Chapter Text
O café da manhã não foi agradável, definitivamente.
Conversando em sussurros com seu círculo de amigos seletos, Tom Riddle não parecia perceber a existência de seu antigo melhor amigo na mesa e mal lançava-lhe um olhar, como costumava fazer. Embora, seus olhos azuis acinzentados pareciam sempre voltar a atenção para Abraxas Malfoy, um rapaz com a pele branca, cabelos loiros quase platinados e olhos azuis claros.
Malfoy sempre foi encantador em questão de aparência, Potter não poderia negar. E isso, chamava muita atenção de Riddle.
Ao lado de Malfoy, um dos membros do grupo de Riddle, observava Harry com um olhar desdenhoso ao perceber como o garoto comia com desleixo a torrada. Era Rosier, o rapaz sempre odiou Harry por seu desleixo em suas maneiras, roupas amassadas e falta de devoção ao ouvir as palavras de Riddle ao insultar nascidos trouxas.
Rosier deixou algumas palavras escaparem de sua boca, fazendo um sorriso zombeteiro surgir nos lábios de Malfoy e seus olhos azuis espinhassem Harry por um momento, antes de voltar a conversa novamente. Malfoy não foi o único que pareceu escutar o comentário de Rosier, Avery com seu rosto desprovido de emoções lançou-lhe um olhar prolongado ao tomar um gole de seu suco de abóbora, seus olhos castanhos possuíam um brilho muito estranho.
Estreitando seus olhos verdes para o seu colega de casa, Harry endireitou-se em seu assento. Seus cabelos escuros bagunçados pareciam pernas de aranhas, a camisa de botões branca estava amassada contra seu corpo e sua gravata verde com prata estava apenas envolta de seu pescoço não amarrada.Seus óculos redondos estavam um pouco tortos em seu rosto, sendo o motivo de algumas meninas observarem com um sorriso zombeteiro acompanhadas de risadas baixas.
Uma sensação dolorosa atravessou o estômago, como algo apertando dolorosamente suas entranhas por dentro. A torrada do garoto estava pela metade, a manteiga parecia azedou em sua boca em poucos instantes e havia uma latejação em sua cabeça começando a surgir, para a irritação do garoto.
Deixando a torrada sobre o prato de bronze, Harry levantou-se puxando sua bolsa de couro marrom de seu colo, caminhando para fora do Salão Principal com uma carranca em seu rosto nada amigável.
Observando a figura pequena e magricela deixar o salão principal, Tom Riddle estreitou ao voltar um rápido olhar sobre a metade da torrada abandonada.
Aulas de poções com a Grifinória não eram as aulas favoritas de Harry. Embora ele conseguia ,ao menos,ver seu primo Fleamont Potter.
O contato de Harry e de Fleamont era timido pelos primeiros anos de Hogwarts, quase não se encaravam depois de descobrirem seu parentesco. Com o passar do tempo que Riddle começou a lhe ignorar, Fleamont começava conversas amigáveis durante as aulas e trocava anotações sobre poções com Harry, tentando ajudar o jovem bruxo com seus erros em poções.
Em algumas aulas, o parceiro fixo de poções de Harry havia tornado-se Fleamont.
Como esperado, os dois Potters estavam trabalhando um ao lado do outro, em caldeirões separados. Fleamont com seus óculos retangulares lia as instruções no livro de poções, murmurando baixo as anotações e anotando com sua pena em um caderno pequeno as possíveis substituições de ingredientes que poderiam ainda obter um resultado similar ao desejado na porção.
Ao seu lado, Harry com uma faca em suas mãos, tentava cortar um gengibre. O pedaço do gengibre mostrava-se resistente à lâmina metálica da faca do garoto, fazendo o sonserino forçar mais a lâmina contra a superfície do gengibre, apenas conseguindo arrancar um pedaço pequeno.
Merda de gengibre , amaldiçoou Harry ao continuar tentando cortar o ingrediente.
Risadas baixas, vindo do fundo da sala escura chamou a atenção de Harry. A voz de Riddle ressoou em seu ouvido novamente, quase carregando um tom de zombaria, deixando os pelos da nuca do Potter mais novo arrepiados.
Espiando por cima de seu ombro, Harry observou seu antigo melhor amigo de costa para si, de frente para Abraxas Malfoy. Os olhos azuis de Malfoy voltaram para encarar Harry por um momento, antes de deixar um sorriso zombeteiro em seus lábios escapar e, eventualmente, voltou-se para Riddle.
Não demorou, Harry rangeu os dentes sentindo a raiva queimar dentro de si. Desejava não ter levantado da cama naquela manhã.
"Fique atento ao seu caldeirão, Harry. Não deixe a poção queimar."Alertou Fleamont, ainda lendo as instruções.
