Chapter 1: Prólogo
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Nas Ruínas Dragônicas, outrora um reino repleto de riquezas ancestrais. E quase destruído pela arrogância e eugenia dos progenitores.
Mesmo em declínio, as Ruínas permaneciam magníficas. Rios de Qi puro serpenteavam por vales férteis. Montanhas flutuantes desafiavam a gravidade, e florestas exuberantes abrigavam bestas ferozes e ervas de poder incalculável.
Era um reino onde qualquer ser, por mais humilde, podia cultivar o Dao[1] e buscar a imortalidade. Uma herança da magia draconiana ancestral.Um mundo brutal onde os fortes governavam absolutos.
Desse caldeirão de ambição, oito grandes nações surgiram, mantendo uma paz precária baseada no medo mútuo e na cooperação necessária para sobreviver em um mundo tão perigoso.
A paz, porém, é frágil. E quando a força de uma nação cresce, sua ambição também cresce.
A cobiça pelos recursos para o cultivo os cristais de Qi das montanhas flutuantes, as ervas da Iluminação, as minas de cristais de sangue dragônico ,os Mananciais de Essência Vital – rompeu o frágil equilíbrio.
A guerra irrompeu, um conflito apocalíptico que durou cinco mil anos e ceifou incontáveis vidas, arrasando reinos inteiros e extinguindo linhagens ancestrais.
Ao fim dos cinco milênios de carnificina, apenas duas potências colossais permaneciam de pé, separadas por uma fronteira de cinzas e ossos.
De um lado, a Nação do Deus Marcial, formada pela unificação desesperada de quatro nações sobreviventes. Seu líder supremo é Jin Shakan, um cultivador de 7.700 anos no ápice do 4° Estágio do Reino do Imperador Marcial Imortal.
Um homem que carrega o peso de uma civilização em seus ombros. Seu braço direito é o venerável Grão-Mestre Lao Tiang (2° Estágio do Reino do Imperador Marcial Imortal), um estrategista cuja sabedoria é tão afiada quanto sua lâmina.
E protegendo suas fronteiras, os temíveis generais Shou Khan e Kao Khan (ambos no 5º Estágio do Reino do Caminho Imortal), guerreiros cujos nomes sozinhos fazem tremer o solo.
Do outro lado, a Nação do Demônio Marcial. Seu nome não foi escolhido por eles, mas dado pelo inimigo, após o tirano Hanshin Dokko conquistar e subjugar as três nações vizinhas com crueldade e poder absolutos.
Hanshin é a personificação do temor da Nação do Deus Marcial. Um gênio militar e cultivador de poder imensurável, cujos métodos sombrios são tão falados quanto sua força.
A guerra entrou em um impasse sangrento, um silêncio tenso que precede a tempestade final.
A Nação do Deus Marcial sabe que não pode cair. A queda significaria a obliteração total, o fim de tudo pelo que lutaram por cinco mil anos.
No tranquilo pavilhão de meditação de Lao Tiang, o ar cheirava a incenso e anciedade. O Grão-Mestre observava o voo de um pássaro celestial, tentando encontrar clareza na calma antes da tormenta.
De repente, um brilho sutil emanou de um cristal de comunicação em sua mesa ,um cristal que não pulsava há décadas.
Era o sinal. Seu espião mais profundo, uma agente implantada no coração da corte de Hanshin há séculos, finalmente se manifestava.
O risco de tal ato era catastrófico; ela só o faria se a informação fosse de extrema urgência e importância.
Com dedos que tremiam levemente, Lao Tiang ativou o cristal. Não havia imagem, apenas um sussurro fantasmagórico, carregado de pavor e pressa, ecoando na sala silenciosa:
"A reclusão começa sob a lua nova. Em meio ciclo solar.Ele tentará avançar em breve."
A mensagem cortou-se abruptamente. O cristal escureceu, reduzido a pó inerte. O silêncio que se seguiu foi mais estrondoso que qualquer explosão.
Lao Tiang ficou paralisado, as palavras ecoando em sua mente. "Avançar". Hanshin já era um monstro no ápice do Reino do Imperador Marcial Imortal.
Se ele avançasse agora muito menos para um reino superior, nem mesmo Jin Shakan poderia detê-lo.
Toda a estratégia, todas as defesas, toda a esperança da nação tornava-se obsoleta naquele instante.
Ele se levantou, seu rosto, outrora sereno, agora uma máscara de granito gravada com preocupação. Ele precisava avisar o Imperador Jin.
Os preparativos para a guerra tinham que ser acelerados.
Planos desesperados precisavam ser traçados.
A corrida contra o tempo havia começado.
A ascensão de um demônio ou a queda de um deus seria decidida nos próximos dias.
E o destino das Ruínas Dragônicas, o legado esquecido do Primeiro Pai, pendia na balança.
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[1] 'Dao' é o caminho que o guerreiro usa para cultivar sua mente,corpo e espírito. Existem vários caminhos.
Chapter 2: Sob o Luar o Demônio Se Reclui.
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A Nação do Demônio Marcial - Palácio das Lágrimas de Sangue
O ar na capital, Noite Umbra, era pesado e eletrizado, como a calmaria opressiva que precede um furacão. Dos quatro cantos do reino, uma corrente interminável de recursos era canalizada para o coração do palácio imperial,
uma estrutura negra e pontiaguda que se erguia como um punho desafiador contra o céu.
No Grande salão ascendente, uma câmara circular escavada no subsolo e forrada com placas de obsidiana polida que refletiam a luz de mil velas, o ritual de preparação atingia seu clímax.
Sacerdotes vestidos com robes carmesim, seus rostos ocultos por máscaras de oni, cantavam mantras na língua dragônica em uníssono.
A cada sílaba, os geodos de cristal de Qi puro, pilhados das montanhas flutuantes,
eram dispostos em padrões complexos ao redor de uma plataforma central. Eles brilhavam com uma luz interior pulsante, sua energia vital sendo lentamente drenada para alimentar a formação.
No centro dessa espiral de poder, imóvel e com os olhos fechados, estava Hanshin Dokko. Seu manto negro de dragão caíra, revelando um torso cortado por cicatrizes que contavam a história de cinco mil anos de guerra.
Cada cicatriz parecia vibrar, absorvendo a energia densa que saturava o ar. Seu rosto, normalmente uma máscara de desdém imperial, estava tenso com uma concentração feroz. Ele não buscava a longevidade ou iluminação;
ele buscava a conquista absoluta. Cada respiração sua era um furacão silencioso, puxando o Qi para dentro de seu núcleo danificado, comprimindo-o e nutrindo.
Um homem magro e pálido, o Ministro do Interior, Ko, observava de um canto, seus dedos ossudos contorciendo-se com ansiedade.
"Tudo está pronto, Vossa Majestade!",
Sussurrou, sua voz um farfalhar seco.
"Os tributos das três províncias foram coletados. O Cristal do Coração da Montanha Flutuante de Xian foi integrado à formação".
"Nada faltará".
Hanshin não abriu os olhos.
"E os distúrbios no Leste? A rebelião dos Grãos de Arroz?"
"Esmagada, Vossa Majestade!" Ko respondeu rapidamente". "O General Mo enviou suas cabeças como aviso".
"A paz foi restaurada".
"Paz?" "Hahaha!"Hanshin riu, um som baixo e rochoso. "Só há paz quando não há mais ninguém para se opor".
"Vigie! Se qualquer um perturbar minha reclusão, extermine sua linhagem até a sétima geração". "Eu não tolerarei um único sopro de dissidência".
Ko inclinou-se profundamente, um calafrio percorrendo sua espinha.
"Como ordenartes soberano".
Do lado de fora, sob a luz fraca de uma lua nova que parecia sangrar no céu enevoado, os exércitos do Demônio Marcial formavam quilômetros de linhas de defesa concêntricas. Bestas de cerco energizadas por Qi apontavam para os céus.
Sentinelas com olhos de águia patrulhavam incansavelmente. Eles não estavam lá para lutar contra um inimigo exterior; estavam lá para garantir que o maior pesadelo de seu inimigo se tornasse realidade, sem interferências.
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Nação do Deus Marcial - Salão do Trono do Amanhecer Etéreo.
Enquanto a escuridão se consolidava em "Noite Umbra", a capital da Nação do Deus Marcial, "Aurora", era banhada pela luz suave do entardecer. Mas não havia paz na luz.
No salão do trono, onde colunas de jade branco se erguiam para sustentar um teto pintado com a história dos dragões fundadores, a atmosfera era de gelo cortante.
Imperador Jin Shakan estava sentado em seu trono, sua postura ereta,suas mãos ,que podiam partir continentes firmes nos braços da cadeira.
Seu rosto, marcado por milênios de sabedoria e perda, era impenetrável, mas seus cabelos e olhos dourados, que brilhavam com a luz, cintilavam com uma fúria contida.
Diante dele, Lao Tiang terminava de relatar a mensagem devastadora.
Os generais Shou Khan e Kao Khan estavam parados à frente.
Imóveis como estátuas, mas o Qi ao seu redor ondulava como o ar sobre uma fornalha, um testemunho silencioso da fúria que fervilhavam em seu interior.
"Ele tentará avançar em breve!", finalizou Lao Tiang, sua voz ecoando solenemente no vasto salão.
O silêncio que se seguiu foi mais pesado que qualquer discurso.
Foi o General Shou Khan quem quebrou o silêncio. Seus punhos estalaram.
"Então é isso! O rato vai se esconder em seu buraco para ficar maior. Devemos atacar agora, enquanto ele está vulnerável em sua reclusão". "Um ataque total, com tudo que temos! "
Kao Khan, sempre mais tático, cruzou os braços sobre seu peito largo.
"Atacar como que, Irmão?"
"Suas defesas serão impenetráveis. Seria como lançar nosso exército contra uma montanha".
Ele espera isso. Ele quer que nós nos desgastemos contra suas fortificações!"
"Então o que sugere?".
Rosnou Shou Khan, virando-se para o Irmão.
"Ficamos sentados aqui, polindo nossas armas, esperando que ele surja como um deus demônio e esmague nosso reino sob seu calcanhar?"
"Silêncio!!!".
A palavra do Imperador Jin não foi gritada. Foi dita com calma, mas carregava o peso absoluto da autoridade. Cortou o debate como uma lâmina. Ambos os generais imediatamente se curvaram e recuaram um passo.
Jin Shakan ergueu os olhos, olhando para além dos presentes, para o legado de cinco mil anos que ele carregava.
"Lao Tiang!?"Disse o Imperador, sua voz um rugido distante".
"Sua agente... ela pagou o preço final?"
Lao Tiang fechou os olhos por um breve momento e acenou com a cabeça.
"O cristal se desintegrou. Ela só faria isso se sua capa tivesse sido rompida".
"Sim, Vossa Majestade. Ela se foi".
"Ela será lembrada!"
Declarou Jin, uma promessa gravada em aço.
"E sua bravura nos deu a única coisa que importa agora: "tempo".
Ele se levantou, e sua simples estatura preencheu o salão. "Shou está certo em seu desejo de lutar".
"Kao está certo em sua cautela.,um ataque direto é uma sentença de morte".
"Mas a passividade também o é." Ele desceu os degraus da plataforma do trono, seu olhar passando por cada um deles.
"Não vamos atacar apenas ele. Vamos atacar sua fonte de poder".
Lao Tiang ergueu as sobrancelhas.
" Vossa Majestade?"
"Hanshin não está fazendo isso sozinho. Ele está consumindo os recursos de todo o seu reino para alimentar essa ascensão. Ele unificou três nações pela força. O ódio e o medo devem fervilhar sob a superfície" Jin declarou.
"Enquanto ele estiver distraído, nós vamos cortar o fluxo". Ele apontou para os generais.
"Shou Khan . Kao Khan. Vocês liderarão ataques nas rotas de suprimento, nos locais de mineração de Cristal de Qi".
"Não para ocupar, mas para destruir. Criem caos. Forcem-nos a desviar guerreiros para a proteção interna".
Por fim, ele voltou-se para Lao Tiang. "Grão-Mestre! Use sua rede. Alimente as chamas da dissidência. Espalhe a notícia de que Hanshin está drenando a própria vida de suas terras para seu ganho pessoal".
"Que ele deixará suas próprias províncias como um deserto estéril. Deixe o povo dele duvidar". Deixe-os temer seu imperador mais do que temem a nós.
"Use suas sombras!"
Seus olhos brilharam com a frieza de uma estrela distante. "Nós não podemos impedi-lo de tentar avançar. Mas podemos garantir que quando ele emergir, ele o faça mais fraco do que esperava".
"E que encontre um reino à beira da revolta, não unificado em sua glória".
Era um plano desesperado. Uma aposta de que a tirania de Hanshin havia plantado as sementes de sua própria destruição.
"O tempo de nos escondermos acabou!" O Imperador concluiu, sua voz ecoando com um poder final.
"Não lutaremos pela vitória. Lutaremos pela chance de sobreviver. Lutaremos para que a queda do dragão demoníaco não signifique o fim de tudo".
"Agora, vão. E que o legado do Primeiro Pai, Draconis, nos guie".
Sob a mesma lua nova que iluminava a reclusão de um demônio, a Nação do Deus Marcial se preparava para sua jogada mais perigosa. A guerra havia entrado em sua fase final.
Chapter 3: Sombras no Umbral e a Serpente Adormecida.
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Salão das Decisões Silenciosas - Nação do Deus Marcial.
O escritório privado de Lao Tiang era gelado, refletindo a mente de seu ocupante ordenada, funcional e repleta de profundidades ocultas.
Após a reunião com o Imperador, ele não se dirigiu aos quartéis-generais ou aos campos de treinamento.
Em vez disso, ele retirou um pergaminho simples de uma prateleira, murmurou uma palavra de poder e uma seção da parede de pedra deslizou sem ruído, revelando uma escada que mergulhava na escuridão.
Ele desceu até uma câmara circular completamente vazia, onde a única luz era um pilar pálido de luz que entrava por uma claraboia no alto. O ar era frio e imóvel.
"O tecido da realidade se rasga". Sussurrou Lao Tiang, sua voz ecoando baixinho no espaço contido.
"O demônio busca ascender. Nosso Imperador traçou um plano de fogo e aço para distrair a besta. Mas nós... nós atacaremos seu "coração."
Ele não estava se dirigindo a ninguém. Apenas às sombras.
E, como se tivessem sido tecidas a partir da própria escuridão, quatro figuras se materializaram. Não houve som de passos, nem dispersão de névoa.
Um momento a câmara estava vazia; no seguinte, quatro silhuetas ajoelhadas, vestidas com roupas justas de um cinza tão escuro que parecia sugar a luz ao seu redor, estavam diante dele, cabeças baixas em profunda reverência.
Eram as Sombras, a facção mais secreta e letal da nação, respondendo apenas ao Grão-Mestre.
Lao Tiang não perdeu tempo.
"Hanshin inicia sua reclusão. As defesas de Noite Umbra estão no auge, centradas em sua câmara".
"Nosso objetivo não é apenas o próprio Hanshin". "Nosso objetivo são seus quatro Mestres de Formação, os arquitetos das barreiras que protegem o castelo e canalizam energia para ele".
"Eliminem-nos, e não apenas enfraqueceremos significativamente as defesas para os ataques de nossos generais, mas potencialmente interromperemos o fluxo de Qi para sua ascensão, corrompendo-a".
Ele fitou cada uma das quatro figuras.
"Cada um de vocês tem um alvo designado. Infiltrem-se, matem-nos e sumam".
"A discrição é primordial". "O caos que se seguirá será nossa verdadeira arma".
Seu olhar repousou por um momento mais longo na figura mais próxima, mais esguia que as outras.
"Yue Tiang?"
A Sombra ergueu a cabeça. Seus olhos, da cor de âmbar escuro, brilharam sob o capuz. Nenhuma emoção transparecia em seus traços finos, mas uma devoção absoluta era visível em seu olhar.
A órfã que ele encontrara entre os escombros
de uma cidade fronteiriça, com um talento assombroso.
Seu cultivo era restrito ao Reino do Caminho Marcial imortal 1° Estágio. Mas suas técnicas de integração das sombras e seu núcleo de cultivo não emitia a menor pulsação de Qi.
Ela era um vazio, invisível para qualquer sensor espiritual, uma anomalia perfeita para uma assassina.
"Meu pai!" Sua voz era um sopro, quase inaudível.
Lao Tiang estendeu a mão. Em sua palma repousava uma adaga. O cabo era de osso negro entalhado, mas a lâmina era a verdadeira maravilha, ou monstro.
Era feita de um material vítreo e translúcido, dentro do qual um fluido vermelho-escuro e denso, como sangue coagulado, pulsava lentamente. Parecia vivo.
"Adaga do Sussurro Abissal". Anunciou Lao.
"Forjada com o veneno paralisante da Serpente Dragão do Abismo"."Uma única grama é suficiente". "Ela não é fatal por si só ,isso seria uma misericórdia que Hanshin não merece".
"Mas seu veneno atrofia e corrompe os meridianos, transformando o Qi em uma âncora de agonia". "É uma ferramenta para incapacitação, não para morte limpa". "Para você, minha protegida, cuja mão é a mais certeira".
Yue Tiang estendeu as duas mãos e recebeu a adaga com a solenidade de um ritual. O objeto pareceu sussurrar para ela, uma sensação gelada e sedenta que ecoou em seu próprio vazio interior.
"Agradeço, meu pai!". Ela disse, embainhando a adaga em uma bainha especial em sua coxa. O objeto pareceu se fundir com as sombras de sua roupa.
"Dentro de meio ciclo solar, quando a lua estiver em seu ponto mais negro, a ofensiva principal começará". "Estejam posicionados e prontos".
"A infiltração será seu maior desafio. Confusão será sua aliada".
Lao Tiang olhou para seu esquadrão de assassinos fantasmais.
"O destino de nosso reino repousa não apenas nos exércitos, mas no silêncio de suas lâminas. Não falhem".
As quatro figuras inclinaram a cabeça em perfeita sincronia. Sem outra palavra, elas pareceram se dissolver de volta nas sombras da câmara, deixando para trás apenas um frio residual.
Enquanto as Sombras se preparavam para sua dança mortal, os generais Shou Khan e Kao Khan transformavam o plano do Imperador em ação.
Nos pátios de parada, tropas de elite eram reunidas. Não eram grandes exércitos, mas unidades menores e ultra-móveis, especialistas em sabotagem e ataques-relâmpago.
Cartas de rotas de suprimento, mapas de minas de cristal e perfis de generais inimigos eram estudados. A máquina de guerra do Deus Marcial se voltava para a logística, um alvo incomum, mas vital.
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Câmara do Dragão Caído - Noite Umbra
Profundamente dentro do Palácio das Lágrimas de Sangue, Hanshin Dokko engoliu a última pílula de um conjunto de doze.
O sabor era de metal incandescente e terra vulcânica, queimando sua garganta, mas uma onda de poder primordial inundou seus meridianos, fazendo com que as cicatrizes em seu torso brilhassem com um vermelho sombrio.
Garrafas de poções reluzentes vazias a seus pés, seu conteúdo agora uma tempestade fervilhante em seu núcleo.
Seus olhos se abriram, não mais humanos, mas poças de lava fundida. A dor era excruciante, mas era uma dor que ele conhecia bem, a dor do poder. Ele a abraçou.
Com um gesto brusco da mão, ele fez sinal para os mestres alquimistas e servos trementes que se retirassem. Sua voz ecoou na câmara, distorcida pelo poder cru que ele continha.
"SAIAM AGORA!"
A ordem foi um golpe físico, empurrando todos para fora.
Quando o último servo tropeçou para além da porta, Hanshin fixou seu olhar em uma única figura que permanecia imóvel perto da porta.
Um homem de estatura média, vestido com uma armadura negra simples, seu rosto marcado por batalhas e lealdade absoluta. Seus olhos eram frios e calculistas.
"Liu Xiu!" Rugiu Hanshin, o Qi em sua voz quase material.
"Agora esta no comando." "Nenhuma mensagem, nenhum intruso, nenhum sussurro de perturbação deve chegar até mim".
"O reino é seu para defender. O mundo é seu para queimar, se necessário".
Liu Xiu, o Comandante-General da Nação do Demônio Marcial, um Imperador Marcial Imortal da 2° Estágio, curvou-se profundamente, seu punho cerrado batendo no peitoral de sua armadura com um som seco.
"Não falharei,meu soberano!" "Sua voz era áspera, rouca da inalação constante de fumaça de batalha e de poucas palavras".
Sem mais delongas, a maciça porta de rocha de amethista negra, cravejada com runas de contenção de energia, começou a se fechar com um rangido grave que parecia vir das entranhas do mundo.
A fenda de luz diminuiu até se tornar uma linha e então desapareceu, selando Hanshin Dokko com sua ambição monstruosa e poder insondável.
Do lado de fora, Liu Xiu se virou. Seus olhos, agora a única autoridade máxima no reino, percorreram os corredores vazios. Ele não era um mero brutamontes; era um estrategista meticuloso. Ele sabia que o inimigo não ficaria parado.
"Triplicar as patrulhas!"
Ordenou ele a um subcomandante que surgiu da sombra.
"Ativar todas as formações de detecção em potência máxima". "Qualquer anomalia, por menor que seja, é relatada diretamente a mim". "Ninguém entra. Ninguém sai".
Enquanto ele marchava para assumir seu posto no centro de comando, uma sensação de pressão imensa pairava sobre ele. Ele não estava apenas protegendo um castelo; estava protegendo o futuro de um deus demônio em gestação.
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E em algum lugar, nas sombras entre os dois reinos, quatro assassinos e um exército de sabotadores já se moviam, suas ações preparando o palco para um confronto que decidiria o destino de todas as Ruínas Dragônicas.
Chapter 4: Conflito, Infiltração e Ódio.
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Fronteira Oeste da Nação do Demônio Marcial - Vale do Lamento Silencioso
A poeira vermelha do entardecer misturava-se com a fumaça negra que subia da caravana carbonizada. O cheiro de carne queimada e metal derretido empestava o ar.
O General Shou Khan , montado em seu poderoso Yaoguai[1] blindado, observava com satisfação brutal o trabalho de seus homens.
Seus cavaleiros, montados em bestas aladas menores e mais ágeis, haviam atingido como um furacão.
Os guardas da caravana de suprimentos – minérios de cristal de alta pureza destinados à capital – jaziam mortos, seus corpos despedaçados pela força esmagadora de Khan.
"Queimem tudo! Não deixem nem um grão de pó utilizável!" Seu rugido ecoou pelo vale, acompanhado pelo estalido alegre do fogo consumindo madeira e tecido.
Um de seus capitães aproximou-se, manchado de cinzas.
"General, a carga é imensa. Poderíamos desviar parte para nossos próprios armazéns..."
Khan girou em sua montaria, seu olhar capaz de parar o coração de um homem comum.
"Você é burro ou traidor? Isto não é pilhagem!"
"É sabotagem. O objetivo é que nada chegue ao Demônio"."Se não podemos usar, nós destruímos! Entendido?"
O capitão empalideceu e recuou, saudando rapidamente.
"Sim, General!"
Enquanto as chamas cresciam, Shou Khan olhou para leste, em direção ao coração do território inimigo. Um sorriso feroz cruzou seu rosto. Era apenas o início.
O caos era uma semente que ele plantaria com alegria em cada estrada, em cada mina, em cada posto avançado.
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Posto de Comando de Fronteira Norte - Fortaleza da Garra Gélida
Enquanto Shou Khan era o furacão, Kao Khan era o terremoto – lento, metódico e inevitável.
De dentro de uma tenda de comando simples, ele estudava mapas de disposição de tropas com um olhar crítico. Seus ataques não eram sobre barulho e fúria, mas sobre precisão cirúrgica.
"O comboio do General Mo!" Ele disse, apontando para um ponto no mapa.
"Ele é o braço direito de Liu Xiu na logística".
"Se ele cair, a cadeia de suprimentos do norte entra em colapso".
Um de seus tenentes, um homem jovem com olhos afiados, inclinou-se.
"Seus guardas são numerosos, General Kao Khan". "Um ataque direto seria custoso".
"Por isso não atacaremos o comboio!" Respondeu Kao Khan, um leve sorriso nos lábios.
"Atacaremos a ponte de pedra de Singra, três milhas à frente!".
"Minhas equipes já colocaram os explosivos de Qi. "Quando o comboio de Mo estiver a meio caminho, nós... recolheremos a ponte".
A estratégia era clara: eficiência máxima, baixo risco, dano catastrófico. Enquanto Shou Khan espalhava o terror, Kao Khan cortava artérias vitais com uma navalha.
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Portões Externos de Noite Umbra - Vila de Pó de Pedra
A vila era um lugar miserável, um tumor de madeira podre e barro seco encravado nas sombras das imponentes muralhas da capital.
Era para onde iam os que fugiam dos impostores extorsivos, da conscrição forçada e da fome que começava a se espalhar pelo interior, já que todos os recursos eram desviados para a capital. O ar cheirava a desespero e suor.
Por entre a multidão de rostos cansados e roupas esfarrapadas, moviam-se quatro figuras. Eles haviam trocado os trajes cinza por farrapos sujos, sujado seus rostos com terra e adotado a postura curvada e derrotada dos refugiados. Eram invisíveis não por magia, mas por serem parte da paisagem da miséria.
Yue Tiang, com seu rosto sujo e um trapo cobrindo parte de seu cabelo, ajudava uma mulher idosa a carregar um balde de água suja. Seus movimentos eram desajeitados, apropriados para uma camponesa faminta.
