi falou, fechando o armário com um baque metálico. Ela se alongou, esticando os braços, e começou a caminhar pelos corredores.
Atlas logo a seguiu, segurando a sacola de peças. "E agora? Qual é o plano que você queria me falar?.."
"É hora de começar a engenharia!", Uzi exclamou, sem olhar para trás, enquanto a dupla se dirigia para a próximas parada.
Fim do capítulo 5!
Chapter 7: \\- Perambular e construir
Notes:
Espero que vocês gostem desse capítulo! Mal espero para escrever os eventos de Murder Drones e também as ideias que tive para isso!
Chapter Text
[12:00, Dia 12 de Março, 3071.. Bunker-0]
Os corredores do Bunker-0 são largos e movimentados, especialmente nas partes subterrâneas. Eles pareciam infinitos, com paredes de metal cinza-escuro e um teto alto que parecia distante. O ar era pesado, e o barulho era constante: o eco de passos, vozes de conversa e o tilintar de ferramentas.
Uma mistura de drones enchia o espaço. Adolescentes, com mochilas escolares, conversavam em grupos enquanto andavam. Drones adultos, com coletes de trabalho ou uniformes de manutenção, passavam apressados. Havia até alguns drones da FRO, usando seus uniformes de segurança, patrulhando a área. Os visores deles brilhavam em diversas cores, cada um com sua própria expressão e afazeres.
Uzi parou de andar abruptamente, fazendo com que Atlas, que estava logo atrás, quase esbarrasse nela. No canto do seu visor, um mini mapa piscava com a rota traçada para o setor-7. A voz dela cortou o ar do corredor.
"Você entendeu o plano todo?" Uzi perguntou, o tom impaciente.
"Ahn? Uh, acho que não?", Atlas respondeu, com a batida de 'Brother Louie' ainda vazando dos seus fones. Ele parecia um pouco perdido.
Uzi soltou um resmungo irritado e, sem hesitar, agarrou a jaqueta de Atlas, puxando-o com força para um canto mais escuro do corredor, onde o barulho e a multidão eram menos intensos.
"Presta atenção, princeso," Uzi sussurrou, a voz carregada de sarcasmo. "O plano é o seguinte. A gente não pode agir suspeito. Vamos entrar no armazém, achar as peças que a gente precisa e sair sem sermos vistos. Sem enrolação, sem perguntas idiotas. Entendeu?"
"Parece... fácil demais?", Atlas perguntou, seu olhar passando de Uzi para as sombras do beco.
Uzi deu um sorrisinho presunçoso. "Bem, não é. Tem um 'guardinha' lá. Mas não é um grande problema. Uma parte do plano é simplesmente distrair ele."
O olhar de Atlas se tornou ainda mais cético. "E... ele realmente vai ser fácil de distrair? Ele deve ter treinamento."
Uzi revirou os olhos com impaciência. "Nem tanto. Eu já entro nesse armazém escondida há um tempinho. Confia em mim, ele não é um problema."
Atlas deu um passo para trás, se afastando do canto escuro e da gremlin roxa. "Tá... Só vamos sair logo desse beco antes que alguém nós veja."
"Por que? Achou o papo bom?", Uzi perguntou, com um sorriso travesso se formando em seu visor, enquanto ela voltava a caminhar na frente.
"Não é nada", Atlas respondeu, um tanto rápido demais, e a seguiu.
Ambos retomaram o caminho, Uzi liderando o caminho para os dutos de ventilação, e Atlas logo atrás dela. À medida que eles se aprofundavam no labirinto de corredores, o barulho do bunker foi diminuindo, a multidão se esvaiu. Atlas podia notar que, cada vez que eles iam mais fundo nos corredores, menos drones apareciam. Até que só restou os dois no grande corredor do setor 7.
"O quê, a gente é os únicos loucos o suficiente para vir aqui?", Uzi perguntou, olhando para o vazio e soltando uma risada seca.
"Talvez...", respondeu Atlas. "Olha, sobre aquelas suas 'ideias'..."
