Actions

Work Header

Rating:
Archive Warning:
Categories:
Fandoms:
Relationships:
Characters:
Additional Tags:
Language:
Português brasileiro
Stats:
Published:
2025-10-09
Updated:
2025-12-01
Words:
10,901
Chapters:
2/?
Comments:
2
Kudos:
12
Bookmarks:
2
Hits:
301

To Have & Hold

Summary:

Percy Jackson desapareceu silenciosamente na calada da noite. Semanas depois, ainda não há pistas sobre o que pode ter acontecido com ele. Esgotando-se na tentativa de encontrá-lo, apenas para acabar sem nenhuma pista dia após dia, Annabeth está decidida a deixar o orgulho de lado e pedir ajuda a alguém que ela tinha certeza que nunca mais veria: seu pai.

Voltar para casa pela primeira vez desde os sete anos não é uma tarefa fácil, mas encontrar Percy é mais importante do que pequenas coisas irritantes, como o fato de ela ter fugido de casa e ter levado sua família a acreditar que ela estava morta pelos últimos dez anos.

Notes:

Chapter 1: Introduzindo: A Criança Perdida (não, não é aquela).

Chapter Text

O plano era simples: chegar e falar.

Só um bate e volta maroto; simples, fácil, duas horinhas no máximo. Tudo o que ele tinha que fazer era bater um lero, trocar um dedo de prosa, talvez comer uns biscoitinhos com um café recém passado.

Simples, fácil, impossível de dar errado.

Obviamente, tudo foi para o beleléu assim que ele abriu o grande bocão dele e tudo que não erra para dar errado, deu muito errado.

Quem foi o estrupício que decidiu que ele, entre todos os adultos mais competentes e menos propensos a trocar os pés pelas mãos, deveria ser o mensageiro? Espera, ele se voluntariou, não foi? Bem, ele nunca fingiu que era inteligente para começo de conversa, os outros deveriam saber melhor do que ir na ideia dele. Enfim, essa definitivamente vai ser a última vez que ele se voluntária para qualquer coisa. Tudo o que ele queria era fazer sua boa ação do dia, mas não, ele tinha que se ferrar bonitinho.

Homofobia dos infernos.

Claro, talvez ele devesse ter pensado um pouco melhor no plano de jogo, que, por sinal, é completamente inexistente, mas isso não é culpa dele; acontece que depois de uma vida só indo com a maré te torna meio suscetível a planejar enquanto faz. E não é como se isso fosse um plano tão ruim, ele passou todos os anos do colégio sem pegar um livro para estudar e colocando a cara a tapa nos dias de provas e apenas aceitando qualquer resultado (claro, ele era um dos poucos alunos que calavam a boca e prestavam atenção na hora da explicação, mas, ainda assim, ele estava ou lendo ou ouvindo música enquanto o professor falava). Então, que os deuses lhe perdoe por achar que tocar a campainha e pedir para falar com o dono da casa iria funcionar. Até porque, onde já se viu isso, né? Tocar a campainha e educadamente pedir para falar com o adulto responsável claramente é algo criminoso e suspeito, então é claro que ele iria se ferrar por isso.

Certo, certo, ele pode ter ultrapassado os portões e invadido propriedade privada no processo de chegar até a campainha, e ele pode ter pedido para falar com o cara que tecnicamente não mora na casa, mas tem um quarto secreto na forma de uma caverna infestada de cocô de morcego embaixo dela, e essa é uma informação que ele, supostamente, definitivamente não deveria ter, mas você pode culpar ele? Ele está nervoso e estressado e não dorme há sessenta horas, é claro que ele iria começar a falar mais do que deveria eventualmente. Pelo menos o cérebro dele ainda tem neurônios o suficiente funcionando para fazer ele falar apenas dessa coisa que ele não deveria falar e não da outra coisa que ele não deveria falar porque se ele falasse da outra coisa que ele não deveria falar aí as coisas ficariam realmente, completamente, absurdamente complicadas. E ele não precisa de mais complicações na vida dele, não, muito obrigado. O que ele precisa de uma rede para se espreguiçar e uma boa fanfic com 100K no mínimo.