Mas seus olhos âmbar percorriam cada centímetro do posto de guarda à frente, memorizando os turnos, os padrões de patrulha e a localização das runas de detecção esculpidas nos pilares do portão.
Um dos outros assassinos, o que respondia pelo nome de "Vento", murmurou enquanto se ajoelhava para amarrar uma sandália.
"As runas são do tipo defluxo"."Detectam picos de Qi ativo".
"Passivos, como os nossos, são indetectáveis. O verdadeiro problema são os guardas com olhos de águia no topo da muralha".
"Eles procuram ameaças de fora, não de dentro". Sussurrou Yue de volta, sem olhar para ele.
"Eles esperam um exército, não uma ideia. Nós somos a poeira que entra pelas frestas."
Ela observou um capitão da guarda, arrogante, empurrando um refugiado para fora do caminho. O ódio no olhar do homem era palpável.
"Lao Tiang estava certo. O veneno da discórdia já estava aqui, fermentando".
Eles só precisavam administrar o veneno final.
Dentro de seus farrapos, cada um dos assassinos carregava uma pequena bolsa contendo não armas, mas informações.
Moedas falsas, rumores escritos em pedaços de papel sujo, histórias de como Hanshin estava
drenando a vida da terra, condenando todos à morte por fome para alimentar sua própria ambição.
Eles semeariam essas histórias nos becos e tavernas, intoxicando a população com a verdade antes de partirem para seu verdadeiro objetivo.
Enquanto a noite caía sobre a vila miserável, a escuridão tornou-se sua aliada. Yue Tiang encontrou um canto escuro entre duas cabanas, longe dos olhares curiosos.
Ela não sentia medo, apenas uma fria determinação. Esta era a missão para a qual ela foi criada. A filha das sombras, prestes a desafiar o próprio dragão em seu covil.
Do lado de fora dos muros, o caos crescia. Dentro dos muros, o ódio fermentava. E nas sombras mais profundas, quatro assassinos esperavam, prontos para levar a discórdia diretamente para o coração da fortaleza.
A infiltração havia começado.
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[1] Yaoguai: Termo que se refere a monstros, demônios ou espíritos animais na mitologia chinesa, muitas vezes usados como montarias ou guardiões.
Chapter 5: Sussurros no Mercado Sombrio.
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O anoitecer em Noite Umbra não era de quietude, mas de um murmúrio abafado e constante, como o zumbido de um enxame de insetos preso sob uma tigela. A "Cidade Baixa", um labirinto de becos estreitos e edifícios
inclinados que se aglomeravam na sombra da cidadela imperial, fervilhava de uma vida própria, corrupta e desesperada.
Era aqui, longe da disciplina marcial dos níveis superiores, que o verdadeiro pulso da cidade – fraco e intoxicado – ainda podia ser sentido.
Yue Tiang movia-se por esses becos com a fluidez de um peixe em águas turvas. Seus farrapos de refugiada a camuflavam perfeitamente entre os marginalizados, os ladrões e os informantes que habitavam aquele lugar.
Seus companheiros Sombras já haviam se dispersado, cada um seguindo seu próprio caminho em direção aos seus alvos, semeando o caos necessário para cobrir seus rastros.
Seu destino era um lugar conhecido como "O Cálamo e a Adaga", uma taverna subterrânea onde mercadores de informação, assassinos de aluguel e desertores do exército se misturavam sob uma névoa de fumaça barata e álcool roubado.
O ar era espesso e pesado, cheirando a mentira e traição.Ela se encostou em um canto escuro, fingindo beber uma caneca de aguardente podre enquanto seus ouvidos, aguçados além do normal, filtravam dezenas de conversas simultaneneas.
"...o imposto de grãos foi triplicado novamente". "Minha família vai passar fome este inverno..." "...dizem que o General Comandante Liu Xiu executou um comandante por questionar uma ordem"...
..."A guarnição norte está com o moral por um fio.....vi com meus próprios olhos! Um comboio de cristais enorme, vindo das minas do sul, foi obliterado....Ninguém sobreviveu. Dizem que foi o próprio Deus Marcial..."
Um sorriso quase imperceptível tocou os lábios de Yue. As sementes plantadas pelos irmãos Khan já estavam brotando. O medo e a desconfiança se espalhavam.
Foi então que ela ouviu a conversa que procurava. Dois homens, vestidos com as túnicas surradas de servidores públicos de baixo escalão, estavam encostados no balcão, murmurando entre eles com vozes embriagadas e amargas.
"...não adianta reclamar, Wen. Eles levaram meu último filho para o 'serviço de escavação profunda'. Nem sei se está vivo" "...Escavação?Bobagem. Todos sabem. Eles estão drenando os veios de Qi da terra sob o próprio palácio.
"... É para Ele. Para a ascensão."
"...Silêncio,idiota! Falar isso é sentença de morte!"
"...E daí?O que resta? Eles estão sugando a própria vida do solo. As colheitas estão murchando, o gado está fraco. Em um ano, não haverá mais nada aqui".
"... Só um deserto estéril e um tirano faminto por poder que não se importa se todos nós morrermos!"
A fala do homem, carregada de um ódio cru e desesperado, era a deixa perfeita. Yue se aproximou silenciosamente, deslizando pela multidão como uma fumaça.
Quando passou por trás do homem mais vocal, seu movimento foi tão suave que ele nem percebeu o pequeno pedaço de papel denso e dobrado que foi parar no bolso rasgado de sua túnica.
Ela não parou. Continuou, repetindo o movimento outras vezes, plantando suas sementes venenosas em bolsos de comerciantes descontentes, soldados bêbados e até na bolsa de uma prostituta que reclamava do sumiço de clientes ricos.
Cada pedaço de papel continha uma variação da mesma mensagem, escrita com uma tinta que desapareceria em horas:
~O Dragão Devora seu Próprio Reino. Ele suga o Qi da terra, condenando-nos à fome para alimentar sua ganância. Nossos filhos morrem nas minas por sua ambição. A Ascensão do Demônio é a Morte de Todos.~
~Perguntem a seus mestres, por que
as colheitas falham? Por que o ar perdeu seu vigor?~
O trabalho dela ali estava feito. Os rumores, agora alimentados por "provas" físicas efêmeras, se espalhariam como um incêndio em um campo seco.
A discórdia não era mais apenas um sentimento; era uma informação "vazada", e isso a tornava muito mais perigosa.
Ela saiu do Cálamo e da Adaga, fundindo-se novamente com as sombras dos becos.
Agora, era hora de se concentrar no verdadeiro objetivo. Ela precisava encontrar uma maneira de subir para os níveis superiores da cidade, onde os Mestres de Formação residiam e trabalhavam, protegidos não apenas por guardas, mas por barreiras de energia que mesmo sua anomalia natural poderia ter dificuldade em atravessar sem ser notada.
Enquanto isso, em outro ponto da Cidade Baixa, uma das outras Sombras, "Vento", observava a movimentação de um carroção puxado por Yaoguai que subia uma rampa em direção à cidadela.
O condutor ostentava a insígnia dos Fornecedores Reais de Provisões Alquímicas. Era uma oportunidade. Um plano começou a se formar em sua mente, um caminho para dentro.
A infiltração estava em andamento.
O veneno da dúvida estava nas entranhas da cidade.
E quatro assassinos invisíveis se moviam em direção ao coração da fortaleza, cada um deles um prenúncio de morte para aqueles que sustentavam a ambição do tirano.
Chapter 6: Covil do Dragão Imperador.
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O ar mudou, era uma sensação sutil a princípio, um formigamento na nuca, um peso invisível sobre os ombros.
Nos campos de batalha distantes, onde os generais" Khan" lideravam seus ataques relâmpago, os cultivadores de maior percepção hesitaram por um breve instante.
O fluxo do Qi ao seu redor, antes uma corrente previsível, tornou-se pesado e lento, como melado, antes de ser repentinamente sugado em direção à capital inimiga, como se uma maré cósmica estivesse mudando de direção.
Dentro da Nação do Deus Marcial, no Salão do Trono do Amanhecer Etéreo, o Imperador Jin Shakan ergueu a cabeça abruptamente. Seus olhos, que brilhavam com a luz dourada.
Ele não precisou de sensores ou relatórios.
Cada fibra de seu ser, cada centelha de seu poder de 7.700 anos, sentiu a mudança no próprio mundo.
"Ele começa a acordar!".
A voz de Jin ecoou baixa e grave no salão silencioso, fazendo com que Lao Tiang, que meditava em um canto, abrisse os olhos instantaneamente.
"Todo reino reage perante sua arrogância."
Lao Tiang sentiu um frio percorrer sua espinha. A pressão era palpável mesmo a essa distância, uma presença opressiva que se estendia por milhares de quilômetros.
"As Sombras estão em posição". Sussurrou, mais para si mesmo do que para o Imperador. "Que suas lâminas sejam rápidas."
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Noite Umbra - Cidadela Imperial.
Na Cidade Baixa, o murmúrio constante de descontentamento foi subitamente sufocado por um silêncio pesado e inexplicável.
Os refugiados, os ladrões, os soldados bêbados – todos pararam no que estavam fazendo, instintivamente olhando para cima, em direção ao palácio negro.
O ar estava eletricamente carregado, difícil de respirar. As lamparinas e tochas sufocando, suas chamas sendo puxadas não pelo vento, mas por uma força invisível que sugava a energia do ambiente.
Dentro do covil da besta, a pressão era insuportável. Os guardas nas muralhas sentiam suas reservas de Qi serem drenadas lentamente, uma sensação de vertigem espiritual tomando conta deles.
As runas de proteção nas paredes cintilavam com uma luz fraca e irregular, lutando para se manterem ativas enquanto a energia era violentamente canalizada para dentro.
No centro de comando, o General Liu Xiu estava de pé diante de um enorme mapa de cristal que mostrava o reino.
De repente, as luzes que representavam as linhas de Qi do mundo começaram a tremer e depois se curvaram violentamente, todas convergindo para um único ponto: a Câmara do Dragão Caído.
Seu rosto, normalmente um modelo de frieza calculista, estava pálido. Ele sentiu o poder avassalador, uma vontade tão feroz que ameaçava esmagar a dele própria.
Ele era um Imperador Marcial Imortal de 2° Estágio, uma existência que comandava o respeito e o terror de milhões, mas naquele momento, ele não passava de uma formiga aos pés de um colosso prestes a se erguer.
"Todos os recursos para as defesas externas! agora!". Sua voz soou rouca, quase quebrada, para seus subcomandantes.
"Ignore o desperdício! Ative todas as formações no máximo! Ele não deve ser perturbado!"
Yue Tiang e "Vento" trocaram um breve olhar de dentro de um nicho escuro em um corredor de serviço restrito que eles haviam se infiltrado. O ar aqui vibrava, fazendo com que o metal das paredes emitisse um zumbido de baixa frequência.
"Ele está rompendo a barreira". Sussurrou Vento, seus olhos com uma mistura de terror e admiração.
"O próprio ar está se rendendo a ele".
Yue não disse nada. Ela apenas apertou o cabo da Adaga do Sussurro Abissal escondida em suas vestes. A lâmina pulsava mais forte agora, como se sentisse a presença colossal de Qi.
Sua anomalia a protegia da drenagem mais severa, mas mesmo ela podia sentir o mundo ao seu redor curvando-se perante a vontade de Hanhin.
Eles sabiam que não tinham mais tempo. A janela para agir estava se fechando rapidamente. Se Hanshin conseguisse consolidar seu avanço, mesmo que parcialmente, nenhuma adaga seria capaz de tocá-lo.
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Câmara do Dragão Caído.
Dentro da câmara selada, o mundo havia cessado de existir. Tudo que restava era um vortex de poder primordial e indescritível.
Hanshin Dokko flutuava no centro do turbilhão, seu corpo era pouco mais que um contorno distorcido dentro de um núcleo de luz carmesim e negra tão intensa que doía os olhos.
Os geodos de Cristal de Qi ao seu redor estouravam em sequência, transformando-se em pó fino à medida que a última centelha de energia era arrancada deles.
As runas no chão brilhavam com o fervor de uma fornalha, canalizando a energia roubada do mundo exterior diretamente para ele.
Cada célula de seu corpo estava sendo desmontada e reconstruída. Cada meridiano era expandido à força, rasgando e se regenerando repetidamente sob o influxo avassalador de poder.
A dor era além da compreensão mortal, uma agonia que transcendeu a carne e atingiu a própria alma. Mas Hanshin a abraçou. Ele rugiu, e o som não era de um homem, mas do próprio cataclismo.
Um rugido que não ecoou na câmara, mas nas fundações da realidade.
Ele podia sentir isso. O limiar. A barreira entre o que ele era e o que ele almejava ser o "Reino da Divindade". Um verdadeiro Dragão. Um reino que nenhum ser havia pisado desde os tempos dos Antigos.
Era uma porta feita de agonia extrema e vontade pura. E ele estava prestes a entrar por ela.
Lá fora, o céu acima de "Noite Umbra" escureceu. Nuvens negras rodopiaram em um vórtice gigantesco, raios silenciosos de energia pura cortando a escuridão.
A terra tremeu levemente, não um tremor de destruição, mas um tremor de submissão.
Em duas nações, em milhares de corações, uma única verdade ficou clara: o Dragão Demoníaco estava acordando, e ele estava prestes a ascender.
O sucesso significaria o fim de uma era. A falha, um vácuo de poder que engoliria o mundo em um conflito ainda mais terrível.
O destino de todas as Ruínas Dragônicas pendia sobre um fio, e o fio estava prestes a arrebentar
Chapter 7: O Ápice, A Sombra Assassina e O Veneno Ancestral
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Foi como o nascimento de uma estrela.
Um pulso de energia silenciosa e absoluta expandiu-se do Palácio das Lágrimas de Sangue, varrendo todas as Ruínas Dragônicas.
Não foi um som, mas uma presença que se impôs sobre a consciência de cada ser vivo.
Bestas nas florestas congelaram de terror, aves caíram do céu e cultivadores em meditação profunda foram violentamente arrancados de seus estados, seus corpos tremendo com uma reverência primitiva e aterrorizada.
Hanshin Dokko havia transcendido.
Dentro da câmara selada, o vortex de poder colapsou sobre si mesmo, sendo absorvido pelo corpo que agora irradiava uma autoridade divina.
Ele não parecia maior,mas sua presença era. Sua forma física era agora uma âncora para um poder que distorcia a luz ao seu redor.
Seus olhos se abriram, e neles não havia mais lava, mas a fria e infinita escuridão do espaço interestelar, pontilhada com o brilho distante de estrelas agonizantes.
Ele era um Deus Dragão. O primeiro em eras incontáveis.
Um rugido de triunfo absoluto ecoou em sua mente, tão potente que poderia ter obliterado montanhas. Ele estendeu uma mão, observando a realidade se curvar e tremer ao seu redor, obediente à sua mais ínfima vontade.
A embriaguez do poder era intoxicante, superior a qualquer vinho ou poção. Ele era o ápice.
O fim de todas as coisas.
Mas toda ascensão tem um preço. O poder divino rugia dentro dele, um oceano furioso contido em um vaso que ainda não estava totalmente temperado para contê-lo.
Este era o momento crítico da consolidação, o momento em que até um deus recém-nascido é vulnerável, pois deve focar toda a sua vontade em domar a tempestade que ele próprio invocou.
Foi nesse exato momento de triunfo supremo e vulnerabilidade concentrada que as Sombras atacaram.
Em quatro locais diferentes da cidadela, os Mestres de Formação que sustentavam as barreiras de proteção e canalizavam energia caíram mortos. Um, envenenado por uma agulha fina enquanto ajustava um cristal de focalização.
Outro, com a garganta cortada por um fio de Qi quase invisível enquanto ele registrava o fluxo de energia bem-sucedido. Um terceiro, apunhalado pelas costas por uma lâmina que absorvia o som no momento exato em que Hanshin ascendia, abafando seu grito de alerta.
O quarto simplesmente desapareceu, puxado para dentro das próprias sombras de sua sala de controle, seu destino desconhecido.
A morte deles foi tão simultânea e perfeita que as defesas do palácio, já tensionadas ao limite pela ascensão, oscilaram.
Por um único e crítico segundo, as camadas mais internas de detecção e proteção em volta da "Câmara do Dragão Caído" piscaram e falharam.
E um segundo era tudo o que Yue Tiang precisava.
Ela havia se espremido em um espaço entre duas vigas de suporte de energia, sua anomalia a tornando uma mancha de nada mesmo para os sensores mais aguçados.
Ela viu a luz da ascensão, sentiu a onda de poder divino e, mais importante, viu a momentânea falha na formação de segurança.
Ela moveu-se. Não como uma pessoa, mas como um pensamento, um reflexo da escuridão.
A porta de amethista negra, agora sem a energia ativa que a mantinha selada, cedeu por uma fração de polegada sob a pressão de seu corpo e de uma técnica de dissolução de sombras. Foi o suficiente.
Dentro da câmara, Hanshin ainda estava imerso na euforia de seu poder, sua consciência voltada para dentro para consolidar o oceano cósmico dentro de seu núcleo. Ele era um deus. Quem ousaria? Quem poderia desafia-lo?
Ele não ouviu. Não percebeu. A arrogância da divindade recém-nascida era seu ponto cego.
Yue Tiang não teve tempo para admiração ou terror. Seu treinamento, sua própria existência, culminava naquele instante.
Ela se materializou atrás dele como um fantasma, a Adaga do Sussurro Abissal já em movimento, não para o coração, uma impossibilidade contra um corpo divino.
Mas para um ponto específico nas costas, entre as omoplatas, um aglomerado crucial de meridianos que canalizava o Qi recém-adquirido.
A lâmina de sangue de serpente dragão pulsou com um desejo maligno e encontrou sua marca.
Não foi uma punhalada profunda. A pele de Hanshin, tocada pela divindade, resistiu como aço celestial. A ponta da adaga penetrou talvez uma polegada, não o suficiente para causar dano físico real.
Mas não era esse o objetivo.
O veneno ancestral da Serpente do Abismo, um corrosivo espiritual que existia desde os tempos dos dragões antigos, não precisava de uma ferida profunda. Ele precisava apenas de um condutor.
No momento do impacto, a lâmina de cristal estilhaçou-se, liberando toda a sua carga venenosa diretamente no ponto de meridiano.
Uma dor aguda, fria e alienígena rompeu a euforia de Hanshin. Não era a dor gloriosa do poder, mas uma sensação de profanação, de podridão.
Ele sentiu o fluxo majestoso de seu Qi divino ser contaminado, como veneno sendo despejado em um rio cristalino.
Os meridianos ao redor da ferida imediatamente entorpeceram, atrofiando, e a corrupção começou a se espalhar como um raio, tentando paralisar o sistema circulatório de seu poder.
O rugido de triunfo em sua mente transformou-se em um grito de fúria constrangedora e surpresa absoluta.
Seu reflexo não foi um pensamento, mas um decreto da realidade. Ele ainda não tinha controle total de seu poder, mas sua raiva era uma força primal.
Hanshin nem mesmo se virou. A simples onda de sua vontade, um pulso de energia divina crua e indisciplinada, explodiu de seu corpo.
Yue Tiang não teve chance de recuar, nem de sequer perceber o que a atingiu. Um instante ela estava lá, sua missão cumprida. No instante seguinte, sua existência foi simplesmente... apagada.
Ela não foi explodida em pedaços; foi desintegrada, atomizada pela pura e absoluta força da divindade que ela ousara desafiar.
Seu corpo, sua adaga, sua anomalia tudo se dissolveu em partículas de luz que logo se apagaram, sem deixar um único traço de que ela jamais existirá.
Nenhum grito, nenhum último pensamento. Apenas o silêncio abrupto da aniquilação.
A câmara ficou em silêncio novamente, mas a euforia havia se dissipado.
Hanshin permaneceu de pé, respirando profundamente, a pequena ferida em suas costas latejando com um frio que parecia queimar.
O fluxo de seu poder, outrora claro e triunfante, agora estava obstruído e envenenado.
A consolidação de seu cultivo, que deveria ser um momento de perfeição, tornara-se uma batalha interna contra um veneno ancestral.
Ele não era mais um deus completo. Era um deus ferido, profanado. E a fúria que emanava dele agora não era triunfante, era vingativa e infinita. Alguém pagaria por isso. Tudos pagariam por isso
Chapter 8: A Ira Do Dragão.
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A fúria que emanava da Câmara do Dragão Caído era um peso físico, esmagador.
O ar no corredor exterior tornou-se denso como chumbo, fazendo com que os poucos guardas de elite que ali permaneciam caíssem de joelhos, sangrando pelo nariz e ouvidos.
Esmagados não por um ataque, mas pela pura aura de ódio de seu soberano.
Então, a maciça porta de amethista negra, um artefato de poder imenso que havia resistido a milênios e a própria ascensão de um deus, simplesmente... deixou de existir.
Não houve explosão. Não houve estilhaços. Com um gesto furioso da mão de dentro da câmara, a matéria da porta desintegrou-se em um fino pó violeta que caiu como cascata no ar, revelando a figura titânica e furiosa de Hanshin.
Sua pele ainda fumegava com o excesso de poder divino não consolidado, e seus olhos, poças de escuridão estelar, queimavam com uma fúria capaz de extinguir sóis.
"LIU XIU!!!"
Seu rugido não foi um simples grito. Foi uma onda de força que percorreu todos os corredores da cidadela, fazendo com que as paredes tremessem e runas de contenção se acendessem por toda parte, lutando para evitar que a própria estrutura desabasse.
Foi a voz de um deus traído, e cada sílaba era um golpe.Quase instantaneamente, uma figura surgiu do final do corredor, movendo-se com velocidade sobrenatural antes de se lançar ao chão, prostando-se com a face tocando a pedra fria. Era Liu Xiu.
Seu rosto estava pálido, não de medo do inimigo, mas do tremor de ira que emanava de seu mestre. A aura divina, mesmo manchada e furiosa, era tão avassaladora que era quase impossível levantar a cabeça.
"Meu soberano?". Sua voz, normalmente rouca e firme, soou abafada e pequena contra o rugido ecoante.
Hanshin avançou, seus passos não fazendo som, mas cada um causando uma leve distorção na realidade ao seu redor, como se o mundo não pudesse contê-lo adequadamente. Ele parou sobre o general prostrado.
"O que". "Significa". "ISSO?"
Suas palavras eram facas de gelo, cortantes e mortais.
"Meus aposentos foram violados!". "Uma sombra rastejou para dentro do meu santuário no momento da minha ascensão!"
"EXPLIQUE!"
A acusação pairou no ar, pesada e mortal. Liu Xiu manteve a testa pressionada contra o chão, sua mente girando a uma velocidade vertiginosa.
"Invasão?". "Durante a ascensão?" Era impossível". "A menos que..."
"Soberano!"
Ele disse, sua voz um pouco mais firme, lutando contra o peso esmagador.
"Os sensores detectaram breves falhas periféricas durante... durante o ápice de seu transcendimento". "Quatro dos Mestres de Formação foram mortos no mesmo instante".
"Acreditamos que foi uma investida coordenada de assassinos de elite do Deus Marcial".
"Mas juro por minha vida e meu cultivo, todos os pontos de entrada foram selados!"
"Os assassinos que identificamos dentro dos muros já foram caçados e eliminados!"
"A segurança foi..."
"ELIMINADOS?"
A interrupção de Hanshin foi como um trovão, cortando a justificativa de Liu Xiu.
"Então como você explica ISSO?"
Hanshin se virou levemente, indicando com a cabeça o local entre suas omoplatas. A pequena perfuração em sua pele divina ainda estava lá, um ponto negro e repugnante de onde emanava uma fria corrupção que até Liu Xiu, de sua posição humilde, podia sentir.
Era uma profanação. Uma marca de vergonha no corpo de um deus.
"Eles falharam em me matar, General!"
Hanshin sussurrou, sua voz agora perigosamente baixa e serena, o que era infinitamente mais aterrorizante que seu rugido.
"Mas conseguiram manchar minha ascensão com seu veneno". "Envenenaram o poço da minha divindade". "Enquanto eu lutar para expurgar esta corrupção, minha consolidação estará incompleta".
Liu Xiu não tinha palavras. O terror que sentiu foi substituído por um desespero gelado. Ele havia falhado. Catastroficamente.
"Peço sua misericórdia, soberano!". Sua voz foi um gemido de puro pavor.
"Misericórdia?" Hanshin riu, um som seco e horripilante.
"Você não pede misericórdia". "Você pede uma chance para corrigir seu fracasso".
"E você a terá".
Han Shin retirou sua intenção sobre ele, e Liu Xiu ficou livre da opressão que o esmagava no chão,enguendo seu tronco para ficar de joelhos e encontrar o olhar furioso de seu mestre.
"Organize o exército". "Prepare-se para receber visitas".
Ordenou Hanshin, sua voz trovejando novamente.
"Shakan logo estará aqui". "Posso sentir a agitação em suas auras, a determinação deles se acendendo como um farol tolo".
"Eles pensam que me enfraqueceram". "Que encontraram uma brecha". "Eles virão testar sua sorte, tentar aproveitar essa suposta vantagem"
"Que venham!"
Liu Xiu sentiu um choque percorrer seu corpo. 'Eles viriam? Um ataque direto à capital?' Pensou.
"Sim, meu soberano!" Liu Xiu gritou.
"Nossas defesas estarão prontas! Nós..."
"NÂO!" Hanshin cortou sua fala.