"O que foi, já está desistindo?", ela perguntou, o sorriso presunçoso voltando ao seu visor.
"Não, só estou sendo realista", disse Atlas. "Aqueles equipamentos precisam de algumas peças que não são fáceis de encontrar por aqui. A sua sacola só tem a parte mais simples de cada um. As Botas, por exemplo. Precisam de uma Mini-Turbina de Compressão para funcionar, e um Núcleo de Estabilização Giroscópica para você não quebrar a cara. Não acho que você vai achar isso em uma caixa de sucata qualquer."
Uzi balançou a cabeça, impaciente. "É por isso que a gente está aqui. Para pegar as peças. E o Visor? O Processador de Imagem e o Módulo de Projeção Direta? Eu não achei em nenhum outro lugar."
"E o campo de força...?", Atlas perguntou, sua voz se tornou mais séria. "O Núcleo de Poder Estabilizado para um campo de força de verdade não é apenas raro, é provavelmente o protótipo mais perigoso que vamos fazer por aqui."
Uzi se virou para ele, sua expressão voltando a ser séria. "Eu sei. É por isso que eu preciso tanto. Por isso nós estamos aqui. Além de algumas peças para a minha arma."
"Se você diz—" Atlas não pôde terminar sua fala, porque Uzi tampou sua boca com a mão. Ela o arrastou para trás da parede, onde o corredor fazia uma curva, e fez um sinal de silêncio com o outro dedo. Apontou para o final do corredor.
Discretamente, Atlas abaixou o volume do seu walkman e espiou por trás da parede. Ele avistou um drone operário, vestindo um colete de segurança e um chapéu de polícia, parado em frente a uma porta de metal. Acima da porta, uma placa dizia "Armazém". O guarda segurava um cassetete em uma das mãos, sua expressão neutra e monótona.
Uzi olhou para ele, e a interface de seu visor exibiu palavras: "[É ali, princeso. Precisamos distrair ele.]"
Atlas suspirou, e no seu próprio visor, palavras surgiram: "[Tá, como?]"
Uzi respondeu com um sorriso malicioso, segurando o braço dele. Sem hesitar, ela saiu de trás da parede e começou a andar na direção do guarda. Atlas ficou surpreso com a iniciativa, mas, resignado, ele a seguiu, pronto para ver o que a gremlin roxa havia planejado.
O guarda, que até então estava levemente relaxado, imediatamente se colocou em postura de sentido ao avistar os dois adolescentes. "Não podem passar daqui", ele disse com voz monótona e séria.
"Ah, qual é," Uzi respondeu, revirando os olhos. "Não precisa dessa atitude toda, a gente tem autorização, de fato!"
O guarda estreitou os olhos no visor, parecendo se esforçar para se lembrar. "Você... é a filha do Khan... e você...", ele olhou para Atlas, que parecia estar no mundo da lua. "Você é... hum..."
"Filho da Lyvia", Atlas falou.
"Ah, sim!" O guarda bateu levemente na própria cabeça. "Mas o Khan não me avisou sobre autorização para entrar no armazém."
Uzi deu uma risada curta e tirou um papel dobrado do bolso da jaqueta. "Você está totalmente enganado!", ela disse, mostrando o papel ao guarda.
O guarda o pegou, curioso. No papel, havia um QR code. Ele o escaneou com o sensor de seu visor, e uma pequena janela de texto apareceu em seu HUD com uma mensagem: "Acesso ao Armazém Liberado para minha filha linda Uzi e o Atlas. —Khan." O guarda olhou para o papel, depois para Uzi, que esperava ansiosamente, e então para Atlas, que ainda parecia estar em outro planeta.
Guarda - "Isso não vai me enganar—"
De repente, um grito agudo ecoou pelos corredores.
"LADRÃO!"
O guarda tomou um susto e olhou para os dois adolescentes, depois para a porta do armazém e para a direção de onde o grito veio. "Não saiam daqui!", ele disse, antes de sair correndo corredor abaixo.