Ao invés disse, o que ele tem é uma sala com a pior decoração que ele já viu na vida, portas e janelas trancadas como se ele fosse uma espécie de criminoso e um sofá tão desconfortável que quase faz ele sentar no chão. Mas ele é um convidado — quase —, e ele tem educação o suficiente para saber que você não pode sentar no chão da casa de pessoas que não são parte do seu ciclo de amizade sem parecer um esquisito. Sendo assim, contra todos os seus músculos doloridos, ele continua no sofá que deveria ser guilhotinado e então mandando para a fogueira por crimes contra a anatomia humana, em especial a lombar.

Céus, como as costas dele estão doendo.

Isso é tortura, lhes digo, tortura!

Respirando fundo, ele tenta achar alguma posição confortável, não que ele que tal empreitada lhe dê frutos positivos.

Sem nada para fazer, ele continua a olhar fixamente para frente. Seus olhos estão começando a arder, um sinal de que ele esqueceu de piscar de novo, mas não é como se ele ligasse. Talvez se ele tiver algumas lágrimas no olhos, isso vai fazer seus captores mais empáticos com o seu infortúnio.

Não, talvez captores não seja a palavra certa. Como destacado anteriormente, ele bateu na porta e pediu por uma audiência com o proprietário. Então, de certa forma, ele meio que se entregou para eles em uma bandeja de prata.

Ou de bronze.

Ou de plástico vermelho barato da praça de alimentação.

É, definitivamente de plástico vermelho barato.

Ele também, com toda a sua sabedoria milenar adquirida no ensino publico com falta de verba ou incentivos do governo, falou muito mais do que devia e já começou errado desde o inicio, quando ele muito estupidamente pediu para falar com a versão errada do dono da casa.

Veja bem, é uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro, possuidor de uma grande fortuna, vai, inevitavelmente, se fantasiar e sair por aí batendo em pobre no meio da noite.

Então é claro, é claro que Bruce Wayne é o Batman, assim como o Oliver Queen é o Arqueiro Verde. E não é culpa dele se o Bruce achou que ele estava fazendo um bom trabalho em esconder a identidade dele, e ficou boladinho quando ele chegou perguntando pelo Batman antes de qualquer outra coisa. Nem o Oliver reagiu tão ruim quando ele deixou escapar que sabia quem ele era, e o sujeito atirou uma flecha na perna boa dele.

Ele sempre soube que o Batman era paranoico em um nível que faria até Zeus parecer um sujeito razoável, mas trancar ele em uma sala sem deixar ele falar nada além de duas frases? E daí se uma dessa frases era o nome super (nada) secreto dele? E não é nem como se ele tivesse exigido algo ou ameaçado ele ou dito algo idiota como "eu tenho uma bomba". Tudo o que ele fez foi estender sua mão, se apresentar como a pessoa educada que ele não é, e pedir para falar como o Batman. Nada que justifique o péssimo tratamento que estão lhe dando.

Uma pequena parte dele diz que talvez, só talvez, o motivo do tratamento ruim não seja tanto pelo nome Batman e mais pelo nome dele mesmo, afinal, mesmo sendo um filho bastardo, ilegítimo e meio que legalmente morto, ele ainda é filho do pai dele (para grande desgosto do próprio) e, mais importante, Lowell Luthor ainda é o irmão caçula de Lex Luthor; o que algumas pessoas considerariam algo muito pior e catastrófico, especialmente quando você bate na porta da casa do Batman e pede por um dedo de prosa e, consequentemente, atrapalha o encontro dele com ninguém menos que o Superman.

De todas as pessoas que odeiam o nome Luthor e tudo que vem atrelado a ele, Batman se encontra na segunda posição com o Superman saindo na frente em disparada. Sendo assim, é compreensível que os dois estejam receosos com a aparição não planejada e não desejada dele.