"Não sejam apenas defensivos". "Preparem-se para aniquilação total". "Quando eu terminar com esse veneno, marcharemos". "Mas primeiro, vamos recebê-los". "Vamos mostrar ao velho Jin o que significa despertar um dragão".
"Agora, faça isso!"
Ele não esperou uma resposta. Sua atenção já estava se voltando para a corrupção em seu corpo.
"E CHAME O MESTRE ALQUIMISTA! "
Ele rugiu, o som fazendo a poeira de ametista tremer no chão.
"Preciso me livrar dessa impureza e consolidar meu cultivo!"
"A GUERRA ESTÁ DECLARADA!"
Sem olhar para trás, Hanshin voltou para os restos de sua câmara, deixando Liu Xiu ajoelhado no corredor, a ordem ecoando em seus ouvidos. O medo havia sido substituído por uma resolução terrível.
Não era mais apenas sobre defender; era sobre preparar uma armadilha e depois um contra-ataque esmagador.
Liu Xiu se levantou, seu rosto agora uma máscara de determinação feroz.
Ele se virou e correu, suas ordens ecoando pelos corredores antes mesmo de chegar ao centro de comando. A capital, que já estava em alerta, agora se transformaria em uma fortaleza pronta para o cerco e, em seguida, para a carnificina.
A guerra havia mudado. Era uma cruzada de vingança pessoal de um deus ferido, e ele, Liu Xiu, seria o condutor de sua ira..
Chapter 9: Diagnóstico e Ataque
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Salão do Trono do Amanhecer Etéreo - Nação do Deus Marcial
A luz da manhã banhava a capital Aurora, mas não trazia consigo a promessa de um novo dia, e sim o prenúncio de um amanhecer sangrento.
No grande pátio de parada, um exército de quarenta mil cultivadores estava formado em fileiras perfeitas e silenciosas.
Suas armaduras, gravadas com runas de proteção e o emblema do dragão solar, brilhavam sob a luz incipiente. Bestas de guerra treinadas, Yaoguai de escamas metálicas e olhos ardentes, bufavam impacientes, sentindo a eletricidade no ar.
No centro do pátio, diante das tropas, o Imperador Jin Shakan estava parado, uma figura de autoridade absoluta.
Ele vestia sua armadura de guerra, um conjunto de placas de orichalco branco e dourado que parecia fundir-se com sua própria pele, emanando uma aura de impenetrabilidade serena.
Lao Tiang estava ao seu lado, vestindo robes simples de combate, seu rosto um lago de calma determinada, mas seus olhos, tão antigos quanto os do Imperador, refletiam a gravidade do momento.
O Primeiro Ministro aproximou-se, carregando com cuidado um baú negro cravejado com adornos dourados que reluziam com uma luz interior suave.
Ele se ajoelhou e abriu a tampa, revelando um veludo azul-profundo sobre o qual repousava uma esfera perfeita.
Era do tamanho de um punho, feita de um cristal tão límpido que parecia conter o próprio céu. No seu centro, uma única e minúscula gota de um líquido prateado pulsava com uma luz suave, como um coração batendo.
"Soberano Jin!" "Aqui está o que me pediu".
Disse o Primeiro Ministro, sua voz solene.
"A Esfera Ancestral".
Lao Tiang inclinou-se levemente para observar, um suspiro de admiração escapando de seus lábios.
"Uma lágrima cristalizada de Ventus, o filho de Suien, a matriarca de sua família, Soberano Jin".
"É a última?"
"Sim!". Confirmou Jin Shakan, seu olhar fixo na esfera com uma mistura de reverência e tristeza.
"É um tesouro Ancestral, um legado do sangue da Tempestade que corre em minhas veias". "Tem o poder único de conter e selar o poder de outra pessoa, mesmo que divino, por um breve período". "Será nosso trunfo nesta batalha".
"A única chance de igualar o campo de batalha".
Ele estendeu a mão, e a esfera pairou de seu baú, flutuando suavemente até se encaixar em um receptáculo circular no centro de seu peitoral. O cristal brilhou fracamente, sincronizando-se com seu próprio Qi.
Sem uma palavra, o Imperador Jin Shakan elevou-se no ar. Não houve um grande esforço, nenhum ocilação dramático de energia.
Ele simplesmente suspendeu-se, pairando sobre seu exército, sua aura envolvendo-o como um manto invisível de autoridade.
Lao Tiang seguiu-o um instante depois, elevando-se com uma graça etérea, suas vestes esvoaçando suavemente.
Jin olhou para baixo, para seus generais, para seus soldados. Para o reino que ele havia governado por milênios.
"PARA A GLÓRIA!". Sua voz, amplificada por seu Qi, rolou sobre as fileiras como um tambor divino.
"PELA NAÇÃO DO DEUS MARCIAL!!!"
O grito de resposta de quarenta mil vozes foi um só, um rugido que fez tremer os alicerces da cidade.
E então, como uma maré dourada, eles partiram. O Imperador e seu Grão-Mestre na frente, uma vanguarda de luz contra a escuridão que emanava do oeste.
Seus generais, Shou Khan e Kao Khan, já estavam em terras inimigas, preparando o terreno e aguardando a chegada de seu líder para o assalto final.
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Câmara do Dragão Caído - Noite Umbra
Dentro dos aposentos devastados de Hanshin, o ar estava gelado e pesado. O Mestre Alquimista-Chefe, um homem ancião de rosto enrugado e olhos cansados, tremia incontrolávelmente prostrado diante de seu soberano. Ele havia acabado de dar seu diagnóstico.
"É... é um veneno Ancestral, meu Soberano".
Ele gaguejou, sua voz um farfalhar de medo.
"Das eras mais profundas, do sangue da Serpente do Abismo". "Não... não temos contra medidas para ele em nossos registros".
"Sua natureza é corromper a essência espiritual em um nível fundamental".
Hanshin permaneceu imóvel, seu rosto uma máscara de pedra, mas a fúria em seus olhos era um abismo.
"O que isso significa?" sua voz saiu baixa, um sibilar perigoso.
"O Soberano pode... pode suprimi-lo por agora, com sua força divina".
O alquimista explicou rapidamente.
"Pode isolá-lo, contê-lo para lutar". "Mas... não será possível consolidar totalmente seu cultivo enquanto o veneno persistir. E...! "
Ele hesitou, temendo a próxima palavras.
"FALE!"
"E o veneno é corrosivo". "Mesmo contido, ele consumirá lentamente o Soberano por dentro". "Se... se não for purgado por completo... o Soberano... perderá seu poder... em alguns séculos".
O silêncio que se seguiu foi mais aterrorizante que qualquer rugido.
"NÃO PODE SER!"
Hanshin finalmente explodiu, seu grito fazendo com que as paredes já danificadas da câmara rachassem ainda mais. Sua aura divina, instável e corrompida, explodiu, arremessando o Mestre Alquimista contra a parede com um baque surdo.
"EU SOU UM DEUS! EU TRANSCENDI!"
Foi nesse exato momento de fúria absoluta que seus sentidos divinos, aguçados mas manchados, detectaram uma perturbação massiva no limite oriental de seu reino.
Uma presença familiar, solar e determinada, movendo-se em sua direção com velocidade implacável, seguida por um exército e outra presença antiga e traiçoeira.
Ele congelou. A fúria contra o alquimista foi instantaneamente redirecionada, canalizada em um ódio puro e concentrado.
"MALDITO SEJA JIN SHAKAN!!!"
Ele rugiu para as paredes vazias.
"NÃO PODE SE SEGURAR POR MAIS TEMPO, NÃO É?". "Vem se aproveitar da suposta fraqueza?" Venha morrer, então!".
Ele se virou para o alquimista inconsciente e depois para a porta, onde Liu Xiu sem dúvida já estava organizando as defesas.
A batalha pela qual ele esperava a séculos chegara, mas não em seus termos. Ele estava ferido, incompleto, envenenado. Mas ele ainda era um Deus Dragão. E mesmo um deus manco era mais do que suficiente para lidar com um mortal.
Chapter 10: A Guerra e A Tartaruga Negra.
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O triunfo de Hanshin havia sido curto. A ascensão à divindade, manchada pelo veneno, foi o estopim, mas o odio e a revolta havia sido meticulosamente espalhado pelas Sombras.
As sementes de discórdia plantadas por Yue Tiang e seus companheiros nos becos miseráveis de Noite Umbra germinaram com velocidade assustadora, alimentadas pelo medo e pela raiva de um povo espremido entre a tirania de seu imperador e a ameaça externa.
A notícia de que Hanshin estava drenando a vida da terra para sua ascensão, condenando todos à fome, tornou-se "verdade" incontestável.
Afinal, as colheitas estavam murchando. O ar estava mais pobre em Qi.
E o imperador, em seu egoísmo, não se importava.
Quando o exército do Deus Marcial cruzou a fronteira, não encontrou uma nação unida pronta para se defender. Encontrou o caos.
Dias antes da chegada do exército dourado, a guerra civil estourou. Não foi uma rebelião organizada, mas uma erupção de fúria desesperada.
Multidões famintas, lideradas por desertores do exército e cultivadores menores que se recusaram a ver seu mundo morrer, incendiaram armazéns de grãos saqueados, atacaram postos de guarda e tentaram, em vão, escalar os muros da cidadela imperial.
Eles não lutavam por vitória; lutavam por vingança, por um último ato de desafio antes do fim.
Os guardas da cidade, já sobrecarregados com a paranóia de Liu Xiu, foram obrigados a se voltar para dentro. A ordem para "conter a discórdia a qualquer custo" resultou em ruas inundadas de sangue.
A capital transformou-se em um campo de batalha de três fronts: os rebeldes, a guarda cidade leal a Hanshin, e o exército regular, tentando manter uma ordem que já não existia.
No topo das muralhas da cidadela, ignorando a fumaça negra que subia da cidade abaixo, o grosso do exército de elite do Demônio Marcial mantinha sua formação.
Vinte e oito mil guerreiros do Reino do Caminho Marcial Imortal, cinco mil capitães no 2° Estágio do mesmo reino, mil Sub-Comandantes na 4° estágio reino do caminho marcial imortal.
Cento e setenta Comandantes no ápice do mesmo reino. E três Generais no 1° estágio reino Imperador marcial imortal. Todos eles respondem diretamente ao Comandante General Liu Xiu que observa impassível, perante o tumulto abaixo.
Seu rosto era uma máscara de granito. Ele ignorou os gritos, o cheiro de fumaça e o distante estrondo de combates nas ruas. Sua lealdade não era para com o povo, ou a nação, mas para um único homem.
Sua ordem era clara,defender o soberano e preparar-se para aniquilar o inimigo externo.
A escória rebelde era um problema para a guarda da cidade.
Quando a presença avassaladora de Jin Shakan tornou-se tangível no horizonte, Liu Xiu ergueu um punho. Um silêncio abrupto caiu sobre suas tropas, a disciplina marcial superando até o ruído da cidade em convulsão.
"AGUARDANDO SUAS ORDENS, SOBERANO IMPERADOR!"
A voz de Liu Xiu ecoou, forte e clara, cortando o ar pesado, direcionada para o céu acima do palácio.
De dentro do palácio, uma figura elevou-se lentamente. Hanshin Dokko pairou acima dos pináculos negros de seu covil. Sua aura, outrora um símbolo de poder absoluto, agora era uma coisa instável e perigosa; divina, sim, mas manchada por uma fria corrupção que a tornava errática e dolorosa de se observar.
A ferida em suas costas latejava com uma dor surda que alimentava sua fúria.
Seu olhar, cheio de desdém e ódio, varreu a cidade abaixo dele, como se os rebeldes fossem insignificantes insetos. Seus olhos então se fixaram no leste, onde um brilho dourado se aproximava rapidamente.
Sem uma palavra para Liu Xiu ou para seu povo morrendo, Hanshin ergueu as mãos. Seus movimentos foram precisos, cheios de uma autoridade cruel.
Ele executou uma série de selos complexos com as mãos, cada gesto puxando fios de energia escura das próprias fundações da capital.
Com um rugido que pareceu vir das entranhas do mundo, uma formação colossal foi ativada.
Runas gigantescas, da cor de sangue e obsidiana, incendiaram-se no céu acima de Noite Umbra, interligando-se para formar um domo translúcido e sinistro que cobriu toda a capital.
"Baken #10!!". "Formação Defensiva: Casco De Tartaruga Negra!"
O ar dentro do domo tornou-se pesado e opressivo, carregado com a vontade de Hanshin. Era uma formação de aprisionamento e amplificação.
Ela não apenas protegeria a cidade de ataques externos, mas também canalizaria toda a energia dentro dela – incluindo a dos combatentes morrendo – diretamente para Hanshin, alimentando-o e suprimindo temporariamente o veneno com puro poder bruto.
"Que venham!". A voz de Hanshin finalmente trovejou, distorcida e amplificada pela formação, fazendo o próprio domo tremer.
"Venham todos!" "Suas mortes servirão para alimentar o verdadeiro Imperador deste mundo!".
O palco estava armado. De um lado, a cidade em chamas, um exército leal em meio ao caos e um deus ferido e irado.
Do outro, o farol de luz dourada do Deus Marcial e seu exército, avançando implacavelmente para o coração da escuridão.
A batalha dos Imperadores estava prestes a começar.
Chapter 11: A Brutalidade e a Inteligência - A Dança dos Irmãos Khan.
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A capital Noite Umbra estava encurralada. Como uma besta acuada, seus muros negros e pontiagudos pareciam contrair-se sob o cerco implacável da Nação do Deus Marcial.
Jin Shakan, um farol de autoridade calma no centro de seu acampamento, executara sua estratégia com precisão cirúrgica: três lados sitados, um portão deixado aberto—não por clemência, mas por cálculo estratégico.
Uma rota de fuga criava pânico, desorganização e quebrava o espírito de resistência até o último homem.
O som que precedeu o inferno foi o ritmo primordial da guerra: milhares de soldados batendo suas lanças contra escudos reforçados, um metrônomo de metal e madeira que ecoava contra as muralhas de Noite Umbra, seguido por um urro uníssono que mais parecia o rugido de uma única e colossal fera.
Era o som do fim se aproximando.
Então, o primeiro embate rompeu a linha.
Um soldado do Demônio Marcial, os olhos arregalados pelo ódio e pelo medo, investiu com sua lança.
A ponta de aço perfurou o pescoço de um adversário, mas o ímpeto foi tão brutal que a arma transpassou carne e osso e cravou-se no crânio do homem atrás.
Um momento de caos silencioso, e então a maré de batalha engoliu aquele pequeno drama.
Cinquenta metros adiante, uma luz ofuscante seguida por um BOOM ensurdecedor vaporizou vinte guerreiros de armadura pesada.
Não sobrou carne, apenas metal retorcido e fumegante e um cheiro doce e metálico de ozônio e sangue queimado.
Os estilhaços deste horror chovendo como granizo mortal feriram dezenas ao redor.
No epicentro do caos, um estrondo abalou o chão. Uma cratera apareceu onde antes havia uma fileira de defensores. No centro, erguendo-se sobre os corpos esmagados de seus inimigos, estava Shou Khan.
Em suas mãos, ele empunhava sua arma, "O Esmagador de Montanhas", um martelo de guerra colossal de cabeça única, forjado de ferro negro e cravejado com runas de impacto que brilhavam com um vermelho sombrio.
A gargalhada dele era mais estridente que o ruído da batalha.
"Hahaha!!! Isso é que é diversão!" "Onde está o próximo chefe de matilha, Irmão?!"
Seu grito foi captado por um artefato de comunicação sônico incrustado em seu elmo,uma fina agulha de cristal que vibrava com a voz de Kao Khan, do alto de sua montaria alada.
"Setenta metros a leste, Irmão". "Comandante de infantaria, armadura de oficial de obsidiana, tentando reorganizar a linha quebrada". "Coordenadas: Marca de Fumaça Carmesim".
A visão de Kao Khan, lá do alto, era a de um tabuleiro de xadrez sangrento. Seus cavaleiros de besta alada "Os Falcões de Jade"não atacavam.
Eles pairaram, mapeando, identificando alvos de valor e transmitindo suas posições através de espelhos de sinalização e do artefato no elmo de Shou. Kao Khan era a mente, Shou Khan, o punho.
Shou Khan rugiu de satisfação e saltou. Não era um salto gracioso, era um lançamento balístico de seu corpo massivo. Ele cruzou os setenta metros como um meteoro, aterrissando com outro estrondo que fez o chão tremer.
O comandante de infantaria, de armadura de obsidiana, mal teve tempo de erguer sua espada antes que O Esmagador de Montanhas descesse em um arco devastador. O golpe não cortou; ele pulverizou. A armadura, o corpo, a espada ;tudo foi reduzido a uma mistura ensanguentada e informe contra o solo.
"Fracos!" "Vocês são como porcos no abatedouro!" "Hahaha!!"
Guerreiros próximos, impulsionados pelo desespero e pela lealdade, investiram contra ele com lanças. As pontas encontraram sua pesada armadura e se estilhaçaram ou se entortaram sem deixar mais que arranhões.
Shou Khan girou seu corpo com uma agilidade assustadora para seu tamanho. A cabeça do martelo gigante descreveu um círculo perfeito. O impacto não desmembrou; esmagou, transformando ossos em pó e carne em pasta.
Cinco guerreiros foram ceifados em um único movimento.Enquanto isso, Kao Khan desceu de sua montaria. Ele era um fantasma; movendo-se com passos silenciosos entre o caos, seus dedos lançavam "Os Ferrões da Víborra",agulhas finíssimas de metal negro encharcadas em um veneno neuroparalisante de ação rápida. Ele não mirava em torsos ou cabeças.
Seus alvos eram as pequenas fendas nas juntas dos cotovelos, axilas, pescoço e visores dos elmos.
Uma alfinetada quase indolor, e o guerreiro inimigo caía alguns segundos depois, o corpo rígido, sufocando silenciosamente enquanto seu próprio destacamento avançava sobre ele. Dezenas caíam assim, suas mortes quase invisíveis no tumulto geral.
"Irmão, recue!" "Meu novo brinquedo chegando na sua posição". "Três... dois..."
A voz calma de Kao Khan ecoou no elmo de Shou. O gigante riu mais uma vez e deu um salto para trás, criando distância.
"...Um."
Uma sequência de explosões sincronizadas—BOOM! BOOM! BOOM!—rompeu exatamente onde Shou Khan estivera momentos antes.
Eram os "Ovos de Serpente" de Kao Khan—pequenos geodos de cristal de Qi instável, inscritos com runas de detonação retardada e plantados por seus agentes durante a confusão inicial.
A detonação não era de fogo, mas de força de Qi pura e concussiva, projetando estilhaços de cristal afiados que penetravam até as armaduras mais resistentes.
Uma fileira inteira de lançeiros foi obliterada, abrindo um buraco gigantesco nas defesas.
Sem seus comandantes, desmoralizados pela brutalidade de um irmão e paralisados pela precisão mortal do outro, os guerreiros do Demônio Marcial ficaram à mercê da própria sorte. A linha de frente desmoronou.
Os soldados da Nação do Deus Marcial, vendo a brecha e liderados pelo exemplo aterrorizante dos Khans, avançaram com renovado vigor, inundando o espaço que os irmãos haviam aberto com sangue e ferro.
Aniquilar o inimigo era o objetivo. E naquele dia, os irmãos Khan eram os instrumentos mais eficientes e aterrorizantes dessa aniquilação, uma sinfonia de brutalidade e inteligência composta para o apocalipse.
Chapter 12: A Colheita da Morte e a Dança do Carrasco.
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Um silêncio pesado e antinatural sucedeu a fúria inicial da batalha. Não era a paz, mas a calmaria grotesca que precede uma tempestade ainda pior. Então, começou.
Uma névoa baixa e pútrida, que não era vapor d'água, mas a própria essência da morte condensada, começou a levantar-se dos corpos espalhados no campo.
Milhares de cadáveres, de ambos os lados, exalavam seu último suspiro de Qi vital, mas em vez de se dissipar na natureza, ele era torcido, corrompido e sugado em direção ao coração de Noite Umbra como um rio negro e spectral.
O ar ficou gelado e o cheiro de ferrugem e carne podre tornou-se sufocante.
No centro de comando móvel da Nação do Deus Marcial, Lao Tiang estremeceu. Seus olhos, que testemunharam milênios, arregalaram-se de horror puro.
"Meu soberano! Sente isso?" "Sua voz era um fio de angústia, algo raro no venerável Grão-Mestre".
"O Qi... ele está sendo revertido!" "Violado!"
"Eles não estão apenas drenando a energia; estão profanando a própria passagem para o além, transformando o descanso final em essência para alimentar seu trunfo nessa guerra!"
Jin Shakan, impávido, mas com uma ruga de profunda repulsa em sua testa, observou o rio de energia necrótica fluir.
Ele podia ouvir,não com os ouvidos, mas com sua alma,os ecos de gritos silenciosos, de almas aprisionadas e torturadas, sendo arrastadas de volta ao mundo físico para alimentar a ambição do tirano.
"Hanshin cruzou um limite do qual não há retorno." Disse o Imperador, sua voz grave como o rolar de um tambor fúnebre.
"Ele não é mais um cultivador; é um necromante, uma doença nesse mundo!"
Do outro lado do campo, no topo de uma torre de observação negra, o General Liu Xiu observava o mesmo fenômeno. Um sorriso fino e cruel cortou seu rosto frio.
Ele se virou para Hanshin, que permanecia em seu trono de energia, absorvendo o fluxo mórbido.
"Meu Imperador." Disse Liu Xiu, sua voz um sibilo metálico.
"O inimigo avança com nossa própria força vital roubada. Nossos mortos se levantam contra nós em espírito. Permita-me ir pessoalmente?"
"Deixe-me mostrar ao velho Jin e a seu Grão-Mestre o verdadeiro significado de terror."
"Iguálarei as fileiras deles... com seus próprios cadáveres."
Hanshin, com os olhos fechados, absorvendo o poder profano, acenou lentamente.
"Faça-os sangrar, General." "Faça-os lembrar por que temem a sombra de nossa bandeira."
Liu Xiu não voou; ele disparou. Um estampido sônico marcou sua partida, deixando para trás apenas ar rarefeito. Sua primeira parada não foi no chão, mas no ar, ao lado de dois generais do Deus Marcial que coordenavam a artilharia de bestas de cerco.
Eles nem o viram chegar.
"Maken #7: Voz da Discórdia Interna!"
Sussurros caóticos invadiram suas mentes.Por um breve instante, cada um viu o outro como um demônio horrendo. Um deles, em pânico, girou e desferiu um golpe contra o outro.
No momento de confusão, Liu Xiu apareceu entre eles, suas mãos vestidas com luvas de aço sombrio,atingindo suas gargantas com a precisão de um açougueiro, esmagando o pomo de adão e a coluna vertebral com um único movimento rápido.
Seus corpos caíram da plataforma.
Ele então mergulhou em direção ao solo, onde três bestas de cerco gigantescas, energizadas por cristais de Qi, lançavam projéteis devastadores contra as muralhas de Noite Umbra.
"Haken #4: Explosão Carmesim!"
Ele não conjurou uma esfera.Ele tocou o cristal de Qi de cada besta com a ponta do dedo, implantando uma minúscula semente de energia instável.
Três explosões simultâneas silenciosas e intensas vaporizaram as bestas e suas equipes.
No segundo seguinte, ele aterrissou como um falcão entre uma falange de defensores de armadura pesada.
"Baken #10: Tumba de Cristal Sônico!"
Ele não gritou o feitiço.Ele sussurrou. Um único, agudo e inaudível som, sintonizado com a frequência ressonante do metal e da carne. O efeito foi instantâneo e horripilante.
Os guerreiros, no meio de um grito de guerra, simplesmente se vitrificaram. Suas armaduras, corpos e armas transformaram-se em estátuas de cristal translúcido e frágil, suas expressões de fúria congeladas para sempre.
Liu Xiu não parou. Ele avançou em um redemoinho através da fileira de estátuas, seus movimentos tão rápidos que foram apenas um borrão.
O que restou para trás não foram corpos, mas uma nuvem de pó de cristal fino e colorido de vermelho sangue,os restos pulverizados de dezenas de homens.
Pousando suavemente em frente ao próximo destacamento inimigo, que recuava em horror, Liu Xiu ergueu a mão. Os fragmentos maiores de cristal—pedaços de pernas, braços, elmos— flutuaram pairarando no ar acima dele, girando lentamente como uma constelação macabra.
"Aqui está a vossa glória!" Sua voz cortou o barulho da batalha como uma lâmina. "Comam dela!"
Com um gesto brusco de sua mão, a chuva de cristal afiado caiu. Não era um ataque para matar; era para desmembrar e aterrorizar.
Homens gritaram enquanto seus membros eram decepados, suas armaduras eram furadas, seus rostos eram desfigurados por estilhaços que haviam sido seus companheiros momentos antes.
Uma clareira de carnificina e agonia pura se abriu nas fileiras do Deus Marcial.
Liu Xiu então voou com outro estampido sônico, reaparecendo no alto, acima de um general inimigo que tentava, em vão, conter o pânico. Liu Xiu caiu como um meteoro, seus pés conectando-se com os ombros do homem com força esmagadora.
BUUMMMM!!!
O impacto não só matou o general; ele o enterrou até o torso no solo, sua cabeça esmagada entre seus próprios ombros como um fruto maduro.
"Vocês se intitulam generais?" "São apenas gado, esperando o abate."
Quatorze guerreiros de elite da Guarda do Amanhecer, reconhecendo a ameaça existencial, romperam das fileiras. Seus elmos eram adornados com penas de ave solar, e suas armaduras brilhavam com runas de purificação.