Atlas finalmente saiu do mundo da lua e olhou para Uzi, o olhar de seu visor claramente a questionando 'Foi você?'
Uzi, que também estava surpresa, balançou a cabeça. "Não foi eu não... Acho que o destino está com a gente!"
Sem perder tempo, ela foi até a porta do armazém. O painel de segurança ao lado deslizou para fora e pediu um código. Uzi grunhiu de frustração. "UGH! que droga! E agora?", ela olhou para Atlas.
"O quê?", Atlas perguntou, erguendo a sombrancelha no visor.
"Faça a sua coisa 'Lockerman'!", Uzi disse. Apontou para o painel.
"Olha," ele começou, "só porque meu sobrenome tem 'Lock' e minha mãe é criadora das fechaduras e painéis desse bunker, não significa que eu possa desbloquear qualquer painel..."
Uzi o encarou com um olhar de pura descrença.
"Tsk, tá... talvez um pouco," ele cedeu, "mas isso é estereótipo de sobrenomes." Atlas se aproximou do painel, e com movimentos rápidos, tentou algumas combinações. Depois de duas falhas, o painel brilhou em verde e se retraiu.
A porta do armazém se abriu lentamente, revelando um interior escuro.
"Vamos ter que achar os interruptores," Uzi falou, aumentando o brilho de seu visor e entrando.
('ugh.. e olha que nem sou pago para isso..'), Atlas pensou. Ele suspirou, ativou a visão noturna fraca em seu próprio visor e a seguiu para dentro da escuridão.
A escuridão dentro do armazém era quase absoluta. A visão noturna de Atlas era fraca, transformando o vasto espaço em um borrão cinzento e indistinto, e o brilho dos olhos de Uzi mal iluminava o chão à sua frente.
"Eu sabia que ia ser assim", Uzi resmungou, andando cuidadosamente com a mão estendida, procurando uma parede. "Por que nenhum desses idiotas pensa em colocar um interruptor na entrada?"
"Porque a entrada é para os drones de carga", respondeu Atlas, sua voz vindo da escuridão. "Eles não precisam de luz para encontrar as coisas."
"Tsk, é claro que eles não precisam. Eles são robôs feitos para isso," Uzi retrucou. "Ugh!"
De repente, Uzi tropeçou em algo e caiu com um baque, soltando um xingamento abafado. "Merda. É... o que diabos é isso?"
"Provavelmente uma caixa de peças," Atlas disse, sua voz um pouco mais próxima.
"É uma caixa de sucata, isso sim", Uzi respondeu, se levantando. "Eu vou me guiar pela parede. Tente fazer o mesmo."
Eles continuaram, movendo-se lentamente no escuro. A cada passo, o som de seus pés se misturava com o tilintar de objetos que eles tocavam ou derrubavam. Depois de alguns minutos, Uzi parou. Sua mão havia encontrado um painel de metal na parede. Ela passou os dedos pela superfície até encontrar um botão, ou, na verdade, um conjunto de três botões. Ela os pressionou um por um.
Com um zumbido alto, as luzes fluorescentes do teto começaram a piscar e, lentamente, inundaram o enorme armazém com uma luz branca e fria. As imensas prateleiras, que chegavam até o teto da enorme sala, foram reveladas, preenchidas por centenas de caixas e pilhas de diferentes tipos de materiais. O chão estava igualmente bagunçado, com caixas abertas, pilhas de metal e cabos soltos.
Uzi sorriu com satisfação. "Olha só, eu sabia que ia funcionar."
Atlas continuou a olhar para as imensas prateleiras, seu visor exibindo uma série de cálculos rápidos enquanto ele processava a complexidade do local.
"Interessante...", ele murmurou, sentindo o próprio sentido de engenheiro atiçar no processador. Aquele lugar era um paraíso para ele.
Uzi, no entanto, não tinha tempo para apreciação. "Não é um museu, Atlas" ela disse, cortando o momento. "Agora que a gente tem luz, é para achar as peças que a gente precisa. Pelo menos, as que estão disponíveis."