Em sua defesa, Lowell gostaria de dizer que se tivesse como, ele teria ligado antes para marcar um horário do jeito que gente rica metida a besta gosta, mas ele está com pressa e atualmente o celular dele se encontra no fundo de um poço (literalmente). Sendo assim, aparecer sem convite ou planejamento era a única opção. O que é irritante, claro, mas ainda assim não é motivo para tratarem ele como um criminoso. Só porque o irmão dele gosta de andar de bicicleta na linha entre a sanidade e a insanidade legal enquanto comete vários crimes, não quer dizer que ele é igual. Ninguém escolhe a família, e ninguém deveria ser julgado por ela.

Olhe o Superman, por exemplo, o tio dele adora invadir o planeta e destruir tudo no caminho e então ir embora sem pagar a conta. E ninguém culpa o Superman por isso, bem, ninguém além do Lex, mas o problema dos dois é dos dois e o o Lowell não deveria ser arrastado para o meio disso porque, como diz o ditado brasileiro muito questionável, em briga de marido e mulher ninguém mete a colher.

— Luthor!

Lowell pisca, tentando focar.

Ele coça seus olhos e cobre a boca para bocejar.

Batman e Superman estão lhe encaram com cara de poucos amigos.

— Que foi? — sua voz é arrastada e embolada.

— Você dormiu — o Homem-Morcego grunhi.

Lowell pisca novamente, lenta e deliberadamente, seus olhos saindo e entrando em foco. Batman e Superman estão fora de ângulo, mais altos e tortos do que normalmente são.

— Uhm — ele concorda com a cabeça. Sentando-se, ele vê a sala voltar ao normal, mas os dois continuam maiores do que deveriam (será que eles usam calço nos sapatos?). — Isso acontece as vezes — ele dar ombros.

Outro bocejo coberto, outra piscada.

Espreguiçando-se, Lowell estala sua coluna e lamenta mentalmente pelos próximos dias regados a dor e Dorflex.

— O que você quer dizer? — Batman, não, Bruce, o cara não está de fantasia, pergunta. Os olhos dele brilham com um misto entre curiosidade, suspeita e talvez preocupação? Lowell não sabe dizer.

— Tédio.

— Como? — Superman pergunta, genuinamente confuso.

O contraste entre os dois é gritante. Embora Superman seja o mais desconfiado deles em relação ao Lowell devido ao histórico familiar entre eles (que, por sinal, é inexistente uma vez que Lowell nunca tentou dominar o mundo, mas parece que não é apenas os pecados dos pais que são dos filhos, os pecados dos irmãos carecas também são, e sim, a distinção entre irmãos carecas e não carecas são importantes, pois Lowell tem vários irmãos com cabelo e ele não está sendo interrogado por uma suposta afiliação com nenhum deles), Superman é muito mais fácil de ler do que a Estrela Celeste do Heroísmo conhecida como Bruce Wayne vulgo Batman. Sinceramente, é mais fácil aprender japonês em Braille do que conseguir ler qualquer coisa nas expressões corporais do Cavalheiro das Trevas, o sujeito parece uma torre de concreto feita com cimento CP2.

— Tédio — ele repete. — Tédio da sono, simples assim. Se eu não tiver nada para fazer, eu durmo. Se você me tranca em uma sala por duas horas--

— Três horas.

— -- eu durmo.... Três horas? Que diabos! Não me admira que eu tenha dormido. Depois de meia hora encarando aquela pintura horrorosa em cima da lareira, meu cérebro deve ter se desligado sozinho para salvar o resto da minha sanidade.

— Meu filho fez aquela pintura — Bruce diz.

— O objetivo dele era tortura visual? Porque se for, ele é um gênio.

Bruce ameaça dar um passo para frente, mas o possível namorado dele se reposiciona minimamente para ficar no caminho dele. O moreno alto de olhos azuis cerra o maxilar e encara Lowell com intensidade o suficiente para gerar energia para abastecer uma pequena cidade do interior por dois dias e meio.

— O que você quer, Luthor? — o alienígena ilegal pergunta.

— Como assim? — Lowell pergunta confuso. Ele até deixa a cabeça cair para o lado para dar mais ênfase a sua confusão. Levemente fofo, duzentos por cento irritante. 

