Chapter Text
O som das telhas sendo tocadas pelos dedos da jovem com pele leitosa sentada na cabine dentro do escritório se transformava em mais um dos ruídos que ecoava naquele ambiente caótico, quase todos os funcionários estavam de pé correndo com pastas e papeis em suas mãos, enquanto outros estavam na fila da impressora.
Era mais um dia no departamento de planilhas da empresa Joja, todos os funcionários estavam organizando uma pilha de documentos para entregar para Morris e outros superiores, o sábado não estava sendo nada divertido.
A jovem de cabelos rosa escuro observava com tédio a tela de seu computador, estava a finalizar uma das planilhas do dia e logo, a enviaria para seu superior. Ela conseguia ver um pouco de sua aparência no reflexo da tela e poderia dizer com toda a certeza que sua aparência não estava boa.
Seus cabelos cacheados curtos estavam presos em um rabo de cavalo baixo com vários fios arrepiados, suas pálpebras estavam pesadas e seus olhos avermelhados haviam perdido seu brilho. A jovem trajava a camisa azul padrão da empresa e usava um ténis branco, seu corpo possuía curvas com uma barriga, as suas coxas grossas também chamavam atenção.
Outra característica que chama atenção, era a pinta que a menina possuía perto da região de sua boca.
Noeli Kaylan era mais uma das funcionarias da empresa Joja, trabalhava no departamento C de planilhas de vendas e contabilidade, fazia poucos intervalos por dias e tinha uma grade de trabalho 15 horas por dia com apenas um dia na semana de folga. Possuía um pequeno apartamento em um prédio do outro lado da cidade de Zuzu e um gato de cor branca, algumas fotos de família e cortinas de croché roxas que ficavam acima de sua cama de solteiro.
Pensava em sair de sua cadeira e ir tomar um café na copa, talvez conversar um pouco com sua colega Ellen sobre suas planilhas e como o café estava aguado, eram os únicos assuntos que ambas tinham nesses últimos quatro anos de convivência. Ellen era uma mulher alta com uma figura esbelta, seus cabelos escuros eram onduladas que possuíam uma franja dividida para os dois lados e seu rosto era redondo, seus olhos verdes escuros faziam um bom contraste com a pele preta que a mesma tinha.
Alguns outros detalhes de Ellen era seus cílios longos curvados, eles eram os mais lindos do escritório. Assim como Noeli, a mulher alta usava o uniforme de camisa azul com o logo da empresa com calças jeans com um sapato branco, como todos os funcionários.
Embora Ellen fosse uma boa companhia, recentemente, ela apenas levava suas conversa para o rumo de sua vida amorosa e Noeli não gostava nada disso. Ela não tinha ninguém em sua vida amorosa, já tinha muito problemas com sua família e preferia não ter que começar outro namoro que acabaria no fracasso, sem falar em ter sua mãe julgando sua vida.
Os seus problemas familiares lhe levavam quase a loucura constante, ela era quase como uma empregada para seus pais e seus irmãos. Noeli entendia que eles eram jovens estudando e tentando se descobrir na vida, mas ela sempre estava exausta de fazer tudo por eles.
Ao contrario de si, os seus irmãos possuíam um pouco de descanso quando chegavam ao apartamento e aproveitavam seu tempo de descanso com hobbies, enquanto ela tentava arrumar cada cómodo para a chegada de seus pais. Noeli conseguia admitir que sentia inveja de vez em quando deles por terem liberdade de descansarem e terem mais atenção de seus pais do que ela já teve, era complicado viver com a constante lembrança de não ser a favorita de nenhum dos dois.
Mas ela sempre conseguia ignorar o sentimento de amargura em seu interior, foi assim que a mesma conseguiu chegar a vida adulta sem trocar farpas com seus pais.
Brigar com seus pais era inútil, não havia motivos para tentar despejar suas emoções em palavras que não resultariam em uma mudança de ambos. Ela apenas limpa o apartamento de seus pais, cozinhando a janta para seus irmãos e indo embora para seu apartamento após completar todas as tarefas ao seus pais chegarem, tornando sua rotina muito cansativa.