"Certo... temos que ser rápidos antes que o guarda volte", Atlas disse, olhando para as prateleiras imensas, seu visor exibindo um breve brilho de análise.
Uzi o ignorou, já se aproximando de uma caixa grande e velha. "Heh, como se ele conseguisse pegar um ladrão tão rápido." ela respondeu, puxando a tampa da caixa e começando a vasculhar o interior cheio de sucata.
Atlas suspirou, pegando uma caixa mais perto. Ele começou a mexer nos fios emaranhados e em peças de metal, a música de seu walkman ainda presente, mas no volume mínimo.
"Meu pai provavelmente projetou metade dessas peças enquanto eu crescia. O velho e a sua... 'obra-prima'," Uzi resmungou com desprezo. "Ele me colocou em cartaz como 'o desapontamento de filha', mas as portas dele, ah, essas sim são o orgulho dele. Elas sim, são as filhas de verdade."
Atlas parou de procurar por um momento. "Eu sei. Nossos pais sempre se deram bem, afinal. O Khan faz as portas, a minha mãe faz as fechaduras. É o tipo de parceria que dura para sempre... mas a gente? A gente era só... um projeto secundário." Ele fez uma pausa. "A minha mãe está sempre ocupada. Em reuniões, criando novos protótipos de segurança. Eu só queria... que ela jogasse algo comigo, sabe?"
Uzi parou de repente, uma peça na mão. "Tipo o quê? Não me diga que você queria jogar 'Portas e Cavernas'?" Ela fez uma voz dramática.
Atlas deu um sorriso fraco. "Não, claro que não. Eu queria jogar 'Fuga ou Falha' com ela." Ele estendeu a mão para pegar a peça na mão de Uzi. "Ei, isso aqui parece com um Núcleo de Estabilização Giroscópica. Para as botas."
Uzi olhou para a peça, depois para ele, um pequeno sorriso no rosto. "Sabia que você era útil. E sim, é um bom jogo. Mas a 'falha' sempre vence a 'fuga', o que é uma droga." Ela voltou a procurar. "A gente não vai achar a Mini-Turbina de Compressão aqui, né? Pelo que parece, ela é a peça mais complicada. A gente vai ter que ir para fora, não é?"
Atlas parou de vasculhar, sua mão pairando sobre uma pilha de cabos. O seu visor, que antes estava calmo, agora mostrava uma expressão nervosa e uma gota de suor no canto do visor. "De novo ir lá fora?... Não planejamos ir ... Tipo, depois de tudo estar pronto? Os equipamentos e tals?.."
Uzi suspirou, virando-se para ele com impaciência. "E daí? É a única forma de conseguir o Núcleo de Poder Estabilizado para o campo de força e as outras peças mais complexas, principalmente o Núcleo de poder para a minha arma. As portas do meu pai podem ser inquebráveis, mas não são inteligentes. Elas só sabem se abrir e fechar. A gente precisa de algo que possa nos proteger de verdade."
"Mas lá fora é perigoso pra caramba .." Atlas disse, sua voz elevando-se. "O perigo também pode ser o frio extremo. Já ouvi histórias de membros da FRO que sobreviveram aos ataques dos Drones de Desmonte. A maioria deles voltavam com os braços ou pernas congelados."
"Os drones de desmonte são uma ameaça à nossa existência, sim, eu sei", Uzi o cortou. "E é por isso que precisamos dessa arma! Você quer ficar aqui para sempre, preso neste bunker, até que uma porta falhe e eles entrem? Porque eu não quero!"
Atlas apertou as mãos, olhando para o chão. "Não... mas... Sair do bunker... É o tipo de coisa que as lendas de terror falam. Os Drones que tentaram... eles não voltaram."
"Eles tentaram sem um plano", Uzi respondeu, sua voz um pouco mais suave, embora ainda determinada. "A gente tem um plano."
