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Logo uma noite de escuridão iria se manifestar na pequena província de Konoha. A tarde, tingida por um espetáculo de cores alaranjadas, tinha nas suas bordas a mistura de um roxo profundo. Tais tardes eram muito bem aproveitadas por alguns, como, por exemplo, Sakura Haruno, que relaxava juntamente com Ino Yamanaka em águas termais. Enquanto a brisa fria batia nos rostos pálidos das kunoichis, alguns pensavam que estas noites realmente traziam maus bocados…
Em um lugar muito distante, coberto por árvores, jazia outra kunoichi sentada em posição fetal em um de três troncos que estavam afundados no chão; um ambiente comum àqueles que treinavam constantemente. Os cabelos longos, de um tom quase ébano, porém azulados, esvoaçavam com o vento forte. As mãos cheias de ferimentos, arranhões e queimaduras eram sinais de que esta pequenina garota do clã Hyuuga tinha passado por um combate perigoso e conflituoso nesta mesma tarde. Do seu lado direito, a manga da jaqueta que usava tinha sido carbonizada pela metade e mostrava queimaduras no antebraço, e, na parte lateral da coxa, uma kunai tinha sido fincada profundamente.
Por mais que parecesse cansada, Hinata não estava ofegante. Parecia tranquila. Sua respiração parecia se misturar com o vento, e não tardou muito para que o sangramento na sua perna começasse a ter uma piora significativa. E também não tardou para que a respiração dela simplesmente sumisse e seu peito parasse de subir e de descer.
Hinata, como se fosse uma folha, caiu para o lado que o vento soprou mais forte, e um pergaminho sujo de sangue, cinzas e terra rolou de sua mão para a grama. No entanto, não se desfez. Tinha um tipo de selamento antigo que o impedia de abrir caso alguém tentasse ou, como nesse caso, simplesmente caísse. Era definitivamente algo precioso, ao ponto de Hinata dar a vida para o salvar.
Sem forças, Hinata não sentia mais as pernas, nem os braços, ou qualquer que fosse a parte de seu corpo. Sem súplicas, ou questionamentos; era talvez o destino inevitável que qualquer shinobi digno escolheria. O destino que Naruto escolheria, caso estivesse na mesma situação. Os seus olhos transparentes ainda refletiam a lua que ameaçava subir no céu, como se fossem um mar, e, com a visão turva, sucumbiu ao inconsciente e à uma provável morte.
A uma certa distância daquele mesmo bosque, um garoto loiro frustrado chamado Naruto corria com passos fundos e largos, sem rumo algum, mas por algum motivo tendo em mente um lugar distante e pouco frequentado, provavelmente para descontar a raiva gastando seu chakra atoa. Era um daqueles dias que não suportava mais seus sentimentos; causados por lembranças e memórias que o corroíam por dentro.
Seu olhar estava focado no céu, e a brisa pareceu se agitar de uma forma assustadora juntamente com seus pensamentos e a sua respiração. Ali, naquele momento, tinha vontade de gritar, de chutar, socar, entre muitas coisas violentas.
Isso tudo porque analisou até demais uma foto antiga emoldurada em cima de um pequeno criado-mudo, que mostrava um par de olhos escuros de um certo Uchiha. Saiu com tanta pressa de casa para fugir dessa foto que sequer tinha colocado a bandana, e o zíper da jaqueta laranja e preta que usava ainda estava aberto.
De repente, Naruto parou bruscamente de correr. Os olhos se estreitaram, as sobrancelhas se curvaram para baixo, e um bálsamo chegou às suas narinas. Na verdade, resquícios de algo familiar que ele não conseguia descrever chegou até ele.
“Parece… chakra?”, ele pensou. Preocupado, franziu a testa. De uma forma a clarear seus pensamentos, Naruto se concentrou para ver de onde estava vindo essa sensação. “Vem lá de frente!”, e sem hesitar ele voltou a correr, dessa vez o mais rápido que pôde.
No entanto, esse resquício que sobrou parecia ter se dissipado quase completamente, e com um desespero genuíno, Naruto desacelerou o passo na pequena colina que subia. Antes que parasse de sentir o pouco chakra, ele decidiu subir até o topo da colina para enfim chegar ao mesmo campo de treinamento em que se tornou um genin. Porém, ele só tinha percebido que tinha ido involuntariamente àquele lugar quando viu, de longe, a ponta dos três troncos fincados no chão.
Se aproximou e chegou, enfim, ao topo da colina, e antes que pudesse se acalmar, Naruto viu um corpo feminino familiar estirado no chão. Ele arregalou os olhos e gritou um profundo: — Hinata!! — e correu em direção à garota, notando que o chakra era justamente dela. Ofegante, ele se ajoelhou e com uma mão afastou os cabelos esvoaçantes do rosto dela. Ao tocar a pele gelada, notou também arranhões e escoriações, e arregalou os olhos apavorado ao ver o estado que o braço e a perna de Hinata estavam. E o pior, não sentia a respiração dela. Checou o pulso da mão que não estava queimada, e nada. Ele prendeu a respiração; “Es… está morta?!”, e uma lágrima ameaçou cair.