Trabalhando no escritório da empresa Joja há mais de três anos, Noeli conseguiu comprar uma apartamento com ajuda do dinheiro de seu salário e uns ouros que seu avô havia deixado para si quando ela completou dezoito anos, quase todo seu salário ia para a manutenção de seu lar que a mesma quase não ficava devido sua rotina. As vezes, ela se perguntava se valia a pena ter comprado o imóvel e morar sozinha sendo que sempre tinha que estar na casa de seus pais fazendo o trabalho deles, sempre era uma grande duvida para si.
||Mamãe quer conversar com você, ela disse que é serio.
-Diana||
As sobrancelhas de Noeli se franziram ao ler a mensagem de uma de suas irmãs, era estranho sua mãe querer conversar com ela sem que fosse algo para ela cozinhar. Seus dedos foram rápidos em digitar uma resposta, seus olhos uma vez, ou outra, observavam para ver se seu supervisor não estava por perto para vê-la fugindo do trabalho.
||Serio? Ela quer algo coisa para comer de especial?
-Noeli||
A resposta foi quase que imediata, parecia ter um pingo de ansiedade e irritação características de sua irmã.
||Óbvio que não. Mamãe estava bem nervosa essa manhã, você fez alguma coisa? Pegou algum dos Iogurtes dela da geladeira?
- Diana||
Torcendo o nariz para resposta de sua irmã, Noeli voltou a digitar em seu teclado de escritório.
||Você sabe que eu não gosto de Iogurtes e principalmente, da Joja. Mamãe, provavelmente, está de mau humor.
-Noeli||
Mais uma vez, Diana não tardou para responder.
||Apenas fique em casa até ela chegar.||
Foi uma resposta curta e grossa, mas sendo Diana quem lhe mandou a mensagem, ela sabia que sua irmã estava apenas com seu mal humor rotineiro. Os olhos avermelhados de Noeli se desviaram para o canto do visor do computador, onde uma barra escura fazia o contraste com letras e números em branco que indicavam ambos data e horário, eram sete horas da noite. Nesse momento, Diana e Liliya deveriam estar chegando no ónibus que vinha de um dos terminais que Zuzu possuía e estariam esperando mais um ónibus para irem para casa, ambas estudavam em um colégio do outro lado da cidade com bolsa parcialmente gratuita.
Não demoraria para Noeli começar a arrumar seus pertences para sair do escritório, ela sairia junto com alguns colegas até o ponto de ónibus e encontraria seus irmãos no terminal, depois pegariam outro ónibus para o quarteirão onde ficava o apartamento. Um suspiro deixou seus lábios secos ao se espreguiçar levemente em sua cadeira, sentia seu corpo dolorido de ficar quase o dia inteiro sentada trabalhando nos relatórios e planilhas, estava sedenta por um dia de folga.
Mas para Noeli não existiam folgas, sua vida era uma constante rotina de trabalho ardo em um ciclo vicioso e nesse ciclo, não havia espaço para o descanso. Uma notificação na barra de ferramentas lhe chamou atenção, clicando na notificação e a abrindo, Noeli se viu lendo uma mensagem de uma de suas irmã.
Liliya, a terceira mais velha entre as meninas e sua razão para tomar analgésicos para dores de cabeça, uma pirralha insuportável. Infelizmente, Liliya havia herdado o temperamento explosivo de sua mãe e a falta de cuidado com as palavras, como seu pai.
Mesmo chegando perto da vida adulta, ela não possuía um senso básico para limites e não respeitava as regras que seus pais empunham, nem mesmo com as surras que ela levava. Noeli se lembra de ter que ir busca-la varias vezes no meio da madrugada em uma rua da cidade, ela sempre estava bebendo escondido e tentando impressionar as pessoas erradas, tentando ganhar sua atenção em troca. Ela sentia um pouco de pena de sua irmã por viver procurando meios alternativos de impressionar as pessoas e esquecer seus problemas, mas ela deveria a escutar um pouco seus conselhos.
||Mamãe descobriu que eu estou fumando
-Liliya||
Os olhos avermelhados de Noeli se arregalaram ao terminar de ler a mensagem, sentia uma sensação desconfortável se formando dentro de seu estômago.
||O que? Voce estava fumando em casa?