Eles cercaram Liu Xiu, suas lanças e espadas formando uma gaiola mortal de aço e luz. Eles se moveram com a sincronia perfeita de quem treinou a vida toda para isso.
Liu Xiu, pela primeira vez, parou. Ele desviou de uma lança, bloqueou uma espada com seu bracelete, e recebeu um golpe de outra espada nas costas—que foi desviado por sua armadura, mas não sem deixar uma marca profunda.
A investida foi feroz, coordenada. Então, uma lança astuta, lançada de trás do cerco, não o atingiu, mas transpassou a perna do guerreiro à sua frente para chegar à sua coxa, rasgando a armadura e o tecido muscular.
Liu Xiu olhou para o ferimento, depois para o homem que o golpeara. Um brilho de respeito perverso acendeu em seus olhos.
"Bela manobra!" Ele cuspiu, ignorando o sangue que agora escorria por sua perna.
Então, ele se endireitou. A aura ao seu redor mudou. O ar pesou. Ele levantou a voz. Ele simplesmente gritou, e as palavras não foram ouvidas com os ouvidos, mas impressas diretamente nas almas dos quatorze guerreiros.
"DE JOELHOS!"
Era a Sentença Amaldiçoada dos Liu, um feitiço de maldição de 9°nível de poder ancestral. Não era uma ordem; era um decreto da realidade que se aplicava especificamente a eles.
Seus joelhos fraquejaram não por fraqueza muscular, mas porque a própria estrutura de seus ossos, a contração de seus tendões e o fluxo de seu Qi foram reescritos para obedecer.
Um a um, com grunhidos de puro terror e esforço impotente, os quatorze heróis da Guarda do Amanhecer foram forçados a se ajoelhar no chão ensanguentado, tremendo incontrolavelmente, suas armas caindo de mãos inertes.
Liu Xiu caminhou lentamente entre eles, seu olhar frio percorrendo cada rosto distorcido pelo pavor e pela vergonha.
"SEUS CÃES!!"
A segunda palavra foi o gatilho. Liu xiu puxou fios invisíveis ,fechando sua mão. não houve som de metal. A cabeça de cada guerreiro simplesmente... se separou do corpo, rolando no chão lamacento como frutos podres cortados por uma faca invisível.
Quatorze jatos de sangue jorraram ao céu em um macabro tributo, e então os corpos desabaram, inertes, aos pés de Liu Xiu.
O General Comandante ficou de pé no meio do anel de morte silenciosa, respirando levemente, seu ferimento latejante.
A mensagem estava enviada. A retaliação necrótica de Hanshin tinha seu campeão, e seu nome era terror.
Chapter 13: A Fome da Tartaruga e o Silêncio da Serpente.
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Um silêncio pesado pairou sobre o campo de batalha, quebrado apenas pelos gemidos dos moribundos e pelo zumbido sinistro da energia necrótica que ainda fluía para Noite Umbra.
Liu Xiu, ainda com o gosto metálico do sangue inimigo na boca e o latejar do ferimento na coxa, recebeu a ordem mental como um choque gelado uma pressão urgente e inquestionável na sua mente, emanando do próprio soberano.
Sem hesitar, ele se transformou em um borrão sombrio, deixando para trás a carnificina que havia criado. Seu voo de retorno foi uma linha reta e violenta através do céu, o estrondo sônico um lamento fúnebre para os que morriam abaixo.
Ao se aproximar dos muros negros da capital, uma visão aterrorizante o aguardava. Hanshin Dokko pairava sobre a agulha mais alta do Palácio das Lágrimas de Sangue, não como um homem, mas como um núcleo de escuridão palpável. Ao seu redor, o ar distorcia e aquele rio de energia morta de todo o campo de batalha convergia para ele, sendo tecido em algo monstruoso.
"Meu soberano?" "Qual é o seu comando?"
Liu Xiu sussurrou, aterrissando em uma varanda próxima e curvando-se, sua lealdade inabalável mesmo diante daquele espetáculo de horror.
Hanshin nem sequer olhou para ele. Seus olhos, poças de escuridão estelar, estavam fixos na barreira de energia que circundava a cidade. Um sorriso glacial cortou seu rosto.
"A Tartaruga se alimentou". "Está saciada". "Agora... deve crescer".
Suas mãos se moveram, tecendo selos complexos e antigos. A cada movimento, runas sangrentas e negras queimavam-se momentaneamente no ar ao seu redor antes de se dissiparem.
"Baken #12 Formação Defensiva": "Carapaça da Tartaruga Negra Faminta!".
E então, ele proferiu a sentença final, um decreto que ecoou não como som, mas como uma onda de desespero na alma de todos os presentes:
"Maken #11: Necrópole Amaldiçoada!"
O efeito foi imediato e apocalíptico. A barreira de energia que protegia Noite Umbra, antes um domo estático, moveu-se. Ela não se expandiu suavemente; ela avançou como uma maré negra e viscosa, rolando sobre o terreno e engolfando tudo em seu caminho.
"Meu soberano está usando dois feitiços de alto nível ao mesmo tempo....esplêndido!" Liu Xiu sussurrou ficando sem ação.
Os soldados do Demônio Marcial que estavam nos arredores foram os primeiros a ser atingidos. A escuridão os envolveu, e em vez de machucá-los, infundiu-se neles.
Seus olhos brilharam com uma luz vermelha e animalesca. Um rugido coletivo de fúria pura e descontrolada ergueu-se deles.
Sua força física aumentou drasticamente, seus músculos inchando sob as armaduras, mas sua racionalidade foi obliterada.
Eles se voltaram para os soldados inimigos mais próximos os feridos, os retardatários e os atacaram com uma brutalidade bestial, não para matar, mas para despedaçar e se banhar no sangue.
Cada morte, cada fragmento de vida extinta, alimentava a maré negra, fazendo-a avançar mais rápido, mais alto, mais faminta.
Ela não parou. A maré de escuridão rolou sobre o campo de batalha, engolindo o acampamento do exército do Deus Marcial.
Dentro da barreira móvel, era o inferno na terra. Guerreiros do Deus Marcial eram puxados para o chão negro e absorvidos, seus corpos definhando em segundos, sua energia vital drenada para alimentar a formação.
Outros eram atacados por seus antigos companheiros, agora transformados em criaturas frenéticas e amaldiçoadas. O ar era espesso com o cheiro de ferro, morte e podridão espiritual.
Jin Shakan e Lao Tiang elevaram-se no ar, pairando acima da maré de escuridão. Pela primeira vez, uma expressão de horror cru e pura repulsa cruzou o rosto impávido do Imperador. Lao Tiang estava pálido, suas mãos tremiam levemente.
"Meu soberano!" "Estamos perdendo centenas a cada instante! Esta abominação... ela se alimenta de nossa própria força!"
O grito de Lao Tiang era de angústia pura.
Jin Shakan fechou os olhos por um breve momento, não em desespero, mas em concentração profunda. Quando os abriu, a seriedade havia sido substituída por uma frieza absoluta.
"A hora da retaliação chegou, velho amigo".Disse Jin, sua voz calma, mas cortante como uma lâmina de gelo.
"Ele é poderoso, mas arrogante." "Uma formação desta magnitude e complexidade não pode ser sustentada por sua vontade apenas." "Deve haver âncoras." "Pilares que sustentam este pesadelo".
Lao Tiang entendeu imediatamente. Era um pedido de seu Imperador, mas também uma ordem.
Ele assentiu, fechando os olhos. Suas mãos, escondidas nas mangas largas de seu robe, começaram a tecer uma sequência de selos tão complexa e rápida que pareciam um borrão. Um brilho dourado e suave emanou de sua testa.
"Sentido Místico Dourado"-"Visão do Coração do Mundo!"
A consciência de Lao Tiang expandiu-se como um tsunami, varrendo todo o território da Nação do Demônio Marcial.
Seu corpo ficou rígido no ar, totalmente vulnerável, Jin Shakan moveu-se instintivamente, posicionando-se ao lado do Grão-Mestre, sua própria aura tornando-se uma barreira protetora ao redor de ambos. Ele sabia que se fossem atacados agora, Lao Tiang poderia sofrer danos espirituais irreparáveis.
A mente de Lao Tiang voou sobre montanhas, rios e cidades. Ele sentiu a dor da terra, o fluxo de energia corrompida e, então, encontrou o que procurava quatro pontos de poder obscuro, distantes e bem guardados, pulsando em uníssono com a formação principal.
Quatro obeliscos de obsidiana negra, cada um tão alto quanto uma torre de fortaleza, cravejados com runas pulsantes e protegidos por contingentes de soldados e mestres de formação.
Ele retornou a si mesmo ofegante, quase caindo do céu. Com um último esforço, ele projetou a localização exata e a imagem mental dos quatro obeliscos diretamente na mente de Jin Shakan.
"Quatro âncoras, meu soberano!" "Norte, Sul, Leste, Oeste. Estão... muito distantes". "Fora do alcance de qualquer exército..."
Lao Tiang arfou, sua voz fraca.
Jin Shakan colocou uma mão calmamente no ombro do amigo, transferindo uma suave onda de Qi para estabilizá-lo.
"Não se preocupe, Tiang". "Algumas serpentes não precisam viajar para caçar sua presa".
Jin fechou os olhos. A Lágrima Dragônica em seu peito, brilhou timidamente uma centelha de poder sendo invocada.
Ele não a usou para um golpe espetacular, mas para um feito de precisão e economia de escala no auxílio de conjurar um feitiço quádruplo.
Ele sussurrou, quase um pensamento:
"Maximização de Feitiço!"
"Haken #8: Vácuo da Serpente Silenciosa!"
Quatro pequenas esferas de pura escuridão, do tamanho de bolas de gude, materializaram-se diante dele. Elas não emitiram som, luz ou energia detectável. Eram a pura negação do espaço. Com um pensamento, Jin as enviou.
Elas não voaram; simplesmente deixaram de existir em sua localização e reapareceram instantaneamente nos locais exatos que Lao Tiang havia marcado, pairando a centímetros dos quatro obeliscos.
Para os guardas que os protegiam, não houve aviso. Não houve clarão ou rugido. Apenas um súbito e absoluto silêncio, seguido pela violência mais pura. As esferas de vácuo implodiram.
A implosão não foi de ar, mas de espaço. Cada obelisco, junto com dezenas de metros de terra, rocha, soldados e mestres de formação, foi simplesmente comprimido em um ponto de matéria infinitamente denso que, então, colapsou sobre si mesmo e desapareceu, deixando para trás apenas crateras perfeitamente esféricas e lisas no solo.
No campo de batalha, a maré negra da Necrópole Amaldiçoada estremeceu violentamente. Rachaduras luminosas cortaram sua superfície.
Os soldados amaldiçoados gritaram em agonia unisonal, caindo de joelhos enquanto a energia maligna que os possuía era violentamente expelida.
Então, como um castelo de cartas, a formação colossal desmoronou, dissipando-se no ar como fumaça negra, deixando para trás um silêncio pesado e o cheiro de ozônio e cinzas.
A escuridão nos olhos dos soldados sobreviventes se foi, substituída por confusão e exaustão profunda.
De sua torre, um rugido de fúria absoluta e incredulidade rompeu o silêncio.
"JIN SHAKAN!" "MALDITO!"" COMO VOCÊ OUSOU?!"
A voz de Hanshin Dokko era um vendaval de ódio puro. Pela primeira vez, havia uma nota de choque genuíno nele. Sua obra-prima profana, sua arma final, fora desfeita não por um exército, mas por um único homem agindo com precisão cirúrgica a centenas de quilômetros de distância.
A escuridão ao redor de Hanshin fervilhou violentamente. A maré de energia necrótica que fluía para ele foi severamente reduzida, mas não totalmente interrompida. Ele ainda era um deus ferido e enfurecido.
O campo de batalha estava em ruínas. A formação, quebrada. Os exércitos, dizimados e exaustos.
Agora, finalmente, não restava nada entre eles. A batalha dos impérios havia terminado. A batalha pessoal entre dois imperadores, dois ideais, duas vontades quase divinas, estava prestes a começar.
O ar entre eles pareceu cristalizar, carregado com a promessa de violência absoluta.
Chapter 14: O Pedido e o Acerto de Contas.
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O silêncio que se seguiu à devastadora maré necrótica era mais aterrorizante que o próprio cataclisma.
A paisagem estava reduzida a um campo carbonizado e fumegante, pontilhado por formas indistintas que outrora foram guerreiros.
No epicentro da destruição, os dois Imperadores se encaravam, suas auras colidindo em uma tensão quase palpável, um prelúdio silencioso para o duelo divino.
Foi nesse vácuo de som que a voz de Liu Xiu cortou o ar, carregada de um ódio antigo e focado.
"APAREÇAM MALDITOS KHAN!!!!"
Como se respondendo a um chamado sombrio, Kao Khan materializou-se de uma sombra distorcida projetada por uma pilha de cadáveres, sua capa cinza imaculada, seus olhos frios calculando cada movimento.
Quase simultaneamente, com um rugido de raiva e dor, Shou Khan empurrou o corpo irreconhecível de sua besta de guerra, que tomara a maré necrótica por ele.
Ele surgiu de debaixo da carcaça, sua armadura de ametista escurecida pela água negra, seu rosto uma máscara de pura fúria.
"Meu Soberano," Liu Xiu falou, sem tirar os olhos de suas presas, sua voz um sibilo contido.
"Minhas habilidades seriam um estorvo em sua batalha contra Jin". "Durante este tempo... permita-me cuidar deste lixo antigo".
Hanshin nem sequer olhou para trás, sua atenção totalmente fixa em Jin Shakan.
"Faça como quiser, General". "Apenas certifique-se de que não sobrem pedaços para enterrar."
A ordem mal havia ecoado e Liu Xiu já havia se movido. O General disparou em voo. Ele fechou a distância instantaneamente, sua mão vestida com manoplas de mithril escuro agarrou Shou Khan pela garganta com um estalo seco que ecoou pelo ar.
Sem hesitar, ele se lançou para frente, arrastando o gigante como um brinquedo, voando em alta velocidade para longe do campo de batalha principal, em direção às Planícies.
Kao Khan não perdeu tempo. Um assobio agudo ecoou, e de trás de uma formação rochosa, sua própria besta alada, um raptor de penas escuras e olhos vermelhos, mergulhou.
Kao montou-a em pleno movimento e partiu no encalço, uma sombra determinada a proteger seu irmão.
Jin Shakan não moveu um músculo, mas Lao Tiang ao seu lado soltou um suspiro quase imperceptível.
"Não vai ajudar seus pupilos, antigo Grão-Mestre Assassino da extinta Nação do Fogo Marcial?" Hanshin zombou, um sorriso cruel estampando seu rosto.
Lao Tiang fitou o horizonte onde os três haviam desaparecido.
"Aquele tirano morreu há muito tempo, enterrado com suas vítimas". "E eles não são mais pupilos". "São guerreiros forjados no aço de mil batalhas".
Ele ergueu a cabeça, com uma calma inquebrantável.
"E eu acredito neles".
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Planícies das Bestas Gigantes - Leste da Nação do Demônio Marcial
BOOM!!
Um estrondo abalou as planícies quando Liu Xiu arremessou Shou Khan no solo como um meteorito, esmagando a terra e formando uma cratera de dez metros de diâmetro. A poeira levantou como uma cortina.
Quando a nuvem baixou, revelou Liu Xiu de pé na borda da cratera, impecável, e Shou Khan no fundo, enterrado até os ombros no solo fissurado.
O gigante cuspiu um dente quebrado junto com sangue, limpando o canto da boca com o dorso da luva.
"General Xiu," Shou Khan cuspiu o nome, sua voz um rosnado grave.
"Continua um covarde brutal como sempre!"
"Economizo minha honra para aqueles que a merecem, verme!" Liu Xiu retrucou, sua voz gelada.
"Agradeço, no entanto". "Essa é a oportunidade dourada para enfrentar o 'Carrasco' que destruiu minha terra, massacrou meu povo e escravizou os sobreviventes para saquear até a última migalha de nossas minas de cristais de Qi". Shou disse serrando os dentes.
"Então estamos diante da mesma oportunidade, General Shou! " zombou Xiu.
"Eu quero terminar o que comecei há mil e duzentos anos". "Exterminar os últimos descendentes da linhagem de vermes que comandavam a Nação do Fogo Marcial!"
Shou Khan se libertou do solo com uma explosão de terra, erguendo-se em toda sua altura titânica. Sua aura de pura força física começou a distorcer o ar ao seu redor.
A atmosfera entre eles ficou pesada, o ar tremeu com a fúria liberada. Shou Khan moveu-se primeiro. Não com agilidade, mas com puro poder cinético.
Seu pé esmagou o chão, propelindo-o para frente com força devastadora. Seu punho, capaz de nivelar uma montanha, foi direto para o rosto de Liu Xiu.
O punho passou, mas não houve impacto. Liu Xiu simplesmente não estava mais lá. Ele havia se movido com uma velocidade sobrenatural, aparecendo ao flanco de Shou.
Seu pé, carregado com Qi, chutou o tendão de Aquiles do gigante com um estalo nítido e cruel que fez o gigante cambalear.
No mesmo movimento fluido, sua mão agarrou o rosto de Shou e, com uma força titânica, esmagou-o de volta no chão com um impacto que fez a planície estremecer, rachando a terra ao redor.
Liu Xiu pôs o pé sobre a cabeça de Shou, tentando esmagá-la contra as rochas.
"Sua força bestial sempre foi previsível, Khan!" "Bruta, mas sua arte é pouco refinada".
Shou, porém, não parou. Mesmo com a perna lesionada e a cabeça presa, seu instinto de lutador era primordial.
Com um urro de dor e raiva, ele torceu seu corpo de um ângulo impossível e chutou para cima com a perna boa, um golpe de desespero que atingiu Liu Xiu no peito com força suficiente para estilhaçar rochas.
O impacto arremessou Liu para trás, quebrando sua postura arrogante.
Liu Xiu recuperou o equilíbrio no ar, aterrissando suavemente a alguns metros de distância. Um leve sorriso cruel tocou seus lábios.
"Assim está melhor!" Ele sacou sua espada de aço escuro, a lâmina sussurrando sede de sangue ao ser empunhada.
Shou Khan levantou-se, sacando seu martelo de guerra de 100 quilos de seu anel dimensional como se fosse um graveto. Ignorou a dor latejante na perna.
Ele avançou de novo, mas desta vez seu ataque foi uma cortina de golpes esmagadores, cada um capaz de pulverizar osso e aço. Liu Xiu esquivava-se com movimentos mínimos e elegantes, seus calcanhares mal tocando o chão.
BOOM!! Um golpe errou e criou outra cratera no solo.
Foi a abertura que Liu Xiu esperava. Ele se projetou para a frente, sua espada um raio negro visando a axila exposta de Shou, um ponto fraco na armadura. A lâmina estava a centímetros de perfurar carne e osso quando…
Shiiink!
Três agulhas de aço, lançadas com precisão cirúrgica, silvaram em direção aos olhos e à jugular de Liu Xiu. A investida mortal do General parou abruptamente.
Ele girou sua espada, desviando duas das agulhas, e inclinou a cabeça para evitar a terceira, que passou raspando em seu elmo.
Kao Khan havia chegado. Ele estava agachado no alto de uma rocha, sua besta alada já dispensada. Em suas mãos, mais agulhas brilhavam sob a luz fraca, e seus olhos frios calculavam cada variável.
Sem perder um segundo, Kao arremessou dois pequenos frascos de cristal que voaram em um arco perfeito.
Eles não foram em direção a Liu Xiu, mas em direção à cabeça de seu irmão. Os frascos se quebraram contra o elmo de Shou Khan, liberando um líquido âmbar brilhante e um vapor revitalizante que envolveu imediatamente o gigante ferido.
Eram poções - Bálsamo da Célula Viva e Maré de Vigor Recuperado. Instantaneamente, o sangramento de Shou estancou, o tendão lesionado se reparou parcialmente, e uma nova onda de energia percorreu seus músculos fadigados.
Seus olhos, antes turvos pela dor, brilharam novamente com foco assassino.
A batalha havia mudado. Um mestre assassino havia chegado ao campo de batalha.
Liu Xiu observou a recuperação de seu oponente, e pela primeira vez, um sorriso largo e genuíno de antecipação surgiu em seu rosto, seus olhos faiscando com um prazer sádico.
"Finalmente!" Ele sussurrou, ajustando o punho de sua espada.
"Agora ficou realmente interessante".
Chapter 15: Maldição da Vingança.
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O sorriso de Liu Xiu era uma fenda cruel em seu rosto demoníaco. A chegada de Kao Khan não o preocupava; apenas o incitava.
Era a oportunidade de exterminar os dois últimos descendentes significativos da linhagem que ele tanto desprezava.
Shou Khan, ignorando dor da lesão recem tratada em sua perna, rugiu e avançou novamente. Seu martelo de aço negro desceu como um raio, mas desta vez não foi um golpe cego.
Foi uma cortina de terra e poeira, uma distração massiva e barulhenta.
Kao Khan moveu-se em perfeita sincronia. Enquanto Shou atacava frontalmente, Kao desapareceu na contina, reaparecendo como uma sombra atrás de Liu Xiu.
Seus braços se moveram num borrão, lançando uma salva de agulhas envenenadas que silvaram em direção aos pontos fracos da armadura de mithril escuro– as juntas do pescoço, a parte de trás dos joelhos, as axilas.
Liu Xiu riu, um som seco e desdenhoso. Sua espada de aço negro dançou, desviando o golpe esmagador de Shou com um clarão de fagulhas, enquanto executou um feitiço.
"Reiken #7 Pulso do Vácuo Dissipador!"
Uma onda de energia pura pulsou de seu corpo,desintegrando as agulhas de Kao no ar antes que pudessem atingi-lo. A perfeição do feitiço executado por um especialista.
"Patético!" Liu Xiu cuspiu, usando o momento para chutar o torso de Shou, fazendo o gigante recuar alguns passos com um grunhido.
Mas os irmãos não se abalaram. Eles se recomporam com uma sincronia nascida de uma vida inteira de batalhas lado a lado. Shou avançou novamente, seus golpes agora brutais, porém calculados, forçando Liu Xiu a se defender, a gastar energia.
Cada impacto do martelo de cem quilos contra a espada do general fazia os ossos de Liu Xiu tremerem, mesmo bloqueando.
Kao, por sua vez, havia mudado de tática. Ele não lançava mais agulhas, mas sim pequenos artefatos—"Os Orbes Diabólicos"—e fechado em seu núcleo uma inscrição de feitiço de 2° nível alimentada por um fragmento de cristal de Qi.
Que criavam paredes de fogo efêmeras, geadas repentinas e campos de eletricidade estática no terreno, não podiam ferir um Imperador Marcial de qualquer forma, mas podiam restringir os movimentos de Liu Xiu e forçando-o a uma defensiva constante, corroendo sua paciência.
A frustração começou a ferver dentro de Liu Xiu. Este não era o duelo de vingança que ele imaginara—um embate de habilidades superiores.
Era uma operação de cerco, uma perseguição cansativa executada por insetos teimosos que se recusavam a morrer.
"Chega disto!" "Seus vermes!" Ele rugiu, sua paciência se esgotando. Ele abriu a boca, e o ar ao seu redor pareceu se solidificar com a intenção maligna de seu poder. Ele estava preparando sua sentença.
"MORRAM SUAS PRAG..."
O comando mal havia começado a sair de seus lábios quando Kao Khan, antecipando-se completamente, arremessou um pequeno globo metálico aos pés de Liu Xiu. Não era um ataque mortal, mas um artefato de explosão sônica.
--BAMMM! ZIIIIMMM!--
Uma onda de som puro, ensurdecedora e desorientadora, explodiu no local. O ruído não causou dano físico, mas foi suficiente para interromper a concentração necessária para o feitiço de maldição.
Liu Xiu, instintivamente, cobriu os ouvidos com as mãos, um breve momento de vulnerabilidade.
Foi o único instante que Shou precisou.
Com um urro que vinha das profundezas de sua alma, Shou Khan ignorou toda a dor e investiu. Ele abandonou seu martelo, não havia espaço suficiente para usar, então num movimento surpreendentemente ágil para seu tamanho, agarrou Liu Xiu por trás, envolvendo-o em um abraço de urso titânico.
Seus braços, como correntes de aço, cerraram-se em volta do torso e do pescoço do general, as runas de ametista de sua armadura brilhando intensamente enquanto canalizava toda a sua força física monstruosa para imobilizar o inimigo.
"AGORA, IRMÃO!!!" Shou gritou, suspendendo o general do chão que rosnava irado, seu corpo trancando o de Liu Xiu.
E Kao estava lá, não com uma agulha, mas com uma adaga que ele materializou de seu anel dimensional.
A lâmina não era de metal, mas de cristal puro, e dentro dela pulsava um líquido vermelho escuro e coagulado – o último e mais precioso trunfo de Kao, uma pequena fração do 'Veneno Ancestral' que ele estava guardando para aquele encontro.
"ISSO É PRA VOCÊ CARRASCO!!" Kao Khan gritou.
Liu Xiu, preso pelo abraço desesperado de Shou, viu a adaga se aproximar. Seus olhos se arregalaram de raiva pura, não de medo. Então Shou sentiu algo restrigindo seu corpo.
Xiu havia amarrado o gigante com seus fios de Qi por dentro da armadura do titã. Estrangulando-o até que o esforço fez Shou vomitar sangue, a força do abraço fraquejou.