"Hm." Harry resmungou em troca.
Ao ouvir o resmungo de seu parceiro, Fleamont voltou-se seu olhar por cima de seu ombro, seu rosto ficou estoico ao entender o foco da distração de Harry. Voltando-se para o sonserino, o Potter mais velho encarou seu primo com um pouco de irritação ligeira.
"Sabe, eu tenho uma opção ótima para causar..."Começou Fleamont oferecer seus serviços, mas logo foi interrompido.
"Cala boca, Fleamont!" Rosnou Harry.
"Se você não quer feri-lo, então termine sua amizade." Fleamont aconselhou ao continuar mexendo o caldeirão,"As coisas serão mais fáceis assim, sem ele para te magoar."
Eu já estou magoado , pensou Harry com o desgosto preenchendo sua boca com amargo.
O líquido dentro do caldeirão escuro começou a borbulhar, uma fumaça escura emergiu do líquido amarelado. Os olhos castanhos escuros de Fleamont voltaram sua atenção para o caldeirão de seu colega, não demorou para suas mãos rapidamente jogarem um pedaço de gengibre na mistura amarelada, a fumaça escura tornou-se acinzentada.
"Pelo menos, tente focar nos estudos de poções pelas próximas semanas. Vai te distrair de pensar nele." Aconselhou Fleamont mais uma vez, após salvar a poção de Harry.
Acenando com a cabeça em silêncio, o sonserino continuou a mexer o caldeirão com lentidão com uma carranca. Não se importava se a maldita poção explodisse, a única coisa que importava para si era tirar seus pensamentos de Riddle por um momento, esquecer a existência do bastardo miserável.
"Fleamont." Chamou Harry.
"Sim?" Respondeu Fleamont ao continuar mexendo o caldeirão, dando sempre uma espiada no caldeirão do sonserino ao seu lado para impedir que seu parceiro não estragasse a poção.
"Vou precisar mais daquela poção."Revelou Harry, sentia que não iria conseguir dormir essa noite.
Fleamont apenas suspirou.
Ao sair da aula de poção, já estava no horário de almoço. Fleamont assegurou que teria seu pedido de poção até no máximo dois dias pronto, já que seu primo era muito querido pelo Mestre de Poções do castelo.
Seguindo o caminho em direção à Torre de Defesa, sentia-se aliviado ao notar que a maioria dos estudantes estava no Salão Principal almoçando, deixando os corredores desertos para sua passagem. Lembrando-se das palavras de Robert, Potter parou na frente da parede que deveria estar localizada a passagem secreta que parte da família de Harry usou em seu tempo no castelo, Undercroft.
Era uma janela com um relógio pendular ornamentado com elementos de astronomia, figuras de sol, lua e estrelas que chamavam a atenção do garoto. Concentrando-se, Harry tocou nos ponteiros dourados do relógio, alinhado ao concentrar sua magia em seus dedos, um barulho da janela abrindo-se foi ouvido pelo sonserino.
"Lumos"
Escuro, abafado e frio, Undercroft era assim.Havia velas derretidas sobre a superfície do chão de pedra e algumas sobre os pilares da sala, barris de madeira empoeirados acompanhados por lousas encostadas na parede. Basicamente, era um depósito.
Caminhando um pouco mais pela sala, os sapatos de Oxford tropeçam sobre algo, Harry solta um grunhido ao bater contra o chão. Sentando-se sobre o chão, Potter observou um livro de couro escuro caído perto de si, sendo o culpado pela sua queda.
Páginas com rabiscos com cheiro fortes, a grossura do papel amarelado sendo maior do que os livros normais do castelo e as imagens desenhadas confusas, chamaram a atenção de Potter. Uma das primeiras páginas tinha um nome familiar, Sebastian Sallow.
Robert havia mencionado Sallow muito brevemente, aparentemente, ele tinha parentesco próximo com Harry.
Levantando-se do chão, o sonserino limpou o pó de suas vestes, percebendo que sua camisa estava mais amassada do que nunca.
Não demorou para Potter estar já caminhando para a biblioteca, o livro em mãos e sua língua ansiosa para compartilhar suas descobertas. Como esperado por si, Myrtle Warren, a nascida-trouxa estava estudando em um canto da biblioteca.
Para o desgosto dos sonserinos, Harry sentia pena da garota e costumava sentar perto dela algumas vezes, assim ambos passaram a conversar. Sem mencionar, a corvina era boa em contar com detalhes boatos que rolavam na Torre de Corvinal e trazia sempre alguma notícia nova.
Potter queria mostrar sua descoberta para ela e Fleamont, afinal, Riddle não era mais seu melhor amigo.
"Potter, isso é artes das trevas!" Alertou Myrtle alarmada.