-Noeli||
Não era possível que Liliya havia perdido sua noção de perigo, ela sabia que sua mãe era neurótica com cigarros e outros fumos, era a razão de inúmeras brigas entre seus pais. Seria ainda pior se a garota tivesse roubado um dos maços que seu pai guardava na gaveta de meias e cuecas, aquele homem não vivia sem dar uma tragada em seu tabaco. Embora Liliya fosse a princesinha do papai entre todas as filhas, ela não escaparia ilesa como fez das outras vezes, ninguém sairia impune de tocar nas coisas de seu pai.
Isso explicava o motivo de Diana estar irritada nas mensagens, ela não duvidava que Diana tivesse dado um tapa, ou, um soco na cara de Liliya ao descobrir o que ela havia feito. Ambas dividiam o mesmo quarto, se Liliya tivesse fumado dentro do quarto, na certa teria uma briga selvagem entre as duas e Noeli teria que as separar antes que ela se matassem.
||Não, estava escondida no estacionamento e ela acabou indo trabalhar mais cedo, ela me viu.
-Liliya||
Um certo alivio passou pelo corpo de Noeli ao saber que sua irmã não tinha fumado dentro de casa e nem no quarto que ela dividia com Diana, seria um problema a menos para resolver.
||A filha da puta da Diana me bateu, estamos na diretoria e o diretor está decidido a nos dar uma detenção após a aula! Você pode vir aqui conversar com ele?
-Liliya||
Por um momento, Noeli paralisou sentada na cadeira depois de ler a mensagem e a simila-la, desejando ter ignorado a mensagem de sua irmã desde o começo. Seus dedos logo se tornaram ao trabalho de digitar uma resposta para sua irmã, antes de olhar para o corredor do escritório que levaria para a copa de café e o banheiro, pensando em tirar alguns minutos para resolver a situação.
||Me de cinco minutos, vou ir ao banheiro para resolver isso.
-Noeli||
Fechando a caixa de mensagens, Noeli se levanta dando uma breve observada no ambiente em sua volta. Seu chefe parecia estar em outro lugar do escritório, ela se apressaria em ser rápida no banheiro e voltar sem ser percebida, Morris já estava de saco cheio de suas saídas.
Em dias normais, ela não iria desperdiçar seus intervalos resolvendo assuntos de fora do trabalho, mas hoje era um dia diferente.
Apressando seus passos ao adentrar o corredor, Noeli se viu em uma bifurcação entre a copa e o banheiro, sacava seu celular de um de seus bolsos enquanto entrava no banheiro vazio e o trancava. O ambiente da latrina do escritório possuía azulejos cinzas com sujeira em seus espaçamentos, o chão branco liso estava manchado de pegadas escura e com poças de agua, o cheiro também não era agradável no ar.
A pior parte era as cabines dos lavatórios, feitas de madeira com tinta azul clara com uma camada de verniz barato, as portas das cabines estavam com a madeira rachada e algumas descascando a tinta azulada. Reprimindo um arrepio de desgosto ao estar naquele ambiente, Noeli entrou na primeira cabine que se mostrava ser a menos pior do banheiro, abaixando a tampa no vaso para se sentar e conversar com o diretor do colégio das meninas.
Não demorou para o aparelho começar a tocar e a vibrar, ela foi rápida em atende-lo.
- Alo?- Uma voz masculina ecoou na linha, uma voz familiar para Noeli, era o diretor de seu antigo colégio.
- Boa tarde, senhor Diretor Wood.- Cumprimentou Noeli tentando parecer calmo, pois por dentro de sua mente, ela estava desejando estar morta do que conversar com esse homem novamente.
Um silencio pairou sobre a linha telefónica por alguns minutos, factor que fez o nervosismo de Noeli trazer uma sensação de queimação em seu estômago.
- Noeli Kaylan, é uma surpresa ouvir sua voz depois de tanto tempo.- Comentou o Diretor Wood com uma voz grossa, parecia estar cheia de ressentimento escondido.
Revirando seus olhos com irritação, Noeli se pronunciou com a intenção de ir direto ao ponto e esclarecer tudo da situação da briga entre suas irmãs, se preocupava com a quantidade de detenções.