— O que você quer? — ele repete com irritação. — O que você está fazendo aqui?

— Eu vim falar com o Batman — Lowell responde. — Três horas é muito tempo, mas certamente você não esqueceu disso, né? Quero dizer, o motivo de vocês me trancarem em primeiro lugar foi exatamente por isso.

— E o que um Luthor teria para falar com o Batman?

— Sério mesmo que você continuar fazendo isso?

— Fazendo o quê? — Superman questiona.

— Agindo como se eu não soubesse quem o Batman é — ele responde. — Quero dizer, eu bati na porta do cara e pedi para falar com ele especificamente. Esse joguinho de negação em terceira pessoa pode funcionar com outros idiotas, mas esse idiota aqui não é idiota o suficiente para cair nessa idiotice.

Superman respira fundo, e dessa vez é Bruce quem tem que se reposicionar para impedir que seu amigo, igualmente moreno, alto e de olhos azuis, não ataque, pois enquanto Bruce Wayne parece pronto para socar Lowell Luthor, Superman parece pronto para jogar ele em órbita.

— Eu não estou brincando, Luthor!

— Eu não estou brincando também, senhor Cuequinha Vermelhinha Por Cima Das Calças!

Uma pessoa em plena capacidade mental talvez já teria calado a boca há essas alturas, mas, como já foi discutido antes, Lowell não dorme há pelo menos sessenta horas tirando o pequeno cochilo que ele acabou de ter no sofá mais desconfortável do mundo, então é certo assumir que ele não está em plena capacidade mental, e, sendo assim, ele não vai calar a boca a não ser que alguém lhe obrigue. E, a essas alturas, ele meio que quer ver qual dos dois vai fazer isso.

— O que você quer comigo, Luthor? — o marombeiro rico que gosta de se esconder nas sombras pergunta antes que Superman tenha a chance de dizer outra coisa. Mesmo sem a fantasia de morcego da frutas, ele ainda tem a voz de quem fuma quatro maços de Derby por dia desde os quatorze anos.

— Tu sabe que não precisa fazer essa voz, né? — Lowell comenta. — Primeiro, ela não funciona tão bem quanto você pensa sem o fursuit, e segundo, o estresse não é nada bom para as suas cordas vocais. Se você continuar assim, vai chegar aos sessenta mudo, ou pior, com a voz da Dercy Gonçalves.

— Pare de gastar o nosso tempo com essas piadas bobas! — Superman grita.

— Foi mal, não sabia que vocês são contra perder tempo, mas como é que eu poderia saber? Não é como se nós tivéssemos tido a chance de ter uma conversa amigável com café e bolo antes de vocês me trancarem sozinho por duas horas na sala mais feia que já vi na minha vida!

Se o Batman das Frutas e o Garoto Escoteiro acham que eles são os únicos que podem ficar irritados com a falta de cooperação de terceiros, estão muito errados.

Lowell também está profundamente descontente, o que é péssimo, porque isso quer dizer que alguém vai levar uma porrada, e esse alguém com certeza vai ser ele.

— Pela última vez, Luthor, o que você está fazendo aqui? — Homem Super pergunta. Ele parece exausto, como um CLT que acordou às quatro da manhã para pegar o trem às cinco e chegar no trabalho atrasado às sete e meia. Bom, porque Lowell se sente igual, e entre os dois, ele é o mais propenso a se ver em um cenário infernal desse (supervelocidade e voo deve fazer milagres na vida de um pobre CLT).

— Você não deveria ser inteligente? Digo, sua raça não era superior e avançada ou algo do tipo? Todos esse anos na Terra atrofiaram o seu cérebro ou algo assim? — Lowell encara ele. — Você continua se repetindo como um disco arranhado, perguntando o que estou fazendo aqui, o que quero aqui, sendo que já respondi isso várias vezes! Estou aqui para falar com o Bruce Man, com o Bat Wayne. Com a porcaria do dono dessa casa!

