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Vinte anos depois
Ela parece com o original, Naruto pensa na privacidade de sua própria mente.
Enquanto fecha os olhos e se inclina para um beijo, ele afastar a ideia, mas os lábios de Hinata são macios demais, muito diferente para fazê-lo lembrar dos lábios ressecados de Sasuke, entretanto teria que ser o bastante, eles são as únicas opções que Naruto tinha. Desde quando Naruto pensava em Sasuke enquanto estava com sua esposa?
Sinceramente, desde sempre. Ele não podia evitar. Hinata era linda, a mulher mais atenciosa de toda Konoha, mas ela não era ele, nada nunca superaria ele. Naruto começou a achar que estava louco.
Poderia ser o bastante - Teria que ser o bastante - Sasuke havia decidido há muito tempo atrás. Esse pensamento trouxe um gosto amargo em sua boca, Sasuke não o queria, e provavelmente já o tinha esquecido.
Após lutar por 3 anos ininterruptos por aquele homem, ser finalmente reconhecido por seu trabalho em sua comunidade e se tornar Hokage, Naruto percebeu que algo estava faltando e iria sempre faltar. Estar com Hinata fazia o vão em seu peito sentir menor, era uma ótima distração, por alguns minutos ele conseguia até esquecer.
Duas décadas antes:
O fim da guerra deu início há dias preguiçosos, parecia que todos tinham todo o tempo do mundo com a nova paz mundial conquistada, novos arranjos no mundo ninja se formando e alianças politicas se estabelecendo. A família Hyuga recentemente interessada no grande Hokage a vir era um bom exemplo, custeando todas as despesas com seu discipulado intensivo com os anciãos.
A segunda sexta-feira do mês chegou e com ela o tão esperado relatório de 6 páginas que Naruto era proibido de ler entregues seguramente nas mãos de Kakashi com a assinatura elegante de Sasuke no canto superior do pergaminho. O funcionário responsável pela entrega seguiu adiante na sala com uma reverência satisfatória ao Hokage, mas antes que saísse do local disse:
“E para Uzumaki Naruto, uma correspondência.” Normalmente suas cartas chegavam em seu novo apartamento, bilhetes curtos de Hinata e convites a passeios de seus amigos, recusados com uma frequência alarmante.
Nada chegava no Prédio Oficial da Aldeia da Folha, mas quando Naruto viu aquela assinatura, não conteve seu contentamento. A carta era curta e objetiva, dizia apenas: “Quando você estiver lendo, já estarei na aldeia. Posso te pagar um jantar essa noite se seus gostos continuam os mesmos de nossa época de genin. Me encontre lá às 19:00.”
Kakashi não disse nada sobre a boa vontade e onda de produtividade que atravessou Naruto, que preenchia com força renovada pilhas e pilhas de
documentos, contabilizava os rendimentos e anotava jutsus específicos demais para terem oportunidade real de uso no cotidiano. Realizou todas essas atividades sem reclamar, dando a impressão de estar no automático, o que poderia ter sido alvo de maior preocupação caso o loiro não tivesse saído no exato minuto que marcava o fim de seu expediente. Não deixou nem mesmo Kakashi dizer um comentário sarcástico, se retirando apenas com um: “haha legal, sensei. Até segunda.”
Naruto se banhou com o sabonete mais chique dado de presente pela Hinata, flor de cerejeira com toque amadeirado? Algo assim. Se sentiu bobo por se arrumar para um jantar com Sasuke, não era como se estivesse indo para um encontro.
Apesar de sempre chegar atrasado para tudo, fez questão de aparecer no Ichiraku com 10 minutos de antecedência vestindo uma de suas únicas camisetas que não estava manchada e se sentou no balcão mais afastado disponível na esperança de não chamar muita atenção.
Sasuke avistou Naruto logo que entrou, apreciando silenciosamente o assento escolhido por ele e não pode evitar um leve sorriso ao ver o velho da venda colocar um prato com Onigiri e outro com Lamen na mesa. Naruto sentiu a presença familiar do chakra do amigo, mas deixou que ele viesse até ele em seu próprio ritmo.