- Sim, uma surpresa. Mas o assunto que mais me intriga é saber que minhas irmãs estão em sua sala, certo? O senhor poderia me explicar as punições de cada uma e como a briga se sucedeu?- Noeli questionou com rapidez em suas palavras, com sorte, ambas não teriam que ajudar a limpar as salas de aula durante uma semana.
- Sim, pelos depoimentos das testemunhas oculares, a senhorita Diana desferiu um soco no rosto da senhorita Liliya e logo em seguida, lhe chutou no estômago.- Diretor Wood explicou com calma em sua voz, pela linha telefónica, Noeli podia escutar o barulho da sua escrita sobre o papel.
- Como se sucede a punição de Diana?- Questionou Noeli com um suspiro profundo a acompanhando, era cansativo lidar com os problemas dos outros.
- Estou convencido que uma semana de limpar carteiras e tirar pó das estantes de nossa vasta biblioteca será perfeito, fará que ela pense muito bem antes de agredir um de seus colegas novamente.- Sentenciou Diretor Wood com veemência, o tom serio que o mesmo usava lhe trazia uma certa nostalgia.
- Obrigada, senhor Diretor Wood. Esse comportamento jamais se repetira novamente, me certificarei disso.- Agradeceu Noeli com um tom falsamente amigável.
- Assim eu espero, senhorita Noeli.- Proferiu Diretor Wood, um pouco antes de desligar a ligação.
O som do zumbido na linha telefónica enchia os ouvidos de Noeli, a fazendo sentir a irritação em seu sistema nervoso ao relembrar das palavras do homem mais velho, seu tom grosseiro lhe deixava enfurecida. Bloqueando seu aparelho celular mais uma vez, a moça se levantou da tampa do assento sanitário e abriu a porta da cabine, saindo para fora com passos apressados.
Pelos cantos de seus olhos, Noeli conseguiu reparar em sua aparência. Não foi uma surpresa agradável ver que suas olheiras ainda estavam lá, mesmo depois de vários ouros gastos em cremes que prometiam remover as olheiras, tudo balela da industria.
Saindo pela porta do banheiro, Noeli voltou ao seu lugar no escritório com passos apressados e atenta com qualquer movimento suspeito na direção na sala de Morris. Uma fila formada por alguns de seus colegas de escritório lhe chamou atenção, sussurros com um tom de lamentação vinha daqueles que falavam e eram recebidos com acenos de cabeças baixas.
Se aproximando de seus colegas, Noeli viu Ellen segurando alguns papeis com com força em ambas as mãos e com uma expressão sombria em seu rosto, seus olhos azuis estavam sem o brilho caloroso que ela sempre encontrava na colega quando a olhava a executar suas tarefas dentro do escritório e no intervalo.
- Ellen, o que ouve?- Questionou Noeli se aproximando mais da mulher, embora sentisse que não gostaria da resposta que sairia da boca dela.
Um suspiro saiu dos lábios pintados de vermelho de Ellen, uma de suas mãos passou sobre sua face que se transformava em uma carranca exausta diante do olhar de Noeli.
- Morris está fazendo um corte de funcionários de ultima hora.- Anunciou Ellen com pesar em sua voz, um tom que Noeli nunca havia ouvido vindo da mesma.
Sentindo seu corpo se estremecer em segundos, a jovem Kaylan apoia suas mãos sobre a superfície da parede branca do escritório, ainda sustentando seu olhar sobre sua colega que observava seus outros colegas de escritório com pesar.
Nosso departamento está sendo desligado da empresa, sinto muito.
Por um momento, a voz de Ellen estava parecendo abafada para a moça de cabelos rosados, mas ao ouvir a vozes das outras pessoas e o ambiente ao seu redor perceberá que algo estava errado com sua audição. Seus ouvidos conseguiam ouvir batida após batida de seu coração dentro de si, acompanhado com a sensação de dormências em suas pernas e a pulsação de suas veias em seu pescoço, ela mal percebeu seus joelhos protegidos pelo tecido da calça tocando o chão do escritório enquanto sua mão se arrastava para baixo na parede.
Sua visão estava focada em suas coxas grossas por causa de sua cabeça que estava cabisbaixa, havia uma vibração ao seu redor causada pelos passos de seus ex-colegas de trabalho e palavras desesperadas jogadas ao vento. Mas por alguma razão, mesmo que tentasse entende-las com cuidado, sua mente estava muito balançada para tal.