Liu Xiu quebrou a constrição do abraço do gigante e, no mesmo movimento fluido, suas mãos agarraram a garganta de Kao Khan com velocidade predatória.
Kao sentiu a pressão esmagadora imediatamente. Seus ossos do pescoço rangeram. A visão começou a escurecer. Ele via Liu Xiu de frente, seus olhos cheios de ódio triunfante.
Em um último, desesperado e heróico ato de vontade, Kao usou o pouco de consciência que lhe restava. Ele não tentou se soltar. Em vez disso, ele investiu com toda a força que tinha para a frente, impulsionando a adaga.
"MORRAAAA!!!" Kao gritou sufocado em agonia.
A lâmina encontrou a pequena fresta entre o ombro e o peitoral da armadura de Liu Xiu, penetrando profundamente. O cristal se quebrou, liberando o veneno ancestral diretamente na corrente sanguínea do general.
Um grito de fúria amaldiçoando seu rival, diferente de tudo o que ele havia emitido antes, escapou de Liu Xiu.
"MALDITO VERMEEEE!!!"
Sua expressão de triunfo se transformou em uma máscara de choque e dor. Veias negras surgiram em seu rosto, sangue escuro corrompido desceu de seus olhos.
A força fugiu de seus membros e Xiu caiu de joelhos, arrastando Kao Khan consigo.
Os dois irmãos, Shou dilarado por fios de Qi inquebráveis e Kao com a garganta esmagada, desaba ajoelhado com seu inimigo, três poderosos generais encontrando seu fim.
Por um momento, só se ouviu o som da respiração ofegante e agonizante acalmando e cessando.
"Huff,Huff,huff....."
Restava apenas o vento que uivava entre as pedras e então, uma figura se materializou, flutuando alguns metros acima deles.
Era Liu Xiu.
O corpo de Liu Xiu que estava no chão, com a adaga cravada, começou a se dissolver como fumaça, uma ilusão perfeita dissipando-se. Revelando uma verdade cruel.
Liu Xiu olhava para baixo, para os dois irmãos Khan ajoelhados frente a frente,mortos – Shou, que estrangulara seu irmão com as próprias mãos.
Kao, que apunhalou e envenenou seu irmão, ambos vítimas de seus últimos esforços desesperados, sob o efeito de um feitiço de ilusão que havia começado no momento em que ele os chamara para a batalha.
"Vocês foram patéticos! " Disse Liu Xiu, sua voz carregada de um desprezo amargo e cruel.
"Meu mestre ordenou que não restasse pedaços pra enterrar".
"Haken #4 Explosão Carmesim! "
Após declarar o feitiço uma minúscula faísca flutuou na palma da mão direita de Liu Xiu, que foi encapsulada por uma pequena esfera.
Uma esfera translúcida do tamanho de um punho se formou engolfando a menor. O Qi fluía da mão de Liu Xiu pra dentro da esfera maior, se transformando, transmutando o Qi em um líquido vermelho vivo e reluzente.
O éter se materializou, enchendo a esfera maior até seu topo. Essa ação durou o tempo de uma respiração.
Então Liu Xiu a lançou de sua mão como um tiro.
A esfera maior quebrou derramando o éter líquido que se espalhou sobre os irmãos.
Quando a pequena esfera se partiu a Explosão Carmesim engoliu seus corpos com chamas vermelhas poderosas, consumindo carne e ossos, minutos depois dissiparam no ar; não restando nada que lembrasse os dois irmãos.
"Irmãos Khan... até mesmo vermes podem lutar como guerreiros".
"Essa é a distância intransponível entre um Reino do Caminho Marcial Imortal e um Imperador Marcial Imortal", sussurrou, para si mesmo.
Seu olhar voltou-se para o horizonte, onde a capital de sua nação começava a tremer sob o conflito dos verdadeiros titãs.
Ao longe, ele podia sentir a atmosfera em torno da capital se contorcendo, vortex de tempestades elétricas se formando no céu escuro. A energia liberada era avassaladora.
A batalha dos Imperadores estava começando de verdade. E Liu Xiu, tendo liquidado suas contas do passado, partiu em direção àquele turbilhão, pronto para servir a seu soberano no verdadeiro fim do mundo.
Chapter 16: O Sábio, O Gênio e O Prisioneiro.
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O ar sobre Noite Umbra havia cessado de ser respirável. Transformara-se em um caldo espesso, saturado pelas essências espirituais opostas dos dois Imperadores, um veneno para pulmões mortais.
O solo não tremia por terremotos, mas estremecia sob o peso das almas que se enfrentavam nos céus, cada tremor um eco de sua colisão iminente.
Nuvens negras nasciam e morriam em agonia, rasgadas por relâmpagos de Qi dourado e negativo que iluminavam brevemente os rostos, dos dois homens que decidiriam o destino de um mundo.
Jin Shakan, o Deus Marcial, era um farol de ordem imutável. Sua armadura de Orichalco brilhava com a luz fria e eterna das estrelas, e a Lágrima Dragônica em seu peito pulsava em uma cadência serena, como o coração do próprio mundo. Ele era a muralha contra o caos.
Hanshin Dokko, o Demônio Marcial, era o caos em pessoa. Sua aura era uma tempestade de fúria viva, um vendaval de dor e ódio que distorcia a luz ao seu redor.
A ferida envenenada em suas costas latejava, um lembrete doloroso e um convite à fúria.
"Sua ambição desmedida é a raiz de todo este sofrimento, demônio Hanshin!!"
A voz de Jin Shakan não era um grito, mas um julgamento, ecoando sobre o silêncio do campo de batalha.
"ENGULA SUAS MENTIRAS, VELHO JIN!"
O rugido de Hanshin foi uma lâmina de puro ódio.
"Parece que se esqueceu que foi a sua Nação
que forjou este demônio!?"
"Quando minha terra natal foi reduzida a cinzas, seu avô, o Rei Shakan, escravizou o que restou do meu povo nas minas de cristal de sangue!"
"Tudo para financiar a ascensão de seu neto!" "Você bebeu da prosperidade que brotou dos ossos da minha gente!"
Jin Shakan cerrou os punhos, e pela primeira vez em séculos, uma sombra de dúvida e dor genuína cruzou seu rosto impávido.
"Eu... vivi na ignorância. Os registros foram destruídos. Os culpados, foram punidos."
Sua voz foi um sussurro carregado do peso de uma culpa herdada.
"Punição? Suas desculpas são um insulto aos mortos!"
Hanshin cuspiu as palavras como veneno.
"A única expiação que aceito é o sua completa destruição!"
Jin Shakan respirou fundo, e quando exalou, toda a hesitação se foi.
"Então que assim seja!"
Nesse momento, Lao Tiang, a sombra leal de seu imperador, moveu-se.
"Meu soberano, permita-me ser seu escudo. Concentre seu poder no...."
A sentença não foi concluída. Hanshin não se moveu; o espaço entre ele e Lao Tiang se contraiu e depois se expandiu, e ele simplesmente estava lá, diante do Grão-Mestre, sua presença um pesadelo real.
"Você primeiro, velho hipócrita!"
Hanshin rugiu, e seu pé, envolto em uma aura que sugava a luz, chutou o torso de Lao Tiang que cuspiu sangue e despencou do céu com a força de um meteoro.
--BUMMM!!!--
O som não foi de um impacto, mas de uma desintegração localizada da realidade. Lao Tiang, um pilar de sabedoria e poder, foi arremessado como um brinquedo.
Seu corpo cortou o céu, quebrando a barreira do som e abrindo um caminho de devastação através dos distritos já arruinados de Noite Umbra, desaparecendo em uma nuvem de poeira e destroços.
Jin Shakan não gritou. Não vacilou.
Mas dentro de seu peito, uma frieza absoluta se formou. Sua ira transformou-se em uma determinação tão pura e afiada quanto uma lâmina. A batalha havia começado.
Os dois imperadores agora estavam próximos, tão próximos que as franjas de suas auras se tocavam, criando um campo de distorção visível onde o ar colapsava.
Então, Hanshin se moveu. Ele não se deslocou; foi como se o universo se dobrasse para colocá-lo exatamente atrás de Jin Shakan, um borrão de pura intenção assassina.
Jin, com uma calma que era a própria antítese do caos ao seu redor, nem sequer se virou. Seus lábios se moveram em um sussurro que ecoou como um trovão na realidade espiritual.
"Reiken #8: Cúpula Protetora Dourada!"
Uma cúpula semicircular de energia solar, cravejada com runas de defesa que giravam como constelações, encapsulou-o instantaneamente.
O punho de Hanshin, carregado com Qi destrutivo puro, atingiu o centro da barreira.
--BUUMMM!!--
A reverberação não foi um som, mas uma onda de força que se propagou pelo solo como um maremoto, fazendo a terra tremer a quilômetros de distância. A cúpula dourada tremeu, mas manteve-se firme, sua luz estavel sob o impacto.
Hanshin não se abalou. Pousou a mão aberta sobre a superfície da barreira, e seus olhos, poças de escuridão estelar, pareciam analisar a própria estrutura do feitiço. Sua mente, afiada por milênios de guerra e ódio, calculou em segundos.
"Preciso de força concussiva para romper a rigidez... e poder explosivo para aniquilar o que estiver dentro".
Sussurrou para si mesmo, um sorriso feroz e predador surgindo em seus lábios. Era uma genialidade terrível, a capacidade de desmontar uma defesa e planejar o contra-ataque no fluxo do combate.
Ele afastou a mão e, com um gesto súbito, apontou o dedo indicador diretamente para onde o coração de Jin batia, protegido pela barreira.
"Haken #7: Raio Carmesim!"
--BAMMM!!! ZUUMMM!!!--
Um pilar de energia carmesim, espesso e visceral como uma artéria rasgada do céu, irrompeu de seu dedo. Seu zumbido era o de um enxame de vespas demoníacas, um som que prometia não apenas morte, mas aniquilação.
O raio não se limitou a atingir a cúpula; ele a violou. A energia penetrante do 'Raio Branco' fundido criou uma brecha microscópica, e a força explosiva da 'Explosão Carmesim' amplificada explodiu de dentro para fora.
A Cúpula Dourada não se estilhaçou. Ela foi consumida, despedaçada em fragmentos de luz que se apagaram instantaneamente, junto com uma montanha ao sul da Nação do Demônio Marcial.
Mas Jin Shakan já não estava lá. Ele estava há cinquenta metros adiante. Mesmo assim, o ombro de sua armadura de Orichalco estava destruído, fumegando, e queimaduras leves marcavam seu rosto.
Seus olhos, porém, não refletiam dor física, mas uma incredulidade profunda e gelada.
"Um instante...", Jin pensou, sua mente processando o que testemunhara.
"Ele analisou minha defesa massiva em um instante". "E, na falta de um feitiço que se adequasse perfeitamente... ele fundiu dois de naturezas opostas?"
"Desmontou e reescreveu conceitos e fundamentos, criando uma solução nova, funcional e monstruosa, no calor da batalha?"
Era mais do que poder. Era uma compreensão profunda e aterrorizante das artes espirituais, uma flexibilidade de pensamento que desafiava milênios de tradição.
Pela primeira vez, Jin Shakan que possui o título de grande sábio de sua nação, não via apenas um tirano poderoso à sua frente. Ele via um gênio da destruição. E isso, de alguma forma, era muito mais perigoso.
O silêncio que se seguiu foi mais eloquente que qualquer grito de guerra. A batalha havia transcendido o simples conflito de força.
Tornara-se um duelo de intelectos, de vontades, e da horrível compreensão, por parte de Jin, de que seu adversário era ainda mais formidável do que ele jamais imaginara.
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Subúrbios Sul- Noite Umbra Capital
A trilha de destruição terminava em uma imensa pilha de destroços onde antes havia o Palácio dos Prazeres da cidade baixa.
--BUMMM!!--
Uma explosão controlada de energia dourada reduziu o enorme monte de entulho a fragmentos e poeira, que se levantaram em um turbilhão. Quando a poeira começou a se assentar, uma figura emergiu, cambaleante mas resoluta. Era Lao Tiang.
Ele limpou o sangue que escorria de sua boca com as costas da mão, seu rosto marcado pela dor e pela urgência. O feitiço de cura de Jin o estabilizara, mas não o restaurou completamente. Ele precisava chegar até seu Imperador.
Ele deu três passos firmes e então parou. Seus sentidos, ainda aguçados apesar dos ferimentos, formigaram. Ele virou a cabeça lentamente para a direita, seus olhos se fixando em uma pilastra solitária que milagrosamente ainda se mantinha de pé, um testemunho mudo da destruição que a cercava.
"Parece que a fúria dos irmãos Khan não foi suficiente para detê-lo, General Liu Xiu?" Declarou Lao Tiang, sua voz áspera, mas clara, dirigindo-se ao vazio aparente.
Uma risada suave e sinistra ecoou, parecendo vir de todos os lados ao mesmo tempo.
"Hahaha!!"Não posso mesmo enganar seus olhos, Grão-Mestre Lao Tiang?"
Enquanto falava, o ar sobre a pilastra distorceu-se, como um véu sendo puxado para o lado.
A figura do General Liu Xiu materializou-se, vestindo uma armadura de combate negra e prática, sem um único arranhão que testemunhasse a batalha recente.
Seu rosto estava sério, mas seus olhos brilhavam com uma lealdade fria e inabalável.
"Como você chegou aqui tão rápido?" perguntou Lao Tiang, sua voz carregada de suspeita solene.
"Eu estava a caminho do epicentro, ansioso para me juntar à carnificina," respondeu Liu Xiu.
"Mas então, uma mensagem de meu mestre chegou até mim. Ele me deu estas coordenadas exatas e me ordenou: 'Entretenha o Grão-Mestre Lao Tiang. Não permita que ele interfira em minha vingança".
Liu Xiu fez uma pausa, seu olhar perfurante.
"Essas foram as palavras exatas do meu soberano". Finalizou, um sorriso triunfante e cruel brincando em seus lábios.
Lao Tiang sentiu um frio percorrer sua espinha. Isso não era um encontro casual; era uma armadilha calculada. Hanshin, mesmo em sua luta de vida ou morte com Jin, havia planejado meticulosamente isolar o Grão-Mestre.
"E o que o faz pensar que você pode me impedir?" Lao Tiang rosnou, sua aura começando a se elevar, o Qi se acumulando em suas palmas.
Liu Xiu não pareceu preocupado. Um sorriso zombeteiro . Em vez de sacar sua espada, ele puxou um item de seu anel dimensional. Não era uma arma, mas um papiro antigo, denso e pesado, coberto de glifos que pareciam sangrar uma luz sombria.
"O que é isso?" Lao Tiang cuspiu, seus olhos se arregalando com um reconhecimento instantâneo e horrível.
Ignorando-o, Liu Xiu puxou a borda do papiro, que se desenrolou com um sussurro sinistro. Ele então levou a mão à boca, mordeu a ponta de seu dedo anelar até sangrar e, com um movimento preciso, pressionou o dedo sangrento sobre a inscrição central do papiro.
A inscrição brilhou com uma intensidade, consumindo o sangue.
"Inscrição de Feitiço de 10º Nível:" Liu Xiu declarou, sua voz ecoando com poder canalizado.
"Formação Defensiva: Casco da Tartaruga Negra!"
Lao Tiang mal teve tempo de agir. Um domo de energia negra e opaca, cravejado com runas de contenção que lembravam um casco de tartaruga, explodiu do papiro.
Expandiu-se com velocidade impossível, não para proteger, mas para prender. A barreira cerrou-se ao redor de uma vasta área, englobando Lao Tiang e Liu Xiu, selando-os dentro de uma prisão espiritual impenetrável.
Lao Tiang olhou ao redor, sua incredulidade dando lugar a uma fúria gelada. Ele estava enjaulado. Hanshin, em sua arrogância divina e premeditação diabólica, não apenas previra sua sobrevivência, mas também preparou um meio específico para neutralizá-lo, poupando seu general para a batalha final e garantindo que Jin Shakan estivesse verdadeiramente sozinho.
"Meu mestre é verdadeiramente esplêndido, não concorda, Grão-Mestre Lao?" Liu Xiu riu, o som ecoando de forma oca dentro da cúpula negra.
"Agora, vamos nos entreter. O espetáculo principal está prestes a começar, e nenhum de nós terá um bom assento."
Dentro de sua prisão, Lao Tiang só podia sentir as reverberações distantes do poder colossal que seus sentidos captavam do lado de fora. A batalha dos Imperadores agora prosseguiria sem interferências.
O destino do mundo seria decidido, e ele estava condenado a ser um mero espectador, impotente, da possível queda de tudo. A escuridão da cúpula era um prenúncio do vazio que poderia consumir todas as Ruínas Dragônicas.
Chapter 17: A Jaula Dourada e o Maestro da Morte.
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O domo negro da Formação "Casco da Tartaruga Negra" engolia a luz, criando um crepúsculo perpetuo dentro de seus limites.
No centro dos escombros, Lao Tiang respirava com dificuldade, cada inspiração um lembrete áspero de sua derrota tática. A poeira da explosão que libertara dos escombros ainda pairava no ar pesado.
"Meu soberano previu cada um de seus movimentos, Grão-Mestre," a voz de Liu Xiu ecoou, vinda de todas as direções.
"Ele sabia que você sobreviveria. Sabia que tentaria se reunir a Jin. Tudo isso foi meticulosamente preparado para mantê-lo contido."
"O demônio realmente não poupou esforços para amarrar um velho," Lao Tiang retrucou, sua voz um sibilo de pura frustração contida. Ele não conseguia disfarçar o desgosto ao admitir, para si mesmo, que havia sido manobrado como um peão.
Então, um ruído começou a surgir da periferia da área selada. Um arrastar de pés, lento e descoordenado. Lao Tiang girou, seus sentidos se estendendo, mas esbarrando em um vazio perturbador.
Ele podia ouvir os passos, mas não podia sentir nenhuma presença. Era como se fantasmas caminhassem pela terra.
Figuras emergiram da penumbra, cambaleantes e silenciosas. Eram cidadãos de Noite Umbra, seus rostos pálidos e vazios, roupas esfarrapadas e ensanguentadas. Seus olhos não tinham brilho, apenas uma opacidade morta.
"Que abominação é essa?" Lao Tiang rugiu, algo estava profundamente errado. Cadáveres não deveriam emitir sons sem uma presença espiritual que os animasse.
Suspeitando de uma ilusão complexa, as íris de Lao Tiang incendiaram-se como dois sóis em miniatura, lançando um brilho dourado e revelador que banhou a área.
"Visão do Coração da Verdade!"
Sua visão expandiu-se, tornando-se penetrante. Ele olhou através dos caminhantes, vendo não almas, mas um vazio espiritual envolto em carne fria.
Sua visão passou por eles, depois por Liu Xiu, ele viu centenas de corpos cambaleantes se dirigindo para onde estavam e finalmente colidiu com a parede interna do domo negro.
Um choque agudo, como um golpe físico, reverberou em sua mente, forçando-o a cerrar os dentes e a recuar mentalmente.
A barreira era espessa, ativa e... viva com um padrão de energia familiar.
"Então é você que anima esses cadáveres, General Xiu?" Lao Tiang acusou, sua voz carregada de compreensão furiosa.
"E essa barreira... ela está ancorada ao seu sangue e à sua vontade! Se eu o derrubar, a prisão se desfaz?"
A risada de Liu Xiu foi uma faca no silêncio opressivo.
"Hahaha! Perfeitamente correto, Grão-Mestre Tiang! Sua percepção é tão afiada quanto sempre."
"Eu pretendia usar seus preciosos pupilos, os irmãos Khan, como minhas marionetes de elite contra você," Liu Xiu confessou com um sorriso cruel.
"Uma ironia poética, não concorda? Mas meu mestre foi claro: 'Não deve sobrar nada deles para enterrar'. Uma pena. Eles teriam sido esplêndidos."
Lao Tiang ignorou a provocação, sua mente focada na técnica. "Não há vida nesses corpos," ele murmurou, analisando. "Mas há... pontos.
"Múltiplos pontos de inserção, cada um recebendo uma ínfima porção de Qi". "Você não os controla individualmente, mas sim a rede que os conecta."
"Certo de novo, sábio Grão-Mestre!" Liu Xiu aplaudiu sarcasticamente.
"Realmente, não há como esconder nada de seus olhos místicos."
Ele ergueu as mãos, e pela primeira vez, Lao Tiang pôde sentir as minúsculas, quase imperceptíveis, concentrações de Qi nas pontas de seus dedos.
"Ainda não consegue ver?" Liu Xiu provocou. "Deixe-me ajudá-lo."
Com um pensamento, ele deixou cair a camada final de ocultação sobre sua técnica.
Os olhos de Lao Tiang se arregalaram. Agora ele via claramente. De cada ponta dos dez dedos de Liu Xiu, saíam fios quase transparentes de Qi puro, tão finos quanto fios de cabelo e incrivelmente densos.
Esses fios subiam em direção ao topo do domo, onde se fundiam com a energia da barreira, e então desciam novamente como uma chuva invisível, conectando-se à nuca e às articulações de cada um dos cadáveres.
"Esta é minha técnica pessoal, cultivada através de séculos de estudo do corpo e da alma," Liu Xiu declarou com orgulho doentio:
"Maken #10: Marionete Demoníaca!"
Ele gesticulou, e os cadáveres se ajoelharam em uníssono, um movimento mecanicamente perfeito e terrível.
"Eles estão mortos, é verdade," Liu Xiu continuou.
"Mas seus corpos quando ainda vivos foram infundidos com recursos e cultivados até o limiar do Reino Alma Dourada, e alguns até ao Reino do Caminho Marcial Imortal". "Sua carne é minha argila".
"Sua força residual, minha ferramenta".
"Eles podem lutar por mim, sem medo, sem dor, sem cansaço."
"Você acha que esses bonecos de carne podem sequer tocar-me?" Lao Tiang rosnou, uma centelha de sua ira ancestral começando a queimar dentro dele.
"É exatamente isso que vamos descobrir, velho Tiang," Liu Xiu cuspiu, e seus dedos se moveram.
Os cadáveres se lançaram. Não com a lentidão de mortos, mas com a rapidez crua e desengonçada de marionetes puxadas por fios divinos. Lao Tiang não esperou. Sua aura explodiu, uma onda de força dourada que atingiu a primeira leva de atacantes.
--BOOM!--
Corpos foram despedaçados, membros voaram. Mas não houve gritos, não houve sangue. Apenas o som seco de carne e osso sendo desintegrados.
Antes que os detritos sequer atingissem o chão, uma segunda e terceira horda já avançavam, escalando os corpos dos primeiros como se fossem obstáculos, suas expressões vazias fixas em Lao Tiang.
Ele saltou, pairando no ar para ganhar vantagem. Imediatamente, os cadáveres abaixo dele começaram a se aglomerar, empilhando-se uns sobre os outros com uma velocidade e coordenação sobrenaturais, construindo uma torre macabra de carne e osso que se aproximava dele.
Lao Tiang sacou sua espada, Lâmina do Amanhecer Silencioso, de seu anel dimensional.
Ele se virou para enfrentar a torre em crescimento quando, de repente, um dos cadáveres que ele julgara destruído se agarrou às suas costas a partir dos escombros, seus dentes tentando cravar-se na nuca desprotegida de sua armadura.
Os dentes se estilhaçaram contra a proteção espiritual latente, mas o susto foi real.
"Como?!" Sua mente gritou. "Como isso passou pelos meus sentidos?"
Ele decapitou o cadáver com um movimento rápido, e então seus olhos se voltaram para a barreira negra acima.
Sua Visão do Coração da Verdade se ativou mais uma vez, mas desta vez ele não a direcionou para os fios ou para Liu Xiu. Ele a direcionou para a própria essência da formação.
E o que ele viu o deixou gelado até a medula.
Entrelaçadas com os padrões de contenção da Tartaruga Negra, havia outras inscrições, mais sutis e profundas.
Elas não eram apenas para prender; eram para suprimir. Eram runas de restrição de reino, de drenagem de aura, de aprisionamento espiritual.
"Finalmente percebeu, velho Lao?" A voz de Liu Xiu chegou até ele, carregada de triunfo.
"Meu mestre me deu esta inscrição antes do início de todos os combates". "Ele me disse:
'Se tudo ocorrer como previsto, se Lao Tiang sobreviver e você tiver a chance de usá-la, ele descobrirá que está preso não apenas no espaço físico, mas no próprio poder.'"
Lao Tiang sentiu o mundo desmoronar ao seu redor. A genialidade estratégica de Hanshin era aterrorizante. Ele não estava apenas lutando uma batalha no presente; ele havia previsto os fluxos e refluxos, os possíveis resultados e táticas, e preparado contra-medidas específicas antes mesmo do primeiro golpe ser desferido.
A profundidade de sua previsão era assustadora.
Enquanto Lao Tiang estava paralisado por essa realização, Liu Xiu contraiu seus polegares.
Uma força esmagadora, invisível e silenciosa, atingiu Lao Tiang na nuca. O impacto foi tão brutal e inesperado que ele foi lançado do ar como um pássaro atingido por um pedra.
Na sua queda desgovernada, ele virou a cabeça e viu o que o atingira: uma das marionetes, agora empunhando o imenso Esmagador de Montanhas que pertencera a Shou Khan.
"Esse maldito... ele está profanando a memória de meus generais!" O pensamento surgiu em sua mente, uma mistura de fúria e angústia profunda.