Ele a encarou por um momento, a expressão em seu visor um misto de medo e resignação. "Tá... Mas e as Luvas? Achou alguma coisa?", ele perguntou, mudando de assunto, ainda procurando.
"Nada que valha a pena. Mas não importa," Uzi disse, batendo levemente na caixa. "Vamos procurar mais. A gente ainda precisa de um Processador de Imagem para o Visor. E, uh, o Núcleo de Poder Estabilizado para o campo de força."
"Esse núcleo de poder estabilizado vai ser impossível de achar", Atlas falou, sua voz cheia de preocupação. "Isso é algo que só seria encontrado... Ugh... fora do bunker ou em outro bunker."
Uzi parou de procurar, olhando para as imensas prateleiras. "Sim... é. Eu sei. Mas as outras peças devem estar aqui.."
"E então, mocinha, o que você vai fazer? Vai ficar só olhando?", Uzi perguntou, olhando para a prateleira mais alta. "Me dá pezinho."
Atlas soltou um suspiro audível. "Você não pode só... pegar uma escada?", ele perguntou.
"Não tem tempo, princeso, o guarda pode voltar a qualquer momento", ela retrucou. "E, além disso, eu preciso de um pouco de adrenalina na minha vida."
Atlas resmungou algo sobre a sua falta de responsabilidade, mas se curvou, se posicionando para Uzi subir. Uzi colocou o pé em suas mãos e contou até três. Ao chegar no três, ambos fizeram sua parte: Atlas impulsionou Uzi para cima com um movimento rápido e firme, e ela pulou. Uzi, com um mortal desajeitado, conseguiu se segurar na borda da prateleira, soltando uma risada seca.
Uzi - "Sabia que piratear animes não foi má ideia!" ela exclamou, se levantando.
"Foco, Uzi!", Atlas gritou para a mesma, alternando a visão entre a porta do armazém aberta e a Gremlin roxa. "Acha as peças para a gente sair logo!"
"Eu sei, relaxa," Uzi respondeu, já abrindo a primeira caixa. "Só tem um monte de... cabos velhos. O lixo do lixo."
Ela passou para a próxima, e a próxima. Atlas, lá embaixo, também procurava em uma prateleira mais baixa, perto do chão. "Achou alguma coisa?", ele perguntou.
"Só porcaria. Eu estou procurando por algo que pareça com... ah!" Uzi parou, seus olhos brilhando ao encontrar uma caixa de metal menor, com uma etiqueta quase ilegível. "Bingo. Acho que achei alguma coisa."
Uzi abriu a caixa, revelando um conjunto de Bobinas Eletromagnéticas de Alta Indução. Elas estavam levemente empoeiradas e com algumas marcas de uso, mas pareciam intactas. "Olha isso, Atlas! É o que a gente precisa para as luvas! Segura!", ela gritou, jogando a caixa com cuidado para ele.
Atlas pegou a caixa com certo esforço, analisando-a rapidamente com seu visor. "Elas estão um pouco velhas, mas a gente pode arrumar com algumas ferramentas. A gente pode fazer funcionar," ele murmurou, impressionado.
"Ótimo! Agora só falta o resto." Ela continuou a procurar, vasculhando as caixas ao seu redor. "Não é possível que só tenha isso aqui... Eles deviam ter mais, para o caso de alguma emergência. Os drones daqui são tão... desorganizados."
Em outra caixa, Uzi encontrou um conjunto de Capacitores de Pulso de Carga Rápida, as peças restantes que eles precisavam para as luvas. "E boom! O resto do equipamento! As luvas estão completas!", ela gritou, atirando as peças para Atlas, que as pegou com a precisão de um engenheiro.
"Uzi, isso é ótimo...Mas...", Atlas disse, sua expressão séria enquanto olhava para as peças. "Ainda falta o Núcleo de Isolamento Bio-Lógico. Sem ele, você pode fritar os próprios circuitos. Onde vamos conseguir essa peça?"