Os cabelos de tom rosado claro balançavam com o vento forte que batia contra seu corpo ao atravessar a rua pavimentada dentro do terminal, sendo seguida por outra figura com cabelo iguais os tons rosados seus. Ambas figuras possuíam corpos com espessuras magras, trajavam um casaco de feito de lã castanha com uma blusa social branca com botões amarelo ouro, calças com tecido reforçado em um tom de marrom escuro junto de um cinto de couro preto com uma fivela prateada.
O diferencial de ambas uma com a outra, era algumas características na face de ambas e em seu tipo capilar. A garota que caminhava mais há frente da outra, tinha cabelos onduladas que batiam em suas costas amarrados por um lacinho vermelho, em um estilo de rabo de cavalo baixo e sua franja era dividida para os dois lados. Seu rosto era angelical, o formato de sua face era redonda com um rosado em suas bochechas, dando um toque em sua pele leitosa.
Seu nariz pequeno contribuía com sua aparência suave, a forma arredondada de seus olhos e seus cílios longos eram muito favoráveis a sua aparência. Sua íris eram avermelhadas, possuíam um olhar amigável e esperançoso. Seus lábios eram levemente rosados, provavelmente, a jovem deveria ter usado um pouco de batom antes de sair de casa.
Diferente da menina de cabelos enrolados, a menina que caminhava ao seu lado tinha algumas características diferentes. Seus cabelos eram curtos e muito mais enrolados do que o da outra menina, seu nariz tinha sardas que se estendiam e suas bochechas eram mais gordinhas, esses eram os seus diferenciais.
Bem, tirando o fato que o olho esquerdo da menina estava com roxo com amarelados em sua pele.
- Você deveria colocar gelo, se não vai ficar ainda pior.- Cantarolou a menina de rabo de cavalo com seu tom de voz alegre.
- Vai se ferrar,Victoria! Você deveria ter me ajudado e não ter ficado parada, eu poderia ter morrido!- Rosnou a garota de cabelos curtos com um tom de voz grosseiro, seus dentes trincavam com a provocação da menina.
- Acho que sabemos como isso iria acabar, você com olho roxo e eu com braço quebrado, Liliya.- Imaginou Victoria com uma risadinha no final, parecia nada preocupada com a irritação da outra menina.
- Tomara que Diana se divirta muito com a detenção, é isso que ela merece por me socar.- Zombou Liliya com grosseria, parecia mais do que satisfeita da menina levar uma detenção.
- Liliya, você e a Diana são muito iguais, você sabia disso? Impulsivas, dramáticas e tolas. É engraçado ver as duas brigando, admito.- Victoria apontou os fatos com mais uma risada, ignorando o olhar assassino que a outra menina lhe lançava.
- Apenas cale sua boca, sua puta! Você parece um palhaço com essa maquiagem, está ridícula!- Tentou atormentar Liliya, seu sangue estava fervendo de ser comparada com a outra menina.
Diferente da fúria que Liliya esperava provocar, ela apenas recebeu um sorriso e as sobrancelhas se arqueando de Victoria.
- Bom, se eu pareço um palhaço com minha maquiagem, você está longe de ser diferente.- Respondeu Victoria lançando um sorriso para sua irmã mais velha, um típico sorriso doce que apenas ela conseguia ter.
Apenas bufando de raiva, Liliya continuou andando com sua irmã até verem o ónibus que ambas deveriam pegar para voltarem ao apartamento. Esse horário o pico era menor que as outras horas do dia, fazendo as meninas se apressarem em entrarem no veiculo em busca de lugares para se sentarem durante toda a viagem, desviando de outros passageiros.
Ambas se sentaram em dois bancos com o foro azul, perto das janelas que mostravam o céu escurecido da cidade de Zuzu. Os olhos avermelhados de Liliya observaram o movimento dentro do terminal com suas pálpebras um pouco caídas e com uma de suas mãos com punho fechado sobre sua bochecha lhe apoiando, ela gostava de observar as pessoas correndo para dentro dos ónibus, enquanto imaginava o que ela poderiam estar fazendo de suas vidas agora.