Sem tempo para pensar em enxugar a lágrima que descia, ele logo se lembrou das pequenas instruções que Sakura lhe deu caso algo assim acontecesse com algum companheiro, mesmo ele tendo as negligenciado na época. Ele pegou delicadamente os ombros de Hinata e a colocou em uma posição mais favorável: em vez de caída em cima da lateral esquerda, ele a colocou deitada na grama e começou a abrir o zíper da jaqueta para ter um acesso melhor à caixa torácica dela.
Ele colocou a palma da mão dominante em cima do busto de Hinata, em seguida entrelaçou a outra mão por cima. Nervoso, ele fechou os olhos para rezar um pouco sobre essa situação inimaginável, e os abriu de novo para começar a fazer a massagem torácica.
Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete…
Ele descia cerca de cinco centímetros o busto dela e depois subia, e continuou a repetir o processo por alguns segundos. Não sabia quanto tempo havia passado, tinha até se perdido na contagem. E então abaixou o rosto para ouvir a respiração dela; porém, nada. Nenhum som.
Naruto não sabia se continuava ali, ou se chamava alguém, ou se a levava às pressas para o hospital.
Porém, decidiu continuar a massagem, e depois de mais algumas tentativas sem obter resultados, ele parou, inflou o peito de ar, e se inclinou para a boca entreaberta de Hinata. Segurou o queixo dela para firmar os lábios em sua boca, deixando cair mais lágrimas frustradas sobre o rosto pálido da jovem, e empurrou todo o ar que guardava nos pulmões dentro nela. Assim se sucedeu por alguns longos segundos, e quando sua força tinha acabado, Naruto desacelerou e separou seus lábios dos dela.
Hinata não tinha nenhuma expressão, as sobrancelhas não estavam curvadas, seus olhos e lábios nem se mexiam. Naruto hiperventilou e o suor escorreu de sua testa, parecia inútil tudo o que tinha feito, e mais uma vez, sucumbindo ao desespero, deixou a cabeça cair miseravelmente no pescoço de Hinata, incapaz de querer voltar a ver seu o rosto sem vida. Uma sucessão de sentimentos incapacitantes o atingiram novamente, e o baque da realidade parecia ter começado a pesar verdadeiramente nele.
E, Naruto, sem conseguir entender como e o porquê de Hinata estar ali, lembrou da frase que tanto dizia: “Esse é o meu nindou! O meu jeito ninja de ser!”, e lembrou das vezes que escutou Hinata dizer a mesma coisa. Para falar a verdade, ele admirou ela por ser como ele, por nunca desistir, mas sentiu um sentimento de culpa por nunca ter demonstrado isso pessoalmente, e agora Hinata estava na sua frente, sem pulso, sem vida. Completamente alheia a tudo que Naruto pensava. Parecia completamente errado abandonar Hinata após ela ter sinais nítidos de ter enfrentado uma enorme batalha, então ele não podia desistir dela naquele momento sem antes verbalizar o que sentia. Com um suspiro, Naruto se recompôs e se posicionou novamente para fazer a massagem, pedindo forças à todas as divindades possíveis.
Um, dois, três segundos se passaram, e;
Tão repentino quanto o vento que surgiu, o peito de Hinata inflou com força, e a respiração dela atingiu Naruto. Ele podia sentir! Podia sentir o busto dela pulsar novamente, podia sentir a respiração quente dela no ouvido dele, podia escutar os pequenos gemidos de dor que ela dava. “Obrigado, Deus!”, pelo menos ele tinha conseguido salvar alguém, uma única vida que ele não sabia que era tão preciosa para ele.
Ela queria viver e com um misto de orgulho e alívio, Naruto viu o rosto dela voltar a se mexer e ficar mais corado, e agradeceu a todos as entidades do universo por terem lhe dado essa oportunidade, pois o que faria caso perdesse mais alguém ainda era uma incógnita para ele.
Uma tosse seca saiu dos lábios de Hinata, e só então que Naruto percebeu o gosto amargo das cinzas na boca. Provavelmente ela tinha inalado fumaça, até a ponta dos cílios dela e parte do rosto e da franja estavam levemente carbonizados. Ele segurou o ombro dela com firmeza, preocupado:
— Consegue me ouvir, Hinata?! — Uma leve sacudida no ombro fez Hinata se estremecer de dor. Ela se agitou como se quisesse despertar o mais rápido possível, como se o seu subconsciente soubesse que ela não estava sozinha.
Naruto viu as sobrancelhas se franzirem de dor, pegou de maneira delicada a cabeça dela com uma mão e com a outra puxou os ombros para que sentasse; tinha que tirá-la imediatamente dali e levá-la ao hospital. Assim que a colocou nas suas costas e se virou, ele percebeu o pergaminho imundo que tinha rodado mais alguns centímetros para longe. Com o farfalhar das folhas das árvores, ele agarrou o pergaminho e voou em direção ao hospital, sem imaginar que tinha sido este o causador da situação em que Hinata estava.