Lowell não percebeu quando ele se levantou e começou a gritar, mas de repente ele está na cara do Homem de Aço, e isso não é nada bom. Isso deveria ser uma visita diplomática, algo simples, algo educativo e, mais importante, um pedido de ajuda. Porque esse é o real motivo dele estar ali, ele — eles precisam de ajuda, e o autodenominado maior detetive do mundo é a última opção que eles têm (literalmente, eles tentaram tudo antes disso e nada ajudou).

— Terminou? — Bruce pergunta.

Por fora, ele parece mais irritado que nunca, desgostoso com a forma como a visita indesejada se vê no direito de gritar e avançar contra o Superman quando é ele quem está tornando tudo mais difícil do que deveria ser (por dentro, seu coração está batendo forte e sua mão está apertando forte o controle remoto que libera um gás sonífero na sala. Bruce não sabe o porque, mas algo nesse franzino magricela que poderia ser derrubado pelo vento lhe causa um medo primitivo, uma resposta de correr ou lutar, e faz uma voz ecoar no fundo de sua mente, uma voz que parece muito com uma risada que é tudo, menos alegre ou divertida, é que zomba de todos as suas fraquezas e aponta todos os seus pecados. E, olhando para Clark, ele consegue perceber que seu amigo está sentido os meus instintos).

— Desculpa — Lowell pede. Ele toma alguns passos para trás e coloca uma certa distância entre ele e Superman. Perder a cabeça nunca ajudou ninguém, pelo menos não do jeito que era esperado. — Olha Clark--

Lembrete: se você não falou para um super-herói que você sabe a identidade secreta dele, não use o nome civil dele em uma frase, principalmente, e essa talvez seja a parte mais importante, se você acabou de gritar e quase atacar tal super-herói e se ele e o seu irmão são ex-namorados que se odeiam.

Em um momento, Lowell está trocando os pés pelas mãos e no outro ele está contra a parede com o jornalista moderadamente educado do Planeta Diário, Clark Kent vulgo Superman, segurando ele pega gola da camisa.

— Como você sabe esse nome?! — Superman praticamente grita. Ele faz questão de pontuar sua perguntar empurrando Lowell com mais força contra a parede. Lowell chora por sua lombar que vai odiar ele mais ainda em algumas horas. — O que você quer aqui? Qual é o seu objetivo em vir aqui e fazer esses joguinhos mentais? Como você sabe meu nome? Como você sabe o nome do Batman?

Superman — não, Clark, isso é pessoal agora — está tão perto que Lowell consegue sentir seu bafo quente em seu rosto, com seu hálito uma mistura repulsiva de café ruim de repartição com atum e abacate?

— Cara, você precisa aprender a escovar os dentes entre as refeições. — Lowell, em toda a sua sabedoria, decide que fazer piadas é mais importante que responder as perguntas.

— Luthor! — Clark rosna.

— Sabe, toda vez que você diz Luthor, eu imagino um cão raivoso espumando pela boca.

— Pare de nos fazer perder tempo e comece a falar ou vou fazer você se arrepender de ter aparecido na minha frente!

— Não se preocupe, Clarkinho, já estou devidamente arrependido. — Lowell sorri por meio segundo, um sorriso aberto e travesso e extremamente debochado, antes de fechar a cara novamente e falar em um tom sério que não combina com nada que ele fez até o momento. — Agora, você vai se afasta de mim antes que eu faça você se arrepender de ter nascido.

Lowell Luthor não é a pessoa mais intimidadora do mundo. Nem a mais atlética ou a mais capaz de ganhar uma briga de rua. Ele é magrelo, raquítico, anêmico. Puro osso, um varapau. Lowell é alto, nós podemos colocar isso a favor dele, mas ter 1,77 não é nada perto dos 1,93 do Superman ou dos 1,85 do Batman, então, nesse cenário, nem alto ele é. Diante de Superman e Batman, Lowell Luthor é nada mais do que uma criança vitoriana morrendo de tuberculose.

Contudo, elo fraco ou não, uma pessoa não vive tanto tempo quanto ele sendo o que ele é sem aprender a lidar com oponentes maiores e mais fortes.

