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Category:
Fandoms:
Relationships:
Characters:
Additional Tags:
Language:
Português brasileiro
Stats:
Published:
2025-12-16
Words:
1,954
Chapters:
1/1
Comments:
6
Kudos:
78
Bookmarks:
2
Hits:
750

Love you right

Summary:

Lorena e Eduarda brigam por causa de dinheiro e família e, pelas regras de Lorena, as pessoas sempre vão embora.

Notes:

Então, galera, essa fanfic eu escrevi originalmente sobre Brooke e Peyton de One Tree Hill (a versão original está postada aqui nessa mesma conta, se quiserem ler), mas achei que valeria a pena traduzir e adaptar para ver se a tag passa a aparecer nas buscas haha.
Espero que gostem, abração!

Work Text:

“Eu devo ser estúpida”, Eduarda zomba, passando a mão pelo cabelo. “Porque eu continuo esperando que você me veja, mas isso não vai acontecer, né?”

“Não se você aceitar o dinheiro do seu pai, não vou!”

“Lorena — a Arestas está indo à falência. Você precisa encarar isso”, Eduarda diz em voz baixa, magoada. “E eu venho te dizendo isso. Eu tenho tentado fazer você enxergar. Mas você nunca me escuta, nunca! E agora estamos no meio de uma recessão, e o seu orgulho é grande demais pra aceitar o dinheiro do meu pai!”

Lorena não responde. Ela não quer aceitar o dinheiro daquele homem. Não quer aceitar o dinheiro de homem nenhum. A ideia de confiar em um pai, mesmo que não seja o dela, ainda lhe é muito alheia. O Comendador pode não ser um vilão como seu pai fora, mas ele também não é confiável. Nunca se importara de realmente conviver com a filha; a vida inteira foi ausente. Porra, tinha sido ausente durante a maior parte da vida das próprias netas!

A mãe de Duda, no entanto, vinha tentando convencê-lo a ser pai pelo menos uma vez. E, nos últimos anos, enquanto eles experimentavam voltar a ficar juntos, ele vinha tentando. E Eduarda ficava tão feliz com isso que deixava Lorena assustada. E se ele se entediasse e fosse embora de novo? O que aconteceria com sua esposa? Com suas filhas? Cora, já mais crescida com seus pouco mais de oito anos, já estava acostumada à ausência do Comendador. Acostumada a ele não estar presente, estar sempre distante e ocupado e trabalhando, e acostumada também ao fato de que o vovô Ferette tinha virado estrelinha antes que ela nascesse.

Mas a pequena Maria, com apenas três anos, se acostumou a ter um avô.

Lorena prefere não pegar dinheiro nenhum dele. Ela sabe o que significa dever a gente rica, e quer se bastar, quer se construir por si. Já viveu muito tempo usando dinheiro errado, dinheiro alheio, dinheiro sujo, até. Quer ganhar seu próprio dinheiro de forma limpa. Honesta.

Outra parte dela também sente vergonha. Essa parte é mais boba, ela admite, mas não consegue evitar. Já seria difícil aceitar dinheiro de qualquer pessoa. Dos pais de Eduarda, então... Praticamente impossível. Como eles lhe enxergariam? Seria de novo percebida como a Ferette que deu defeito, que não sabe tocar os negócios, que tem o coração mole demais.

“Eu me endividei, eu mesma vou sair disso”, Lorena murmura, pressionando as têmporas com força, os olhos fechados.

Eduarda bufa mais uma vez.

“Bom, se você prefere se afundar na autopiedade, não conte comigo”, ela diz, ríspida, pegando a bolsa. Lorena apenas olha, paralisada, enquanto sua esposa sai pela porta da frente. Um instante depois, Lorena ouve o barulho do carro sendo ligado e dando partida.

O pânico se espalha por todo o corpo.

De repente ela é a Lorena de vinte e poucos anos outra vez, sendo indesejada, sendo um erro, sendo uma falha, como o pai dizia. A mente de Lorena é tomada por imagens de Eduarda pedindo o divórcio e levando as crianças, dela morando sozinha em um apartamento pequeno, se afogando em dívidas. Ela sente a respiração ficar irregular. Sabe que está hiperventilando. Não posso fazer nenhum barulho, ela pensa. Não posso deixar as crianças me verem assim.

Ela sabe que Eduarda gosta de dirigir à noite. Normalmente isso a ajuda a lidar com a ansiedade. Ela nem reclamava dos plantões noturnos que deu na delegacia quando ainda era investigadora.