Ao seu lado, Victoria balançava suas pernas e com sua concentração em seu aparelho celular, a luz azulada da tela holográfica reflexo em sua face. Estava a ver postagens dentro de uma das redes sociais que ela mais usava, seus colegas haviam postados fotos do lanche no regreio e a marcaram, não demorou para curtir e comentar com um emoji de coração vermelho.
A viagem de ónibus se seguiu tranquila, o balançar do transporte e as paradas nos pontos de ónibus que traziam mais passageiros pareciam não ser notadas pelas irmãs. O som da chuva começava a ressoar contra a superfície da lataria do ónibus, os ventos frios se intensificaram fora do transporte e dentro por conta de algumas janelas abertas, uma delas era a janela de cima do acento das meninas.
Ter os ventos congelantes sobrando em seu cabelo e fazendo calafrios passarem por seu corpo, fizeram as veias da testa de Liliya pulsarem com irritação. Ficando de joelhos no banco, suas mãos tocaram alavanca preta e forçaram a janela de vidro se fechar, seus dedos doíam ao sentir a temperatura congelante dos dois últimos dias de inverno em Zuzu. A neve quase havia indo embora com seus flocos delicados, apenas deixando agora ventos gelados e pingos de chuvas que seriam passageiros até a chegada da primavera.
Um suspiro saiu dos lábios secos, parecia ser um suspiro em um tom cansado. O dono dos lábios era uma figura de um menino com cabelos enrolados que desciam até seus ombros largos cobertos por um sobre tudo marrom, trajava um sueter bege com uma calça jeans com cinto de couro preto com a fivela prateada, seus ténis eram pretos com cadarsos azuis escuro. Sua pele era em um tom castanho, seu nariz era mais proeminente e suas bochechas eram cheias, o formato de seu rosto era oval.
O formato de seus olhos eram arredondados com sua íris sendo de uma coloração avermelhada, seus cílios eram grande e chamavam atenção. Seus cabelos eram crespos com um corte alto e possuíam uma coloração loira com um tom amarelado ouro, a sua franja quase cobria seus olhos com olheiras cansados.
Seus passos eram calmos sobre a calçada se aproximando perto do apartamento onde morava, observando o prédio cinza com janelas de vidro e a porta da recepção giratória, quase conseguia se sentir em casa. Seu dia não foi particularmente bom, o transporte publico estava muito cheio e ele havia recebido uma mensagem de Diana xingando tudo que via pela frente, ela parecia maluca.
Chegando na portaria do prédio, o menino passou pela porta giratória e acenou para o porteiro que estava sentado em uma cadeira na recepção, o aceno foi retribuído por um sorriso amarelo. Seguindo para o elevador, o jovem digitou o andar térreo do prédio e esperou o elevador descer, logo entrando no elevador assim que o mesmo chegou.
- Tim!!- Uma voz o chamou de longe, parecia desesperada.
Tim se virou em direção da recepção ainda dentro do elevador, lá estava a figura de Ellen, uma colega do trabalho de sua irmã. Seu coração quase errou as batidas ao ver sua irmã mais velha sendo sustentada pela colega, sua face estava muito pálida e ele conseguia ver o olhar perdido que a mesma tinha.
Seus pés foram rápidos em lhe levar para frente de Ellen e Noeli, suas mãos se puseram a sustentar o corpo de sua irmã pela cintura e as costas. Por sua vez, a colega de trabalho de sua irmã ajudou ele a guiar sua irmã para o elevador que ainda estava com as portas abertas, a mesma se apoiou as costas contra os espelhos que tinham no elevador.
- O que aconteceu?- Questiona Tim com preocupação em sua voz assim que as portas do elevador se fecharam, seus dedos estavam bem firmes contra o corpo de sua irmã.
O silencio foi sua única resposta, a moça com camisa azul estava mais ocupada observando o rosto pálido da ex-colega. O elevador começou a subir, Ellen humedeceu seus lábios e engoliu seco, suas mãos pareciam tremulas.
- O nosso departamento foi desligado de Joja, todos fomos despedidos.- Revelou Ellen com uma voz profunda, seu tom indicava a exaustão da moça.