Sendo assim, Clark Kent se afasta de Lowell Luthor, soltando ele como se seu toque queimasse.

— Obrigado — Lowell diz como o rapaz bem educado que ele é quando quer. — Agora, que tal nós pararmos de perder tempo? Os primeiros dez minutos foram engraçados, mas agora isso está ficando velho muito rápido.

— Você que está gastando o nosso tempo, Luthor! — Superman realmente não larga o osso.

— Para com isso! — ele ralha. — Você continua cuspindo o meu nome como se fosse alguma espécie de maldição. Que tal você sentar a merda da sua bunda e calar a bosta da sua boca e me deixar falar em primeiro lugar? Toda essa titica de interrogatório poderia ter sido evitada se vocês tivessem me deixado falar desde o começo, mas não! Tu escutou a praga do meu sobrenome e decidiu me trancafiar como se eu fosse uma espécie de criminoso ao invés de falar comigo como uma pessoa civilizada, só para voltar horas depois e começar a exigir respostas que eu não tenho diacho de obrigação nenhuma em te dar, porque, veja bem, eu não sou um bandido! Saber que vocês gostam de usar fantasia de Carnaval em dezembro não é crime! E só porque o Lex é um chorume de gente e eu, infelizmente, sou irmão dele, não me torna uma extensão dele e de seus crimes! Porque se fosse assim, você deveria ser acusado pelos crimes do seu titio, e o Batzinho ali deveria responder pelo fato de que metade da família dele já mandou alguém ir dormir com os peixes! Então, que tal você perceber logo que, da mesma forma que os pecados do pai não são os pecados do filhos, os pecados dos irmãos também não deveriam entrar nessa lista, e tirar a sua cabeça do rabo e me deixar falar como venho tentando fazer desde que cheguei aqui!

O ar fica pesado ao redor deles, como as nuvens carregadas esperando para o temporal cair. E,  se alguém prestar bastante atenção, há possível sentir um leve odor de uvas recém prensadas.

Ou notar a brisa que vem da janela fecha.

Ou como os olhos de Lowell parecem mudar de cor, oscilando com o humor dele.

Infelizmente, Lowell não percebe nada disso, porque não é como se conseguisse ver seus próprios olhos em primeiro lugar, e as outras coisas são tão comuns que ele nem percebe mais quando acontecem (felizmente, Clark está tão emocionalmente comprometido com a simples existência do Luthor mais novo, que ele também não percebe nada particularmente fora do normal.

E, melhor ainda, Bruce está tão preocupado em impedir que seu amante ataque um civil supostamente inocente, que ele também não percebe nada demais além do brilho tóxico nos olhos multicoloridos de sua visita, contudo, isso não é algo que pode se pode dar ao luxo de pensar no momento, embora seja algo que faria ele perder o sono pelas próprias semanas). 

Respira fundo, Lowell tenta manter o resto de controle que ele tem. Perder a paciência é a última coisa que ele precisa. Coisas ruins acontecem quando ele não está pensando com clareza — não tão ruins quanto explodir uma montanha, mas ruins mesmo assim.

Deuses, ele nunca mais vai passar mais do que vinte e quatro horas sem dormir de novo — talvez trinta no máximo. E quando foi a última vez que ele comeu comida de verdade? Tempo demais se ele não consegue se lembrar. Ele deveria ter ao menos pedido um milkshake para viagem quando ele parou na lanchonete a caminho da mansão, pelo menos ele ia ter algo no estômago além de água.