Lao Tiang aterrissou com um estrondo que rachou o solo, --BUUMMM!!-- erguendo-se rapidamente. Ele fechou os olhos, fazendo uma análise espiritual rápida e desesperada.
O resultado o encheu de um frio pavor.
Sua circulação de Qi estava obstruída. Seus meridianos, outrora rios caudalosos de poder, agora pareciam canais estreitos. A vasta reserva de energia que constituía seu 2º Estágio do Reino do Imperador Marcial Imortal estava... acorrentada.
A barreira não era apenas uma prisão física; era um selo que o rebaixava forçosamente, contendo seu poder ao nível de um recém-ascendido ao primeiro estágio.
O grito de fúria e negação que brotou de seu peito foi cortado por um punho frio e sem vida que acertou seu rosto com força suficiente para rachar osso. Uma linha de sangue escorreu de seu lábio partido.
Antes que ele pudesse reagir, uma onda de cadáveres, movendo-se com uma sincronia aterrorizante, se abateu sobre ele, engolfando-o, enterrando-o sob um monte de membros se contorcendo e corpos inertes.
"NÃOOOO!!!" O grito de Lao Tiang foi abafado pela pilha de carne.
--BUUMMM!!--
Sua aura, mesmo suprimida, explodiu mais uma vez, vaporizando os cadáveres em uma nuvem de poeira vermelha. Ele emergiu, respirando pesadamente, seu corpo agora marcado por arranhões e contusões.
Ele se elevou no ar novamente, mas desta vez seu voo era mais lento, mais pesado. E à sua volta, os cadáveres restantes pairaram no ar, seus corpos agora sustentados pelos fios de Qi de Liu Xiu, que brilhavam fracamente contra o fundo negro do domo, como uma teia de aranha cósmica e mortal.
No topo de sua pilastra, Liu Xiu movia os braços com a graça sinistra de um maestro, seus olhos fixos em Lao Tiang, um sorriso de pura satisfação maligna estampado em seu rosto.
O grande Grão-Mestre, o estrategista-chefe da Nação do Deus Marcial, estava preso,encurralado, enfraquecido e dançando ao som de seu 'requien da morte'.
Chapter 18: O Deus Quebrado e a Ameaça Genocída.
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A serenidade de Jin Shakan evaporou-se, substituída pela fria certeza da necessidade.
A defensiva não seria suficiente. Ele sentiu o peso da Lágrima Dragônica em seu peito, um coração pulsante de poder ancestral, e soube que era hora de responder fogo com fogo.
Ele fechou os olhos por um instante, e o mundo ao seu redor pareceu conter a respiração.
O Qi do ambiente, outrora turbulento e caótico, estabilizou-se e curvou-se à sua vontade.
Quando abriu os olhos, eles brilhavam com a luz de um sol em chamas. Ergueu a mão direita, a palma aberta voltada para a figura sombria de Hanshin.
"Haken #10: Explosão da Chama Solar!"
Não foi um jato de fogo. Foi a erupção de um sol em miniatura. Do centro de sua palma, uma esfera de luz dourada e ofuscante disparou, deixando um rastro de ar ionizado e derretido.
A luz era tão intensa que queimava a retina de qualquer um que ousasse olhar diretamente, e o calor que precedia sua chegada era como o sopro de uma forja divina.
Hanshin, no entanto, não se moveu. Um sorriso torto e zombeteiro cortou seu rosto, um gesto de puro desdém.
Ele permitiu que a Chama Solar o envolvesse completamente, seu corpo sendo consumido por um inferno dourado que incinerou instantaneamente tudo ao seu redor.
Formando um imenso círculo escurecido no solo abaixo dele.
Por um segundo, Jin pensou ter conseguido.
Então, do coração das chamas, uma explosão de escuridão pura irrompeu. Foi um fenômeno silencioso e avassalador.
A aura de Hanshin expandiu-se como a noite consumindo o crepúsculo, um vórtice de negatividade que sugou as chamas solares, esmagando-as e apagando-as como se fossem velas ao vento.
Hanshin emergiu ileso, sacudindo os ombros como se livrando de um incômodo menor.
"Fogo solar?" ele riu, um som rouco e sem humor. "Isso não passa de uma vela para mim, velho Jin!"
Mas Jin já não estava onde Hanshin olhava. Aproveitando a breve cortina de energia residual, ele havia fechado a distância num instante.
Seu punho, envolto em um halo de energia concentrada que distorcia o espaço, conectou-se com o rosto de Hanshin com um impacto que soou como uma montanha desmoronando.
BUUMMM!!
O baque foi visceral. Hanshin foi arremessado para trás, seus pés sulcando o ar como se este fosse sólido. Uma rachadura fina apareceu na máscara de desdém que ele usava.
Surpresa e fúria brilharam em seus olhos por uma fração de segundo antes de serem substituídos por uma fúria ainda mais profunda.
Ele retaliou com um gancho brutal, mas Jin, antecipando-se, desviou com um movimento de cabeça quase imperceptível. O punho de Hanshin passou, rugindo, e o ar que ele deslocou cortou a torre de vigia da parte sul de Noite Umbra.
No mesmo fluxo de movimento, Jin agarrou o braço estendido de Hanshin, puxou-o com força sobre-humana e, girando seu próprio corpo, desferiu um chute circular que acertou o lado da cabeça do demônio.
--BAMMM!--
O som foi nítido e metálico. O elmo demoníaco de Hanshin, uma relíquia de poder sombrio, estilhaçou-se em mil pedaços que voaram como estilhaços de uma estrela negra.
Seu rosto foi revelado – marcado por cicatrizes antigas, linhas de tensão e olhos que agora ardiam com um ódio incandescente e cruel.
Ele não gritou. Não recuou. Em vez disso, com um rugido abafado de pura raiva, ele juntou as mãos acima da cabeça e as baixou como um martelo do céu, esmagando o ombro já exposto de Jin – sua armadura havia sido danificada anteriormente.
--CRACK!!!--
A sensação foi horrível. Jin sentiu a clavícula e a omoplata se despedaçarem, uma explosão de agonia que percorreu seu corpo. Sangue quente jorrou, manchando sua armadura dourada.
Ele cuspiu sangue, mas sua mente, treinada por milênios, já estava formulando a resposta.
Sussurrou, sua voz um fio de ar sob a dor:
"Heiki #11: Cicatriz do Tempo."
Um brilho âmbar etéreo envolveu seu ombro. Não foi uma cura, mas uma reversão. Os ossos se recolocaram, o tecido se reconstituiu, o sangue foi reabsorvido.
Em menos de um segundo, seu ombro estava intacto, como se o golpe nunca tivesse acontecido.
"Que desperdício de poder!" Hanshin cuspiu, ofegante.
"Curar-se em pleno combate? Você é fraco, velho Jin!"
Cego pela fúria, Hanshin avançou novamente, um borrão num movimento assassino. Seu punho, carregado de energia necrótica, procurou o coração de Jin. Mas o Imperador estava imerso em um estado de fluxo.
Ele inclinou a cabeça, o punho passou com um rugido que fendeu o ar atrás dele, e então, com um movimento fluido e irrefreável, ele agarrou o braço de Hanshin, girou sobre si mesmo e, com um poder terrível, arremessou o demônio em direção ao solo.
O impacto foi como um asteróide atingindo o planeta.
--BUUMMM!!!--
Uma cratera monstruosa, com quilómetros de diâmetro, abriu-se no que restava do centro de Noite Umbra.
A onda de choque foi tão violenta que o próprio castelo negro de Hanshin, uma estrutura que desafiava as eras, rachou ao meio e desmoronou em uma nuvem de poeira e escombros.
Os soldados que sobreviveram aos horrores anteriores gritaram, não em guerra, mas em puro terror primal, vendo o símbolo de seu poder ruir,enquanto eram soterrados sob os escombros.
Jin Shakan, ofegante, puxou sua espada Presa Pálida de seu anel dimensional. O ar na vasta área ao redor do campo de batalha tornou-se pesado e denso como óleo.
O solo começou a tremer novamente, e os escombros e detritos da cidade inteira começaram a flutuar, suspensos pela imensa pressão espiritual que vinha do solo.
Então, o centro da cratera explodiu.
BUUMMM!
Uma coluna de destroços, poeira e fúria pura irrompeu do chão. Quando a poeira se assentou, Hanshin estava lá, pairando à mesma altura de Jin, a poucos metros de distância. Mas algo havia mudado.
As rachaduras na carne ao redor de seus olhos não eram mais apenas metáforas; eram fissuras físicas e reais, das quais escorria um brilho sombrio e corrompido. Seu corpo divino estava começando a falhar sob o estresse de tanto poder.
"Parece que os milênios trilhando o 'cultivo do caminho demoníaco'[1] cobram seu preço, Hanshin," Jin disse, sua voz grave e implacável.
"Você forjou uma lâmina poderosa, mas a negligenciou. Ela está se quebrando nas suas mãos."
Hanshin tentou responder, mas em vez de palavras, um jorro de sangue negro e viscoso como alcatrão explodiu de sua boca. Ele cuspiu, ofegante, e olhou para a mancha escura com uma mistura de choque e fúria.
E foi então que aconteceu. No auge de sua agonia e raiva, o controle absoluto de Hanshin sobre sua aura vacilou.
Por uma fração de segundo, menos que um piscar de olhos, as camadas intricadas do feitiço de ocultação que envolvia seu núcleo espiritual oscilaram.
Foi o suficiente. A percepção milenar de Jin Shakan, afiada pela batalha captou a brecha. Não foi uma visão clara, mas um lampejo, uma impressão fugaz do que estava escondido.
Ele não viu o poder em si, mas sentiu a textura dele: uma vastidão aterradora, suficiente para destruir esse plano existencial, mas contida e corrompida. Uma treva venenosa e familiar.
Que enroscava-se em torno daquele poder, como um parasita drenando e perturbando seu fluxo.
A mente de Jin conectou os pontos instantaneamente. A investida das Sombras,o veneno e a instabilidade.
"Você não está apenas ferido!" A voz de Jin ecoou, não mais um sussurro, mas uma acusação carregada de compreensão triunfante e sombria.
"Você está envenenado! As Sombras... elas tiveram sucesso. Você está usando uma imensa parte de seu poder apenas para conter a podridão dentro de si!"
A máscara de Hanshin, já física e emocionalmente quebrada, desintegrou-se completamente. A arrogância deu lugar a uma admissão raivosa e amarga, arrancada dele pela precisão das palavras de Jin.
"É verdade!" Hanshin rugiu, sua voz distorcida pela dor e pelo ódio. "Sua adaga danificou minha ascensão! Estive contendo esta podridão desde o início! E ainda assim, ainda sou mais do que suficiente para destruir você!"
O demônio deixou de sustentar o feitiço de ocultação sobre seu núcleo de poder. Agora, sem a ocultação, a verdade era palpável.
Para os sentidos aguçados de Jin, o corpo divino de Hanshin era um vaso rachado e agonizante, incapaz de canalizar toda aquela fúria para a realidade sem se despedaçar completamente.
"Tanto poder...", Jin sussurrou, pasmo e horrorizado. "Você poderia apagar estrelas... mas está preso em um corpo que está falhando. Você é um deus acorrentado por sua própria carne."
"EU TENHO POUCO TEMPO, VELHO JIN!" Hanshin gritou, e seu grito era carregado de um desespero final. "Mas é tempo suficiente! Vou destruir você, sua nação, e cada vestígio da sua linhagem amaldiçoada!"
A confissão ecoou sobre os escombros, um decreto de aniquilação proferido por um deus moribundo.
A batalha havia mudado novamente. Não era mais sobre vitória ou derrota. Era sobre qual dos dois titãs cairia primeiro, e que preço o mundo pagaria por sua queda.
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[1] Cultivo do caminho demoníaco: Muitos indivíduos não medem esforços e nem tem os devidos cuidados ao cultivar com técnicas complexas sem orientação e nem ter o conhecimento devido.
Usar recursos que pode prejudicar seus corpos,mente e espírito mesmo garantindo o ganho de poder.
Obs: Há um imenso índice de morte devido essa atividade.
Chapter 19: O Imperador Caído e o Retorno nas Sombras.
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O ar dentro do domo da Tartaruga Negra era espesso como melaço, saturado com o cheiro de morte e ozônio.
Lao Tiang pairou no centro, cercado por uma constelação macabra de centenas de cadáveres suspensos pelos fios de Qi de Liu Xiu, seus corpos balançando levemente como frutas podres em uma árvore invisível.
A pressão da formação pesava sobre ele, um fardo físico e espiritual.
"Não serei derrotado por estes fantoches!" Lao Tiang declarou, sua voz um rugido baixo que ecoou na câmara selada.
Ele fechou os olhos por um breve momento, acalmando a tempestade de fúria e frustração em seu coração.
A clareza era sua única arma agora.
"Meu foco deve estar no titereiro, não nas marionetes."
Sua mão esquerda se iluminou, não com a explosão solar de antes, mas com uma luz dourada focalizada e intensa, como metal fundido sendo vertido em um molde.
"Haken #8: Arco da Coroa Solar!"
Uma esfera de energia solar pura e compacta tomou forma em sua palma. Com um movimento fluido, ele ergueu o braço à frente do rosto, e a esfera se esticou, moldando-se em um arco magnífico de luz dourada sólida, cravejado com runas giratórias que cantavam suavemente.
Lao Tiang apontou seu dedo indicador direito diretamente para Liu Xiu, ainda visível no topo de sua pilastra. Com a outra mão, ele puxou a corda do arco que não existia, e uma flecha de pura energia solar, brilhante como um fragmento de estrela, materializou-se, pronta.
Ele liberou a corda.
A flecha não voou; ela deslocou-se, deixando um rastro de ar ionizado e um zumbido constante e ameaçador que prometia aniquilação.
Liu Xiu, seus olhos arregalados, não recuou. Seus dedos dançaram, puxando dezenas de fios de uma vez. Cadáveres se moveram com velocidade sobrenatural, entrelaçando-se para formar uma muralha espessa de carne e osso, vários metros espessa, diretamente em seu caminho.
A flecha solar atingiu a barreira macabra e, por um momento, pareceu parar, sua luz sendo absorvida pela carne morta. Um sorriso de desdém começou a se formar nos lábios de Liu Xiu.
Então, a ponta da flecha brilhou com intensidade avassaladora. Ela não explodiu; ela perfurou, vaporizando um túnel limpo através da muralha de cadáveres como se fossem teia de aranha.
A flecha emergiu do outro lado e passou silvando a centímetros da cabeça de Liu Xiu, que se esquivou com um movimento brusco.
O projétil divino atingiu a parede interna do domo da Tartaruga Negra e detonou.
--BOOM!!--
A explosão foi um clarão dourado e silencioso que iluminou toda a área selada, fazendo a própria barreira tremer e emitir um gemido de agonia.
Quando a luz baixou, Liu Xiu estava de pé, ofegante, sua orelha esquerda obliterada, o sangue escorrendo pelo lado de seu pescoço. Seu sorriso zombeteiro havia se transformado em uma careta de dor e raiva.
"Maldito velho decrépito!" ele cuspiu, manchando o sangue de seu queixo. "Ainda guarda alguns truques sujos na manga!"
Lao Tiang ignorou o insulto, sua mente analítica trabalhando freneticamente. Ele não se moveu do lugar. Para alguém que prefere o combate direto, é estranho.
Controlar todas essas marionetes e sustentar esta barreira de alto nível... deve exigir uma concentração monstruosa. Ele está ancorado. Preso pelo próprio feitiço.
Determinado, Lao Tiang começou a puxar outra flecha de luz. Mas então, algo aconteceu.
Uma oscilação violenta percorreu o domo. No topo da cúpula negra, uma nova série de inscrições runicas, ainda mais complexas e antigas que as anteriores, acendeu-se, girando como uma roda de fiar feita de sombra.
Um campo de força repressivo desceu sobre Lao Tiang como um martelo.
O Arco da Coroa Solar em sua mão contraiu-se violentamente, piscou e desintegrou-se em partículas douradas que se apagaram.
Uma dor aguda, como se seus meridianos tivessem sido arrancados, percorreu seu corpo. O voo que sustentava tornou-se instável, e ele caiu pesadamente no solo como impacto.
--BAMM!--
Enviando estilhaços de pedra para todos os lados.Ele olhou para suas mãos, sua mente lutando contra a realidade inacreditável. Sua conexão com o vasto oceano de seu poder... havia se rompido.
"Não... não pode ser!" ele sussurrou, sua voz um fio de horror. "Meu núcleo... está adormecido."
Ele não era mais um Imperador Marcial Imortal. A barreira o rebaixara violentamente, comprimindo seu cultivo até o ápice do 5º Estágio do Reino do Caminho Marcial Imortal. O voo era agora uma memória distante.
Feitiços acima do 6º nível, inalcançáveis. Ele estava preso, enfraquecido e mortal de uma forma que não experimentava há milênios.
"Maldito carrasco! Covarde!" Lao Tiang rugiu, sua fúria agora misturada com um vislumbre de desespero genuíno.
Liu Xiu, recuperado, riu alto e sem humor. Seus dedos se contorceram, e uma nova horda de marionetes, ainda não utilizadas, emergiu das sombras dos escombros, seus olhos vazios fixos no Grão-Mestre caído. Elas avançaram, uma maré silenciosa e mortal.
Lao Tiang lutou. Sua espada, Lâmina do Amanhecer Silencioso, cortou e partiu, ceifando três marionetes em um único movimento fluido. Mas eram muitas.
Dezenas delas se agarraram a seus braços, pernas e torso, seu peso combinado e força sobrenatural o puxando para baixo.
Ele gritou, um urro de pura fúria impotente, enquanto era engolfado por uma pilha de corpos frios e inexpressivos, seu mundo reduzido à escuridão e ao peso sufocante da morte.
Liu Xiu riu, um som de triunfo profano e satisfeito. Era o fim do lendário Grão-Mestre.
Foi então que uma sombra se moveu.
Não era uma marionete. Era uma mancha de escuridão pura que se desprendeu das profundezas sob a pilastra, movendo-se com uma velocidade que desafiava a lógica.
Ela correu verticalmente pela coluna de pedra, um vulto impossível, e materializou-se diretamente na frente de Liu Xiu.
"O que é você?!" Liu Xiu gritou, seus olhos arregalados de surpresa genuína, sua concentração quebrada por um microssegundo.
Foi tempo suficiente.
A figura sombria não era Lao Tiang como ele era. Era uma versão mais esguia, mais afiada, um fantasma de um passado há muito enterrado.
Uma adaga de aço negro, sem brilho e fria como o vácuo, cravou-se na garganta de Liu Xiu com um som úmido e decisivo.
O impacto não parou por aí. Em um movimento contínuo e fluido, o vulto sacou mais duas agulhas finas e as enterrou no olho esquerdo de Liu Xiu e em uma fenda acima do peitoral de sua armadura.
O General e o assassino caíram juntos da pilastra, espatifando-se no solo com um baque surdo
--BAMM!!--
Quando a poeira baixou, era Lao Tiang quem estava por cima, agora sem a armadura exterior, sua tunica simples esvoaçantes. Seus olhos não eram mais os de um sábio imperador, mas os de um caçador ancestral, frios e focados.
O Grão-Mestre Assassino, a lenda que fundou as Sombras, havia retornado. Com a perda de seu poder imperial, a habilidade que ele mais dominava – a integração perfeita com as sombras – renascera.
"O que vai fazer agora, General Liu Xiu?" Lao Tiang arfou, sua voz agora um sibilo mortal, enquanto torcia a adaga na garganta do homem.
A resposta veio não da boca de Liu Xiu, mas do corpo abaixo dele. Uma fumaça negra e fedorenta explodiu do cadáver, e quando se dissipou, Lao Tiang estava se erguendo sobre um dos cadáveres marionetes comuns, uma adaga cravada em seu pescoço inerte.
"A batalha continuará, velho Tiang!" A voz de Liu Xiu ecoou, vinda de todos os lados ao mesmo tempo, carregada de uma raiva contida.
Lao Tiang não ficou surpreso. Ele apenas se afastou, desaparecendo novamente nas sombras, sua presença se dissipando no ar.
Três marionetes se aproximaram do local onde ele estivera, mas ele já não estava lá.
Ele materializou-se atrás delas, saindo da sombra de uma como um pesadelo, agarrou a cabeça de uma e, com um movimento brutal, puxou-a de volta para a escuridão, deixando para trás apenas as pernas do cadáver esperneando antes de desmoronar.
"Eu sei que você também está sob restrições dentro desta barreira, General!" A voz de Lao Tiang ecoou, impossível de localizar. "Por que não vem até aqui? Lute comigo frente a frente como um verdadeiro guerreiro, e não se esconda atrás de mortos!"
Mal as palavras foram ditas, uma esfera metálica rolou até onde sua voz parecia vir e explodiu.
--BAMM!! ZIIIIMMM!!--
Não foi uma explosão de fogo, mas de som puro – um Estrondo Atordoante aprimorado. A onda de força sônica atingiu Lao Tiang mesmo nas sombras, forçando-o a se materializar, cambaleante, com os ouvidos sangrando e a visão turva.
Aproveitando a abertura, um dos cadáveres se aproximou e enterrou os dentes em seu ombro esquerdo, rasgando a carne.
Lao Tiang não gritou. Com um rosnado animal, ele socou o cadáver entre os olhos, sentindo o crânio ceder, e em um único movimento, chutou suas pernas, agarrou-o pelos cabelos e esmagou seu rosto contra uma rocha afiada com um som visceral.
"Na batalha contra seus pupilos," a voz de Liu Xiu sibilou, "eu aprendi a nunca subestimar o ímpeto de um assassino encurralado."
"Esse maldito Liu Xiu!" Lao Tiang pensou, ofegante, pressionando a mão contra o ferimento no ombro. "Preciso localizá-lo rapidamente. Não sei por quanto tempo esta barreira continuará a suprimir meus poderes, ou pior."
Sua mente, agora operando no modo frio e calculista de seu eu mais antigo, retomou os dados.
"Antes de cair, eu havia verificado. Restam sessenta e seis marionetes. E um general covarde."
A batalha havia se transformado. Não era mais um cerco de um exército de mortos contra um imperador.
Era uma caçada nas sombras. Um jogo mortal de paciência e perseguição entre dois mestres da guerra não convencional, um lutando para sobreviver e quebrar a gaiola, o outro determinando a não deixar que sua presa escape, custe o que custar.
O ar dentro do domo estava carregado com a promessa de mais sangue, e o destino de Lao Tiang pendia por um fio tão fino quanto os fios que controlavam os mortos.
Chapter 20: O Demônio Furioso, e A Intenção da Espada.
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O ar em Noite Umbra não era mais respirado, era engolido. Um caldo pesado de poeira, cinzas e o gosto metálico do ódio. No epicentro do que fora uma capital, agora um pesadelo geológico, a aura de Hanshin explodiu.
Não foi uma expansão, foi uma violação. A energia escura jorrou dele, um furacão de negatividade que fez o próprio espaço gemer.
O solo estremeceu, não como um terremoto, mas como um animal aterrorizado sentindo a aproximação do predador. Então, Hanshin simplesmente cessou de existir no ponto onde estava.
Jin Shakan, seus sentidos estendidos ao limite, girou sobre si mesmo.
'Onde?' Jin pensou.
O vazio foi a única resposta. Então, uma mão de ferro, fria como a morte e com a força de um cataclisma, fechou-se na lapela de sua armadura. O contato foi mais do que físico, foi uma injeção de pura malevolência no espaço pessoal do Imperador.
--BAMMM!!!--
O soco não foi ouvido, foi sentido pelos ossos de Jin. O impacto no rosto foi uma explosão branca de agonia. Que por um momento pareceu eterno, todos os seus sentidos se apagaram.
A visão se foi, substituída por um véu branco e latejante. O som morreu, substituído por um zumbido agudo de desordem neural. Ele estava afundando, um peso inerte em um oceano de escuridão e dor.
A consciência retornou com o grito de seus próprios nervos quando suas costas encontraram, e depois explodiram contra uma superfície rochosa a quilômetros dali.
--BUMMM!!!--
Através da visão dupla e turva, ele viu Hanshin surgir de uma fenda no ar, a fenda se fechando atrás dele como um corte cicatrizando em velocidade sobrenatural.
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Montanhas Flutuantes Xian - Norte, Nação do Demônio Marcial.
A fúria de Hanshin era um ritmo constante e brutal. Golpes após golpes choviam sobre Jin, que defendia com a maestria desesperada de um homem segurando um represa prestes a ruir.
Sua armadura de orichalco branco, outrora um símbolo de poder imaculado, rangia e gritava sob a investida.
Trincas serpenteavam pelo metal divino como teias de aranha de mau agouro, cada novo impacto aprofundando as rachaduras, cuspindo fragmentos diminutos e brilhantes.
A montanha inteira chorava, suas fundações sólidas rangendo. Então, os socos cessaram. Um sorriso afiado e antinatural cortou o rosto de Hanshin.
Ele girou, um redemoinho de destruição, e com a força concentrada de ambos os pés, chutou o estômago de Jin Shakan.
O mundo de Jin tornou-se uma única sensação de implosão. O ar foi expulso de seus pulmões com um som sufocado.
Sua armadura afundou, moldando-se ao contorno do golpe antes que seu corpo fosse enviado como um projétil, escavando um túnel através do coração da montanha.
Rochas foram pulverizadas, veios de minério se estilhaçaram, e ele emergiu do lado de baixo, um meteoro humano, cuspindo sangue contra o céu poluído.