Talvez seja só isso.

Eduarda parecia irritada. Cansada. Furiosa. Havia olhado para Lorena com olhos decepcionados, cenho franzido, uma distância esquisita que havia se formado nos últimos meses feitos de meias-palavras e distâncias.

Ela vai me deixar, pensa Lorena. Suas orelhas e a nuca ficam vermelhas de agitação. Ela tenta evitar pensar nisso, os olhos marejados enquanto esquenta uma sopa e tenta comer. O estômago se revira. Lorena se sente aliviada por as crianças estarem no andar de cima; caso contrário, nem sabe o que faria.

Ela pensa na Arestas.

Eduarda está certa. A empresa está afundando.

Ela sabe que isso tem a ver com a localização. O Rio é uma cidade fantasma.

Eduarda tentou convencê-la a se mudar para São Paulo de vez, de novo, para explorar a cena arquitetônica de lá, mas Lorena sempre foi relutante. Ela negou o problema da localização por tempo demais. Achava que a culpa era dela. Que ela era um fracasso.

Isso a fizera paralisar por tempo demais.

Eduarda tentara ajudar repetidas vezes.

Lorena achava que seria uma prova da sua incapacidade de administrar um negócio se precisasse da ajuda de outra pessoa. Então continuou negando.

Então a briga havia começado quando Eduarda dissera: “Eu sou dona de três empresas, sabia?”

Lorena sentiu aquilo como uma faca. E talvez tenha sido uma faca atravessando seu estômago, resultado de vários silêncios e dores que tinham se acumulado por Lorena evitar ouvi-la. Estava agindo como Santiago; sabia disso. Detestava estar agindo como Santiago, mas não conseguia parar, como se fosse o outro lado da mesma moeda, como se fosse sina ou profecia ou maldição.

Então rira com amargura e respondera, de supetão: “Como se essas empresas estivessem indo tão bem assim...”

Ela sabe que elas não estão passando por nenhum tipo de problema financeiro. Sabe que há uma recessão acontecendo. Também sabe que elas estão seguras por causa do talento da Eduarda para os negócios. Estritamente por causa disso, na verdade — por mais difícil que seja admitir —, porque a maior parte dos lucros das empresas de Eduarda (o escritório de advocacia, o café LGBT em Botafogo, seu investimento na farmácia de Viviane) vinha sendo usada para cobrir as dívidas da Arestas.

“Você ainda me vê apenas como a policial brincalhona, não é? Nunca vou deixar de ser uma novata”, Eduarda havia murmurado em resposta à provocação, a voz falhando um pouco enquanto cruzava os braços. Braços cruzados era Juquinhês para modo de combate, então Lorena tentara agir com naturalidade para não transformar aquilo em algo maior.

“Claro que não, amor”, respondeu, impassível, rolando a tela do celular.

“Você acabou de fazer um comentário estúpido de rude e, quando eu te pergunto algo importante pra mim, você nem olha pra mim”, a esposa apontou, irritada. Lorena suspirou.

“Olha, eu não sei o que você quer que eu diga, Duda, eu—”, Lorena disse, a voz vários tons mais aguda, mas Eduarda a interrompeu.

“Eu estou exausta de repetir a mesma coisa mil vezes, Lorena. Meu pai nos ofereceu o dinheiro. A gente devia aceitar. A gente devia se mudar pra São Paulo. Usar o dinheiro pra comprar um lugar pra ser a nova sede da Arestas. E depois a gente paga ele de volta, pronto.”

Para Eduarda, era simples assim. Ela havia aberto mão da carreira de policial anos antes, por causa de uma desilusão com o sistema. E, claro, isso doeu. Rasgou por dentro. Lorena estava lá, à época, como noiva de Eduarda, e ajudou o quanto pôde — do mesmo jeito que Duda estava tentando ajudar agora.

Ela ajudara Eduarda a construir o escritório do zero. E depois, quando Cora nascera e elas notaram a dificuldade de encontrar espaços amigáveis para casais LGBT com filhos, Eduarda criou o Café Com Leite. Ela sempre soubera ser corajosa e recomeçar.

Não é que Lorena não a veja ou não a valorize ou a considere ainda a novata da polícia — a verdade é que ela se vê como muito mais fraca.

Ela não acredita que seja tão capaz de recomeçar quanto Eduarda fora.