Tim virou lentamente seu rosto para encarar a mulher, ele sabia que o trabalho de sua irmã era muito importante para ela e para o sustento do apartamento onde a mesma morava. O jovem não encontrava palavras para essa situação, não conseguia imaginar que qualquer palavra fosse ajudar naquele momento e por sua experiência, o silencio era mais reconfortante do que palavras vazias.
Seus pensamentos chegaram até sua mãe, ela não ficaria nada feliz com os acontecimentos de hoje e principalmente, com a demissão de Noeli. Existia uma implicância da parte de sua mãe com sua irmã mais velha que ninguém na família conseguia entender, ela sempre externalizava suas emoções negativas em Noeli e não tinha a menor culpa em sua consciência disso, Diana havia puxado muito da mãe deles também.
O toque do elevador o tirou de seus pensamentos por um momento, o lembrando que eles já haviam chegado no andar do apartamento de sua família. Com ajuda de Ellen, ambos levantaram o corpo de Noeli e se dirigiram pelo corredor de paredes brancas, apenas parando em frente de uma casa com o numero 44 escrito na porta com letras de ferro.
Com cuidado, Ellen largou as pernas de Noeli e a deitou no chão frio do corredor, enquanto Tim destrancava a porta com as chaves que estavam em seus bolsos do jeans. Já com a porta aberta, ambos voltaram a carregar o corpo de Noeli para o sofá vermelho que decorava a sala com estampas de listras de zebras, a ajeitando para ficar o mais confortável possível.
- Desde quando ela está assim?- Tim quebra o silencio questionando a mulher, ele nunca viu algo parecido com isso.
- Desde que recebeu a noticia, ela não falou nenhuma palavra desde quando eu e outros colega...Eu e outros ex-colegas tentamos ajuda-la.- Respondeu Ellen com um tom hesitante, parecia um pouco perdida.
- Obrigada por ajuda-la.- Agradeceu Tim.
- Foi nada. Bem, eu preciso ir, vou deixar a bolsa dela em cima da mesa.- Se despediu Ellen com um aceno, antes de colocar uma bolsa tira colo branca na mesa de vidro baixo que tinha na frente do sofa.
Tim se sentiu bobo ao não perceber que a moça carregava a bolsa de sua irmã com ela o tempo todo, ele se sentia tão preocupado que nem tinha notado.
Não demorou para Ellen sair pela porta e deixar ele sozinha com sua irmã, ela não parecia reagir aos estímulos de toques em suas mãos, perguntas e beliscões. Tim não estava gostando dessa situação, se Noeli não voltasse ao normal, ele teria que ligar para seu pai e eles a levariam para o hospital mais próximo.
Tentando se acalmar um pouco, Tim decidiu ir para a cozinha para pegar um copo de agua para ele e para a irmã, mas um resmungo lhe chamou atenção. No sofá, Noeli se mexia devagar com seus olhos piscando para se acostumar com a luz do ambiente, parecia desorientada
- Noeli, você está bem?- Questionou Tim se aproximando do sofá, estava preocupado com o estado de sua irmã.
Voltando sua atenção para seu irmão, a jovem de cabelos rosados se sentou e respirou fundo, antes de encarar o menino.
- Não, eu perdi meu emprego.- Sussurrou Noeli com sua voz baixa e cansada, parecia estar carregando uma tonelada em suas costas.
Seus olhos avermelhados pareciam opacos agora, sem brilho nenhum. Uma carranca de melancolia e tristeza era visível em seu rosto, apenas velados pelas lágrimas que começaram a humedecer seus olhos enquanto se derramavam sobre o seu rosto. Usando uma de suas mãos, Tim passou em um movimento circular com a palma nas costas da jovem e tentou lhe passar conforto, ele não era bom com palavras.
O barulho da porta abrindo ressoou no ambiente, chamando atenção de ambos os jovens e os fazendo voltar sua atenção para a figura que estava na porta. Os cabelos loiros ouro e a estatura magra com roupas formais escuras de escritório reforçavam a carranca no rosto da mulher, seus olhos eram vermelhos com um formato felino e seus lábios pintados de vermelho lhe chamaram atenção.
- Mãe...- Foram as ultimas palavras que Noeli conseguiu falar naquela noite.