Ao se sentar, Sasuke logo viu o sorriso enorme do loiro, mas não se permitiu esboçar reação, o que logo falhou quando Naruto disse:
“Eu fiz o pedido, mas não esquece que quem vai pagar é você, hein?!” O Uchiha se permitiu rir ao se ver confrontado a avareza do amigo, até sentiu saudades da falta de polidez dele, mas nunca diria isso em voz alta. Ao invés disso, voltou a seu usual tom irônico e o chamou de pão duro, satisfeito em continuar a dinâmica de sempre. Eles estavam ousados, pediram uma garrafa de sake, que pode ou não ter se transformado em 2 e talvez os joelhos dos dois estivesses se tocando ocasionalmente e fizesse o coração de Naruto se eletrizar como se tivesse sido acometido pelo chidori de Sasuke, que por sua vez, estava sendo iluminado pelas luzes quentes do estabelecimento de tal maneira que fez com que ele desejasse ter um maldito sharingan para salvar sua visão como uma fotografia pessoal, que pertenceria só a ele, um segredo.
“No que você está pensando? Parece que foi longe…”
Sasuke disse olhando desconfiado para o homem a seu lado.
Naruto estava pensando em muita coisa de fato, como, por exemplo, seu desejo de tirar o cabelo moreno do rosto dele, sentir a maciez da mecha e ver melhor seu olho tão preto como jabuticaba, o outro com espirais roxas brilhando e talvez beijar ele… É, ele com certeza iria gostar disso agora, ia ser demais, incrível. Quando sua boca abriu para responder, gaguejou ao dizer:
“Você ‘tá bonito…”
Ele desviou o olhar, uma certa timidez invadindo seus sentidos e causando a sensação de seu coração ter descido para a barriga. Não deveria ter dito aquilo, com certeza tinha bebido demais e esperava desesperadamente que Sasuke se sentisse tão tonto e bêbado quanto ele.
“Quer dizer… Ah, nada não. Acho que só estou um pouco bêbado, desculpe.”
Para alguém que diz falar tudo o que pensa, Naruto tinha uma certa dificuldade em escolher as palavras certas. Se se sentia embriagado, logo voltou aos seus sentidos ao sentir a mão de Sasuke em sua coxa enquanto o mesmo falava baixinho para esquecer isso.
Ele não esqueceu, na verdade, se lembraria por toda sua vida, qualquer segundo com Sasuke desde sua reconciliação estavam sendo armazenados numa parte alerta de seu coração.
Os lábios de Sasuke formaram um sorriso contido e se ele revelou mais de seu peitoral ao ajustar seu yukata, claramente não estava relacionado ao fato de desejar ver os olhos de Naruto se demorarem na região por um momento a mais do aceitável e suas bochechas enrubescerem. Afinal, eles eram só amigos, certo?
E quando caminhou seu amigo para seu apartamento e foi convidado a entrar, era somente natural que aceitasse, quer dizer, ele não poderia voltar as ruínas de seu antigo apartamento, destruído há muito tempo pelo time de ambu que estava a sua alçada durante aqueles anos.
Bem, a real novidade introduzida em suas vidas naquela madrugada de sábado na sala parcialmente bagunçada de Naruto foram os segundos alastrados onde Sasuke se permitiu ser ousado, dirigindo suas costas para a parede, puxando Naruto para perto de si e ajeitando-se de maneira deixar uma das pernas do loiro entre suas coxas. Naruto cerrou os dentes e restabeleceu seu equilíbrio contra a parede com o punho cerrado, olhando para Sasuke com fervor, seu chakra escapando em doses altas no ambiente quando falhou em se controlar.
Sasuke conseguia sentir a respiração de Uzumaki em seu rosto e não resistiu mais, afundou seus dedos na camiseta dele o trouxe para ainda mais perto, sobrancelhas cerradas quando o beijou. Naruto soltou um grunhido como se tivesse sido ferido e agarrou a cintura de Sasuke sentindo-se fora de seu corpo por uns instantes, coração batendo como tambores em seus ouvidos. O barulho que Sasuke solta quando Naruto pressiona seu joelho contra ele, o cheiro de lavanda que emana de sua pele... Como viveu tanto tempo sem isso?
Agora que Naruto o experienciou, nunca mais iria deixá-lo ir. Seja meu, seja meu, seja meu.
“Já sou… você garantiu que eu fosse.” Sasuke disse.
Ao abrir sua yukata viu os olhos de Naruto ficarem momentaneamente vermelhos. “Faça o quiser…” Sentiu os dedos calejados trêmulos de Naruto tocarem sua pele exposta do quadril, o calor que sua pele naturalmente emanava prendendo-o no momento. Sasuke estava onde deveria estar, nos braços da única pessoa que lutou por ele.
Suas vestes caíram ao chão e ele se permitiu pela primeira vez em muito tempo estar presente com alguém, sentir Naruto inteiramente e se contentar com essa nova felicidade que havia criado.