Para começar, ela nunca soube o que fazer com a própria depressão. Duda sempre lutado contra a dela. Hipercompensara, tentara fazer algo da própria vida de novo e de novo. Lorena havia se resignado à culpa e ao conforto da função de herdeira por muitos anos, paralisada de ansiedade e desgosto.

A própria Arestas só havia saído do papel porque Eduarda lhe incentivara a retomar os estudos de design e lhe dera o dinheiro, quando elas ainda eram apenas namoradas.

E, além do mais, tem as crianças, ela pensa. Deveria mudar completamente a vida delas por causa de um sonho idiota que já provara, repetidas vezes, não ser capaz de alcançar de verdade?

Talvez ela devesse ser uma mãe que fica em casa.

Ela se pergunta o que Eduarda pensaria dela se sugerisse isso.

Ela vai achar que eu sou uma covarde, pensa Lorena.

Ela tem certeza — tanta, absoluta certeza — de que Duda vai terminar com ela e pedir o divórcio quando voltar.

Ela mexe na aliança sem parar. A ideia de não a usar mais faz Lorena sentir vontade de vomitar.

A ideia de não dormir ao lado de Duda, de não sentir o cheiro cítrico e amadeirado do perfume dela ao acordar enquanto Eduarda já está vestindo um terninho para ir trabalhar—

E o barulho. A casa é tão barulhenta—

Eduarda acorda às 6h, acorda as crianças, faz o café da manhã, se arruma para o trabalho. Lorena acorda às 7h, veste um moletom e leva as crianças para a escola com uma caneca térmica cheia de café. Ela fica por perto para dar almoço aos monstrinhos enquanto Eduarda está ocupada no escritório ou no café. Às vezes trabalha de casa; às vezes as crianças vão com ela para a Arestas se ela tem uma reunião importante.

No último ano, isso aconteceu uma ou duas vezes. Tão poucas vezes que Maria nem reconhece o lugar.

Então, quando ela pensa em Eduarda pedindo o divórcio, ela pensa no silêncio também.

Ela cresceu em um quarto silencioso. Só havia barulho quando a música estava ligada ou quando Eduarda estava por perto.

Sem a Arestas e sem Duda e as crianças, o silêncio voltaria.

Ela toma um Frontal com um gole de água quente do filtro. Toma um banho. Longo, quente, supostamente relaxante. Não ajuda muito. Toma outro Frontal.

Pensa em acender um baseado. Eduarda ficaria tão puta se ela fumasse dentro do quarto que ela desiste.

Tenta dormir. Impossível.

São 2 da manhã quando Eduarda entra no quarto. Lorena se senta na cama, um pouco sobressaltada, com medo do que pode acontecer.

Eduarda olha para ela. Morde o lábio.

Dá um sorrisinho.

Balança um saco de papel que segura com a mão esquerda. A aliança ainda no dedo.

“Trouxe brigadeiro vegano pra gente”, ela murmura, a mão direita pousando no joelho ossudo de Lorena, apertando com cuidado. “Me desculpa, amor.”

Lorena pisca para afastar as lágrimas, sorrindo torto para ela, a mão encontrando a de Eduarda, os dedos se entrelaçando com urgência. Ela a puxa para perto, abraçando-a com força, os lábios se beijando com ansiedade, as testas se tocando.

“Não, amor, me desculpa eu. Eu estava com tanto medo de fracassar que eu—”

“Eu sei”, Eduarda diz, a voz forte e encorajadora, quando Lorena para de falar. Ela a beija rapidamente, os polegares acariciando as bochechas de Lorena. “A gente vai dar um jeito… juntas. Só me deixa entrar, tá? Me deixa ajudar.”

Lorena assente.

“E você não vai achar que eu sou um fracasso e pedir o divórcio e me deixar e levar as crianças?”

“Amor. Eu nunca, jamais vou achar que você é um fracasso”, Eduarda sussurra, pegando um brigadeiro do frasco quando o estômago ronca. Lorena ri baixinho e beija a ponta do nariz dela. Eduarda acrescenta, de boca cheia: “E eu nunca vou te deixar livre pra aquelas estagiárias da PUC que ficam penduradas do lado de fora do seu escritório. Elas nem sonhem.”

Lorena gargalha, apoiando a nuca no travesseiro, observando Eduarda comer o brigadeiro e abrindo a própria boca quando Duda pressiona o doce contra seus lábios.

Assim, meio que como mágica, uma pequena parte da ansiedade dela desaparece.