Uzi se jogou da prateleira e, com um mortal desajeitado, pousou ao lado de Atlas. Ela olhou para a caixa que ele segurava, um sorriso de satisfação em seu visor. "Relaxa, princeso. A gente tem tudo que precisa para criar algo assim... na minha oficina."
"Tá, tá, senhorita gênio maluca... Agora vamos", Atlas disse, pegando as peças com cuidado.
Uzi o zoou com a língua para fora, mas já foi indo na frente. Ela rapidamente se aproximou do painel de luz e desligou todas, jogando o armazém de volta na escuridão, com a exceção do brilho de seu HUD. Uzi usou o painel para fechar a porta, travando-a com um clique.
"Isso foi mais fácil que o imaginado," ela disse, um sorriso de satisfação em seu visor.
Atlas balançou a cabeça, um ponto de interrogação piscando brevemente. "Eu sinto uma pulga atrás da orelha... e eu nem tenho orelha."
Uzi soltou uma risada curta. "Vai ficar bem, relaxa."
No mesmo instante, ela olhou para frente e a risada morreu em sua garganta. No corredor, a alguns metros de distância, o guarda que os havia abordado estava parado. Ele segurava pelos pulsos um drone com roupas e máscara xadrez preto e branco, mas parecia que ambos estavam em uma conversa amigável.
Os quatro ficaram em silêncio, olhando um para o outro, congelados. Uzi e Atlas começaram a se mover lentamente, andando de lado em direção ao corredor, mantendo contato visual. O guarda e o drone mascarado fizeram o mesmo, na direção da porta do armazém.
Quando a troca de posições foi feita e eles já estavam a alguns metros de distância, o guarda quebrou o silêncio.
"Vocês não viram nada...", ele disse. "E eu também não."
Uzi concordou, apenas acenando com a cabeça. Um silêncio estranho e constrangedor pairou no ar por um momento.
Uzi e Atlas não perderam tempo, e saíram do corredor o mais rápido que puderam.
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[Quarto/Oficina da Uzi]
O quarto de Uzi era uma bagunça organizada. Cabos, peças de metal e diagramas de circuitos cobriam a maior parte da mesa. No centro de tudo, Uzi estava sentada em sua cadeira, as pernas balançando no ar, concentrada em um diagrama em seu visor.
Atlas estava de pé ao lado da mesa, sua expressão focada enquanto ele cuidadosamente limpava as bobinas que Uzi havia pego do armazém. A música em seu walkman ainda estava presente, mas tão baixo que mal podia ser ouvido.
Atlas pegou um pequeno pincel de limpeza e removeu a última partícula de sujeira de uma das bobinas. "Hey, Uzi," ele chamou. "Só uma questão... por que tem dois pares de luvas?"
Uzi parou o que estava fazendo, levantando a cabeça. "O quê? Do que você está falando?" Ela apontou para a mesa, onde dois diagramas de luvas estavam sendo exibidos. "Você vai ter as luvas também, né?"
Atlas ergueu uma sobrancelha no visor, parecendo genuinamente surpreso. "Eu... eu pensei que você fosse fazer só para você. Sabe... um par para a sua missão."
Uzi se virou para ele, parecendo levemente indignada. "Que tipo de pessoa eu seria? Eu estou levando você para fora do bunker, então seria melhor que você estivesse equipado também." Ela voltou a trabalhar em seus circuitos, seus olhos brilhando. "Eu não quero ser assombrada por um fantasma de um amante de música chata. Seria péssimo para a minha reputação de 'rebelde solitária'."
Atlas abaixou a cabeça, um leve sorriso curvando seus lábios metálicos. Com um movimento cuidadoso, ele abriu o compartimento de seu walkman e retirou a fita de 'Brother Louie', substituindo-a por uma com o título rabiscado 'Smooth Criminal - M.J'. Fechou o aparelho, colocou os fones e apertou o play. Os primeiros acordes inconfundíveis preencheram o ar, abafados, mas audíveis.