Bruce e Clark nem para oferecer algo para ele comer. Um cafezinho, chá ou biscoitos, ele nem gosta de café ou chá, mas os biscoitos cairiam tão bem agora. Bolo seria preferível, mas gringo não sabe o poder de uma fatia de bolo a qualquer hora do dia, então ele aceitaria os biscoitos de bom grado. 'Tá certo que ele é um visita que apareceu sem ser convidada, porém Alfred e Ma Kent devem ter dado uma educação melhor para esses dois. Todo mundo sabe que primeiro você trata a visita bem, depois você encarecidamente e do jeito mais descarado, contudo ainda educado, para ela se retirar pois você tem coisa melhor para fazer do que aturar ela. Em outra palavras, você oferece um bolo, um café, e arruma uma desculpa, tipo dizer que vai sair, para expulsar a visita. Eles não oferecem nem água, e ao invés de tentar se livrar dele, deixaram ele trancador em uma câmara de tortura glorificada disfarçada de sala de estar. Sério, todos os móveis nessa sala poderiam ser classificados como instrumentos de tortura, seja por serem mais desconfortáveis do que uma cama de prego ou por serem tão feios que fazem te questionar a sua sanidade, pois claramente é impossível algo ser realmente tão feio assim, ou seja, você tem que estar alucinando a feiura.

Talvez esse seja o ponto da sala, fazer você odiar ter saído de casa em primeiro lugar e querer sair correndo de volta para a cama. Infelizmente, para todos os envolvidos, Lowell é um homem em uma missão, o que quer dizer que essa sala não é nada além de algo que ele definitivamente vai queimar no futuro.

— Eu acredito que o jovem esteja correto — diz uma nova voz. 

Voltando-se para à entrada da câmara de tortura sala de estar, os três encontram Alfred Pennyworth em toda a sua glória mordômica, trazendo consigo uma bandeja com chá e biscoitos.

— Biscoitos!

— Alfred, quando chegou? — Bruce pergunta. 

— Há pouco — o mordomo responde. Ele toma seu tempo para servir os três cavalheiros. — Não o bastante para saber todos os detalhes, mas o suficiente para ouvir o discurso de nosso jovem convidado e, como disse, acredito que ele esteja certo sobre os senhores precisarem dar, no mínimo, uma chance para ele se explicar. Embora, devo dizer, que gostaria que ele pudesse se expressar sem usar de tais palavras. 

— Desculpa — Lowell diz sincero. Ele pode ter perdido a cabeça, mas isso não é desculpa para falar o que quiser da maneira que quiser e desrespeitar as regras da casa. — Esses biscoitos estão ótimos, seu Alfred. Graças aos céus alguém nessa casa sabe como receber convidados. Você acredita, seu Alfred, que nenhum deles se dignou a me oferecer um copo de água? — Ele muda de assunto, jogando os outros dois na lama com ele. Se ele vai se ferrar por sua falta de modos, eles também. 

— Não me diga. — O mordomo lança aos dois um olhar deverás significativo. Bruce e Clark tem a decência de parecerem envergonhados. — Pois bem, meu jovem, lhe peço desculpa pela falta de consideração dos dois.

— Tudo bem, seu Alfred — Lowell dispensa as desculpas do senhor com um sorriso. — Se alguém aparecesse na minha casa anunciando que sabe sobre a minha vida secreta como furry, eu também esqueceria de oferecer bebidas.

— Certamente.

Lowell Luthor pode ser um idiota, mas ele não é burro. Ele sabe que Alfred o considera um inimigo tanto quanto os outros dois, contudo, o mordomo tem biscoitos recheados e suco de maçã, sendo assim, ele não se importa em ser alvo do olhar inquisitivo do cavalheiro.

— Meu nome é Lowell, por sinal. Lowell Luthor.

— Alfred Pennyworth, aos seus serviços. Diga, meu jovem, em que posso ajudá-lo?

— Eu preciso de ajuda — Lowell responde, pois alguém finalmente está fazendo as perguntas certas. — Bem, nós precisamos de ajuda.

— E quem seria nós?

— Todos, mas em especial ela. Foi ela quem me mandou aqui, sabe?

— E quem seria ela?

— Elizabeth Wayne.

Dentre todas as coisas que Lowell Luthor imaginou que poderiam vir a acontecer quando ele finalmente conseguisse falar sobre o porquê dele estar incomodando Bruce Wayne para começo de conversa, receber um gancho de direito de Alfred Pennyworth não estava na lista.

Todavia, ele não deveria estar tão surpreso. Afinal, ele sempre acaba levando um soco de um jeito ou de outro, dessa vez ao menos ele pode dizer que o mordomo é o culpado.