Claro, Myrtle não esperava ser surpreendida com um conteúdo de artes das trevas ao fazer seu dever de casa de Herbologia. Parecia assustada ao folhear as páginas passando de rituais de sangue, poções extremamente duvidosas e maldições brutas.
"Talvez seja, mas existem ótimas azarações para você aprender usar contra..." Sugeriu Harry com um sorriso zombeteiro, mas logo foi interrompido.
Pensava nas possibilidades, existiam tantos feitiços para serem testados. Sem mencionar, a garota poderia, finalmente, ganhar um pouco de respeito de seus colegas de casa.
"Eu não...Eu não quero mexer com isso, Potter."Myrtle recusou-se, estava visivelmente amedrontada.
"É apenas um livro, Warren."Harry tranquilizou, não querendo reconhecer os possíveis perigos que o livro poderia apresentar.
"Com rituais de artes das trevas!"Myrtle choramingou baixinho, irritada na insistência de seu amigo.
"Feitiços práticos."Rebateu Harry,dando de ombros para o receio da bruxa.
Ignorando a expressão de terror no rosto da menina, Harry abriu o livreto sobre a mesa de madeira. As páginas eram amareladas com manchas escuras em algumas partes do papel amassado, havia rasgos nas beiradas da maioria das páginas, embora não houvesse nenhum indício de uma página arrancada.
A tinta usada para escrever os textos era preta, carregava um cheiro metálico forte, muito diferente das tintas usadas no castelo.
"O cheiro é forte demais para ser uma tinta normal." Comentou Harry intrigado com aquele detalhe, lembrava-se ser um pouco familiar.
Myrtle não responde seu comentário, apenas desvia seu olhar para o pergaminho que estava preenchendo.
Voltando sua atenção novamente para os textos, o sonserino arregalou seus olhos verdes por um momento.
Para ser sincero, não há situação mais irritante que perder sua amada para outro homem tolo, ou, não conseguir ser notado por aqueles que você se apaixona. Após meses de pesquisa e testes, consegui criar um ritual de sangue excelente para manter qualquer um com uma obsessão por quem realiza o ritual.
Claro, é irritante de certo modo como a pessoa enfeitiçada torna-se perseguidora e possessiva, mas depende da quantidade dos ingredientes no ritual e quantas vezes o feitiços foi proferido.
AVISO IMPORTANTE: NÃO UTILIZE O RITUAL EM UMA PESSOA DURANTE A LUA CHEIA! A FORÇA DA MAGIA TORNA-SE IMPREVISÍVEL NO ENFEITIÇADO.
"Acho que vou usar esse ritual para alguma coisa..."Murmurou Harry ao continuar lendo as notas rabiscadas.
A pena branca caiu sobre a mesa, a corvina voltou seus olhos castanhos escuros arregalados para Potter, o rosado de suas bochechas haviam sumido a deixando pálida, como um fantasma.
"Rituais de sangue são perigosos, Potter! Qualquer erro pode significar a morte para quem os praticam!" Sussurrou Myrtle com urgência, parecia muito desconfortável com a sugestão do garoto.
A mais honesta verdade saiu dos lábios de Myrtle. Para a miséria de Harry, qualquer ritual envolvendo sangue era classificado como instável e pouco reversível em relação a danos nos bruxos que cometeram erros durante eles, haviam poucos livros dentro da biblioteca que detalharam as consequências a longo prazo.
Ainda assim, existia um desejo de testar os benefícios do ritual que Sallow descrevia.
"Não se preocupe, Warren." Acalmou Harry,"Eu vou fazer ritual, você só vai olhar e se algo der errado..."
"E se algo der errado?" Pergunta Myrtle sentindo a ansiedade borbulhando dentro de si.
"Bem, eu passarei um bom tempo na enfermaria." Zombou Harry com um sorriso ao continuar folheando o livro.
Sallow não era um bom artista, os desenhos dele eram borrados e quase não pareciam possíveis de serem interpretados. Em compensação, sua escrita era limpa o bastante para Potter assimilar as instruções do ritual, os ingredientes eram acessíveis para qualquer aluno e os passos eram simples para iniciantes em rituais de sangue.
Possivelmente, Sallow criou o jornal de rituais para registrar seu aprendizado durante seus anos no castelo.
Uma picada dolorosa foi sentida em sua cabeça, fazendo o garoto derrubar o jornal em suas mãos e tocar o local dolorido. Levantada acima do corpo do sonserino, Myrtle estava com seus olhos castanhos estreitos encarando Harry com irritação, o livro de história da magia em sua mão estava com uma das pontas amassadas após ser usado para acertar Potter.
"Mais uma palavra sobre isso e eu te acerto de novo." Avisou Myrtle.