--BAMMM!!!--
Ele atravessou a base da montanha, e o mundo se abriu novamente enquanto ele despencava em direção à província de mineração abaixo. O impacto subsequente foi um convite ao fim do mundo.
Então ele viu Hanshin apontando o dedo para ele
através do buraco.
"Haken #7 Explosão Carmesim! "
O demônio não parou, disparando um pilar de energia carmesim através do buraco. Jin não podia deixar ser atingido por essa técnica.
"Haken #8 Arco da Coroa Solar!
Jin Shakan levou sua mão a frente de seu rosto enquanto o arco dourado se materializava. Puxando e liberando a flecha de energia dourada massiva.
A flecha voou zumbindo enquanto distorcia o ar a sua volta. Os feitiços se encontraram no meio do caminho entre os dois Imperadores.
--BOOMMM--
A Explosão engoliu a montanha ,esfarelando as rochas e derretendo os minérios entre elas.
Jin continua olhando para a explosão e vê quando o demonío surge atravessando a esfera energética da explosão envolto em um manto de Qi escuro.
Jin puxa a corda invisível materializando outra flecha mas é tarde demais, não há mais tempo pra reagir, Hanshin o acerta com um chute voador poderoso.
--BAMMM!!!--
Jin despenca do céu como um meteorito se chocando com a província de mineração abaixo de onde a montanha estava.
--BUMMM!!!--
Rochas maiores, e minérios de prata e ouro derretido choveram entre a nuvem de poeira que caia sobre as casas e construções.
Hanshin pousa suavemente na borda da cratera onde Jin Shakan caiu.
"É SÓ ISSO QUE VOCÊ TEM, VELHO JIN?" Seu grito não era apenas som; era uma arma que ecoava na mente, uma afronta à própria resistência de Jin.
Mas da cratera, como um fantasma dourado, Jin Shakan surgiu. Sangue escorria de seu nariz, mas sua determinação era um farol.
Ele voou, como um raio e seu punho, carregado com brilho dourado, conectou-se com o rosto de Hanshin com um impacto que fez o ar estalar.
--BAMMM!!!--
O som foi alto e terrível. Hanshin foi arremessado para trás, seu corpo tornando-se um míssil de destruição que cavou uma estrada de ruína através da província de mineração, esmagando tudo em seu caminho até colidir com a base de uma montanha distante no norte da província.
--BUMMM!!!--
Jin observou, seus olhos místicos dourados vendo não apenas a nuvem de destruição, mas a própria energia do impacto formando uma cratera circular perfeita e profunda na face da montanha.
Por um segundo, houve silêncio. Então, a aura de Hanshin expandiu-se e contraiu-se num único e violento espasmo. Tudo o que estava dentro daquele raio – terra, rocha, ruínas – desintegrou-se, transformado em um fino pó que brilhou por um instante antes de escurecer.
"Que poder terrível!" Jin sussurrou, e pela primeira vez em séculos, o sabor do verdadeiro custo da vitória amargou sua boca.
Hanshin emergiu da poeira, andando com uma calma ameaçadora pela estrada de devastação que ele mesmo criara. Em sua mão direita, sua lança 'Alma Umbra' materializou-se. Não era apenas uma arma; era um pesadelo solidificado.
Nascida da alma torturada de uma besta ancestral e forjada na presa fossilizada de um dragão de mithril negro, ela parecia beber a luz ao seu redor.
Um zumbido baixo e faminto emanava dela, uma promessa de que nenhuma defesa, não importa quão forte, não seria respeitada.
Jin puxou sua espada, sentindo o peso familiar do punho em sua mão. Era um conforto frio. Hanshin desapareceu. Não foi velocidade, foi outra coisa.
Ele reapareceu não à frente, não aos lados, mas atrás, como uma sombra que sempre esteve lá. O rugido do demônio veio depois que a lança já estava em movimento.
"RAAAAAAAÁ!!!"
Jin torceu o corpo, o ar sibilando onde a ponta faminta da lança passou, raspando em sua armadura danificada com um som de unhas em um caixão.
Ele tentou desviar a arma com o cabo de sua espada, mas o impacto que se seguiu foi anormal, um choque estático e repulsivo que entorpeceu seu braço até o osso.
A espada, uma extensão de seu próprio ser, foi arrancada de sua mão como uma folha morta no vento.
'O que é isso?'O pensamento foi um clarão de pânico. Ele viu sua lâmina girando no ar, caindo e se cravando no solo longe dele, impotente.
Aproveitando a abertura, Hanshin golpeou a têmpora de Jin com o cotovelo.
--BAMMM!--
Estrelas explodiram atrás de seus olhos.
Jin cambaleou, o mundo girando, mas seus instintos milenares o salvaram.
Ele rolou, o gosto do sangue e da terra em sua boca, e seus dedos fecharam-se ao redor do punho de sua espada mais uma vez. Hanshin, com um sorriso de predador, girou sua lança e a cravou no chão.
O solo não se abriu; ele deixará de existir.
Uma cratera se formou instantaneamente, não por explosão, mas por aniquilação pura.
Jin Shakan elevou-se ao céu, o coração batendo forte contra suas costelas. O perigo era palpável.
'Não tenho escolha', pensou, a realidade do desespero assentando-se sobre ele.
"Isso consumirá muito de minha reserva de Qi". "Mas se a ponta daquela lança astuta me tocar, não serei apenas eu quem morrerá". "Tudo o que protejo virá abaixo comigo".
A decisão se solidificou em seu peito, mais dura que o orichalco.
A Lágrima Dragônica em seu peito pulsou, não com um brilho ofuscante, mas com uma luz profunda e ancestral, como o coração de um sol adormecido despertando.
Ele sentiu uma porção colossal de seu Qi ser drenada, um vácuo doloroso se formando em seu núcleo espiritual.
"Maximização de Feitiço!" Sua voz ecoou com uma ressonância que não era totalmente sua.
"Haken #10 Intenção da Espada!"." 1ª Forma: "Materialização... Asas Douradas Dragônicas!"
Jin Shakan ergueu a Presa Pálida até a altura dos olhos. Suas íris douradas incendiaram-se, fundindo-se com a aura que agora o envolvia num manto de chamas douradas e líquidas.
Da lâmina, uma luz intensa e focalizada irradiou, tão densa que parecia sólida.
Hanshin, que avançava para o ataque final, parou. A curiosidade perversa brilhou em seu olhar. Um sorriso largo e insano abriu-se em sua boca, um contraste grotesco com a devastação ao redor.
"Isso é interessante, velho Jin!" Ele rosnou, a animação misturando-se com sua fúria infinita.
Jin moveu a espada, não com velocidade, mas com uma solenidade absoluta. A lâmina desenhou um círculo perfeito no ar, e o rastro que deixou para trás não era uma ilusão.
Eram centenas de lâminas de energia pura, cada uma uma réplica perfeita da Presa Pálida, sussurrando com poder contido.
Elas se deslocaram, organizando-se nas costas de Jin como as escamas imensas e gloriosas de um dragão celestial. As asas eram um espetáculo de poder puro, um aviso e uma arma.
O rosto de Jin endureceu, uma máscara de concentração mortal. Três das lâminas das asas desprenderam-se. Elas voaram; um trio de destinos dourados sibilando em direção ao demônio.
Hanshin riu, um som áspero de desdém.
"Só isso? Depois desse espetáculo de fogos, você apenas vai me mostrar isso?"
Ele girou a Alma Umbra, desviando das duas primeiras lâminas com movimentos fluidos e arrogantes.
A terceira, ele agarrou com a mão esquerda, os dedos se fechando envolta da energia solidificada. O contato foi direto e íntimo.
O sorriso zombeteiro ainda estava em seus lábios quando o mundo dele explodiu.
--BUMMM!!!, BUMMM!!!, BUMMM!!!--
As explosões não foram de fogo e fragmentos. Foram de desintegração pura e silenciosa, seguidas pelo rugido do ar sendo repentinamente ocupado.
As duas lâminas que ele desviou atingiram o solo e simplesmente apagaram enormes seções de terra, criando crateras profundas com bordas vitrificadas.
Mas a terceira... a que ele tocou... ela detonou em sua mão. Não houve fogo, apenas um clarão dourado que consumiu carne, osso e energia demoníaca.
Seu antebraço esquerdo, do cotovelo para baixo, não foi cortado ou arrancado. Foi atomizado, transformado em uma fina névoa de partículas douradas e negras que se dissipou no ar.
O grito de Hanshin não foi de raiva. Foi um uivo primal de agonia e ultraje absoluto. Ele encarou o cotoco fumegante de seu braço, de onde jorrava não sangue, mas um líquido escuro e corrompido que sibilava ao tocar o chão.
Seu rosto se contorceu numa máscara de puro ódio demoníaco, seus olhos fixos em Jin Shakan.
"MALDITO SEJA, JIN SHAKAN!!!" Seu rugido veio de um lugar além da razão, a promessa de uma vingança que consumiria o próprio céu.
Chapter 21: Sol Negro
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O grito de Hanshin não era mais de raiva, mas a erupção final de uma alma sendo desfeita em agonia. Um som que rasgou o tecido do silêncio pós-destruição, carregando consigo o peso de milênios de ódio e a dor lancinante de um corpo à beira do colapso.
Seu braço dilacerado não sangrava, jorrava um fluído escuro e corrompido que fumegava ao tocar o ar, como se a própria essência de sua divindade estivesse vazando.
Jin Shakan, imerso no fluxo impessoal da Intenção da Espada, não hesitou. Sua mão moveu-se até seu tórax executando um selo simples, quase um reflexo.
Imediatamente, as 'Asas Douradas' desmontaram-se de suas costas formando um tornado de lâminas em volta de Hanshin.
Não foi um ataque coordenado, mas uma sinfonia de aniquilação. Elas voaram contra o demônio em ondas sequenciais, vindas de todos os ângulos possíveis e impossíveis, cada uma um fragmento da vontade implacável de Jin.
--BOOMMM!!!-- --BOOMMM!!!-- --BOOMMM!!!--
O mundo tornou-se uma única e contínua explosão. Centenas de detonações de energia solar pura, sincronizadas num ritmo assassino, engoliram Hanshin.
A luz era tão intensa que ofuscava a própria escuridão ao redor, cada clarão uma pequena morte, com poder de desintegração. A terra desaparecia, enquanto o ar era incinerado.
Quando a última explosão se dissipou, revelando as crateras ampliadas e o vazio que agora existia onde antes havia Hanshin, Jin ergueu a Presa Pálida num movimento defensivo.
A lança Alma Umbra, agora um vermelho sanguinário e pulsante, surgiu do nada, a ponta faminta sibilando a centímetros de seu rosto.
O ar atrás da arma distorceu-se, e Hanshin materializou-se, seu corpo um testemunho do horror. Sangue escuro jorrava de seus lábios serrados, seus olhos eram uma escuridão de ódio insano e sua respiração um assovio rouco de um pulmão perfurado.
"VOU DESTRUIR VOCÊ, SHAKAN!!!" Seu rugido veio junto com sangue e fúria, cada palavra um sacrifício de sua própria carne.
Jin Shakan permaneceu em silêncio, seu corpo sentiu a monumental tensão contida da guerra, cada músculo, cada fragmento de Qi, alinhado no estado de fluxo contínuo. Até que outra explosão, desta vez de pura revelação, rompeu das costas do demônio
--BOOMMM!!!--
"Descobri seu truque, demônio!" Sua voz era fria como o vácuo entre os mundos, cortando através do vento.
"Pude ver as cicatrizes que você deixa no tecido da realidade".
"Abre passagens entre os planos, move-se pela fenda e a costura ao surgir".
"Um método ardiloso, que evita ataques críticos durante o combate".
"E também foi assim que nós trouxe da capital para o extremo norte de sua nação".
"Como...?"Hanshin cuspiu um jorro de sangue negro, seus olhos injetados de raiva e uma centelha de incredulidade.
"Como conseguiu me contra-atacar?"
"Enquanto meu último ataque rugia contra você," Jin explicou, sua voz implacável.
"Eu já havia posicionado uma única lâmina no ponto exato onde o veneno ancestral corrói seu cerne".
"Minha técnica é forjada de energia pura, da própria luz solar solidificada"."Ela não é afetada pelas leis comuns".
"Viajou com você entre as dobras do espaço, uma sombra dourada colada à sua essência, até o momento em que empalou e detonou a podridão em suas costas".
Antes que a última palavra ecoasse, Jin moveu-se. Deslocando se como um flash dourado que deixou uma imagem residual no ar.
Seu pé, envolto em aura que concentrava seu poder, conectou-se com o torso de Hanshin.
--BAMMM!!!--
O impacto não foi um som, mas a quebra de uma barreira espiritual. Hanshin foi lançado para baixo como um boneco de trapos, espatifando-se contra o solo irregular, que cedeu sob a força do golpe, formando um nova cratera erguendo poeira e detritos.
--BUUMMM!!!--
De dentro do turbilhão de poeira e dor, a aura de Hanshin expandiu-se num último e violento espasmo. Foi um ato de pura vontade, um rugido silencioso que varreu a cortina de detritos, revelando a verdade cruel.
O imperador demoníaco estava verdadeiramente ferido. As complexas camadas que ele teceu para conter a deterioração do veneno haviam se desfeito.
Agora, a corrupção fluía livremente em suas veias, um rio negro de agonia que consumia sua divindade de dentro para fora. Ele não tinha mais tempo. A morte não era uma ameaça, era uma certeza absoluta.
"Desista, Hanshin." A voz de Jin Shakan ecoou, não como uma ordem, mas como um lamento fúnebre.
"Seu corpo chegou ao limite".
"Seu espírito está à beira do colapso".
"Permita-me oferecer-lhe a última dignidade que resta a um guerreiro de seu nível, a de uma morte honrada".
A resposta foi um riso. Um som quebrado, sem humor, que saiu de sua garganta como um afogamento.
"HAHAHAHA!!!" O riso se transformou num rugido, um uivo de um deus ferido que se recusava a cair.
"NÃO PRECISO DE SUA PIEDADE, VELHO JIN!!!"
"EU SOU HANSHIN DOKKO!!!"
"EU SOU UM DEUS!!! UM DEUS NÃO SE SUBMETE!"
Foi então que Jin viu, através de seus 'Olhos Místicos Dourados', ele testemunhou o ato final de desespero. Uma massa titânica, a própria essência do poder de Hanshin, jorrou dele como uma erupção espiritual.
Ele não estava atacando; estava se desfazendo. Seu Qi, sua alma, sua força divina, foi violentamente injetada no solo, no ar, no próprio tecido da realidade ao seu redor.
O ambiente tornou-se pesado, opressivo.
O ar coagulou, tornando-se denso como óleo, e a luz dobrou-se em ângulos impossíveis, distorcida pela pura massa da energia descontrolada.
Era como se o mundo ao redor de Hanshin estivesse se tornando uma extensão de seu poder mórbido.
"Não vou permitir!" Jin bradou, e pela primeira vez em séculos, o pânico, genuíno e gelado, tingiu sua voz. Ele convocou as últimas lâminas douradas, um último suspiro contra a maré da escuridão.
Elas voaram, faróis tênues de um amanhecer que talvez nunca chegaria. Mas a meros metros de Hanshin, pararam. Congelaram no ar, suas luzes douradas tremulando, impotentes.
O espaço em volta do demônio havia se tornado um domínio próprio, uma fortaleza de sua vontade distorcida onde as leis do mundo não tinham valor.
E então, um som começou. Não era a voz de Hanshin. Era um coro de sussurros, mil vozes antigas e famintas ecoando de um abismo, usando sua garganta como portal.
~Eu sou aquele que nasce da morte estelar...~
~Aquele que foi amaldiçoado com a ira da fome sem fim...~
"Ele está... recitando um encantamento primordial?" Jin sussurrou para si mesmo, um calafrio de puro terror percorrendo sua espinha.
Isso era incomum para um Imperador Marcial, o encantamento verbal é uma muleta para aqueles carentes de compreensão e poder. Tal ato significava que ele não tinha domínio sobre o feitiço, apenas a capacidade de manifestar sua ira.
~... E trago a aniquilação àqueles que ousam desafiar minha autoridade!...~
"HAKEN #12: SOL NEGRO!!!"
Hanshin gritou as palavras, e o universo cobrou seu preço. Sangue escuro, espesso como alcatrão, desceu de seus olhos, nariz, ouvidos e de cada poro de seu corpo.
Não era mais sangue, era a sua vida, sua divindade, sendo expelida à força. Toda a energia distorcida que ele liberou no ambiente foi violentamente sugada de volta, convergindo para um único ponto no espaço, alguns metros acima de sua cabeça, formando um vórtice de pura escuridão.
As últimas lâminas douradas de Jin foram as primeiras a ser devoradas. Sua luz foi esticada, distorcida, aniquilada e absorvida pela fome do redemoinho. Foi então, que no olho da tempestade, a esfera formou-se.
Ela não era maior que um punho fechado.
Era simplesmente...negra. Não, não havia cor, mas a ausência dela. A antítese da luz, da matéria, da esperança. Não era um vazio mas uma presença ativa de não-existência.
Quando ela se consolidou, com um único e silencioso pulsar que ecoou não nos ouvidos, mas nas próprias almas de Jin e Hanshin, o próprio céu caiu.
Uma força gravitacional avassaladora, um peso que esmagava não apenas o corpo, mas o espírito, abateu-se sobre Jin Shakan. Ele foi arrancado do céu como um inseto, despencando em direção ao solo.
--BOOMMM!!!--
O impacto foi mudo, pois nem o som ousava desafiar aquele vácuo. Seus joelhos rangeram sob a pressão insana, e ele sentiu a Lágrima Dragônica em seu peito gemer, um choro de agonia de um ser ancestral testemunhando o fim de tudo.
'O que... pelo Primeiro Pai... é isso?'
O pensamento foi um lampejo de puro terror existencial.
Ele não estava enfrentando um ataque.
Estava testemunhando a anti-criação.
A aniquilação tomava forma.
A esfera negra pulsou mais uma vez e silenciosamente, cresceu. O solo ao seu redor, por quilômetros, não explodiu, houve uma implosão.
Tudo foi comprimido, achatado numa densidade inimaginável, como se uma mão infinita estivesse amassando o pano da realidade.
Jin Shakan estava preso, esmagado pelo peso do próprio céu, arrancando-o de seu estado mental, uma pressão infinita sobre ele. Ele foi forçado a testemunhar, impotente, o triunfo final de um deus moribundo.
Hanshin, de dentro de sua cratera, ria um som rouco, quebrado e triunfante, seu corpo começará a desintegrar-se pouco a pouco.
Enquanto o poder que ele invocava nivelava montanhas, o céu e a própria luz do mundo, preparando-se para engolir tudo em um silêncio eterno.
O Sol havia nascido pela última vez, e com ele, o fim de todas as coisas.
Chapter 22: A Porta
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O silêncio dentro da barreira negra era mais profundo que o vácuo entre as estrelas.
Nas ruínas do que outrora fora a capital Noite Umbra, a cúpula de escuridão estendia-se por um raio de quatro quilômetros, engolindo a luz e distorcendo o som até este se tornar um zumbido fantasmagórico.
Dentro desse pesadelo geológico, Lao Tiang movia-se como um fantasma entre as sombras, seu corpo um instrumento de morte precisamente calibrado.
Metade das marionetes de Liu Xiu já inertes, suas formas despedaçadas espalhadas como bonecos quebrados em um palco macabro.
Cada vez que Lao Tiang emergia das sombras, suas mãos firmes arrancavam os fios de Qi que as controlavam, deixando-as como cascas vazias e quebradas.
O ar dentro do domo pesava como chumbo molhado, comprimindo os sentidos dos dois combatentes em um aperto constante que fazia cada respiração doer.
"Esse maldito velho teimoso!" Liu Xiu rosnou para si mesmo.
Suor frio escorrendo por suas têmporas enquanto sentia mais duas conexões se romperem em sua mente.
Restavam apenas vinte e seis marionetes quando o primeiro tremor catastrófico atingiu a barreira. A cúpula negra oscilou violentamente, como um animal ferido em agonia.
Lao Tiang materializou-se da sombra de uma pilha de cadáveres, seus olhos captando instantaneamente o padrão nas paredes que se contorciam. Então veio a onda elétrica - um espetáculo de luz púrpura que varreu o teto como um relâmpago preso dentro de um frasco. E naquele instante de iluminação profana, Lao Tiang viu.
"Achei você, Carrasco!"
Liu Xiu estava suspenso no teto como uma aranha monstruosa, seus membros presos por fios de Qi quase invisíveis que tremiam na luz fantasmagórica.
Lao Tiang não esperou sua mente já calculava o próximo pulso elétrico. Quando a luz roxa retornou, seus lábios moveram-se em um sussurro ancestral:
~"Nas mãos do guerreiro que marcha para a morte!"~
~"A lança de marfim que perfura o coração traiçoeiro!"~
Seu braço ergueu-se, dedo indicador tornando-se um canhão divino. O Qi fluía como um rio furioso para sua ponta.
"Haken #3: Raio Branco!"
O feixe que surgiu não era simples energia, era um fio de pura intenção mortal, tão fino quanto um fio de cabelo mas carregando o peso de uma estrela.
Liu Xiu gritou quando a luz perfurou sua armadura, transpassou carne e osso os cauterizando em um instante. O cheiro de carne queimada encheu o ar, misturando-se ao odor metálico do sangue.
"AAAAH! MALDITO SEJA,SEU VELHO!"
Liu Xiu soltou-se dos fios, sua queda uma promessa de vingança. Sua espada materializou-se em um brilho sombrio, e enquanto caía, suas palavras ecoavam como um canto fúnebre:
~"Pelo sangue que inscrições de ódio escrevem em minha carne!"~
~"Convoco a fúria rubra que dança no véu do crepúsculo!"~
"Haken #4: Explosão Carmesim!"
A esfera de energia carmesim formou-se não em sua mão, mas no espaço entre eles, sugando a luz residual para alimentar sua fúria. Lao Tiang dissolveu-se nas sombras momentos antes que o inferno se materializasse.
--BOOMMM!!!--
As chamas vermelhas não queimavam elas consumiam, deixando para trás apenas o odor de éter queimado e ozônio. Liu Xiu aterrissou pesadamente, suas botas esmagando o que restava do chão com um impacto que ecoou através da cúpula.
--BAMMM!!!--
Foi então que a agulha de aço escuro empalou seu joelho. Fria, precisa, mortal. O sangue jorrou em um arco escarlate antes que seu cérebro sequer registrasse a dor. Liu Xiu girou sobre o calcanhar, espada cortando o ar evitando outra agulha, sua mão esquerda fechou-se em torno da garganta de Lao Tiang com o estalo de ossos quebrando.
--CRACK!!!--
"PEGUEI VOCÊ, VELHO TIANG!"Liu Xiu rosnou.
Lao Tiang sentiu a vida sendo espremida de seu pescoço, sua visão escurecendo nas bordas enquanto o oxigênio se tornava rarefeito.
A lâmina de Liu Xiu moveu-se para seu coração mas as mãos do Grão-Mestre já estavam em movimento.
Aço transpassou carne e osso quando ele deliberadamente interceptou a lâmina com a palma, seus dedos fechando-se em torno da guarda da espada ensanguentada com furia assassina.
Sangue quente jorrou no rosto de Lao Tiang quando sua outra agulha encontrou o braço de Liu Xiu, torcendo o aço escuro em uma alavanca dilacerando o músculo e chutando o joelho ferido que soou como galhos secos quebrando.
"GRUUUNCK!!" Liu Xiu gruniu ferozmente sentindo a dor lancinante.
Foi então que um estrondo maior que o anterior abalou toda a cúpula, seguido de uma onda de gravidade que os esmagou no chão.
Ambos observaram inertes quando o domo desabou sobre eles.
A periferia de Noite Umbra simplesmente deixou de existir, engolida pelo apocalipse que Hanshin conjurou.
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Província de Mineração Xian - Norte
Onde outrora existira uma nação, agora havia apenas a destruição. Jin Shakan via as leis fundamentais se desfazendo como teias de aranha sob chuva.
O ar, a luz, o som tudo se torcia em espirais grotescas antes de ser esmagado pela esfera de negatividade.
Com cada fibra de seu ser gritando de agonia, Jin forçou-se a ficar de pé, seus ossos rangendo sob o peso da realidade desfeita. Sua mensagem não foi um som, mas um fio de pura intenção tecido diretamente na mente de Hanshin:
{"Pare, Hanshin! Isto não é vitória - é a rendição final de um deus ao seu próprio ego!"}
A resposta veio carregada de amargura cósmica, cada palavra um golpe:
{"Vitória? Derrota? Palavras vazias! Hoje escreverei sobre sua lápide com as cinzas desse mundo, Jin Shakan!"}
A esfera negra pulsou, e Jin viu o firmamento se esticar como pele sobre osso. Estrelas distantes pareciam piscar em agonia antes de serem apagadas uma a uma, como velas sopradas pelo vento do fim dos tempos. Uma terrível sensação surgiu, quando ele compreendeu.
'A gravidade está prestes a inverter!'
Hanshin já estava além de qualquer limite seu corpo um vaso rachado derramando escuridão pura. Quando a maré gravitacional virou, foi como observar o universo dando sua última respiração.
Tudo que estava próximo foi tragado em um redemoinho de matéria desfeita, árvores, rochas e os últimos vestígios de civilização sendo desfiados desde suas origens.
Jin moveu-se não por instinto, mas por pura teimosia. Enquanto se afastava, viu o solo desaparecer, substituído por um anel de detritos cósmicos orbitando a escuridão como uma coroa de louros para a morte.