A semana se seguiu e não importa onde estavam, Naruto via seu futuro à sua frente, com pele pálida, cabelos negros e olhos bicolores. Era lindo, e pertencia a ele.
Naruto lembra daqueles dias como os mais felizes de sua juventude, a nostalgia sempre o preenchia, e não importa quantas vezes ele tentasse apagar, fracassava sempre, a vida que poderia ter tido o assombrava.
20 anos depois
Era fácil lembrar daquela noite, da luz da lua iluminando a palidez da pele de Sasuke, do seu sorriso contra sua boca e do jeito que o Uchiha permitiu que Naruto o prometesse tudo, pegasse tudo o que tinha direito, mais fácil ainda imaginar em suas mãos movimentando o quadril de Sasuke, como ele deixou Naruto sussurrar em seu ouvido.
Os olhos de Naruto estão mais caídos com o peso das rugas que se formaram em seus cantos, no meio da maré de cabelos loiros agora é possível encontrar pontos grisalhos, que marcam a passagem de tempo monótona que se seguiu 2 décadas após aquele dia.
Não importava o quanto ignorava a papelada enorme que ocupava mais da metade de sua mesa, o quanto encarava os quadros pintados e novas fotos dos líderes passados enfileirados na parede a esquerda, até olhando para fora da janela, vendo os novos times ninjas transitarem, nada, absolutamente nada fazia o tempo passar mais rápido.
Sonhar para sempre tutelado por Kaguya não parecia tão ruim agora. O que sempre quis pareceu pequeno comparado com a prospecção do que poderia ter tido em viagens constantes, livre pelo mundo e ao lado dele.
Por que Sasuke o negou naquele dia? Por que condenou ele a isso?
A vida que ele nunca iria ter. Era impossível tirar os olhos daquela realidade, da felicidade que ele podia ter tido. Piores eram os dias que sua mente insistia em lembrar do fim.
20 anos antes
Uzumaki tinha que se lembrar a cada 10 segundos de parar de ranger os dentes, mas sua boca voltava inconscientemente para a posição tensa de sempre. Estava olhando para fora da janela checando a todo momento a porta da frente, deveria ter corrido atrás de Sasuke depois da briga, mas se sentiu coagido a ficar para trás, sentado na mesa de jantar esperando o Uchiha dar o ar das graças.
Racionalmente, Naruto sabia que ele iria voltar, ele tinha prometido que voltaria, mas não conseguia deixar a ansiedade de lado. Olhava para o relógio ocasionalmente para verificar se já tinham se passado 2 horas como havia imaginado, mas para sua desgraça foram somente 10 minutos.
Ficou exatamente 43 minutos estressado esperando ele voltar, ao sentir o chakra de Sasuke, seu coração apertou momentaneamente.
Sasuke viu Naruto sentado à mesa, claramente estressado. O loiro abriu a boca afobado para falar e acabou se atropelando em seu discurso:
“Não precisamos ficar aqui, posso falar com Kakashi, devolver os fundos financeiros dos Hyuga… Não importa mais, posso sair disso quando eu quiser!”
Sasuke se debruçou sobre a porta à sua direita, dedos massageando os cantos dos olhos.
“Naruto, não seja ridículo, não vou deixar você estragar sua própria posse…
Eu vou embora daqui a 5 horas, por favor, não transforme esses últimos momentos nisso…”
Os olhos de Naruto se cerraram, parecia impaciente.
“Eu vou com você, me dê 1h que já faço as declarações, eles vão entender e se não entenderem também não importa!”
Naruto afastou a cadeira da mesa.
“Se era isso que você queria que eu fizesse, escolhesse, então está pronto, escolho você.”
Sasuke se sentou a mesa ao lado de Naruto, que deixou que ele pegasse suas mãos para que elas parassem de tremer. Ainda havia migalhas dos pães que comeram no café da manhã na toalha de mesa amarela.
Naruto olhava fixamente para suas mãos calejadas seguradas pela mão pálida de Sasuke.
Ele iria ser nomeado depois de amanhã, iria assumir o cargo na quarta-feira. Sasuke trabalharia na floresta e em missões de alta complexidade, voltaria no máximo 1 vez por mês. Parte do acordo era o casamento com Hinata, pelo menos 2 herdeiros para continuar o legado… Naruto iria ter as coisas com que sempre sonhou, menos Sasuke. Sasuke não estaria lá.
O Uchiha sabia que o loiro estava segurando o choro, mas já havia tomado sua decisão.
“Não vou estragar sua vida de novo, você vai seguir com o plano e pronto, acabou.”