A música serviu como um ritmo de trabalho para ele. Enquanto Uzi estava sentada em sua cadeira, espalhando fios e soldando os capacitores com uma velocidade quase furiosa, Atlas trabalhava na mesa ao lado, sua abordagem sendo o oposto. Ele usava pequenas pinças para limpar a corrosão das bobinas, inspecionando cada uma delas com seu visor.
"Essa aqui está com um circuito meio queimado", Atlas falou, a voz abafada pelos fones. "A gente pode usar a bateria desse MP4 para..."
"Não! Eu preciso do meu MPE4 para a minha... 'inspiração'!", Uzi o cortou. "Usa a fonte daquela lâmpada velha. A gente não precisa dela."
Atlas suspirou, mas assentiu. Ele pegou a fonte e começou a desmontá-la. O som da solda de Uzi e o tilintar das ferramentas de Atlas se misturavam na trilha sonora de Michael Jackson.
Uzi parou de repente, olhando para o circuito da luva. "Merda... Ainda falta o núcleo de isolamento. O meu projeto só tem um espaço vazio bem aqui. Atlas, você viu alguma coisa parecida no armazém?"
"Não... nenhuma peça que se encaixe", ele respondeu, sem tirar os olhos do que estava fazendo. "Essa é a peça que a gente teria que procurar lá fora. É um componente de segurança altamente especializado."
Uzi resmungou, mas seu visor brilhou com uma ideia. Ela pegou algumas peças soltas na mesa: um regulador de energia danificado, um cristal de dados obsoleto e alguns fios de cobre desencapados. "Não precisamos de uma peça 'altamente especializada'," ela disse, a voz cheia de confiança. "A gente só precisa de algo que... funcione. Uma gambiarra."
Atlas observou, cético. Uzi começou a soldar as peças, unindo o quebra-cabeça de sucata com uma precisão impressionante. Depois de alguns minutos, ela tinha um pequeno módulo irregular em sua mão.
"Pronto", ela disse. "É feio, mas acho que funciona."
Atlas pegou a luva, mas antes de Uzi adicionar o módulo, ele fez um teste. Tocou a ponta dos dedos na luva e nada aconteceu. Uzi, então, se aproximou e conectou o módulo improvisado. Atlas repetiu o teste, e desta vez, um leve zumbido saiu das pontas dos dedos da luva, acompanhado de uma pequena distorção visual no ar. A gambiarra de Uzi havia funcionado.
Atlas analisou a tal improvisação e suspirou. "Não é o recomendável... Mas se está funcionando, serve."
A partir daí, o trabalho fluiu. Uzi e Atlas trabalharam lado a lado, o som de suas ferramentas e o ritmo da música servindo como um combustível pra continuar. Eles finalizaram as conexões, ajustaram os emissores eletromagnéticos e fecharam os compartimentos das luvas.
Finalmente, ambos se afastaram da mesa e, olharam para o trabalho deles. Dois pares de luvas de Nulificação Sensorial estavam sobre a mesa. Um par, com um acabamento mais polido, tinha as marcas das mãos cuidadosas de Atlas. O outro, um pouco mais robusto e com fios mais expostos, era a criação inconfundível de Uzi. Os dois estavam prontos.
Uzi olhou para as luvas na mesa, um sorriso de satisfação em seu visor. Ela soltou uma pequena comemoração, batendo levemente as mãos. A mesma estendeu a mão na direção das luvas para pegá-las. "É isso aí! Agora a gente tem..."
De repente, a mão dela foi impedida por um leve tapa de Atlas. Uzi recuou, olhando para ele com um brilho de indignação. "Ei! Que diabos foi isso?!"
"Calma lá," Atlas disse, sua expressão séria. "Temos que fazer testes primeiro. Você quer que isso exploda na sua cara quando for usar?"
Uzi cruzou os braços e resmungou. "Chato."
Atlas apenas suspirou, ignorando o comentário. Ele se virou para a bagunça em sua mesa e pegou alguns equipamentos de medição, conectando cabos a um pequeno multímetro
[Alguns minutos depois..]
