Work Text:
Por muitas vezes acreditei estar com a mulher certa. Aquela que consegue ler minha alma, entende as minhas necessidades e encara meu reflexo sem enxergar um monstro que suas amigas impuseram sobre mim. Quando encaro nosso reflexo, sempre me vi feliz ao lado de quem gostava, não importava quantas vezes a pessoa ao meu lado mudasse de forma, cabelo, tom de pele ou altura. Nunca tive um "tipo de mulher" definido. Na verdade, sempre busquei um compromisso que fosse fiel, além do duradouro — algo que fugisse de uma ficada passageira, algo que não terminasse na desgraça de me ver gritando em frente a uma clínica de aborto porque, em determinado momento, cometi um erro e engravidei alguém que não estava pronta para ter um filho meu.
Eu queria uma companheira.
E não a encontrava.
Os tempos mudaram. Amar já não basta. Por isso, dediquei-me à carreira, garantindo que, quando encontrasse a pessoa certa, pudesse lhe oferecer o melhor sem esperar algo em troca além de seu afeto. Claro, há coisas que prezo: uma mulher que compreenda o valor do trabalho, que não aja como uma criança mimada, que construa, não destrua. Que vença a vida com graça, sem precisar guerrear contra cada tolo que encontra pelo caminho. Mas, por mais que eu buscasse, não encontrava nada.
Quando foi que mudei? Em que momento Satoru Gojo deixou de ser um espírito livre e passou a ansiar por um futuro tão utopicamente simples? Amar e ser amado. Construir um lar, ver filhos correndo pela casa, minha esposa gritando comigo porque baguncei tudo. Ah, como desejo isso! Um homem não precisa de muito para ser feliz – uma boa refeição, uma mulher quente ao seu lado à noite, e o resto se resolve. E, no entanto, aqui estou eu, incapaz de alcançar sequer esse básico.
Quando foi que passei a lutar contra minha própria natureza?
Quantas vezes tomei decisões insensatas? Perdi as contas. Mas deixá-la ir… essa foi, sem dúvida, a pior de todas.
Amanhece, a luz dourada atravessa as cortinas e pinta meu quarto de tons suaves. O corpo ao meu lado é desconhecido, como tantas outras vezes. Ela tem curvas generosas, mas não aquelas que eu sabia de cor, que entendia cada músculo, cada suspiro. Seus cabelos são loiros, mas meus dedos anseiam pelo toque sedoso dos fios negros. Seus olhos são verdes, mas os que me prendiam eram profundos e escuros como o oceano numa noite sem estrelas.
Ela não é Utahime.
Não é a mulher que eu amo que está deitada nua ao meu lado. É outra. Outra que eu ofereci conforto, uma refeição cara, vinho importado... e que sairá pela minha porta sem olhar para trás. Estou acostumado a isso.
Mas, quando lembro que, com a Uta, nada do que eu tinha foi suficiente — nem as joias, nem os presentes —, meu peito se parte. Utahime Iori nunca quis meu dinheiro. Ela mandou toda a minha fortuna para o inferno. Tudo o que ela queria... era a mim.
E eu, tolo, não vi isso a tempo.
Na noite em que minha alma encontrou o nirvana, acreditei que fosse apenas mais um êxtase passageiro. Mas a verdade se revelou cruel e cristalina: não era sobre o clímax, e sim sobre o que vinha depois. Sobre a certeza de que aconteceria de novo, sobre o desespero de imaginar que ela poderia ser de outro. E eu entendi. Entendi que a amava… quando a perdi.
E agora, como um imbecil, volto dia após dia à porta da sua casa. Presentes nas mãos, palavras ensaiadas nos lábios, e o coração apertado. Tento conquistá-la outra vez, mesmo sem saber como se reconquista um coração que já foi meu e agora não é mais.
— Utahime, por favor, abre a porta. Vamos conversar — imploro. Uma, duas, três vezes. Uma rotina exaustiva.
Mas ela sempre me ignora.
Já levei tapas, ouvi gritos, encarei portas batidas na minha cara. Mas o silêncio dela é o que mais me destrói.
Deixo um buquê de flores — sem dinheiro dessa vez — e um bilhete simples. Amanhã trago outro. E outro. Porque, mesmo que ela não abra a porta hoje, mesmo que ela nunca mais me deixe entrar... estarei aqui. De novo e de novo.
E, enquanto ela me ouve em silêncio e escolhe me ignorar, viro as costas e caminho pela rua deserta. Porque, por mais que Utahime não me queira mais... eu só sei amar uma mulher. E é ela.
Satoru Gojo já não é mais o libertino de antes. Sou um tolo, um imbecil, um idiota apaixonado — e quero permanecer assim.
Para o nirvana que me escuta do outro lado da porta, para a mulher que amo de corpo e alma, eu juro: não cometerei o mesmo erro duas vezes. Porque agora, amar não é algo que faço pela metade — é tudo o que me resta. Mesmo que para ela, eu já não seja nada.