Naruto olhou para frente, vendo um sopro vermelho passar a sua frente. Naquele momento, ele não dava a mínima para a esposa, descendentes, nem a mansão que viria junto, mas Sasuke não lhe deu opção. Ele não sabe como exatamente aconteceu, mas quando acordou estava em sua cama, não tinha nem rastro de Sasuke pela casa, nem mesmo um bilhete.
Ao se dar conta do que ocorreu, não conseguiu se sentir bravo ou gritar. Seu corpo estava leve, parece havia um vão onde seu coração deveria estar. Sem conseguir negar seu destino, as coisas aconteceram como Sasuke havia falado, uma existência condenada ao sucesso.
20 anos depois
Agora estavam ali, numa sala muito chique para ser considerada confortável, cercados por livros e presos numa reunião entediante sobre segurança pública e projetos de meios de transporte internacionais. Nessas ocasiões Naruto tinha de usar seu manto oficial, Shikamaru ao seu lado direito ouvindo com atenção os tópicos e Sasuke sentado mais distante perto do Kazekage, brincando com a costura de sua capa.
Naruto deu seu posicionamento e logo as coisas terminaram, os convidados saíram da sala, deixando-o sozinho, mas Sasuke não se foi, por algum motivo estava se dirigindo até ele.
Os anos pareceram não passar para ele, os cabelos continuavam negros como sempre foram, as únicas marcas que denunciavam parcialmente a idade de Sasuke eram as linhas de expressão de seu sorriso, que Naruto passou a ver com mais frequência após o nascimento de sua filha.
O Uchiha posicionou a cadeira para longe da mesa, colocando uma pilha de papéis em frente ao Naruto. “Você não estava prestando atenção, mas acabou concordando em assinar isso.”
Naruto suspirou alto e afundou mais na cadeira, ele sempre dava uma dessas… Sua desatenção um dia iria matar ele, com certeza.
Sasuke chamou ele de idiota, e tentou puxar assunto:
“Está ansioso para o nascimento Himawari? Ouvi dizer que vai ser logo.”
Naruto ficou momentaneamente com raiva, como que ele conseguia falar disso com tanta casualidade?
Hoje faz 20 anos que Naruto assumiu o posto de Hokage, 20 anos desde seu término. Será que Sasuke não lembrava? Talvez Naruto fosse só um cara obcecado ao final das contas.
Não percebendo que havia ficado ausente e não respondido ao homem a sua frente, decide falar:
“Você nunca pensa… Nunca imagina como seria sua vida se tivesse feito as coisas de maneira diferente? Penso tanto nisso às vezes que me sinto assistindo a um filme, às vezes é difícil desligar e voltar para cá.”
Ele fica ainda mais folgado na cadeira, apoiando sua nuca na volta de sua poltrona.
“Himawari está bem, achamos que será semana que vem.”
Sasuke cruza as pernas e adota uma postura pensativa ao responder:
“Fico feliz que esteja tudo bem. Você não deveria pensar em mais nada, além disso, sabe? Se tivesse escolhido um caminho diferente, provavelmente estaria pensando com essa realidade aqui, seu sonho original.”
O Uchiha seguia traçando as costuras de sua roupa com aparente concentração.
Naruto segue olhando para o teto, mas suas sobrancelhas se franzem.
“Você não me respondeu.”
Sasuke sorriu tímido, encarando a estante de livros em seu entorno.
“Eu penso. Em algumas ocasiões consigo ver esse filme claramente, como se ao dar um passo pudesse estar lá —” Sasuke pausa por um instante “— Com você.”
Naruto segue com a nuca apoiada, mas vira seu rosto em sua direção, tentando deflexionar seu maxilar.
“E o que você vê?”
Sasuke parecia afetado agora, sua cadeira deu um levo rangido quando ele se inclinou para frente pedindo para o Uzumaki olhar para ele direito.
“Você quer ver, Naruto?”
Sua garganta fechou, mas balançou a cabeça confirmando, por um momento pensou que Sasuke talvez não tivesse compreendido sua resposta positiva, mas logo viu o brilho vermelho e se sentiu transportado. Seus pés estavam leves, parecia que realmente estava ali, com Sasuke. Fora da vila, fora de tudo, nas montanhas, nas florestas e nas cidades da costa, de mãos dadas, às vezes até rindo. Passagens e passagens de tempo, cenários mudando, mas sempre os dois.
Na sala de reuniões que de fato ocupavam, lá estavam seus corpos imóveis, um sorriso no rosto de Naruto.