Atlas finalizou o último teste no multímetro, observando os números em seu visor. "Certo... a voltagem está em ordem. Seu improviso de núcleo de isolamento está estável e as bobinas funcionam perfeitamente. Finalmente terminamos o primeiro equipamento."
Uzi, que estava sentada em sua cadeira, explodiu em comemoração. Ela girou na cadeira com rodinhas, jogando os braços para o alto com alegria. "É isso aí! A bagaça finalmente está pronta!"
"Sim, sim... melhor guardar. Agora, eu vou pra casa dormir", Atlas disse, olhando para o relógio em seu visor. "Já são umas... 17:00. Não sabia que demorou tanto assim."
"Demora mesmo, mas valeu a pena!" Uzi respondeu, parando de girar. Ela olhou para ele, um pequeno e quase imperceptível sorriso se formando. "Valeu por ajudar a fazer isso. Agora, sai da minha oficina."
Atlas bufou levemente, pegando as ferramentas e suas coisas da mesa. Ele pausou a fita em seu walkman e foi em direção à porta. Assim que passou por ela, a porta do quarto de Uzi se fechou em um baque instantâneo atrás dele.
Ele saiu da casa, notando a ausência estranha de Khan.
[Residência dos Lockerman]
Atlas abriu a porta de sua casa, que se fechou com um clique silencioso. Ele tirou os fones e guardou o walkman no bolso. "Mãe, cheguei!"
"Bem-vindo de volta, filho!", a voz de Lyvia respondeu da cozinha.
"Olá, Atlas!", a voz de Khan, alegre e familiar, se juntou à resposta.
Atlas parou no corredor, surpreso. Ele se moveu em direção à cozinha e encontrou Lyvia e Khan sentados à mesa, rodeados por pilhas de papelada e bebendo algo que parecia café.
"Mãe... por que o Tio Khan tá aqui?" Atlas perguntou. Sinceramente? Não esperava ele aqui.
"É só uma pequena visita, querido", Lyvia respondeu, sem tirar os olhos de um diagrama. "Estamos fazendo algumas papeladas juntos para terminar mais rápido."
Khan deu um tapa na mesa com um sorriso. "É mais eficiente! Quatro mãos são mais úteis que duas, não é? Haha!"
"Haha... é... eu vou ir deitar", Atlas disse, com um sorriso forçado que não atingiu seus olhos. Ele já foi se afastando da cozinha em direção ao próprio quarto.
"Ah, mas já?", Khan perguntou. "Ainda está cedo! Por que você não nos ajuda um pouco com isso? Seria um ótimo aprendizado!"
Atlas parou por um segundo, os ombros tensos. Ele balançou a cabeça. "Não, obrigado. Eu... eu estou cansado." Ele insistiu, e sem demoras, foi direto para o quarto.
Atlas soltou um suspiro profundo. Seus olhos foram para a mochila no canto do quarto, onde os blueprints estavam guardados. Ele se levantou, caminhou até lá e pegou a planta das botas, analisando-a em seu visor. As palavras de Uzi ecoaram em sua mente: {"A gente vai ter que ir para fora, não é?"}
('Hm... se realmente for necessário...) ele pensou, a imagem da Uzi com seu sorriso presunçoso e determinado aparecendo em sua memória. Um zumbido familiar, distante e opressor, retornou do fundo de seu armazenamento de dados, e a mão de Atlas começou a tremer. Ele apertou a jaqueta em seu peito, buscando conforto. ( 'Tá... eu vou.')
Com a decisão tomada, ele guardou o blueprint de volta na mochila, tirou a jaqueta e a pendurou no cabide. Sem demoras, deitou na cama, olhando para o teto de metal, com as mãos cruzadas sobre o peito. Seus olhos no visor foram substituídos.
//[Modo de suspensão]
Alarme ativado para: 04:00
//Inicializando Pesadelo.exe
Fim do Capítulo 6!

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Somebody_Naosei on Chapter 3 Tue 04 Nov 2025 10:02PM UTC
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