Hanshin vomitou escuridão, sua criação agora o devorava, consumindo-o de dentro para fora. Sua última transmissão mental veio cheia de risos que eram mais choros distorcidos.
{"Hahahaha... Não verei seus olhos cheios de terror quando entender... que tudo que ama será apagado... Que pena..."}
--TUMM-TUMM, Tumm-Tumm, tumm-tumm....--
O som do coração de Hanshin parando ecoou no vácuo que se formava, cada batida mais fraca que a anterior até o silêncio final.
Então seu corpo começou o processo horrível de espaguetificação, pernas se esticando em fitas de carne e osso, armadura desintegrando-se em poeira metálica, tudo sendo puxado para o monstro que ele mesmo conjurou em um espetáculo de auto-aniquilação cósmica.
'Maldito seja até o fim dos tempos, Hanshin!" "Você planejou isso desde o início!' Jin pensou incrédulo com a ousadia do demônio.
Sua reserva de Qi estava esgotada, a Lágrima Dragônica pulsando fracamente em seu peito como um coração moribundo. Mas a compreensão veio como um raio:
'Não há como anular... apenas conter'.
Jin Shakan fechou os olhos e rasgou as últimas reservas de seu poder, sentindo sua própria essência sendo consumida no processo.
A Lágrima Dragônica incendeiu-se em seu peito, tão brilhante que por um instante rivalizou com a escuridão, projetando sombras fugazes que dançaram como espectros antes de serem engolidas.
Seus olhos abriram-se transformados em sóis em miniatura, a dor uma presença constante e latejante.
As mãos moveram-se em selos que não eram vistos há milênios, desenhando geometrias sagradas no ar. Quatro runas incendiaram-se diante dele, cada uma um universo em miniatura pulsando com energia ancestral.
'Maximização de Feitiço!'
'Baken #12: Octaedro da Prisão Eterna!'
Oito dragões astrais nasceram das runas, não meras formas de energia, mas consciências cósmicas moldadas em fogo solar que rugiram com vozes que ecoaram através do tecido da realidade.
Eles serpentearam através do caos, encontrando resistência como se nadassem contra a maré do tempo.
O primeiro rebote atingiu Jin como um soco divino. Sangue jorrou de sua boca, não o sangue vermelho dos mortais, mas ouro líquido que brilhou por um instante antes de escurecer, cada gota carregando fragmentos de seu poder vital.
Ele sustentava sozinho um feitiço projetado para quatro Imperadores. Sua armadura de Orichalco começou vibrar com ressonância, um lamento metálico enquanto as runas de proteção se apagavam uma a uma.
O elmo desintegrou-se primeiro, seus cabelos dourados instantaneamente embranquecendo como se a vida fosse drenada de cada fio, transformando-se em uma casca pálida e quebradiça.
'AAAAAAAAAAAAAAAHH!!!'
Seu grito não era de dor, mas de desespero cósmico, o som de um deus assistindo sua própria dissolução. Sangue escorria de seus olhos agora, pintando seu rosto em tons sobrenaturais enquanto sua visão escurecia.
Os dragões finalmente encontraram seus pontos, oito vértices ao redor da esfera negra. Jin viu a abertura, uma instabilidade momentânea no campo gravitacional.
Moveu-se não com velocidade, mas com o instantâneo reordenar da realidade ao seu redor, seu corpo tornando-se um instrumento de pura vontade.
'SELO DIVINO DOS OITO DRAGÕES DO FIRMAMENTO!'
As paredes translúcidas formaram-se não como prisão, mas como contenção cósmica, tecendo-se a partir da própria essência dos dragões astrais. Runas maiores que montanhas incendiaram-se ao redor da esfera, sua luz uma última afirmação de ordem contra o caos.
O cataclismo pareceu hesitar, sua fúria contida pelas correntes de poder que agora o envolviam.
Então Jin caiu.
Não como um meteoro, mas como uma folha morta no vento cósmico, seu corpo agora pouco mais que um esqueleto envolto em pele pálida e quase translúcida. Seus olhos outrora dourados agora duas pérolas leitosas e cegas que ainda mantinham um brilho final de determinação.
Quando estava a poucos metros do solo, uma figura surgiu das sombras restantes, movendo-se com a graça etérea.
Mãos firmes mas gentis apararam sua queda desgovernada, pousando suavemente no chão que ainda tremia com os últimos espasmos do cataclismo.
"É você? Velho amigo?" Jin sussurrou com voz fraca, cada palavra um fio de ar roubado da morte.
"Sou eu, meu soberano!" A voz que respondeu era rouca e chiada, mas carregava uma familiaridade que atravessou eras.
A figura de Lao Tiang ajoelhou-se, amparando a cabeça de Jin Shakan em seu colo com uma reverência que era tanto cerimonial quanto profundamente pessoal.
As marcas da cruel batalha desfiguraram seu corpo de maneira horrível. Lao Tiang tinha sofrido uma queimadura do lado esquerdo acima da cintura que carbonizou carne e osso, deixando para trás apenas carne negra e retorcida onde outrora existira braço e olho esquerdos.
"Consegue ver?" Jin perguntou, sua voz falhando, cada sílaba uma luta contra o vazio que o chamava.
"Vejo claramente, meu soberano." Lao Tiang fitou a abominação contida, seu olho remanescente refletindo a prisão cósmica.
"Ela ainda esta pulsante... e há um caminho em seu coração. Uma porta..."
"Para... outros planos..." Jin completou, a contemplação em seus olhos cegos trazendo uma paz terrível. "Hanshin... abriu... uma passagem..."
Quando a verdade os atingiu, foi mais dolorosa que qualquer ferimento físico. Hanshin não buscava aniquilação buscava fuga, e estava disposto a queimar o mundo inteiro pela passagem, trocando a destruição de um reino por um caminho para além.
Jin Shakan reuniu suas últimas forças, seu corpo já quase translúcido contra o colo de seu amigo.
"Lao Tiang... minha nação... meu povo... meus herdeiros..."
"Descanse, meu soberano. Eu cuidarei de tudo."
A única lágrima que Lao Tiang permitiu-se escorrer traçou um caminho limpo através da sujeira e sangue em sua face, caindo como um diamante líquido na testa de Jin.
Onde a lágrima tocou, o corpo de Jin Shakan começou a dissolver-se não em poeira, mas em luz pálida que se desfez no ar do amanhecer que chegava, cada partícula brilhando com um fraco resquício dourado antes de se desfazer, como se o próprio mundo hesitasse em aceitar seu fim.
A brisa do novo dia carregou seus últimos fragmentos, iluminando tudo onde o sol tocava pela primeira vez em uma era.
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Periferias Sul - Onde um dia existira Noite Umbra
Nos escombros da barreira desfeita, o corpo de Liu Xiu jazia como uma marionete cujos fios foram cortados. Por horas, apenas o vento sibilou através de sua armadura destruída, cantando uma canção fúnebre para os mortos não lamentados.
Então, quando a primeira luz do amanhecer tocou os destroços, as runas antigas em suas costas começaram a pulsar com luz carmesim, batendo como um coração revivido.
O sangue espalhado moveu-se contra todas as leis naturais, fluindo de volta para o cadáver em riachos vermelhos que desafiavam a gravidade.
O corpo inchou, pele esticando até o ponto de ruptura com um som de rasgo úmido. Quando explodiu, não foi com som de carne, mas com o estalo de realidade se rompendo.
--BAMMM!!!--
"SCREEEEEE!!!"
O grito que saiu do que restara de Liu Xiu era de um lugar além da compreensão mortal, um som que não pertencia a nenhuma criatura deste mundo.
Da carne dilacerada, uma pequena criatura sangrenta com aspecto reptiliano emergiu, não nascida, mas revelada, seu corpo escorregadio deslizando para as sombras como se estas fossem sua verdadeira casa, desaparecendo nos destroços enquanto o sol do novo amanhecer se erguia no horizonte, testemunha silenciosa do renascimento de um pesadelo.
Chapter 23: Não Estamos Sozinhos
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14 de Dezembro de 2000 - Planeta Terra
O silêncio nos observatórios astronômicos ao redor do mundo foi mais eloquente que qualquer grito. Homens e mulheres que dedicaram suas vidas à ciência agora encaravam dados que desafiavam tudo o que conheciam. O satélite Gaia, essa maravilha tecnológica destinada a mapear as estrelas, havia tropeçado em algo que nunca deveria ter encontrado.
Na constelação de Ophiuchus, os instrumentos registraram uma assinatura gravitacional que fez os engenheiros acreditarem em erro de cálculo.
O Gaia BH1 não era apenas um buraco negro era um monstro cósmico a apenas 1.560 anos-luz de distância, próximo o suficiente para ser considerado um vizinho perigoso.
Mas o verdadeiro terror veio dos espectrômetros, que captaram um espectro energético alienígena, pulsando como um coração que batia em uma frequência que não pertencia a este universo.
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12 de Novembro de 2008 - Coreia do Sul
As televisões mostravam os mesmos rostos há quase duas semanas. Hyun-Woo, 33 anos, sorridente em sua foto de identificação. Soo-Min, 27 anos, determinada em seu uniforme florestal. Treze dias de silêncio. Treze noites de angústia para suas famílias.
"O governo mobilizou a Unidade 868," anunciava o jornalista, mas sua voz não conseguia disfarçar a dúvida que todos sentiam.
Algo naquelas imagens da floresta de Seorak escondia uma verdade que ninguém queria encarar.
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Parque Nacional Seoraksan - Mesmo Dia
O ar cheirava a pinheiro úmido e medo. O 3º Destacamento da CTC avançava em silêncio mortal, cada soldado sentindo o peso da floresta como uma lápide.
"Zero-1, avistei algo à frente!" O sussurro do soldado Park cortou o silêncio como uma faca.
Capitão Bai fez o gesto e seus homens se espalharam, dedos nos gatilhos, corações acelerados. O que encontraram fez até os veteranos mais endurecidos virarem o rosto.
Hyun-Woo estava... desmontado. Suas pernas arrancadas com uma violência que falava de ódio primitivo, seu torso coberto por marcas de mordidas circulares que se aprofundavam até o osso. O solo ao redor estava revirado ele havia lutado, desesperadamente, antes do fim.
"Zero-3, análise!" A voz de Bai era um fio de aço tensionado.
"Senhor, trauma craniano foi a causa mortis. Mas essas mordidas... não são de nenhum animal que conheço. E a perna direita... foi torcida e arrancada, não cortada."
Uma trilha de sangue levava mais para dentro. Pegadas pequenas, arrastadas, Soo-Min havia resistido até o fim.
A caverna que encontraram exalava um fedor adocicado de carne em decomposição misturado com algo metálico, elétrico.
E então a viram uma criatura de 60 centímetros, pele verde-pálida pulsando com veias negras, segurando um galho ensanguentado como um cetro primitivo.
"Mas que diabos..." alguém sussurrou, a voz quebrada pelo horror.
"AAAAAAAAAAHH!!!"
O grito que ecoou da caverna era puro desespero feminino. Soo-Min ainda estava viva.
O que se seguiu foi um pesadelo. A criatura moveu-se com velocidade impossível. Quando o soldado Lee abriu fogo, ela simplesmente encolheu os braços, os projéteis ricocheteando de sua pele resistente.
--BAMMM!!--
A perna de Lee quebrou como um graveto seco sob o golpe do porrete primitivo.
"FOGO LIVRE! MIREM NA CABEÇA!" Bai gritou, sua mente já processando o impossível.
Enquanto Zero-3 arrastava o soldado ferido, Capitão Bai alcança uma granada em seu cinto.
Morde puxando o pino...
"GRANADA!!!" Bai gritou.
--BUMMM!!!--
A granada explodiu com um rugido que silenciou a floresta. Quando a fumaça baixou, Bai precisou usar sua faca com as duas mãos para perfurar o olho da criatura o único ponto vulnerável.
Então os grunhidos começaram. Das sombras, mais criaturas emergiram - seis delas, seus olhos negros brilhando com inteligência maligna.
A batalha foi curta, brutal e custou dois homens. Quando o último grunhido silenciou, encontraram Soo-Min.
Ela deu seu último suspiro, seu corpo estava irreconhecível um mapa de tortura escrito em hematomas e ossos quebrados. Em sua mão fechada, ainda segurava a foto de noivado com Hyun-Woo.
"Hora do óbito, às 13:26, Capitão". O médico disse.
Sua voz vazia,enquanto fechava os olhos dela com a palma.
Os ossos da mão de Bai estalaram quando ele cerrou o punho. Aquele dia, que entraria para a história como "Dia Zero", marcou o fim da inocência da humanidade.
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Nos meses que se seguiram, a verdade emergiu em fragmentos sangrentos:
Um lagarto escuro do tamanho de uma van destruindo um vilarejo no nordeste do Brasil.
Uma fenda que rasgou o asfalto em San Francisco, liberando formigas do tamanho de pumas.
O "Formigueiro de San Francisco" que custou 734 vidas antes que o Comandante Adam Blaik, o primeiro "super-humano" registrado estrangulasse a rainha-formiga do tamanho de uma caminhonete com suas próprias mãos.
A humanidade entrou em sua Quarta Revolução Industrial, uma era de "caçadores" e "fendas", de recursos extraídos de dimensões paralelas e monstros que desafiavam a sanidade.
Descobrimos que não estávamos sozinhos no universo, e a verdade mais aterrorizante: a teoria das cordas era real, e estávamos sendo visitados por suas consequências.
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26 de Agosto de 2024 - Seoul, Coreia do Sul
Ethan acordou com o rosto marcado pelas teclas do teclado, o suor frio escorrendo pelas suas costas. Na tela, as palavras "GAME OVER" piscavam como um epitáfio para suas ambições de se tornar um designer gráfico de jogos.
🎵Don't wanna be a fool for you
Just another player in your game for two
You may hate me, but it ain't no lie
Baby, bye, bye, bye (bye, bye)🎵
Seu celular despertava pela segunda vez. Ele estava atrasado. O celular vibrava com a mensagem...
Jung Seok:"Ei seu lixo! Nos deixou na mão de novo!" 07:47am.
No banheiro, sob a luz fluorescente que realçava suas olheiras, Ethan encarou seu reflexo. Seus olhos castanho-esverdeados, herança da mãe estrangeira que nunca conhecera pareciam velhos demais para seus quase 17 anos.
Enquanto escovava os dentes, seus dedos traçavam inconscientemente os designs de personagens que povoavam seus sonhos, criaturas de mundos fantásticos que nunca igualariam os horrores que agora vagavam pela Terra real.
Descendo as escadas do apartamento minúsculo, ele quase esbarra na Sra. Kang.
"Para onde vai com tanta pressa, garoto?" ela perguntou, seus olhos estreitos examinando-o com desconfiança habitual.
"Desculpe, Sra. Kang! Aula de design gráfico," ele mentiu, ajustando a mochila cheia de esboços e sonhos.
Enquanto corria para o colégio, passou por um grupo de Caçadores, homens e mulheres com armaduras feitas de materiais extraídos de fendas, suas armas brilhando sob o sol.
Eles olharam através dele como se fosse invisível. E ele era apenas mais um jovem coreano sonhando em criar mundos virtuais, ignorante de que seu próprio mundo estava prestes a precisar de seus talentos e que nunca poderia imaginar.
O que Ethan não sabia, o que ninguém sabia era que o espectro energético detectado pelo Gaia em 2000 não era apenas uma anomalia. Era um sinal. Uma chamada. E algo do outro lado finalmente estava respondendo.
O verdadeiro jogo estava prestes a começar, e Ethan, sem saber, seria peça central em um conflito que abrangeria dimensões.
Chapter 24: Encontro Com o Destino
Chapter Text
A manhã em Seoul estava pesada, o céu cinzento refletindo perfeitamente o peso que Ethan carregava em seus ombros.
Ele caminhava com a cabeça baixa, tentando parecer invisível enquanto passava por um grupo de Caçadores. Suas armaduras brilhavam mesmo sob a luz fraca, um lembrete constante de tudo que ele nunca seria.
"Ei Ming Chun! Esses não são os T-Shoes? Aqueles feitos de monstros das fendas?"
"Sim! Esse mesmo! Ganhei de meu Padrasto!"
"Que irado!"
Ethan acelerou o passo, mas não foi rápido o suficiente. Quando alcançava o portão da escola, uma mão familiar fechou-se em seu colarinho, esmagando-o contra a parede com uma força que lhe tirou o ar.
"Ei seu lixo!" Jung Seok rosnou, seu rosto distorcido por uma raiva que Ethan conhecia muito bem.
"Por quê? Está chegando agora? E o que foi aquilo ontem, durante nossa partida?"
O hálito quente de Jung Seok atingiu seu rosto, e Ethan sentiu seu estômago se contrair.
"Eu... eu dormi! Cai no sono sem querer!" Sua voz saiu como um sussurro trêmulo, os olhos fixos no chão onde uma formiga carregava uma migalha - mais útil do que ele se sentia.
--BAMM--
O punho de Jung Seok atingiu a parede a centímetros de seu rosto, fazendo a madeira rachar. Ethan fechou os olhos, esperando o impacto que não veio.
"O que está acontecendo aqui?" O Professor Chou questionou, sua voz carregada mais de irritação do que preocupação genuína.
"Depois das aulas, me encontre no ginásio!" Jung Seok disse, suas palavras cortantes como lâminas enquanto virava as costas.
"Tudo bem com você?" O professor perguntou, mas seus olhos já estavam vagando pelo corredor.
"Sim Professor!" Ethan engoliu seco, o gosto amargo da humilhação enchendo sua boca enquanto entrava na sala de aula.
Durante a aula de Design, por breves horas preciosas, ele conseguiu esquecer. Seus dedos traçaram linhas familiares no papel um homem de cabelos e olhos dourados vestindo uma armadura branca com detalhes em ouro, flutuando no céu envolto em uma energia branca com bordas douradas. Era seu refúgio, seu mundo particular onde ele tinha controle.
"Isso é bem legal!" A voz de Jin Ha o fez pular, trazendo-o de volta à realidade.
"É mesmo?" Seus olhos brilharam momentaneamente. "Se gostou tanto, você quer ele?"
"É verdade? Você vai realmente me dar ele?" O rosto de Jin Ha se iluminou com genuína surpresa.
"Claro! Você é minha amiga!" Ele sussurrou, seu sorriso um pouco triste sabendo que aquela era a única coisa de valor que poderia oferecer.
"Então eu aceito!" Ela disse enquanto beliscava o braço de Ethan com força.
"Aí aí!" Ethan se encolheu fingindo que morreria, a dor física sendo um alívio, comparada à dor emocional que carregava.
"Idiota!" Jin Ha o insultou enquanto puxava o desenho pra si, seu toque suave contrastando com as palavras ásperas.
Quando o sinal final tocou, o céu havia escurecido completamente. Raios e trovões faziam as janelas vibrarem, e Ethan saiu pelo portão cobrindo sua cabeça com o capuz.
Ele correu, seu coração batendo forte não apenas pelo esforço, mas pelo medo do que sabia que o aguardava.
Ele andava apressado pelas quadras quando algo chamou sua atenção. Um beco escuro como breu, que normalmente evitava, hoje parecia... diferente.
--BAMM!--
Uma lata de lixo virou do nada e um rato correu para escuridão. Ethan podia ver do outro lado do beco o prédio de apartamentos das estudantes femininas, suas luzes aconchegantes piscando como estrelas inalcançáveis.
A sensação era nostálgica, profunda - como se algo importante estivesse prestes a acontecer.
Ele deu o primeiro passo e o segundo, quando estava no meio do caminho e ouviu.
"Ei sangue sujo!" O insulto cortou mais profundamente do que qualquer soco. Era Min Ho, um dos amigos de Jung Seok.
"O que está fazendo? Estamos te esperando no ginásio!" Min Ho rosnou, suas sobrancelhas serradas formando uma expressão que Ethan conhecia muito bem.
Ethan não disse nada. Sua boca secou, suas mãos começaram a tremer. Ele sabia o que viria a seguir.
Min Ho se aproximou e chutou o estômago de Ethan, que caiu se contorcendo no chão frio. A dor foi uma explosão branca que lhe roubou o fôlego.
"Vou te dar uma lição seu lixo!" Ele chutou o rosto de Ethan enquanto praguejava, cada palavra um golpe adicional.
Min Ho subiu sobre Ethan e começou a esmurrá-lo. Cada soco fazia Ethan gemer e pensar:
'Eu não fiz nada pra você! Eles me batem por qualquer coisa'.
Três anos. Três longos anos desde que Jung Seok e seu grupo o haviam escolhido como alvo. Três anos sendo roubado, forçado a upar personagens deles, surrado constantemente. Três anos de tortura silenciosa que corroeu sua alma.
Ethan quase perdeu os sentidos quando Min Ho parou de socar seu rosto.
"AFF.........Aff.........Aff!" Min Ho arfava exausto, ofegante de tanto bater.
Ele se abaixou e procurou nos bolsos de Ethan até encontrar a carteira. Abriu-a como se fosse dele.
"Isso é o pagamento pela lição de hoje!" "Aff...Aff!" Ele jogou a carteira no rosto de Ethan, o couro batendo em sua pele já machucada.
--KABOOMMM!!--
Um raio rasgou o céu acima dos dois garotos, iluminando o beco por um instante. Uma chuva torrencial começou a cair, lavando o sangue do rosto de Ethan.
"Merda! Vou me molhar por sua causa, sangue sujo!" Min Ho virou as costas e sumiu na chuva, suas risadas ecoando como demônios na tempestade.
'De novo, aquele insulto, aquele nome'. Ethan pensou enquanto via seu algoz desaparecer.
A chuva misturava-se com suas lágrimas quentes, lavando não apenas seu sangue, mas também seus últimos vestígios de dignidade.
Ethan sentiu-se completamente inútil. Ele não conseguia nem ao menos se defender. Seus olhos inchados pelos socos que levou, ele sentiu a chuva forte sobre ele como um castigo divino.
Seus sentidos aos poucos adormecendo, sua mente afundou em si mesma. Um pensamento, uma pergunta vindo do mais profundo de seu subconsciente:
'POR QUÊ?...POR QUÊ?...POR QUÊ?...POR QUÊ?'
'POR QUÊ?, POR QUÊ?, POR QUÊ?, POR QUÊ?'
'POR QUÊ SOU TÃO FRACO?'
Sua consciência começou a se apagar, a dor e o frio se tornando uma única sensação confortável. Até que.
'Você deseja força?'
Ethan escutou em sua mente, uma voz que não era sua, mas que ecoava em cada fibra de seu ser. Isso o trouxe de volta à consciência em um espasmo violento.
"COFF....COFF....COFF!!!" Ethan estava se afogando com a chuva torrencial que escorria por sua boca e nariz.
Ele abriu os olhos com dificuldade.
Tudo doía cada respiração era uma facada, cada movimento uma agonia. Ele se virou de lado, cuspindo sangue que se misturava com a água da chuva.
Virou a cabeça para aquele lugar onde a lata de lixo virou com o rato. A chuva deixava sua visão embaçada, não conseguia ver claramente. Então ele se arrastou mais para perto, cada centímetro uma conquista dolorosa.
Sua visão melhorou e ele viu com incredulidade. Duas pequenas luzes não vaga-lumes, mas uma vermelha como sangue e outra roxa como crepúsculo.
Elas dançavam levemente, pairando no ar apesar da forte chuva, desafiando as leis da física. Ethan estava com medo e curioso ao mesmo tempo.
"O que é isso?" Ele sussurrou tentando levantar, mas suas pernas não responderam.
Ele caiu subitamente, seu braço sem força e dolorido. Então ele se rastejou, arrastando seu corpo machucado em direção às luzes. Cada movimento era uma agonia, mas algo mais forte que a dor o impulsionava.
Ele esticou o braço dolorosamente até tocar nas pequenas luzes. Imediatamente um zumbido ensurdecedor rasgou seus sentidos. Um pulso de energia percorreu todo seu corpo e uma dor branca tomou sua mente.
Ele sentiu-se completamente exposto e violado, sentiu algo sondando suas memórias mais profundas, revirando sua alma como páginas de um livro aberto.
--ZUUMMMMMMMMMMMM!!!--
"AAAAAAAAAAAAAAAHH!" Ethan se encolheu com suas mãos na cabeça, seu corpo arqueando em agonia cósmica.
Então, algo tomou forma em sua mente, palavras que queimavam como fogo.
[Você Deseja Força?]
[Sim] [Não]
Sangue escorria de seu nariz, misturando-se com a água da chuva que agora parecia lavar não apenas seu corpo, mas toda sua existência.
Cada parte de seu ser gritava que isso era loucura, perigo iminente. Mas então ele pensou em três anos de humilhação. Três anos de impotência.
Três anos perguntando "por quê?" enquanto o mundo seguia adiante sem notar sua existência.
Sua mão tremendo, sua alma sangrando até a última gota de esperança, ele fez sua escolha com todo o ódio, toda a dor, todo o desespero acumulado em seu coração.
--'[Sim]'--
O beco inteiro explodiu em luz, e pela primeira vez em três anos, Ethan não sentiu medo.

CEZAR ANGELO (Guest) on Chapter 4 Mon 22 Sep 2025 10:22PM UTC
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Mago_velho on Chapter 16 Wed 01 Oct 2025 12:01AM UTC
Last Edited Wed 01 Oct 2025 12:16AM UTC
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Mago_velho on Chapter 22 Fri 24 Oct 2025 07:18PM UTC
Last Edited Sat 25 Oct 2025 09:27AM UTC
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